O astrofísico russo Nikolai Kardashev classificou os tipos de civilizações que poderiam existir no Universo em três. Tipo I seria capaz de utilizar todos os recursos energéticos de seu planeta, bem como controlar seu clima. Tipo II seria capaz de absorver toda a energia de uma estrela, ao passo que uma civilização Tipo III poderia utilizar o potencial energético de toda uma galáxia.
Nossa civilização ainda é do Tipo 0, mas alguns defendem que em um século poderemos passar para a de Tipo I. Encontrar tais sociedades alienígenas tem sido objeto mais da ficção científica que da astronomia, mas com o desenvolvimento tecnológico novos instrumentos permitem que a busca comece a ser realizada. Já falamos aqui do astrônomo Geoff Marcy, que está procurando civilizações alienígenas nos dados obtidos pelo telescópio espacial Kepler.
O que Marcy e outros estão buscando enquadra-se em uma civilização Tipo II, capaz de controlar os recursos energéticos de sua estrela. Para tanto, seriam capazes de construir uma gigantesca estrutura ao redor de seu sol, prevista em 1960 pelo astrofísico Freeman Dyson. Ao contrário de muitas concepções elaboradas ao longo dos anos, inclusive na ficção científica, como por exemplo no episódio Relics de Jornada nas Estrelas – A Nova Geração, Dyson nunca propôs uma esfera rígida e contínua envolvendo um distante sol.
ARQUEOLOGIA INTERESTELAR
O próprio Dyson afirma: “Sequer necessita ser uma esfera. Poderia ser qualquer lugar ou corpo em órbita da estrela, onde os extraterrestres poderiam gerar grandes quantidades de energia”. De fato, a ideia original era que uma avançada civilização alienígena quebrasse planetas ou planetoides em corpos menores, envolvendo seu sol com uma nuvem de objetos a fim de colher o máximo possível de sua energia. Uma esfera sólida traria insuperáveis problemas, como o desafio de ser precisamente centralizada, a fim de não cair na estrela, ou a fragilidade de sua estrutura.
Buscar por tais projetos de engenharia estelar resolveria o problema de encontrar alienígenas que não fazem questão de se comunicar com a Terra, uma das críticas feitas ao projeto SETI. O resultado de envolver um sol distante com uma Esfera de Dyson seria um incremento na radiação infravermelha, ou calor, emitido por aquele sistema, incompatível com sua luminosidade diminuída artificialmente. Por décadas a tecnologia não pôde realizar a ousada proposta de Dyson, até que em 1983 foi lançado o Satélite Astronômico de Raios Infravermelhos (IRAS).
Esse telescópio foi o primeiro capaz de vasculhar todo o céu em busca de fontes de emissão infravermelha e o responsável pela histórica descoberta do sistema solar em formação da estrela Vega, a 25 anos-luz daqui. Foi a primeira prova de que deveriam existir outros sistemas solares, o que passou a ser confirmado pela descoberta de exoplanetas a partir de 1995, que recentemente passaram de 1.000 mundos confirmados. Na época houve uma busca incipiente por Esferas de Dyson, mas ainda havia problemas com a tecnologia.
A PROCURA POR CIVILIZAÇÕES ALIENÍGENAS AVANÇADAS
Recentemente Richard Carrigan, cientista emérito no Fermilab em Batavia, Illinois, utilizou as informações do IRAS a fim de procurar Esferas de Dyson. A busca nos anos 80 não foi sistemática como a dele, que por fim localizou 16 objetos em um raio de centenas de anos-luz da Terra que poderiam ser essas estruturas. Então ele e seus colegas do SETI utilizaram o Allen Telescope Array para tentar captar sinais de rádio nessas regiões, mas nada encontraram.
Uma Esfera de Dyson funcionaria como um corpo escuro, absorvendo toda a radiação eletromagnética que chegaria até ele e emitindo energia dependendo de sua temperatura. A poeira que permeia o meio interestelar também apareceria da mesma forma no infravermelho, porém seu espectro seria diferente, dependendo de sua composição. Carrigan também procurou por estruturas de Dyson ao redor de galáxias, que denunciariam civilizações Tipo III e seriam mais simples de localizar. É uma busca similar a que está sendo feita por Jason Wright, da Universidade da Pennsylvania, usando o Explorador Infravermelho de Amplo Campo (WISE). A busca ainda não deu resultados, mas eles a estão refinando, também para civilizações Tipo II.
Existem outras formas de a astronomia procurar civilizações extraterrestrres. Já foi comentado que a próxima geração de telescópios poderá determinar a composição de atmosferas em exoplanetas e detectar inclusive compostos artificiais. Uma civilização avançada poderia alterar a composição de sua estrela, a fim de estabilizá-la ou prolongar sua vida. O próprio Dyson propôs que os astrônomos buscassem por longas esteiras de gás ionizado no espaço, que poderiam ser sinais de grandes naves alienígenas utilizando seus propulsores para desacelerar, após viajar a velocidades próximas à da luz. É certo que, no momento em que tais sinais de uma tecnologia alienígena foram descobertos no espaço, será iniciada uma corrida para novas e ainda mais impressionantes observações.
Leia o trabalho de Richard Carrigan
Civilizações extraterrestres podem ser denunciadas por atmosferas exoplanetárias
Procurando estruturas alienígenas
Astrônomo Geoff Marcy inicia busca por civilizações extraterrestres
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