Basicamente, assim estava sendo anunciado: “Contatos de 4º Grau é um thriller provocativo ambientado em uma pequena cidade do Alasca, onde misteriosamente desde a década de 60 todos os anos são registrados um grande número de desaparecimentos. Apesar das diversas investigações do FBI, a verdade nunca foi revelada. Quando a psicóloga doutora Abigail Tyler (Milla Jovovich) começa a gravar suas sessões com pacientes traumatizados acaba descobrindo as mais perturbadoras evidencias de abduções alienígenas, jamais reveladas ao público. Veja os fatos documentados por filmagens reais e tire suas conclusões”. Assista ao trailer, clicando aqui.
Pois bem. Numa técnica conhecida como pseudo-documentário, a película procura fazer o público acreditar que se baseia numa história real. Entretanto, não é. Num balanço rápido e geral sobre as mentiras do filme, não existe nenhuma doutora Abigail Tyler e jornais do Alasca relataram nunca ter ouvido falar dos desaparecimentos na cidade de Nome. Mistura cenas ficcionais com cenas – supostamente – reais, filmadas por Abigail, há inclusive vários momentos nos quais a tela é dividida entre cenas ficcionais e “reais” para mostrar ao público o quanto a produção foi fiel ao material “verdadeiro”. Enfim, fica a dúvida sobre que tipo de efeitos causará sobre a população, entre pavor, incredulidade, espanto e o mais incômodo: crer em tudo. Leia mais detalhes, clicando aqui.
Consultor da Revista UFO, Budd Hopkins é um prestigiado ufólogo norte-americano, autor de diversas obras e com mais de 30 anos em pesquisas efetivas sobre abduções, em centenas de casos investigados pessoalmente. Nos repassou sua impressão e crítica sobre o contexto e conteúdo da película: “Fui assistir a um autodenominado filme de abdução por UFOs, The Forth King [Em português, foi adaptado para Contatos de 4º Grau]. Sentei em um teatro, sendo bombardeado com ruído de trilha sonora – gritos – muitos gritos –, música melodramática e alta. Me perguntei como os roteiristas poderiam ter feito tantas coisas erradas. Filmado na cidade de Nome, Alasca – que, a propósito, parece forçadamente muito bonita, devido às tomadas aéreas do filme – o enredo se concentra nas pessoas que sofreram aparentemente abduções e pelo menos um destes “abduzidos”, a pequena filha do terapeuta, parece que foi levada por um bom motivo.
O filme se desenrola mais ou menos movido por sessões de falsas hipnoses em que praticamente qualquer pessoa grita sobre assassinatos sangrentos. Um homem, grotescamente traumatizado por aquilo que ele se lembra durante uma sessão, na verdade comete assassinatos, prejudica sua esposa inocente, seus dois filhos e a si próprio. E, neste e em todos os outros casos mostrado no filme, além de uma coruja numa janela, ninguém lembra nada sobre suas experiências de abdução até que a hipnose desbloqueie, finalmente, a verdade sinistra, e a gritaria insuportável começa.
Em paralelo a esta ficção, nunca antes relatada, o estilo pseudo-documentário do filme tenta nos convencer que tudo apresentado é “baseado em fatos reais”. Bem, depois de 33 anos trabalhando com centenas e centenas pessoas abduzidas por UFOs, posso dizer que, em primeiro lugar, que em nenhum caso pesquisado nunca informei o desaparecimento permanente de um amigo, um membro da família ou qualquer pessoa mesmo vagamente conectada com minha enorme quantidade de pessoas. A classificação do final, “desaparecidos por abdução alienígena” que o filme sugere simplesmente não acontece – embora, infelizmente, a trágica reviravolta no roteiro cinematográfico poderia perturbar pessoas desinformadas nos cinemas em todo o mundo.
Em segundo lugar, as reações e emoções exageradas apresentadas pelos atores são praticamente inexistentes em sessões de hipnose conduzidas de forma competente. Eu já observei gritos reais em talvez seis ou 7 das sessões de hipnose de quase 2.000 que já presenciei ou conduzi, e em mais de três décadas, nunca vi o tipo de terror insensato, vômitos e convulsões que o filme graficamente e vergonhosamente mostra, forçadamente para audiência.
Em uma terceira invenção bizarra, os roteiristas vincularam uma antiga língua suméria com os fenômenos de abdução, portanto, neste filme os alienígenas falam aparentemente sumério. Por que razão, especialmente, quando a comunicação em experiências de rapto é quase inevitavelmente telepática? É porque esta sensação gostosa de ficção permite que a câmera se desloque ao longo de um museu cheio de antigos artefatos de assustadora aparência?
Eu poderia analisar as questões e problemas de fato que existem neste filme, mas não teria o coração ou a paciência de fazê-lo. O resultado é esse: poupe seu dinheiro que você gastaria no cinema mais próximo e se suspeitar de que você pode ter tido uma experiência de abdução, absolutamente não assista este filme. Um expectador do mesmo poderia ser profundamente afetado por esta confusão barulhenta, fictícia, que, como já disse, envolve o assassinato, disparos e suicídio, como também intermináveis minutos de imagens de vídeo borrado, falsos, que os cineastas insistem que são “reais”. (Felizmente, nenhum alienígena ou UFO são realmente representados).
Apesar dos “terrores insuportáveis” de recall hipnótico que este filme pretende demonstrar, se uma pessoa deve ser o objeto de exploração hipnótica de experiências de abdução, parcialmente recuperadas, nenhuma vai pegar uma pistola posteriormente e atirar em alguém, nenhum dos membros da sua família vai ser permanentemente raptada e ele provavelmente não dará muitos gritos à toa. As coisas parecem acontecer somente em determinados tipos de filmes sci-fi ou horror lúgubre, da qual The Forth Kind é uma mistura extremamente infeliz.”