A humanidade ainda não detectou de maneira oficial qualquer forma de inteligência extraterrestre (IET) e nossos esforços para procurá-la, como os projetos SETI e METI — siglas, respectivamente, de Programa de Busca por Vida Extraterrestre Inteligente e de Programa de Envio de Mensagens para Inteligências Extraterrestres —, continuam em seus estágios iniciais. Se não podemos excluir a possibilidade de que existam inteligências extraterrestres na Via Láctea, tampouco podemos dispensar a possibilidade de que possamos detectar, nos comunicar ou estabelecermos outras maneiras de contato com eles. Tal contato com essas civilizações seria um dos mais importantes eventos da história da humanidade, e então sua possibilidade merece nossa máxima atenção, mesmo que este autor acredite que sua possibilidade por esta forma seja baixa.
A preocupação central sobre o contato com extraterrestres não é o contato em si, mas suas consequências. Não sabemos se ele seria benéfico, neutro ou prejudicial para a humanidade. Essa preocupação nos ajudará a decidir, entre outras coisas, se deveríamos enviar mensagens intencionalmente às inteligências extraterrestres e o que deveríamos dizer, se o fizermos. A resposta curta é que nós não sabemos como o contato aconteceria, porque não conhecemos os povos que habitam nossa galáxia e isso é algo que não podemos saber até que o contato ocorra. De qualquer forma, nós temos algumas informações que podem nos ajudar a, pelo menos, dar palpites sobre a natureza do contato com outras espécies — desenvolver e analisar essas informações poderá nos ajudar a nos prepararmos para ele e a aumentar a probabilidade de um resultado que consideremos favorável.
Houve muitas análises e comentários sobre como o contato com outras inteligências cósmicas aconteceria. Mas, infelizmente, os trabalhos anteriores tendiam a ser um tanto fechados no sentido de apenas considerarem um pequeno número de resultados possíveis. Parece haver uma tendência a tirar conclusões em uma questão que continua altamente incerta e para a qual uma grande gama de resultados está na zona da possibilidade. Um pensamento fechado e apressado nos prepara erradamente para contatos de verdade. Inversamente, dada à extremamente vasta gama de resultados possíveis, nós estaríamos mais bem preparados ampliando a análise.
Análises de cenários
O presente estudo apresenta uma síntese das informações disponíveis sobre possíveis resultados provenientes do contato com inteligências extraterrestres e foi feito por meio da análise dos muitos cenários, sempre pensando nos benefícios ou prejuízos que o relacionamento com seres extraterrestres poderia trazer para a humanidade. No processo, este autor e seus colaboradores se basearam em inúmeras discussões sobre o assunto, que cobrem uma vasta gama de resultados possíveis, mas tendem a fazê-lo de maneira restrita.
Embora o contato com seres extraterrestres tenha sido discutido em literatura científica pelos últimos 50 anos e na ficção científica desde A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells, em 1898, houve relativamente pouco esforço para analisar cumulativamente os resultados, em comparação com a síntese que apresentaremos aqui. Até onde sabemos, a única sinopse abrangente anterior está no excelente trabalho do escritor Michael Michaud, mais especificamente em seu livro Contact with Alien Civilizations: Ours Hopes and Fears about Encountering Extraterrestrials [Contato com Civilizações Alienígenas: Nossas Esperanças e Medos sobre nos Encontrarmos com Extraterrestres, Copernicus Books, 2007]. Este estudo tem algumas similaridades com o trabalho Michaud, mas também inclui muitos cenários novos, uma estrutura organizacional diferente, uma nova discussão sobre a análise de panoramas e recomendações para possíveis encontros com outras espécies cósmicas.
Análises de cenários servem a vários propósitos. Primeiro, elas são de grande interesse intelectual para as citadas comunidades SETI, METI e outras, dadas as nuances e desafios envolvidos em se imaginar um ser que nunca observamos — mas esta análise de cenário é de valor prático também, pois pode nos ajudar a treinar nossas mentes para reconhecer padrões e resultados reais. Com “treinar nossas mentes” queremos dizer simplesmente que elas crescem acostumadas a pensar, identificar e analisar panoramas específicos e suas variações. Os padrões de um encontro verdadeiro podem lembrar cenários analisados, mesmo se as espécies diferirem dos detalhes de cada um. Ao treinar nossas mentes dessa forma, construímos nossa capacidade para analisar e responder a um contato.
O Paradoxo de Fermi
Organizaram-se os cenários de contato em três categorias básicas, baseadas no fato de as consequências serem benéficas, neutras ou prejudiciais a nós. Embora as possibilidades certamente caiam em algum espectro dessas linhas, acredita-se que esses três grupos representem um esquema de categorização útil. Um número relativamente grande de cenários que foram considerados cai na categoria “prejudicial para a humanidade”. Nós, então, os dividimos em duas seções nas quais os extraterrestres seriam intencionalmente e não intencionalmente prejudiciais. Antes de desenvolver estes panoramas, apresento algumas informações contextuais relevantes para a discussão que segue.
Algumas informações de contexto são relevantes para muitos cenários de contato discutidos ao longo do estudo e devem, portanto, ser consideradas separadamente e antes dos mesmos. Esse contexto aborda por que nós ainda não detectamos civilizações extraterrestres com os programas descritos, o desafio da comunicação interestelar, porque as inteligências extraterrestres são provavelmente mais avançadas tecnologicamente do que a humanidade, o que nós podemos aprender sobre a ética dos alienígenas em comparação à nossa ética e a possibilidade da heterogeneidade em uma avançada espécie cósmica.
Até hoje nenhuma civilização extraterrestre foi inequivocamente observada pelos humanos — estamos há 50 anos procurando ouvir transmissões de alienígenas, mas nenhum sinal artificial foi encontrado no espaço e a busca por artefatos extraterrestres no Sistema Solar também produziu resultados nulos, sob o ponto de vista oficial. Contudo, um cálculo rudimentar inicialmente feito pelo f
ísico Enrico Fermi sugere que os extraterrestres deveriam estar espalhados por toda a galáxia, mas onde?
De fato, uma civilização avançada poderia facilmente colonizar a galáxia para formar uma espécie de “clube galáctico” com outras sociedades inteligentes, um conceito popular na ficção científica — como a Federação dos Planetas Unidos da série televisiva Jornada nas Estrelas, de 1966 —, que na literatura não ficcional data, pelo menos, da época de Ronald Bracewell, autor da obra The Galactic Club: Intelligent Life in Outer Space [O Clube Galáctico: Vida Inteligente no Espaço Sideral, Freeman & Company, 1975].
Soluções do paradoxo
Essa ausência visível de outras espécies cósmicas no universo é sempre referida como o Paradoxo de Fermi ou o Grande Silêncio e levanta a questão: se as inteligências extraterrestres deveriam estar espalhadas a nossa volta, então onde estão elas? Um número de diversas respostas ao Paradoxo de Fermi foi proposto e explorado, e três delas são dignas de consideração em nossa discussão.
Uma resposta ao Paradoxo de Fermi diz que a vida, ou pelo menos a vida inteligente, é rara e, portanto, está esparsamente espalhada pela galáxia — essa raridade poderia advir do fato de que poucas civilizações inteligentes são formadas ou de que civilizações inteligentes tendem a ter curto tempo de vida, talvez porque elas se autodestruam rapidamente. Se a inteligência é rara, então é bastante improvável que a humanidade detecte extraterrestres. No caso extremo, a humanidade é a única civilização inteligente na galáxia ou mesmo no universo. Por essas mesmas linhas, outras inteligências cósmicas podem estar além de nossos limites físicos, mesmo que elas de fato existam.
Até hoje nenhuma civilização extraterrestre foi inequivocamente observada pelos humanos. Estamos há 50 anos procurando ouvir transmissões de alienígenas, mas nenhum sinal artificial foi encontrado, o que certamente é um resultado desanimador
Uma segunda resposta possível para o Paradoxo de Fermi deriva dos desafios que uma civilização enfrentaria para se expandir rapidamente pela galáxia, e talvez tal expansão seja insustentável em escala galáctica, assim como sua rapidez é sempre insustentável aqui na Terra. Isso sugere que a ausência de extraterrestres pode ser explicada pelo fato de que o crescimento exponencial seja um padrão de desenvolvimento impossível para civilizações inteligentes. Essa resposta ao Paradoxo de Fermi é conhecida como a Solução da Sustentabilidade.
De acordo com essa ideia, civilizações de expansão rápida podem encarar colapsos ecológicos após colonizar a galáxia, algo mais ou menos análogo ao destino da Ilha da Páscoa, no Oceano Pacífico. Por outro lado, a galáxia poderia estar cheia de civilizações extraterrestres que se expandem muito lentamente e por isso não tenham ainda chegado à Terra — tais civilizações de lenta expansão poderiam ainda ser detectadas por nós ou nos enviar mensagens.
Uma terceira resposta ao Paradoxo de Fermi sugere que as civilizações extraterrestres, na verdade, já estão espalhadas pela galáxia, mas são de alguma forma, invisíveis para nós. E tal invisibilidade poderia ser ou não intencional A forma intencional dessa solução é, às vezes, conhecida como a Hipótese do Zoológico, porque implica que os extraterrestres estariam tratando a Terra como uma “área de preservação de vida selvagem” a ser observada, mas não totalmente incorporada ao mencionado clube galáctico.
Comunicação interestelar
A ideia foi popularizada pela série Jornada nas Estrelas como a primeira diretriz da Federação dos Planetas, que decreta a não interferência em culturas primitivas. A Hipótese do Zoológico, então, implica que os extraterrestres poderiam fazer contato com os humanos a qualquer momento — talvez eles se revelem quando a humanidade atingir certas condições de desenvolvimento, que ainda não temos. Eles podem estar esperando até que tenhamos alcançado um determinado nível de sofisticação de conhecimento como sociedade ou podem estar aplicando um ponto de referência social, como o desenvolvimento sustentável ou a unidade internacional, para nos avaliar.
Mesmo se existirem civilizações em nossa vizinhança galáctica, isso não necessariamente significa que a comunicação com elas será possível ou honesta. Um grande desafio é selecionar a frequência pela qual devemos transmitir e ouvir, o que é feito via espectro eletromagnético, que consiste em um contínuo comprimento de ondas para comunicação que inclui faixas de rádio, micro-ondas, infravermelhas, visíveis, ultravioletas e de raios-X. Buscar toda essa extensão é uma tarefa monumental e quase impossível, então nós escolhemos alguns comprimentos de onda que parecem mais prováveis, em nossa opinião, para a comunicação interestelar.
A chamada transição hiperfina de 21 cm do hidrogênio neutro foi a primeira sugestão dada para um comprimento de onda de comunicação. O Buraco de Água, uma região especialmente silenciosa do espetro eletromagnético, com um comprimento de onda de 18 cm, é outra escolha popular no SETI e análises recentes sugerem que devemos mudar nosso foco para frequências mais altas. Contudo, por haver um número infinito de comprimentos de onda para comunicação interestelar, precisamos reconhecer a possibilidade de que os extraterrestres possam estar transmitindo ou ouvindo em comprimentos de onda que ainda não foram considerados pelos cientistas do SETI ou do METI. E permanece também a possibilidade de que as inteligências alienígenas não usem radiação eletromagnética para comunicação, por terem descoberto algum outro método, possivelmente mais eficaz, para trocar informações através de distâncias astronômicas.
A comunicação via radiação eletromagnética é limitada pelo tempo necessário para o sinal chegar ao seu destino, por exemplo, a velocidade da luz. Na Terra, a comunicação eletromagnética é quase instantânea por causa das curtas distâncias envolvidas. Contudo, comunicaç&ati
lde;o galáctica ocorre em distâncias astronômicas em que até uma mensagem viajando à velocidade da luz levaria um bom tempo até chegar ao seu destino. Para que o leitor tenha uma ideia, a comunicação com um planeta que esteja a apenas 50 anos-luz daqui, o que é relativamente perto para padrões galácticos, aconteceria em uma escala de tempo de 100 anos.
Guerras interestelares
Como apontado por Carl Sagan, isso faz da comunicação com outras civilizações um projeto de várias gerações: comunicação eficaz através de distâncias astronômicas precisará de uma cooperação sem precedentes, que envolva muitas vidas humanas. Essa dificuldade em nos comunicarmos através das vastas distâncias também pode limitar a habilidade dos extraterrestres de se envolverem em guerras interestelares, pela simples razão de que o problema da comunicação torna o conflito logisticamente difícil demais para coordenar — empreendimentos pacíficos, como a formação do referido clube galáctico, podem encarar desafios logísticos similares.
Outra implicação desses longos tempos de comunicação através da galáxia é que os extraterrestres podem ficar cientes de nossa presença sem que percebamos. Comunicação por ondas eletromagnéticas na Terra tem sido usada por quase 100 anos, período durante o qual nossos programas de rádio, de televisão e conversas ao telefone foram vazadas para o espaço. Se os extraterrestres nos buscam como nós buscamos por eles, explorando o céu em comprimentos de onda de rádio ou de ondas óticas para qualquer tipo de comunicação interestelar, então eles podem ter detectado nossos sinais vazados há décadas.
Mesmo se existirem civilizações em nossa vizinhança galáctica, isso não necessariamente significa que a comunicação com elas será possível ou sincera. Um grande desafio é selecionar a frequência pela qual devemos transmitir e ouvir
Civilizações avançadas posicionadas em até 100 anos-luz da Terra poderiam receber nossas primeiras transmissões de rádio, aquelas a menos de 50 anos-luz poderiam assistir a nossos primeiros programas televisivos e a que estão a menos de 10 anos-luz poderiam receber nossas primeiras tentativas intencionais de envio de mensagens. Portanto, a radiação que tem sido não intencionalmente vazada e transmitida da Terra pode já ter alertado qualquer civilização próxima sobre nossa presença e pode, eventualmente, alertar civilizações mais distantes. Uma vez que os extraterrestres descubram nossa presença, levará pelo menos alguns anos para que percebamos que eles sabem que estamos aqui. Durante esse tempo, esses povos espaciais poderiam responder à nossa presença ou se preparar para o contato utilizando meios sobre os quais não temos conhecimento.
Mesmo que a humanidade fosse bem-sucedida na troca de sinais com outras civilizações, não há garantia de que a informação será compreendida por eles ou pelos humanos. Para que a informação seja trocada, é também necessário que entendamos o conteúdo das mensagens uns dos outros. Provavelmente será difícil, no início, comunicarmos qualquer coisa subjetiva sobre a experiência humana, como emoções e expressões, e então conversas matemáticas podem ser a primeira escolha. Contudo, nossa extrema ignorância sobre a natureza de qualquer civilização extraterrestre significa que nós não podemos descartar a possibilidade de que falharemos ou de que tenhamos grandes dificuldades na troca de informações.
A natureza avançada dos ETs
Se o contato entre humanos e alienígenas é possível, então é importante considerar a capacidade daqueles povos de nos causarem benefícios ou prejuízos. Essa informação é importante em quase todos os cenários de contato. Embora não possamos saber o nível de sofisticação tecnológica alcançada pelos extraterrestres, temos uma razão constrangedora para acreditar que seja significantemente superior à nossa e que, portanto, eles sejam altamente capazes de causar nossa total destruição.
A razão para acreditar que os extraterrestres seriam mais avançados é porque nós, e a nossa tecnologia, somos fenômenos relativamente recentes na história da Terra — só descobrimos a comunicação via rádio há pouco mais de 100 anos, o que sugere que uma tecnologia avançada pode se desenvolver rapidamente. Seguindo esse raciocínio, é provável que quaisquer outras espécies cósmicas que existam estejam no universo há muito mais tempo do que nós e que tenham desenvolvido habilidades tecnológicas muito superiores às nossas.
Mesmo em uma civilização mais jovem, sua habilidade de nos contatar provavelmente implicaria em um progresso além daquele que a nossa sociedade obteve. Nós não descobrimos, ainda, como alcançar a comunicação ou as viagens interestelares e uma sociedade que tenha tais capacidades é certamente mais avançada tecnologicamente do que nós somos. Se as comunicações deles são dirigidas para um público em geral e não apenas para a Terra, então eles podem também ser mais avançados na habilidade de se comunicar através de barreiras culturais. Isso é reminiscente da ideia do autor Arthur C. Clarke, de que “qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da mágica”.
Se os extraterrestres são de fato mais avançados, então qualquer forma de contato ocorrerá de acordo com a vontade deles — e nós certamente perderíamos se decidíssemos confrontá-los. Há uma grande e real probabilidade de que tal perda será tão grave que deixaremos de existir como civilização. Por outro lado, se os extraterrestres decidissem usar suas habilidades superiores para nos ajudar, então eles poderiam nos auxiliar na resolução de muitos de nossos problemas.
Ética extraterrestre
Como apontado acima, se os extraterrestres são significativamente mais avançados, isso deixa aberta a especulação sobre as vontades específicas desses povos e levanta uma questão sobre o padrão ético que seguem. Muito pode ser dito sobr
e a ética extraterrestre, mas aqui nos focaremos em um aspecto chave: o egoísmo versus o universalismo de tais seres. Em termos rudimentares, uma civilização egoísta é aquela que deseja maximizar seu próprio interesse, enquanto que uma civilização universalista é aquela que deseja maximizar os interesses de todos. Essa é uma explicação simplista de egoísmo e universalismo e mais precisão é necessária para nossos propósitos neste estudo.
Como ponto de partida, podemos pensar que os extraterrestres estariam tentando maximizar algum tipo de função de valor. Especificamente, que estivessem tentando maximizar o valor intrínseco, ou seja, algo que é valioso por si só. Valor intrínseco contrasta com valor extrínseco, particularmente com o valor instrumental, que é importante porque carrega valor adicional. Alguém pode colocar valor intrínseco em muitas coisas diferentes, como a vida, ecossistemas, felicidade, sabedoria ou beleza.
A ética humana é sempre antropocêntrica e coloca valor intrínseco apenas em fenômenos humanos, como a vida humana, a felicidade humana, a saúde humana e assim por diante — este antropocentrismo, além de egoísta, se circunscreve a uma escala civilizacional, uma vez que envolve apenas humanos colocando valor intrínseco nos interesses de sua própria civilização. Por outro lado, uma civilização universalista colocaria o valor intrínseco na vida em si, pouco importando de qual civilização a vida faz parte. Nesse caso, a civilização universalista tentaria maximizar a quantidade total de vida, independentemente de que vida se está elevando ao máximo. Se, por outro lado, extraterrestres universalistas colocarem valor intrínseco em algum outro fenômeno além da vida, então eles tentariam maximizar também aquele fenômeno, onde quer que ele ocorra.
É possível que uma civilização extraterrestre contatante tenha uma população heterogênea em vez de homogênea. Evidência disso pode ser encontrada em populações humanas, que têm mistura altamente diversa de habilidades e características
Conflitos entre humanos são geralmente calcados no egoísmo — eles incluem lutas por poder, terras, recursos, religião, prestígio e muitos outros instrumentos de interesse próprio. Mesmo quando conflitos humanos têm alguma conotação maior, como, por exemplo, a luta da liberdade contra a opressão, o desejo básico de sobrevivência e de favorecimento de si próprio continua sendo uma motivação central. Da mesma forma, os conflitos que vemos no reino dos animais sencientes [Que percebem o mundo por meio dos sentidos] parecem motivados por interesses próprios como sobrevivência, comida ou território.
Vale notar que a análise deste estudo também é, de certa forma, egoísta, porque foca em prejuízos à humanidade. Por todo este estudo, nós não consideraremos como o contato com a humanidade poderia beneficiar ou prejudicar os extraterrestres ou quaisquer outras entidades, tanto na Terra quanto fora dela. Ao focar nos benefícios e prejuízos à humanidade, não queremos advogar éticas egoístas — isso é apenas uma tática, que tem como objetivo manter este artigo razoavelmente conciso. Em nossa visão, a consideração dos impactos do contato não humano é importante e seria digno de consideração em trabalhos futuros.
Heterogeneidade dos ETs
A análise de cenário apresentada neste estudo assume que qualquer encontro seguirá uma única trajetória — ele pode beneficiar, ser neutro ou prejudicar a humanidade, mas o encontro teria apenas um desses resultados e seguiria uma única trajetória para chegar a ele? Talvez não. Isso vem da ideia de uma civilização homogênea, com um atributo definitivo ou uma combinação de atributos que dominem o encontro. O atributo poderia ser a força, a ética, a política ou outra coisa. Se for o caso de a civilização extraterrestre ter um atributo definitivo ou uma combinação de vários, então é razoável esperar uma trajetória única para o encontro. Contudo, isso requer uma civilização de inteligência homogênea.
É possível que uma civilização extraterrestre contatante tenha uma população heterogênea em vez de uma homogênea. Evidência disso pode ser encontrada em populações humanas, que têm mistura altamente diversa de habilidades tecnológicas, visões éticas, identidades nacionais etc. Por exemplo, na ocorrência de um encontro com extraterrestres, a humanidade poderia ficar fortemente dividida entre responder pacificamente ou com agressão preventiva — e o mesmo poderia se dar do lado extraterrestre. No mínimo, a diversidade humana gera provas do princípio de que civilizações inteligentes podem ser heterogêneas.
A possibilidade da heterogeneidade extraterrestre sugere que um encontro pode não seguir uma trajetória única, mas ter múltiplas trajetórias em série ou talvez até em paralelo. Por exemplo, um encontro poderia rapidamente mudar se uma alternância de poder ocorresse na liderança da civilização extraterrestre contatante. Ou, podemos receber sinais mistos de uma civilização, caso ela careça de uma estrutura de liderança única ou unificada. É possível, também, que muitas nações originárias de um mesmo mundo façam contato conosco, cada uma delas buscando objetivos diferentes — enfim, as possibilidades da heterogeneidade extraterrestre e das múltiplas trajetórias do contato devem ser mantidas em mente quando se considera os possíveis cenários de um encontro.
A detecção de extraterrestres
Tendo considerado esses pontos de informação prévia, podemos agora prosseguir para os cenários específicos de contato entre a humanidade e os extraterrestres. Uma visão geral desses cenários é fornecida no quadro da página ao lado. Os cenários mais otimistas que assumem que o contato com extraterrestres seria benéfico para a humanidade são muito populares. Resultados de pesquisas mostraram que muitas pessoas, no mundo todo, acreditam que o contato favoreceria a humanidade de alguma forma. A natureza do benefício poderia ir da simples detecção remota de vida inteligente em algum lugar até um contato mais extenso com extraterrestres cooperativos. Há, também, pelo menos um grupo de cenários em que nós nos beneficiamos pelo contato com extraterrestres não cooperativos. Mesmo não podendo saber como eles se comportariam, apresentamos algumas razões para suspeitar que seriam amistosos, desenvolvendo até certo ponto um argumento baseado na solução da sustentabilidade do Paradoxo de Fermi.
A mera detecção se refere a cenários em que o contato s
e limitaria à descoberta de que extraterrestres existem — nós detectamos sua presença e podemos confirmar sua existência, mas não temos nenhum contato com eles. Isso significa nada de comunicação, contato direto ou indireto. Se extraterrestres realmente existem na galáxia, então a confirmação de sua presença teria profundas implicações para a ciência, filosofia, religião e sociedade humanas. Na verdade, as atividades em andamento no SETI se baseiam principalmente na premissa de que a humanidade quer aprender sobre eles. Uma razão para isso é que a descoberta de outros povos responderia às profundas e antigas questões sobre estarmos ou não sozinhos no universo. Isso, por sua vez, se relaciona à questão do nosso papel no cosmos como seres inteligentes. A humanidade tem forte interesse em obter respostas a essas grandes demandas e então se beneficiaria tremendamente da mera detecção de civilizações extraterrestres.
Algumas pessoas, porém, poderiam considerar a detecção como prejudicial à humanidade — entre elas as com perspectivas religiosas e outras visões de mundo que dependem da ideia de a humanidade desempenhar um papel único e privilegiado no universo. A confirmação da existência de outros povos poderia desafiar essas visões de mundo e por isso ser percebida como prejudicial por aqueles que carregam tais crenças. A percepção de prejuízo, contudo, está ancorada em um erro filosófico — a existência de vida inteligente no universo independe de nós a detectarmos ou não. É a existência dela que desafia essas visões de mundo e não o ato da detecção. Se os extraterrestres de fato existem, então o prejuízo já está feito e essas visões de mundo já são inválidas. A detecção apenas nos alerta para tal invalidade. E esse alerta, por si só, pode ser classificado como um benefício ou um prejuízo, dependendo de seus efeitos no bem-estar daqueles cujas visões de mundo são desafiadas, mas isso é uma questão menor em relação aos benefícios maiores da confirmação da existência de outras civilizações.
Quem fala pela humanidade?
Mais problemática ainda é a possibilidade de que a confirmação de vida alienígena possa iniciar ou exacerbar conflitos em nossa sociedade, sobre como interpretar ou responder a tal descoberta. Já há discordâncias sobre como enviar mensagens ao espaço, se devemos enviá-las e sobre quem deve falar pela humanidade. Tais discordâncias poderiam se tornar muito mais fortes caso a existência de extraterrestres fosse confirmada. Enquanto isso, os grupos cujas visões de mundo fossem desafiadas poderiam responder de maneiras prejudiciais, caso se sentissem ameaçados, anulados ou de alguma outra forma piorados pela descoberta ou pela intenção de responder. Enquanto este autor e seus colaboradores esperam que a detecção unifique a humanidade com resultados positivos, o resultado oposto continua totalmente possível.
Embora a mera detecção de outras espécies cósmicas fosse favorável pela introspecção que isso nos ofereceria, esses benefícios poderiam ser limitados. Quer dizer, a mera detecção deixaria a situação da humanidade intacta. Talvez a detecção esteja no mesmo nível da revolução copernicana, de modo que mudaria o pensamento dos humanos, mas não alteraria radicalmente nossa geopolítica. Logo, mesmo que a detecção possa oferecer benefícios finais, esses benefícios podem não ser muito grandes.
Extraterrestres cooperativos
Ainda que não recebamos mais do que uma simples saudação de outras civilizações extraterrestres ou, quem sabe, um artefato como presente de um mundo distante, poderemos, pelo menos, dizer que a vida se desenvolveu mais de uma vez na galáxia e que a tecnologia humana para transmitir mensagens de rádio através do espaço foi também inventada em outro lugar. Outras civilizações avançadas podem ter pouco ou nenhum interesse em uma sociedade tão primitiva quanto a nossa, mas se elas reconhecerem nossa presença e iniciarem uma comunicação, esse conhecimento beneficiará a humanidade.
Se o contato com extraterrestres envolver mais do que a mera detecção, então é possível que a humanidade receba benefícios adicionais ao cooperar com os alienígenas. A natureza desses benefícios dependeria, obviamente, do nível de cooperação — isso porque os extraterrestres seriam, provavelmente, muito mais avançados e, portanto, capazes de ditar os termos do contato. Um cenário inicial poderia envolver uma troca de comunicação amigável e informativa entre nossas respectivas civilizações. Assumindo que os extraterrestres estejam suficientemente interessados em nós — o que não é uma certeza —, eles poderiam escolher manter um contato a distância para discutir matemática, física, química e aprender mais sobre a vida na Terra. É razoável assumir que os princípios gerais da física e da química, por exemplo, se apliquem a todos os lugares da galáxia, mesmo que as descrições matemáticas dos fenômenos físicos difiram entre civilizações inteligentes.
Se o contato com extraterrestres envolver mais do que a mera detecção, então é possível que a humanidade receba benefícios adicionais ao cooperar com os alienígenas. A natureza desses benefícios dependeria, obviamente, do nível desta cooperação
Para que esse tipo de diálogo ocorra, precisaremos primeiro desenvolver uma linguagem matemática comum, usando observações físicas que sejam conhecidas por ambas as civilizações, como, por exemplo, as propriedades do hidrogênio neutro. Em um caso mais improvável, poderíamos descobrir que nossos vizinhos ocupam alguma região do espaço onde existam princípios físicos diferentes ou desconhecidos, o que certamente seria uma descoberta única para a humanidade. Logo, por meio dessa “conversa cósmica”, poderemos adquirir um entendimento científico mais profundo e também descobrir especificidades sobre o mundo natal e a biologia de nossos interlocutores.
Dependendo da natureza da informação compartilhada na comunicação entre as duas espécies poderia haver, também, benefícios prá
ticos. Uma civilização avançada pode ser capaz de resolver grande parte dos problemas da humanidade, como a fome mundial, a pobreza ou as doenças — extraterrestres benevolentes podem até elaborar sua primeira mensagem de modo que ela contenha informações sobre como evitar uma catástrofe tecnológica, ajudando as civilizações menos desenvolvidas a terem sucesso.
Tática arriscada e prejudicial
Da perspectiva humana esse é, talvez, o melhor cenário para o contato com civilizações alienígenas. Entretanto, embora suspeitemos que os princípios básicos da física e da química se apliquem em todo o universo, é bem menos provável que o conhecimento dos extraterrestres fosse útil para abordar problemas sociais de nosso mundo, que não são poucos e nem de fácil solução.
Nós não sabemos se os alienígenas seriam cooperativos, mas temos muitas razões para suspeitar que sim. A não cooperação pode ser uma estratégia arriscada e prejudicial, e civilizações assim tendem, em nosso entendimento, a ter durações de vida menores, pois tal atitude eventualmente levaria à sua morte. Por essa razão, uma civilização longeva, que explore a galáxia, pode ter transcendido quaisquer padrões agressivos simplesmente pela necessidade de manter sua sobrevivência a longo prazo.
É possível, também, que civilizações inteligentes possam inevitavelmente desenvolver tendências cooperativas como parte de seu processo evolutivo — contudo, há razões para suspeitar que a evolução também possa se dar por trajetórias diferentes e menos desejáveis. Outro motivo para suspeitar que nossos interlocutores cósmicos seriam cooperativos vem da solução da sustentabilidade para Paradoxo de Fermi. Um corolário daquela solução diz que as civilizações existentes na galáxia seriam menos propensas à violência e destruição no caso de um contato. Essa ideia segue as tendências de populações humanas sustentáveis.
Na Terra, populações humanas sustentáveis tendem a proteger seus ecossistemas, o que pode ser ocasionado por duas razões. Primeiro, as pessoas podem resguardar ecossistemas em benefício próprio, tática conhecida como conservacionismo e que significa que as pessoas estão colocando valor intrínseco em si mesmas. Segundo, humanos podem proteger ecossistemas para o benefício deles próprios. Essa proteção é conhecida como preservacionismo e envolve pessoas colocando valor intrínseco nos ecossistemas. Em ambos os casos, as populações humanas que seguem um modo de desenvolvimento sustentável têm menos chance de se expandir por falta de recursos, embora possam escolher explorar por pura curiosidade.
Populações extraterrestres podem ser similares a nós nesse sentido. Portanto, se o crescimento exponencial é de fato insustentável em escala galáctica, então nós temos maior probabilidade de encontrar uma civilização longeva e que siga um padrão de desenvolvimento sustentável — ela pode não precisar consumir os sistemas da Terra, ou os humanos, porque já terá encontrado um meio de gerenciar eficazmente seus próprios recursos por longos períodos. Contudo, há um cenário em que extraterrestres sustentáveis nos destruiriam, especialmente se estiverem se expandindo em seu maior ritmo possível, segundo suas restrições sustentáveis. Esse cenário maximamente expansivo é um dos mais prejudiciais à humanidade descritos abaixo.
Extraterrestres não cooperativos
Dado que os extraterrestres provavelmente são muito mais avançados do que a humanidade, o contato com seres não cooperativos nos seria, à primeira vista, prejudicial. Contudo, há certos cenários nos quais o contato com entidades desse tipo poderia beneficiar a humanidade, como aquele em que os extraterrestres tentam nos prejudicar, mas falham em seu intento. Essa situação é ilustrada na conclusão de A Guerra dos Mundos, em que os marcianos invasores acabam sucumbindo, infectados por micro-organismos da Terra. Ou, talvez, a humanidade consiga, de alguma forma, ir contra as possibilidades e derrote os extraterrestres. Essa possibilidade se espalha pela ficção científica, incluindo em grandes filmes de Hollywood, como Independence Day [1996].
Nesses cenários, a humanidade se beneficia não apenas da grande vitória moral por ter derrotado um adversário assustador, mas também da oportunidade de aplicar engenharia reversa na tecnologia alienígena deixada aqui. Uma possibilidade final envolve uma segunda espécie extraterrestre que, ao ser informada sobre nossa situação, venha nos ajudar, o que nos deixaria melhor do que estávamos quando começamos. Cenários como esses podem parecer improváveis, mas como são possíveis, nós os incluímos nesta análise.
É também possível que civilizações inteligentes habitem sistemas estelares próximos e detectem nossos vazamentos de rádio e televisão, mas não tenham planos de enviar uma resposta até que lhes enviemos uma mensagem intencional
Outra possibilidade diz respeito a contatos com civilizações que sejam neutras com relação à humanidade — neutro aqui significa que ficamos indiferentes ao contato, ou seja, os extraterrestres não teriam impacto sobre nós. Aqui é importante lembrar o que analisamos quando falamos sobre a detecção da existência de outras civilizações: simplesmente sabermos que elas existem já causaria importantes impactos em nosso mundo. De fato, tal descoberta bem poderia ser a mais profunda e importante que a humanidade já fez. Logo, só há um modo pelo qual a detecção de vida extraterrestre inteligente não nos afetaria: se continuasse invisível para nós. O outro meio pelo qual a descoberta de outra civilização poderia ser indiferente é se seu impacto cumulativo sobre a humanidade for nulo.
Nesse caso, a espécie humana toma consciência da existência dos extraterrestres, o que, como já discutimos, nos seria benéfico. Logo, para que o resultado de nossa descoberta seja neutro, teria de haver algum prejuízo para compensar o benefício do contato. É improvável que esse prejuízo compensasse o benefício da detecção, assim como quaisquer outros que poderiam advir do contato, então aqui consideramos cenários em que a compensação tenha aproximadamente igual magnitude, o que resultaria em um impacto l&iacu
te;quido mais ou menos neutro.
Invisíveis para nós
Vamos analisar agora alguns cenários nos quais os extraterrestres sejam invisíveis para nós, ou seja, nós não conseguiríamos detectar sua presença. Todos esses cenários partem do pressuposto de que eles existem, mas nós não os detectamos, talvez por sermos fisicamente incapazes de fazê-lo. Até onde a humanidade sabe, extraterrestres invisíveis não são diferentes da inexistência de extraterrestres, se os seres invisíveis não tiverem impacto sobre nós. Esse cenário seria, então, completamente neutro. Contudo, não significa necessariamente que, só porque são invisíveis, não gerarão conflito entre nós.
Uma das possibilidades aqui, ou panoramas, é de que a invisibilidade seja proposital. Isso corresponde à Hipótese do Zoológico no Paradoxo de Fermi — eles poderiam ter a capacidade tecnológica de se manterem ocultos e há muitos meios pelos quais poderiam alcançar tais intentos. A abordagem mais simples seria permanecerem escondidos entre asteroides e nos observar a distância. Neste caso, nós só descobriríamos os alienígenas quando pesquisássemos o cinturão de asteroides o suficiente para detectar sinais de sua presença. E tais sinais poderiam ser provenientes de mineração naqueles orbes, radiação infravermelha excedente de espaçonaves ou sondas espaciais inteligentes etc. Uma abordagem mais sofisticada eliminaria todos os sinais eletromagnéticos de saída para esconder quaisquer vestígios de sua presença. Civilizações com capacidades tecnológicas ainda maiores poderiam construir um planetário virtual cercando a Terra, de forma que somos forçados a observar um universo vazio.
Na opinião de J. W. Deardorff, doutor em meteorologia e professor na Universidade de Harvard, civilizações propositalmente escondidas podem ser benéficas para nós, porque elas sabem que estamos aqui e presumidamente nos verificam de tempos em tempos — talvez levem em conta nosso progresso e apenas iniciem o contato quando tivermos condições tecnológicas para tal. Uma espécie cósmica sustentável pode estar se escondendo de nós para ver se poderemos nos tornar uma sociedade sustentável antes que ganhemos a habilidade de viajar entre as estrelas. Uma civilização assim seria temporariamente neutra para nós, mas potencialmente prejudicial ou benéfica em longo prazo, dependendo de suas intenções e interesses.
Outra possibilidade é a de que os extraterrestres escapassem de nossa percepção, ainda que não intencionassem fazê-lo. Mesmo que não tomem medidas extraordinárias para permanecerem ocultos, alienígenas que passem pela Terra podem atrair tanta atenção dos humanos quanto um mergulhador de passagem atrairia a de uma anêmona do mar, talvez ao tirar uma foto. Isso poderia ocorrer porque assumam uma forma que não somos capazes de reconhecer ou porque sua tecnologia é de tal forma sofisticada que nós não consigamos notá-los.
Turistas galácticos?
Embora seja comum assumirmos que a vida extraterrestre seja composta por carbono e que precise de água líquida para existir, há um número de sugestões para configurações mais exóticas de vida. Elas incluem bioquímicas alternativas baseadas em solventes alcoólicos ou silício, uma biosfera escondida que coexista invisivelmente com a vida que conhecemos, seres feitos de pura energia que carecem de forma física ou até residência entre múltiplos universos. Em um cenário assim, mesmo que os extraterrestres estivessem ativamente tentando se comunicar conosco, nós perderíamos a mensagem porque nossos esforços de busca são ainda insipientes. Civilizações podem estar interessadas em observar a Terra para propósitos científicos ou podem simplesmente ser turistas galácticos passando pelo Sistema Solar. Mas, contanto que elas evitem interferir significativamente com humanos ou com nosso ambiente, não configuram uma ameaça ou um benefício à nossa existência.
É também plausível que civilizações alienígenas próximas simplesmente não tenham vontade de se comunicar conosco — espécies não expansivas, que seguem um padrão de desenvolvimento sustentável, podem encontrar todo o contentamento e significado de que precisam em seu próprio planeta, de modo que não têm desejo por comunicação interestelar. Elas podem ter adotado práticas espirituais transcendentais que foquem seus esforços para dentro e não para fora de seus mundos, ou podem limitar sua exploração espacial a sondas interestelares passivas.
É também possível que civilizações inteligentes habitem sistemas estelares próximos e detectem nossos vazamentos de rádio, mas não tenham planos de enviar uma resposta até que lhes enviemos uma mensagem intencional. Elas podem não estar impressionadas com a qualidade de nossas transmissões ou podem escolher conservar seus recursos e decidir que comunicação interestelar é cara demais. Para nossos propósitos aqui, essas civilizações não comunicativas são todas igualmente invisíveis.
Finalmente, nós precisamos reconhecer a possibilidade de que os extraterrestres estejam longe demais para comunicação. Uma transmissão de outra galáxia, por exemplo, pode ainda não ter chegado até nós e provavelmente seria muito fraca para a detectarmos com nossa tecnologia atual. Da mesma forma, povos que vivam a mais de 100 anos luz da Terra não teriam detectado nossos vazamentos de rádio e podem não saber de nossa presença.
Mesmo que a vida inteligente seja comum no universo, ela pode surgir apenas uma ou duas vezes em uma galáxia, de modo que a probabilidade de uma comunicação interestelar é diminuta. Então, de novo, a galáxia pode estar cheia de civilizações não expansivas que podem explorar a comunicação interestelar via rádio, mas estão longe demais para que nós possamos receber suas mensagens. A exploração espacial humana pode levar a um contato eventual com civilizações não expansivas, mas além dessa possibilidade, elas continuarão invisíveis para nós e terão pouca influência na humanidade.
Perceptíveis, mas indiferentes
É possível, também, que a humanidade tenha êxito em identificar civiliz
ações alienígenas, apenas para descobrir que somos indiferentes à experiência cumulativa. Isso pode parecer improvável, dado que a descoberta de que extraterrestres existem em outros lugares da galáxia teria implicações de grande alcance. De qualquer forma, há vários cenários em que nossa avaliação do encontro poderia ser de indiferença. Como panorama inicial, vamos supor que missões para encontrar planetas identifiquem com sucesso um exoplaneta orbitando uma estrela como o Sol e com uma composição atmosférica similar à da Terra. Suponhamos que observações posteriores com radiotelescópios revelem vazamentos eletromagnéticos não intencionais vindo do tal mundo, o que sugere a presença de vida inteligente nele.
Contudo, suponhamos agora que decodifiquemos esse vazamento e que encontremos nada além dos equivalentes extraterrestres de velhos programas de televisão e transmissões militares obscuras — estas transmissões podem conter quase nada em termos de informação utilizável por humanos e o público pode rapidamente perder o interesse em uma civilização não responsiva, com mensagens desinteressantes.
Até mesmo transmissões ativas, que sejam voltadas para a Terra, podem conter informações que consideremos inúteis ou desinteressantes. A observação remota de um planeta com civilização inteligente pode, também, revelar composições químicas totalmente diferentes entre o mundo deles e o nosso — seres que tenham um planeta gigante gasoso como origem, por exemplo, podem ter seguido uma trajetória evolucionária totalmente diferente, o que deixaria pouco espaço para similaridade entre nós e eles. A comunicação com essa civilização pode trazer poucas informações úteis para a humanidade. Afinal, uma sociedade que se alimente apenas de hidrogênio pode não ter nenhuma informação prática relacionada aos problemas desenvolvimentistas na Terra e a vasta diferença biológica pode torná-los incapazes de se comunicarem conosco.
Como entender os comportamentos que nossos visitantes extraterrestres podem apresentar
Seres extraterrestres de natureza benéfica para a humanidade
Cenário: Sua mera detecção teria implicações filosóficas de grande impacto para a Terra, mudando drasticamente nosso futuro, de maneira a curto prazo traumática, mas a médio e longo prazos altamente benéfica à espécie humana.
Tipo 1:
ETs benéficos cooperativos
Consequências do contato: Com eles elevaríamos nossos conhecimentos sobre ciências, saúde, meio ambiente, astronomia, relacionamento humano etc. Poderíamos receber deles conselhos para evitarmos uma catástrofe global em nosso planeta e talvez também soluções para os problemas na Terra, como fome, doenças, guerras etc.
Tipo 2:
ETs benéficos não cooperativos
Consequências do contato: A humanidade superaria com sucesso o que crê ser uma ameaça proveniente do espaço. Teríamos a prova definitiva de que não estamos sós no universo, o que estimularia nossa busca por extraterrestres cooperativos. A descoberta de sua existência, ainda que não queiram interação, mudaria os destinos da humanidade.
Seres extraterrestres de natureza neutra para a humanidade
Cenário: Seriam invisíveis para nós por diferenças em nossos estágios evolutivos, que impediriam um contato ou a mera aproximação, ou estariam se escondendo intencionalmente de nós até que evoluamos o suficiente para suportarmos um contato.
Tipo 1:
ETs fora de nossa percepção
Consequências do contato: Aparentemente nulo, porque tal espécie não buscaria o contato conosco e assim não poderia nos causar impacto negativo ou positivo. Mas eles também poderiam estar agindo sobre a humanidade de forma imperceptível, atuando em nosso meio sem que saibamos, igualmente de forma negativa ou positiva.
Tipo 2:
ETs perceptíveis mas indiferentes
Consequências do contato: Como seriam desinteressantes e inúteis para o avanço das condições globais da Terra, sua descoberta não levaria a grandes consequências para nós, ou talvez gerasse um leve incômodo na humanidade por seu desprezo a nós. Isso poderia ter grandes consequências na moral da espécie humana.
Seres extraterrestres de natureza prejudicial para a humanidade
Cenário: Causariam grande preocupação e eventualmente uma situação de conflito bél