Quando os soviéticos iniciaram os primeiros planos – que não saíram do papel – de explorações a Marte, ao construírem a fracassada Marsnik, em 1960, não poderiam jamais supor que, somente pouco mais de quatro décadas depois, os norte-americanos estariam efetivando a conquista inicialmente planejada por eles. As experiências tecnológicas adquiridas através dos mal-sucedidos envios de sondas ao planeta vizinho, pelos Estados Unidos, Rússia, Europa e Japão, acabaram por culminar no sucesso da empolgante missão Mars Spirit, da Agência Espacial Norte-Americana (NASA), que levou os dois pequenos robôs – Spirit e Opportunity – a executarem levantamentos técnicos acerca da superfície marciana e, sobretudo, empreenderem estudos sobre a suposta existência de água no passado daquele planeta.
Os pequenos veículos foram inseridos em latitudes bastante distintas de Marte. O Spirit encontra-se até agora na região equatorial, mais exatamente na Planície de Gusev. Já o Opportunity está na parte meridional do planeta, próximo ao pólo norte, onde a luz solar incide com menor intensidade. Desde janeiro de 2004, a NASA começou a receber e registrar os sinais enviados por esses robôs. Convertidos em fotografias, os sinais gerados pelo Spirit acabaram por revelar uma infinidade de detalhes do ambiente marciano. A princípio, uma pane no veículo, pouco após sua estréia, fez com que a esperança de toda a equipe técnica fosse por “água abaixo”, pois o jipe deixou de enviar seus preciosos sinais por vários dias. Porém, os cientistas conseguiram restabelecer contato com o Spirit, que pôde então voltar a cumprir seu trabalho de pesquisa, como havia sido planejado.
Iniciadas as atividades, várias nomenclaturas – além das que já haviam sido anteriormente ‘batizadas’ aqui da Terra – foram adotadas para denominar pontos geográficos referenciais no planeta vizinho, tais como montanhas, crateras, rochas, dentre outros. Tais denominações, ainda extra-oficiais, homenageiam embarcações, missões e exploradores que deixaram seus nomes na história da humanidade por seus feitos. Uma dessas nomenclaturas presta reverência à tripulação do ônibus espacial Columbia. Trata-se da Columbia Hills, ou Colinas da Columbia, uma elevação em forma de pequena montanha, onde o Spirit depositou um disco compacto metálico em que se encontram gravados os nomes dos astronautas falecidos no acidente espacial. Já o Opportunity foi enviado para penetrar o interior da gigantesca cratera Endurance [Resistência]. Essa considerável fenda, provavelmente originada pelo choque de um meteoro de grandes proporções no passado, é a maior cratera da região em que se encontra.
Ação da Água — Uma rota já foi estudada pela equipe da NASA e destinará o Opportunity ao interior da cratera, de onde nunca mais ele deverá sair, possivelmente finalizando ali os seus trabalhos. Após a análise de vários dados, os técnicos acreditam que nas rochas do interior da Endurance existam fortes indícios de ação da água, que serão detalhadamente verificados pelo robô. Ele também fará um minucioso trabalho de “leitura” das “mensagens” gravadas nas rochas, por suposta ação erosiva que ali teria ocorrido no passado. Enquanto isso, o Spirit, após ultrapassar em junho a marca de três longos quilômetros rodados desde que iniciou sua jornada, em janeiro, pôde enviar à NASA milhares das mais nítidas fotografias da região de Bonneville, situada na Planície de Gusev.
Em sua lenta marcha sobre suas seis pequenas rodas, o operário robótico conseguiu registrar bem de perto detalhes do solo e de algumas tórridas rochas daquele planeta. Jamais a humanidade havia observado em tão ricos detalhes imagens de um planeta que não seja o nosso. Além de sua câmera panorâmica, o Spirit leva consigo um poderoso microscópio, capaz de visualizar, registrar, pré-analisar e enviar aos técnicos dados precisos acerca de detalhes mínimos a serem analisados – alguns dos quais têm dimensões inferiores à espessura de um fio de cabelo.
Um dos detalhes mais belos focalizados na natureza de Marte são as sedimentações de hematita, denominadas pelos cientistas de blueberries, por se assemelharem às frutinhas azuis da mesma família do morango, framboesa e amora, as berries. Com seu cintilante brilho azul, essas pequenas pedras parecem ter sido lapidadas. De tão nítidas que são as imagens geradas, algumas acabaram por causar alvoroço ao serem divulgadas ao público, justamente por captarem alguns instigantes detalhes, como objetos e formas não convencionais sobre o solo de Marte. A maioria dessas anomalias captadas pelas câmeras veio seguida de concisas explicações técnicas por parte dos engenheiros e cientistas do projeto.
Material Desprendido — A polêmica maior, no entanto, deu-se por conta de uma formação que se assemelha a um coelho com longas orelhas, logo apelidada de bunny ears. A imagem foi captada pela câmera da Opportunity e causou espanto em quem a viu inicialmente. Isso fez com que milhares de pessoas em todo o mundo enviassem e-mails à NASA solicitando explicações sobre aquela imagem. Segundo afirmaram os engenheiros da agência espacial, após estudos e análises comparativas de materiais, o pequeno objeto amarelado, medindo de 4 a 5 cm e apresentando forma semelhante a duas orelhas de coelho, trata-se apenas de um pedaço de material desprendido do airbag do equipamento, quando da sua descida. Segundo explicações oficiais, o forte impacto contra a gravidade de Marte fez com que o airbag se estilhaçasse, espalhando fragmentos pelo solo, que acabaram sendo registrados nas imagens enviadas.
Essa questão estaria aparentemente esclarecida, porém, mais formas duvidosas ou incomuns viriam surgir em outras fotografias captadas pelo Spirit. Algumas chegam a lembrar organismos biológicos, que foram imediatamente associados pelo público a animais terrestres, como tatus e tartarugas. A fértil imaginação humana fez com que muita gente que acompanha o programa de exploração a Marte chegasse mesmo a acreditar na possível existência de pequenos animais vagando no solo do planeta. Outra foto mostra nitidamente os rastros das rodas do Spirit no solo e, entre elas, algo que se assemelha a um pequeno animal rastejante. Nesta imagem, pode-se vislumbrar com clareza o que parece ser um rastro deixado por esse suposto animal, que foi logo associado por algumas pessoas a uma lesma ou caramujo.
Há formações rochosas que chamam a atenção por aparentarem terem sido forjadas artificialmente por algum instrumental. Várias delas mostram pedras com faces bastante lisas, como se tivessem sido polidas. Uma forma foi unanimemente interpretada por todos que viram as fotografias. Ela nos remete à clara lembrança de uma mão quebrada, como foi comparada por alguns pesquisadores e curiosos. Esse curioso artefato rochoso pode não passar de umpedregulho comum, porém, da perspectiva e ângulo com que foi enquadrado na fotografia
, nos faz pensar numa mão caída no chão, como se fosse esculpida.
Parafusos em Marte — Algumas hipóteses foram levantadas por pessoas que tiveram acesso às nítidas imagens dessas rochas. Dentre elas, estaria a possibilidade de diversos desses estranhos artefatos tidos como pedras tratarem, na verdade, de peças manufaturadas, que ali estariam por algum motivo, há vários anos. Caso proceda esta hipótese, tais objetos poderiam muito bem, com o tempo, serem confundidos com a paisagem predominante do solo. Sendo assim, ter-se-ia criado, então, uma espécie de “efeito camaleão” em torno deles. Passariam a assemelhar-se ao ambiente em que se encontram, devido ao tempo de exposição nesses locais e, sobretudo, à maquiagem produzida pela poeira impregnada na atmosfera marciana, que poderia ter criado uma espécie de crosta mineral em torno desses corpos.
Dos objetos assinalados como artificiais e tratados por alguns pesquisadores como possíveis peças manufaturadas, encontram-se dois que são bastante curiosos. Um deles, de aparência arredondada, parece expelir de si uma protuberância cilíndrica, bastante similar a um eixo comum, dando a impressão de se tratar de uma peça automobilística ou algo semelhante. É importante acrescentar que, no reino mineral, seja em Marte ou na Terra, não existe nada semelhante à tal formação. Outro artefato ainda mais instigante mostra-se com o claro aspecto de uma porca sextavada, das mais comuns existentes em nosso planeta. Esta, ao contrário de outras formações registradas, tem uma aparência bem distinta das demais rochas predominantes no local em que se encontra. De coloração mais escura e com aparência metálica, a inusitada formação sugere tratar-se de algum tipo de metal usinado. Neste objeto de faces e medidas precisas, pode-se ver o que parece ser uma pequena abertura, sugerindo o local de encaixe para uma outra peça ou parafuso.
O que parece ser um estranho objeto debaixo de uma pedra também foi registrado numa fotografia do Spirit. Trata-se de uma peça em formato de peão duplo, um ligado ao outro. Um dos tais peões encontra-se caído entre as pedras e parece estar ligado por uma espécie de fio à “cabeça” do outro. Essa parte visivelmente mais saliente do objeto parece estar tão polida, a tal ponto que reflete o brilho da luz do ambiente. Fica patente que este artefato não se trata de nenhuma formação marciana, e dificilmente seria algum defeito de resolução da imagem. Uma outra observação que fazemos nessa mesma fotografia encontra-se do seu lado direito, na forma de um semicírculo impresso no chão, como se tivesse sido carimbado. Possivelmente, esta marca foi impressa por alguma peça esférica do robô em contato com o solo.
Corpo Celeste — Mas, dentre a certeza e a incerteza, fiquemos com o certo: o fabuloso Spirit registrou uma imagem que pode ser considerada uma das mais raras fotografias da história do programa espacial: um UFO no céu de Marte! Isso mesmo, um objeto voador não identificado foi captado pela lente da sonda. Num dos raros momentos em que levantou seus “olhos” ao céu para verificar a atmosfera do planeta, o robô teve a felicidade de registrar a passagem de um corpo celeste. Quando ampliada a imagem, o objeto em movimento se mostra com formato semelhante ao de uma cruz. Os cientistas ainda não chegaram à conclusão se a luminosidade desse inusitado artefato seria natural, como de um cometa, ou artificial, apenas refletindo a luz solar.
Várias hipóteses foram levantadas para se justificar a estranha imagem capturada no filme. Astrônomos afirmam que pode tratar-se do primeiro registro de um meteoro visto de fora da Terra. Segundo os cientistas da NASA, há também a possibilidade de o estranho corpo se tratar de lixo espacial, já que há mais de 30 anos diversos equipamentos são enviados da Terra à órbita marciana, como as sondas americanas Mariner 9 e Viking 1, e ainda as russas Mars 2, Mars 3, Mars 5 e Phobos. Uma parte dessas geringonças pode ter se soltado e caído na atmosfera marciana, provocando o efeito registrado, exatamente como acontece na Terra, embora nossa atmosfera seja mais densa.
Deve-se reconhecer, no entanto, que a credibilidade das imagens liberadas ao público depende somente da boa-fé da NASA. Todas as fotografias feitas fora da Terra são imagens digitalizadas, ou seja, sem o emprego de negativos. Tal como as câmeras digitais tão populares hoje, as sondas registram o ambiente em imagens binárias, que são transmitidas à Terra e, através de instrumentos especiais, transformadas em fotos. Essas comunicações podem sofrer interferências na hora da recepção, de forma a terem seu conteúdo modificado – seja através de algum tipo de efeito digital ou na edição final da imagem, em cortes, junções e encaixes dos quadros.
Manipulação de Imagem — Isso quer dizer que a NASA pode, se quiser, revelar ou não o que está descobrindo em solo marciano. No entanto, até o momento, não há indícios seguros – apenas rumores – de que a agência espacial esteja agindo como no passado, na época dos primeiros vôos orbitais terrestres e à Lua, quando UFOs seguiam os foguetes e as imagens eram modificadas e censuradas. Outro dado importante é que as fotos panorâmicas de Marte foram enviadas pela Spirit de forma fragmentada, ou seja, em quadros, cabendo à equipe técnica da NASA executar os encaixes, quadro a quadro, para se chegar a um resultado final.
Durante tais montagens, há
a possibilidade de que ocorram defeitos espontâneos ou provocados, tais como o aparecimento de objetos ou formações estranhas, pontos luminosos ou escuros, algum tipo de degeneração ou distorção da paisagem registrada ou de parte dela etc. De qualquer forma, é perceptível nas imagens – mesmo após receberem tratamento – a diferença que existe entre as colorações dentro de uma mesma fotografia. Isso se dá devido à mudança da luz solar no decorrer do tempo que se gastou para fotografar tal paisagem em formato panorâmico. A luz solar incide de forma particular em cada quadro registrado na fotografia, já que cada unidade foi registrada em horários diferentes. Sendo assim, poderíamos visualizar tais quadros com tonalidades diferentes, devido à exposição que sofreram às mudanças da luz solar refletida em determinados locais da superfície de Marte, efeito da rotação planetária. Para que isso não aconteça, as fotografias panorâmicas já montadas acabam por receber um tratamento final para se equilibrar a tonalidade, uniformizando-se os efeitos de sombra e luz.
Desdobramento da Missão — Com o rendimento dobrado dos trabalhos dos robôs Spirit e Opportunity em Marte, a NASA e o Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), de Pasadena, Califórnia, puderam colher fartas e detalhadas imagens dos diversos aspectos planetários de Marte. É provável que ainda venham à tona, no futuro, outras imagens que, por ora, ainda não foram liberadas. É possível ainda que tais fotografias nos mostrem objetos de natureza artificial na superfície marciana, tais como peças, máquinas ou esculturas – quiçá, restos de antigas civilizações que ali habitaram num passado longínquo.
Enfim, toda essa natureza dispendiosa e aparentemente inerte que está sendo descoberta aos poucos em Marte será objeto de estudo por várias gerações de cientistas e astrônomos que ainda estão por vir. Estamos presenciando um momento histórico na atividade das explorações espaciais. Com o passar do tempo, é certo que a humanidade terrestre irá dissecar o passado e o futuro do planeta vizinho, buscando, sobretudo, entender melhor o que aconteceu lá e o que poderá vir a ocorrer com o nosso próprio planeta. Pelo andar da carruagem rumo a Marte, várias coisas são tidas como certas, dentre elas que os investimentos no Planeta Vermelho irão continuar. Nações como a China, o Japão e várias outras da União Européia passarão a investir mais em pesquisas de exploração do vizinho.
Ao que parece, estamos assistindo os primeiros ensaios para o envio de missões tripuladas a Marte, conforme declarou recentemente a NASA, dentro de no máximo 30 anos. Portanto, contradizendo um antigo adágio terrestre, poderíamos dizer que as águas passadas – de Marte – irão mover os moinhos do futuro.