Num recente comunicado à imprensa, anunciamos a publicação de um informe que pretendia ser o aporte de um grupo de ex-cadetes do Instituto Francês de Altos Estudos da Defesa Nacional (Institut des Hautes Etudes de Défense National – IHEDN) à situação ufológica francesa. Este informe foi publicado num número especial do semanário VSD e supõe-se que mais de 70.000 cópias do número especial foram distribuídas pelas bancas de toda a França no passado dia 17 de julho.
Bernard Thouanel, editor desta edição especial da VSD, foi o responsável de pôr ao alcance do público o citado informe, depois que circulara de forma restrita nos ambientes políticos e militares. Posto que Bernard Thouanel decidiu não fazer na Internet nenhum comentário a respeito do informe, e devido ao muito que se disse – mesmo com diminuto valor informativo – por parte dos entusiastas ufólogos franceses, optamos por expor nosso “aporte sobre o aporte”, para dizer de alguma forma, de modo que os colegas estrangeiros saibam a que se ater a respeito deste informe. O que segue a continuação expressa unicamente o parecer do grupo francês SOS OVNI.
Com o título de Lês OVNI et la Défense [Os ÓVNIS e a Defesa], o exemplar de 90 páginas vem com o subtítulo A quoi doit-on se preparer? [Perante o que devemos nos preparar?]. O número, apesar de ser publicado pela VSD Especial, está assinado pelo acrônimo de COMETA, cujas iniciais não vem explicadas em nenhum lugar do texto mais que como o de uma organização sem fins lucrativos cujos membros procederiam da Associação de Antigos Cadetes do Instituto de Altos Estudos da Defesa.
O informe divide-se em quatro partes muito desiguais, intituladas:
Fatos e testemunhos;
Um aporte ao que sabemos;
OVNIS e defesa;
Conclusões e propostas.
Note-se que o informe não é oficial, posto que foi publicado por uma organização sem fins de lucro privada que só reflete os pontos de vista de seus membros. Sem embargo, sustenta-se sutilmente a confusão sobre se o informe deve ser considerado oficial ou não. Por exemplo, na nota introdutória, diz o General Bernard Norlain, ex-chefe do IHEDN: “Espero que as propostas do COMETA, inspiradas no bom senso, sejam examinadas e postas em prática pelas autoridades deste país. O primeiro informe da Associação de Antigos Cadetes ajudou a criar, dentro do Centro Espacial Francês, o único escritório civil em todo o mundo dedicado ao estudo dos UFOs. Tomara que esta nova e mais completa contribuição possa oferecer um novo impulso tanto aos esforços de nossa nação, como à essencial cooperação internacional. O Instituto de Altos Estudos da Defesa haveria prestado assim um grande serviço ao país e, inclusive, quiçá a toda a humanidade”.
O informe foi obviamente preparado para que as autoridades políticas francesas reconsiderem sua posição respeito ao estudo dos fenômenos aéreos não identificados em geral e, mais especificamente, sobre o financiamento do Service d\’Expertise des Phénomènes de Rentrée Atmosphérique [Serviço para o Estudo dos Fenômenos de Reentrada Atmosférica, SEPRA], dirigido por Jean-Jacques Velasco. Diferentemente do primeiro informe de 1977, seu objetivo não era recopilar o estado atual dos assuntos ufológicos a escala mundial, onde podia-se passar em revista a investigação privada neste campo. Ficamos maravilhados por casos cruciais serem selecionados por e para os militares. Por exemplo, mencionam-se Lakenheath (1956), o caso do RB-47 (1957) ou Teerã (1976), enquanto não se diz nem uma palavra sobre a onda belga (1989-1991), uma situação que provocou muito rebuliço na França e Bélgica.
Contrariamente ao que se disse, apesar dos membros de COMETA poderem ser considerados valentes por terem dado a cara, não existiu nenhuma ameaça para suas carreiras, pois a maioria (se não todos) estão retirados da milícia ou do serviço civil. Mas sua apreciação da situação é mais do que questionável, a menos no que se refere à última parte do informe que, apesar de não estar assinada, leva o selo de industriais estreitamente vinculados com os militares e com os laboratórios de investigação, cujos nomes foram aparecendo ao longo da dilatada história, primeiro do GEPAN e agora do SEPRA.
A menos que estas pessoas possuam informação confidencial, que já deveria ter sido revelada, suas tendências às correntes com maior paranóia da Ufologia são mais do que alarmantes. Consideram as idéias de Corso, por exemplo, muito mais dignas de confiança do que as de Nick Pope. Roswell se considera como coisa certa, e América do Norte aparece como o “grande lobo negro” que tenta desacreditar todo o assunto, especialmente (mas não exclusivamente) em relação a Roswell, pareceria lógico, se estamos dispostos a acreditar que conseguiram objetos de outro mundo. Num dos anexos anônimos, titulado O assunto Roswell – Desinformação, pode-se ler o seguinte parágrafo: “Parece que o incidente de Roswell aconteceu em 04 de julho, Dia da Independência, por volta das 23h30. A data e o lugar simbolizam o poder de América, então a pergunta é: se o acidente foi de um aparelho extraterrestre, pode ser verdadeiramente considerado um acidente ou pode ter sido algo planejado, sendo neste caso uma espécie de mensagem que o autenticara?”.
Tendo em conta os destinatários finais do informe, que (como se diz no prefácio) seriam o presidente Jacques Chirac e o Primeiro Ministro Lionel Jospin, e o nível das pessoas envolvidas, há motivos para se espantar de tais informações, que sem dúvida prejudicariam os objetivos que o COMETA desejava alcançar. Entende-se agora por que outras sugestões, como a criação de um escritório governamental (mais um…) que colaboraria com o SEPRA, ou o reforço financiamento deste último, provavelmente não sejam atendidas. Desejamos sinceramente estar errados, mas se não é assim, este informe comprometerá qualquer interesse sério ou oficial sobre o Fenômeno UFO nos anos que virão.