Pouca gente sabe — mesmo entre os membros da Comunidade Ufológica Brasileira — que no país vizinho existe uma entidade oficial de pesquisas de discos voadores estabelecida dentro da sua Aeronáutica e em ininterrupta atividade desde 1979, quando foi criada por decisão do próprio presidente da República. Isso mesmo: há mais de três décadas está em operação no Uruguai a Comisión Receptadora y Investigadora de Denuncias de Objectos Voladores No Identificados (Cridovni). No continente todo, sabe-se apenas de mais três entidades semelhantes: o Centro de Estudios de Fenómenos Aéreos Anómalos (CEFAA), que desde 1997 funciona dentro da Diretoria Geral de Aviação Civil do Chile, a Oficina de Investigación de Fenómenos Anómalos Aeroespaciales (OIFAA) da Força Aérea Peruana (FAP) e uma comissão argentina criada no começo desse ano, ainda em fase de estruturação.
Todos os países que abrigam tais entidades são menores do que o Brasil, e, no entanto, têm órgãos governamentais que trabalham abertamente com a hipótese extraterrestre para a procedência dos UFOs. Por que isso não ocorre aqui? Como se sabe, uma das propostas da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, lançada pela Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) por meio da Revista UFO, em 2004, além de conquistar a liberação de arquivos ufológicos secretos — êxito já alcançado —, é estabelecer em nosso país um órgão oficial de investigação ufológica.
Pesquisador habilidoso
Apesar de o Brasil ter reconhecido abertamente a questão e liberado documentos de 1950 a 2010 [Veja edições UFO 170, 175 e 183, agora disponíveis na íntegra em ufo.com.br], ainda nos falta uma entidade como a Cridovni, como o CEFAA ou como a OIFAA. Isso é algo que já foi prometido pelo brigadeiro Luis Carlos da Silva Bueno, ex-comandante da Aeronáutica, em maio de 2005, mas não aconteceu.
Temos em nossos arquivos todos os tipos de casos ufológicos que se pode encontrar na série Arquivo-X. Ainda que não tenhamos todas as respostas para o Fenômeno UFO, o que são esses veículos e de onde vêm, estamos pesquisando com o máximo de disposição. E como estamos a serviço do Estado Uruguaio, temos que ser imparciais.
Para entender o funcionamento de uma entidade oficial de pesquisa de discos voadores — que, no caso de todas as citadas, também têm membros civis em seus quadros —, aproveitei a visita que fiz a Montevidéu, no final de 2010, para proferir uma conferência justamente sobre o processo brasileiro de abertura ufológica, e entrevistei o presidente da Cridovni, um militar na ativa da Força Aérea Uruguaia (FAU) que também é ufólogo dedicado e conferencista habilidoso, tendo vindo inúmeras vezes ao Brasil para expor o trabalho do órgão que dirige — ele também é figura constante em eventos em outros países do continente.
A oportunidade de entrevistar o coronel Ariel Sánchez — o que fiz longamente na sede da Comissão, na Base Aérea de Boiso Lanza, a 30 km de Montevidéu — foi uma grande experiência, tal como foi entrevistar outros militares do Brasil e do exterior que têm dado suas significativas parcelas de contribuição para uma maior transparência da Ufologia. A entrevista foi, na verdade, uma agradável conversa de três horas seguidas de almoço no restaurante dos oficiais da base e de uma visita a todas as suas instalações. “Não temos segredo de espécie alguma aqui e teremos prazer em descrever tudo o que fazemos à Revista UFO”, disse Sánchez ao me levar para conhecer o centro de controle de tráfego aéreo do país, que também está na Boiso Lanza.
Ufólogos profissionais de fato
Ariel Sánchez, que há quase uma década é correspondente internacional dessa publicação, tem um respeitável currículo de experiências e atividades ufológicas. Sua posição de presidente da Comissão uruguaia o torna um homem incomum. “Temos em nossos arquivos todos os tipos de casos ufológicos que se pode encontrar na série Arquivo-X”, diz. E é verdade, como se verá nessa entrevista. Ele e seus comandados — como o tenente Daniel Silvera, também consultor da UFO — são como os agentes Mulder e Scully da referida série, meticulosos e detalhistas, mas na vida real.
Foi muito interessante ver de perto como funciona a Cridovni, cujos integrantes são ufólogos profissionais de fato, pois têm seus salários pagos pela FAU — eles servem à arma em atividades regulares e usam parte do tempo de serviço para a pesquisa ufológica, ficando de plantão para qualquer chamado. Quando recebem relatos de ocorrências — que os uruguaios chamam de denúncias, daí o nome da entidade —, que podem chegar a qualquer instante, partem para investigá-los com equipe fardada e em carro oficial. Entrevistam testemunhas, levantam dados, recolhem amostras etc, e voltam à capital para iniciar a investigação, seguindo rigoroso padrão metodológico. Um ponto para o Uruguai, que precisa ser imitado por todos os países do continente.
Aliás, dois: a Cridovni realizou em Montevidéu, em novembro de 2010, o I Congresso Internacional de Investigação de Fenômenos Aeroespaciais e Terrestres, o primeiro evento de Ufologia do mundo, de que se tem conhecimento, a ser apoiado por um órgão militar — justamente sua Aeronáutica. No auditório, só se via homens de farda. Ou talvez mereça três pontos, porque, para ampliar sua abrangência — apesar de ser pequeno o país onde atua —, a Cridovni implantou há 10 anos um “braço civil” para suas atividades, o Centro Regional Investigador de Fenômenos Aeroespaciais e Terrestres (Crifat). “Ainda não temos respostas para o Fenômeno UFO, o que são esses veículos e de onde vêm, mas estamos pesquisando com o máximo de disposição”, diz Sánchez, deixando entrever sua cautela de militar ao não fazer suposições. “Como estamos a serviço do Estado Uruguaio, temos que ser imparciais. Não estimulamos nem desestimulamos qualquer ideia”.
Mente aberta a outras ideias
Sobre o congresso ocorrido em Montevidéu, que reuniu expoentes da Ufologia Sul-Americana, o coronel Ariel Sánchez declarou que “desejava que o evento fosse o mais aberto possível”. E foi mesmo. Apesar de a Cridovni ter uma postura científica quanto ao Fenômeno UFO, seus membros têm mente aberta e aceitaram discutir Ufologia com integrantes de várias outras linhas de pensamento. Sánchez confirmou que eles já receberam mais de 2.200 “denúncias” de UFOs, e inclusive muitas fotos e vídeos, que chegam à entidade todos os dias através de cartas, e-mails e telefonemas. “Apesar disso, até o momento não encontramos evidências de contatos diretos com ETs”.
Casos com risco a aeronaves
Também controlador de tráfego aéreo, o coronel Ariel Sánchez descreve nessa entrevista casos emblemáticos da Ufologia Uruguaia, entre eles alguns envolvendo aviões militares e civis, em ocorrências que chegaram a colocar em risco a segurança de voo. “Tivemos que relatar os fatos imediatamente ao comandante da Força Aérea, que avisou o ministro da Defesa e esse comunicou o presidente”, disse referindo-se a um acontecimento envolvendo um jato da empresa aérea Lufthansa que cruzava o país, em 2007. Ele também confirma que sua entidade trabalha em parceria com grupos de pesquisas civis e até mesmo com entidades oficiais de outros países. Enfim, nos revela como deve ser uma entidade oficial de pesquisa ufológica — para o caso de nossos militares precisarem de um exemplo. Vamos à entrevista.
Vocês conduzem no Uruguai investigações ufológicas de maneira única, levantando ocorrências de avistamentos e contatos de forma oficial, nos locais onde ocorrem, com a máxima rapidez e metodologia militar. É o que poderíamos chamar de “os verdadeiros Arquivo-X”. Diga-nos, coronel, como é a vida de um “ufólogo oficial”, alguém que tem a Ufologia como uma missão militar? Levamos uma vida normal, mas com muitas responsabilidades, já que representamos a Força Aérea Uruguaia (FAU) nesse trabalho, ou seja, representamos o Estado Uruguaio no momento de emitir relatórios de nossas descobertas. Na Comissão temos que ter certa postura para podermos nos dirigir às testemunhas ou nos relacionarmos com a imprensa. E, sobretudo, temos que agir com imparcialidade e objetividade no manuseio da questão ufológica, para não estimular nem desestimular investigações, e ainda demonstrar a maior seriedade possível no momento de transmitir a informação obtida em algum trabalho de campo. Não podemos, como representantes da FAU, sair de forma apressada fazendo relatórios conclusivos sobre fatos que ainda exijam mais averiguações. Enfim, devemos ser muito comedidos em nosso trabalho, não para ocultar fatos, mas para bem informar o público — que deve ser respeitado.
Consta que foi o seu pai, também militar, quem iniciou a Cridovni, em 1979. E o senhor, desde quando está envolvido com as atividades da entidade? Foi por exemplo dele? Não exatamente. Estou há 20 anos na entidade, tendo ingressado primeiramente como primeiro-tenente, convidado pelo coronel Carlos Prieto, que era o presidente da Comissão na época. Ele viu que eu tinha perfil adequado para trabalhar nessa atividade, e me deu a atribuição de secretário do órgão. Ou seja, comecei na Comissão cuidando de seus arquivos. Tive que lê-los um por um e aprender muitos casos quase que de memória para depois poder trabalhar nas investigações de fato e passar a responder à imprensa sobre determinados assuntos. Como membro de uma instituição oficial, e ainda mais lidando com um tema com UFOs, deve-se conhecê-lo a fundo e explicar os casos que tínhamos investigado sem erros. Há aproximadamente quatro anos sou presidente da Comissão, que já chega a 32 anos de exercício sem interrupção, desde que foi fundada, em 1979.
O que o senhor diria que é o maior patrimônio da Cridovni, fora, naturalmente, suas investigações e conclusões? Eu diria que o que temos de mais importante são nossos recursos humanos. Sim, o patrimônio humano da entidade, representado por nosso grupo de pesquisadores e analistas, é nosso maior bem, muito além da tecnologia ou dos recursos estruturais ou funcionais de que dispomos para realizar nosso trabalho. O que há de mais importante na Comissão são seus membros, que têm as atribuições técnicas necessárias para oferecer à Força Aérea Uruguaia (FAU), e consequentemente ao Governo Uruguaio, informações consistentes sobre o Fenômeno UFO em nosso país.
O que temos de mais importante são nossos recursos humanos, o patrimônio humano da Comissão, representado por nosso grupo de pesquisadores e analistas. Esse é nosso maior bem, muito além da tecnologia ou dos recursos estruturais ou funcionais de que dispomos (…) O episódio mais impactante que tivemos foram perseguições de aviões de combate uruguaios a objetos voadores não identificados, especialmente uma ocorrida em 1986.
Quantos casos ufológicos a Cridovni investigou antes que o senhor ingressasse nela, e quantos depois disso? A Comissão tem atualmente mais de 2.200 registros de avistamentos recebidos durante os últimos 30 anos, dos quais cerca de 1.250 casos foram investigados. Isso quer dizer que nem sempre uma denúncia [Relato] se transforma em uma investigação, pois ele pode ter pouca informação para que se abra um procedimento. Nesses casos, registramos o que aconteceu, o que foi visto, em que data e hora etc, mas havendo poucos dados para trabalhar, paramos aí. No entanto, se uma denúncia é boa, se há testemunhas ou evidências consistentes, então abrimos uma investigação, que se transforma no que chamamos de um “caso ufológico”.
Elevado “nível de estranheza”
Basicamente, o procedimento investigativo da Cridovni é semelhante ao adotado por ufólogos civis? Sim, e é devido à falta de dados mais detalhados sobre determinados acontecimentos que, das 2.200 denúncias que recebemos, pouco mais de 50% foram investigadas. E desse total de 1.250 registros, temos cerca de 40 que são classificados como casos ufológicos — aqueles que ficaram sem resolução, sem uma explicação científica que determinasse a natureza do objeto observado. São eventos não convencionais para os quais nosso conhecimento aeronáutico e espacial não tem explicação até o momento. Eles são bastante estranhos e peculiares, apresentam um alto nível de estranheza e não nos permitem chegar a uma conclusão.
É um número considerável de ocorrências confirmadas, um pouco acima da média mundial devido ao fato de a Cridovni trabalhar com padrões mais rigorosos, não aplicados pela Ufologia Civil. Ao falar em “nível de estranheza” creio que vocês trabalham com a classificação de avistamentos criada pelo astrônomo J. A. Hynek, certo? A de Hynek foi a sistemática de classificação de casos ufológicos que usamos inicialmente em nosso trabalho. Mas ela foi modificada e melhorada para que pudéssemos adaptá-la às nossas necessidades. Como se sabe, segundo Hynek, uma série de fatores pode aumentar o “nível de estranheza” de uma ocorrência, assim como o “nível de credibilidade” das testemunhas. Uma conjunção desses fatores, quando elevados, nos leva a considerar mais uma ocorrência ufológica.
E desses cerca de 40 casos ufológicos de alto nível de estranheza que a Cridovni pesquisou, qual o senhor poderia dizer que mais lhe chamou a atenção? Poderia descrevê-lo? Sim. O episódio mais impactante que tivemos foram perseguições de aviões de combate uruguaios a objetos voadores não identificados, especialmente uma ocorrida em 1986. Duas aeronaves militares tentaram interceptar um UFO que cortava o espaço aéreo do país sem autorização e sem identificação — creio que no mesmo ano e mês em que em seu país se deu a chamada Noite Oficial dos UFOs no Brasil, em 19 de maio de 1986 [Veja edição UFO 170, agora disponível na íntegra em ufo.com.br].
O senhor acredita que tal perseguição se deu no Uruguai como parte do mesmo fenômeno que ocorria no Brasil, quando mais de 20 UFOs esféricos e com cerca de 100 m de diâmetro congestionaram os radares de várias capitais da Região Sudeste, sendo interceptados por sete caças da Força Aérea Brasileira (FAB)? Tenho que verificar a data em nossos documentos, mas é possível. Eram cerca de 20h30 e os dois aviões de combate a que me referi buscaram se aproximar de um objeto que fazia evoluções sobre uma represa. Eles tentaram alcançar o UFO por duas vezes, mas sem êxito porque o objeto fez manobras evasivas a uma velocidade tão alta que nossas aeronaves não tiveram chance de acompanhá-los.
Quais foram os procedimentos adotados na investigação do caso? Registramos todos os detalhes de voo dos aviões, seu tempo de duração, velocidade etc, e interrogamos detalhadamente os pilotos. Eram quatro aviadores em dois aviões modelo FMA IA 58 Pucará, um bimotor turboélice de combate ligeiro, de projeto e construção argentina [O nome significa fortaleza em idioma quéchua e o avião foi muito usado durante a Guerra das Malvinas]. Os Pucarás alcançam uma velocidade de 400 a 500 km/h, mas o UFO desenvolveu uma velocidade muito maior, que estimamos em nossa investigação em cerca de 1.000 km/h, ou seja, o dobro da velocidade dos aviões ou mais.
Além da extrema velocidade do UFO, ele demonstrou alguma outra particularidade que indicasse uma origem extraordinária? Sim, um fato peculiar foi que o objeto mudou de cor ao acelerar, indo do amarelo para o laranja e depois para um tom vermelho. Ele se afastou com uma velocidade vertiginosa, até que se perdeu de vista. Na segunda tentativa de interceptação ocorreu o mesmo processo: quando os Pucarás se aproximavam do UFO, ele disparava a enorme velocidade no sentido oeste. Sem ter o que fazer, os pilotos desistiram da perseguição e retomaram.
O UFO brincava com os pilotos
Por quanto tempo demorou a segunda tentativa de interceptação? Por poucos minutos, pois no momento em que os pilotos observavam o UFO e tentaram alcançá-lo, logo o aparelho se evadiu do local. O curioso é que ele acabava retornando ao mesmo ponto onde estava quando os aviões retomavam sua rota original — era como se estivesse brincando com nossos aviadores. Em dado momento, o objeto começou a circular ao redor da represa. Quando nossos pilotos o viram fazendo isso, não puderam crer e voltaram novamente a tentar a interceptação em uma manobra muito rápida — com uns 30 ou 40 segundos de reação. E o que ocorreu? O objeto, quando percebeu que os aviões estavam se aproximando, disparou a grande velocidade no sentido oeste e mudando outra vez de cor, e não foi mais visto.
Impressionante. E o que se passou aos aviadores após toda essa experiência? Eles cancelaram seu treinamento, pois aquele havia sido um fato muito estressante, e voltaram à Base Aérea de Durazno [A mais importante instalação da Força Aérea Uruguaia (FAU), localizada bem no meio do país], de onde não estavam longe. Ao chegarem, relataram aos oficiais o que havia sucedido. O curioso é que, quando aterrissaram, souberam que em Montevidéu havia ocorrido um apagão em toda a cidade por alguns minutos, devido ao superaquecimento de uma linha de transmissão elétrica que vinha justamente da usina elétrica localizada na represa que aquele UFO estava sobrevoando. Deixe-me acrescentar que a base de Durazno é onde se concentram as operações de treinamento de aviadores, onde há inúmeras aeronaves de vários tipos.
A Cridovni chegou a fazer uma associação dos fatos, ou seja, do sobrevoo da represa com o apagão em Montevidéu? Sim. Cremos que aquele objeto deve ter interagido de alguma maneira com a linha de transmissão, levando ao seu superaquecimento. Essa é uma suposição baseada nos informes técnicos da empresa que proporciona a energia elétrica ao país, a Usinas y Trasmisiones Eléctricas (UTE). Seus técnicos concluíram que houve aquecimento demasiado em alguns transformadores instalados ao longo da linha de transmissão que alimenta a capital, e supomos que pode ter sido resultado daquela ocorrência, pois por alguma razão aquele objeto estava sobre a represa — alguma coisa ele estava fazendo lá, mas não sabemos o quê. Os vigilantes e operários da usina do local também observaram o UFO voando ao redor da represa naquela noite — ou seja, o objeto foi visto da terra e do ar, o que não deixa dúvidas sobre sua materialidade.
O UFO mudou de cor ao acelerar, indo do amarelo para o laranja e depois para um tom vermelho. Ele se afastou com uma velocidade vertiginosa, até que se perdeu de vista. Na segunda tentativa de interceptação ocorreu o mesmo processo: quando os Pucarás se aproximavam do UFO, ele disparava a enorme velocidade no sentido oeste. Sem ter o que fazer, os pilotos desistiram da perseguição.
O senhor conversou com os pilotos dos Pucarás? Qual era seu estado emocional? Eles estavam bastante surpresos com o que tinham visto. Cheguei a entrevistar pessoalmente os quatro pilotos, fazendo-o separadamente, um a um, como instrui nosso protocolo de investigação ufológica, e todos os relatos coincidiam quanto à descrição do objeto observado e às manobras que efetuou. Os aviadores estavam impactados com o que viveram.
Não é para menos, coronel. Mas eles continuam trabalhando na Força Aérea? Dos quatro aviadores, apenas um segue trabalhando aqui na Força Aérea.
Protocolo de interceptação
O senhor gostaria de estar no lugar deles? Qual teria sido sua reação caso estivesse no comando de um daqueles aviões? Gostaria muito [Risos], mas acho que minha reação também teria sido de total surpresa. Na verdade, não sei que atitude teria tomado naquela hora — nunca se sabe. Os aviões envolvidos na perseguição eram de combate e poderia ter ocorrido algum tipo de hostilidade de qualquer uma das partes, uma reação de cunho bélico — apesar de, nesses casos, o aviador ser obrigado a solicitar ordens superiores para executar algum tipo de ação, como para disparar um canhão ou um foguete. Isso também segue um protocolo no país. Por lei, o Uruguai não pode atirar contra qualquer aeronave, salvo se ordenado pelo presidente ou em situações de combate real. Assim, um piloto pode até pensar em fazer qualquer coisa, mas está sujeito às ordens superiores e ao protocolo de interceptação de um veículo não conhecido.
Compreendo. Além desse caso investigado pela Cridovni, de natureza militar, há algum outro que seja igualmente impactante, porém vivido por testemunhas civis? Poderia descrevê-lo? Sim, trata-se de um episódio ocorrido com a tripulação de um avião da Força Aérea que, em determinada época, era usado para transporte regular de civis pelo continente, sendo também operado por civis. A aeronave fazia o trajeto entre Assunção, no Paraguai, e Montevidéu quando algo ocorreu. O caso se deu e foi investigado em 1979. Quando o avião já estava em território uruguaio, passou a ser acompanhado por uma esfera luminosa bem ao seu lado e durante boa parte do trajeto restante até a capital. Quando a tripulação viu o objeto, consultou a central de controle de tráfego aéreo para verificar se havia algum avião que pudesse estar sem comunicação ali, causando aquele efeito, talvez uma aeronave que não fosse de conhecimento dos controladores. Mas a resposta foi que não havia qualquer avião naquela situação por perto.
O que ocorreu em seguida? Qual foi a reação do piloto da aeronave? Os pilotos, comissários e passageiros começaram então a observar o estranho objeto, mas não estavam nem um pouco contentes por terem um aparelho não identificado voando ao seu lado — e ficaram nervosos principalmente por causa do risco que poderia causar à segurança do voo. Para ver se o objeto reagia a alguma manobra do avião, o piloto acendeu as luzes de aterrissagem, que são bastante potentes. Nesse momento, o UFO — que estava a mais ou menos 700 m de distância — se aproximou do avião e se colocou ao lado de sua asa esquerda. A tripulação se assustou ainda mais e passou a sentir imediatamente um estranho cheiro de material plástico queimado, como de baquelite, com que é feito o painel de controle do avião. Então o piloto apagou as luzes e o artefato se afastou, ou seja, mais uma vez reagiu ao estímulo dado. Podemos dizer que tais aparelhos reagem de alguma maneira à luz.
Quanto tempo durou esse episódio? Houve algum dano aos equipamentos da aeronave? Não, o caso todo foi breve, durou um ou dois minutos. E foi por pouco tempo porque, no momento em que o UFO se aproximou do avião e todos começaram a sentir cheiro de queimado, logo o piloto apagou as luzes de aterrissagem, que era o que atraía o estranho aparelho. Não chegou a haver fumaça na cabine, apenas o cheiro de plástico queimado. Mas foi o suficiente para que surgisse medo de que ocorreria um incêndio no painel de controle. O cheiro acabou saindo pelos dutos de ventilação e o objeto se afastou.
O senhor também entrevistou esse piloto e a tripulação do avião? Não. Naquela época eu não estava na Comissão, pois ingressei nela 10 anos depois, em 1989. Mas, evidentemente, me inteirei dos detalhes. Por exemplo, de como os passageiros haviam visto o objeto e que um deles tinha, inclusive, uma câmera fotográfica. Um dos comissários de bordo avisou o piloto disso, que lhe pediu para instruir o passageiro para que fizesse fotos do UFO. O fato é que, durante certo tempo, todos observavam o objeto, enquanto o comandante tentava controlar a situação para que não houvesse pânico. Quando chegava a Montevidéu e o piloto pedia permissão para aterrissar, o UFO já não estava mais tão perto. O avião desceu lentamente, atravessando uma camada de nuvens, e quando o UFO já podia ser avistado novamente, dentro do processo de pouso, já se encontrava bem distante da aeronave. Em solo, as testemunhas foram entrevistadas e os negativos da câmera fotográfica foram requisitados pelas autoridades.
O que aconteceu com as fotografias? Elas foram analisadas? Sim, foram analisadas e temos o relatório, que foi muito interessante. A conclusão dos especialistas, embora um tanto subjetiva, é de que o que produziu a imagem na foto foi uma fonte luminosa muito forte. Os pilotos também estranharam um objeto como aquele estar a uma altitude tão grande, descartando a possibilidade de que pudessem ser fenômenos luminosos como plasmas ou desprendidos de alguma rede elétrica ou torre de alta tensão, ou até mesmo que fosse algum tipo de plasma meteorológico — pois é muito difícil que pudesse chegar àquela altitude e reagir às manobras de acendimento e apagamento das luzes de aterrissagem, como reagiu. O UFO não flutuava livremente, mas acompanhava uma aeronave a uma determinada velocidade, e esse é um dos casos não convencionais que se encontram abertos nos arquivos da Comissão.
Certamente são dois casos emblemáticos, ambos envolvendo aeronaves e tripulações civis e militares. Mas e os casos que envolveram civis, pessoas desconhecidas que ligaram para vocês e relataram um avistamento? Qual é o acontecimento do gênero que mais o impactou? Há muitos casos dos quais podemos falar, alguns antigos e outros recentes, todos muito interessantes. Por exemplo, o de uma família que estava em uma estância do departamento [Estado] de Tacuarembó, em tarefas domésticas. Já era noite e estavam todos assistindo televisão, antes de irem dormir, quando começaram a notar uma interferência na imagem do aparelho. Logo pensaram que, como havia um pouco de vento, a antena talvez tivesse se movido ou girado. Um dos membros da família saiu para checar e, ao olhar para cima, viu que a antena estava normal, mas que havia um objeto luminoso sobre a casa.
Nós enviamos o informe sobre o caso envolvendo o avião da Lufthansa ao comandante da Força Aérea, que depois o encaminhou ao ministro da Defesa e esse informou o presidente do Uruguai.
O que ocorreu em seguida? Era de fato o UFO que causava interferência na imagem do aparelho? Aparentemente, sim. Quando todos saíram da casa, viram o artefato se movimentar em direção a um campo e fazer manobras diversas. Era um objeto vermelho que se movia muito rapidamente e à baixa altitude. Em determinado momento, a família ficou amedrontada e voltou para o interior da residência — mas os pais e os filhos homens seguiram observando pela janela o espetáculo. O UFO se aproximou da casa, sempre indo e voltando, até que passou por cima da habitação. Nesse instante, todos ouviram um barulho forte e a antena foi como que arrancada de sua posição e atirada ao chão. Obviamente o objeto se chocou contra ela e a derrubou.
Todos entrincheirados na casa
Talvez a nave estivesse sendo comandada por maus pilotos… Sim, maus pilotos [Risos]. Fora o barulho da antena, não havia outros ruídos e se ouvia apenas um pequeno zumbido que ia e voltava fora de casa. Em dado momento, temeroso de que algo pior ocorresse, o pai pegou uma arma e se prontificou a defender a família. Mas dali a pouco a luz da habitação também foi encerrada — a família tinha luz elétrica a partir de um moinho próximo. Todos ficaram entrincheirados na casa, olhando pela janela aquela luz que passava para lá e para cá. E voltaram a vê-la outra vez sobre o campo, já mais distante, continuando seu movimento oscilante até desaparecer. Naquela noite ninguém na casa conseguiu dormir…
Houve algum tipo de evidência física relevante ou marca da passagem do artefato sobre o campo? No outro dia, quando os membros da família saíram para percorrer o local com os peões que haviam chegado para trabalhar na propriedade, encontraram marcas de pasto queimado e outros fatos estranhos. O mais surpreendente foi que também havia sinal de queimado em uma pedra que existia no campo — uma grande marca circular foi formada sobre o pasto, atingindo também aquela pedra. Ora, para queimar uma pedra é necessária uma quantidade substancial de calor, uma fonte autógena que provesse algo da ordem de 5.000 ou 6.000 graus, mas isso levaria à completa incineração do pasto, que estava apenas queimado. Como explicar isso?
Os estudiosos encontraram uma explicação para essa anormalidade? Alguns grupos civis de Ufologia também investigaram o caso, e forneceram informações à Comissão. Foi uma pesquisa bastante interessante e esse é outro caso que ficou aberto, pois nunca se determinou cientificamente o que poderia ter causado aquele efeito — inclusive, a marca de queimado permaneceu ali durante muitos anos, como vários integrantes da nossa entidade constataram. Esse é um episódio de quase 30 anos, mas muito impactante, ocorrido justamente quando a Comissão havia começado o seu trabalho.
Esses casos que o senhor descreve são como certos clássicos da Ufologia Mundial, que ocorreram tanto no Uruguai como no Brasil, Argentina, Chile, França, Estados Unidos etc. São indubitáveis. Mas qual a posição da Cridovni a respeito deles? O que viram as testemunhas? Naves provenientes do espaço exterior? Essa é justamente uma das coisas que nos frustram, porque não sabemos o que são tais objetos. Mas não podemos assegurar que tenham origem terrestre, que sejam um fenômeno físico, porque nos casos que relatei é impossível se obter uma explicação convencional, científica. Poderíamos argumentar que se tratam do desprendimento de algum tipo de gás em formato globular, ou de outro tipo de elemento que possa ascender e acompanhar um avião, ou possa ser perseguido por aviões de combate etc. Mas essas não são explicações razoáveis e fisicamente aceitáveis.
Podemos dizer, então, que se trata de veículos materiais construídos com uma tecnologia não existente na Terra, ou seja, de naves alienígenas? Bem, o fato é que o que ocorreu com essa família em um campo de Tacuarembó vem se repetindo em outros locais. Esse é um avistamento típico, e há muitos outros episódios de artefatos de formas sólidas, como os clássicos discos voadores. Temos em nossos arquivos todos os tipos de casos que se pode encontrar na série Arquivo-X. É verdade! E não temos uma resposta para eles. Não sabemos se estamos lidando com fenômenos físicos desconhecidos ou de outra natureza. Há hipóteses ousadas para explicá-los, como a apresentada pelo Projeto Hessdalen, na Noruega, de que se trata de microburacos negros que se formam em baixa altura na atmosfera [Veja detalhes no DVD Portal, código DVD-032 da coleção Videoteca UFO. Confira na seção Shopping UFO desta edição e no Portal UFO: ufo.com.br]. Mas e se forem mesmo veículos extraterrestres? A Força Aérea não descarta nada. Mas o que acontece é que também não temos evidências para poder afirmar coisa alguma.
Todos viram o artefato se movimentar em direção a um campo e fazer manobras diversas. Era um objeto vermelho que se movia muito rapidamente e à baixa altitude (…) Em dado momento, temeroso de que algo pior ocorresse, o pai pegou uma arma e se prontificou a defender a família. Mas dali a pouco a luz da habitação também foi encerrada (…) Todos ficaram entrincheirados na casa.
O receio é de se colocar uma etiqueta que diga “é isso”? Claro. Não temos elementos que possam nos ajudar a determinar a natureza desses veículos. O que podemos dizer é que são casos muito estranhos e que temos que ter a porta aberta para várias hipóteses. Há padrões de comportamento muito comuns a todos os acontecimentos que pesquisamos, e por isso criamos o Centro Regional de Investigación de Fenómenos Aeroespaciales y Terrestres (Crifat), essa uma entidade civil formada também por membros de fora da Aeronáutica. Vimos que há um padrão em muitos desses fenômenos, que são iguais na Argentina, Brasil, Chile, Uruguai etc. Mas não sabemos o que significam. Por isso, é bom ter contato com grupos de investigação de todos os países, pois podemos trocar informações e talvez chegar a algumas conclusões — que sozinhos não poderíamos alcançar.
O fenômeno não é perigoso
Cientistas também? Sim, também é importante que integremos mais cientistas e técnicos a esse trabalho, que possam cooperar com as forças aéreas dos países que o desenvolvem, pois o objeto de nosso estudo é algo que está no céu — embora, pelo menos no Uruguai, não demonstre ser um fenômeno perigoso para o ser humano. Mas é algo que está aí, que afeta nosso espaço aéreo em algumas ocasiões, e por isso interessa à Força Aérea investigar o tema de forma científica, técnica e também, é claro, do ponto de vista militar e estratégico — esse é trabalho da Comissão.
E qual é a opinião da pessoa Ariel Sánchez, não do coronel Ariel Sánchez, sobre o que são esses objetos? É muito difícil me desvincular de minha profissão como militar e me manifestar como civil, porque quando emito uma opinião, na verdade a estou fazendo como militar — as pessoas me veem apenas de uma forma. Por isso, procuro ser objetivo, mas sem estimular nem desestimular ideias que possam existir sobre o Fenômeno UFO. Penso que alguns dos casos que investigamos devem ter explicação científica, mas não sei qual. Há muitas hipóteses disponíveis e eu trabalho com evidências, pois minha cabeça é a de um investigador — para se poder fazer algo nesse estudo, há que se ter evidências em cima da mesa, e eu as tenho analisado exaustivamente. Se entrarmos no plano das minhas convicções, estaremos falando de crenças, algo mais voltado para o lado espiritual. Eu prefiro as evidências científicas da manifestação ufológica, pois creio que essas me convencerão e a todo mundo. Os UFOs não podem ser uma questão de fé ou algo que um indivíduo quer que sejam.
O senhor acredita em vida extraterrestre mais avançada existindo em planetas fora do Sistema Solar? Sim, creio que exista vida inteligente em outros sistemas planetários. No universo tem que haver outras formas de existência também do ponto de vista de organismos, de células, enfim. De certa forma, já se comprovou que em Marte existiu algum tipo de vida, e até água já foi encontrada lá — como me parece que na Lua também, debaixo das camadas de terra.
Será que tais espécies, lá em seus mundos, também estariam se perguntando se há vida inteligente em outros planetas? Boa questão! Penso que sim, porque seríamos ignorantes se fôssemos contra as teorias levantadas por Frank Drake, como sua famosa equação, e de outros que já aventaram a possibilidade de existência de múltiplas formas de vida no universo [Veja edição UFO 179, agora disponível na íntegra em ufo.com.br].
O senhor descreveu alguns casos ufológicos interessantes. Poderia explicar como se dá o mecanismo de investigação da Cridovni do princípio ao fim, ou seja, desde o momento em que alguém lhes dá a informação de um fato até a emissão de um relatório final? Bem, funciona assim: uma vez recebida uma ligação pela central telefônica da Força Aérea, é colocado em prática o procedimento normal que adotamos, que é destacar um grupo de investigadores da Comissão para ir ao local, entrevistar as testemunhas e recolher possíveis evidências dos fatos. Esse grupo, normalmente composto de duas ou três pessoas, chega à área dos acontecimentos e fala com os observadores, que oferecem seu relato e as eventuais evidências do que se passou, como fotos, vídeos etc. Faz-se então um reconhecimento do local, se é uma região arborizada, montanhosa, com rios, linhas de alta tensão, aeroportos próximos etc, para se elaborar um mapa geográfico — também tiramos fotografias e falamos com os vizinhos das testemunhas.
Enfim, uma típica investigação ufológica? Exatamente. É uma investigação de estilo policial, porque se fala com as testemunhas, mas igualmente se vai às casas dos vizinhos para se perguntar se eles também viram algo estranho que corroborem os dados — muitas vezes se levantam mais informações a partir de outros observadores.
E se houve aterrissagem de um artefato voador, são coletadas amostras? Sim. Se há alguma indicação de que possa ter havido um pouso, a aterrissagem de algo estranho, se toma amostras da marca deixada e do campo fora dela para podermos ter uma ideia dos compostos minerais ou químicos que existem naquele terreno. Após levantarmos todas as informações e evidências disponíveis, havendo algo que se possa analisar em laboratório, enviamos à Direção Nacional de Mineralogia e Geografia do Uruguai. Uma equipe de lá faz a análise dos materiais enviados e nos informa os resultados.
E qual é o passo seguinte do processo investigativo da Cridovni? Depois de colher toda essa informação, a levamos para a mesa de trabalho do Departamento Técnico da entidade e a avaliamos. As coisas na Comissão são bem divididas. Por exemplo, foi um grupo do Departamento Operativo quem fez o levantamento primário e coletou informações e evidências, submetendo-as às análises. Já os resultados são tratados pelo nosso Departamento Técnico, que avalia a investigação e, se for o caso, pode pedir que se entreviste outra vez as testemunhas, para que sejam adicionados novos dados ou sejam sugeridas novas perguntas que o Departamento Operativo não fez naquele momento. Assim, temos a possibilidade de voltar aos observadores e buscar novas evidências que talvez não tenham sido pedidas na primeira investigação.
Ponto de vista aeronáutico
Quais são as outras atribuições do Departamento Operativo da Cridovni? O grupo também faz uma reconstituição das circunstâncias do avistamento do ponto de vista aeronáutico, ou seja, procuramos informações sobre aeronaves militares ou civis que tenham passado pelo local, dados sobre movimentação de satélites na zona na hora em que sucederam os fatos, informações de caráter astronômico, meteorológico, geológico etc. Ah, claro, também tentamos saber se houve alguma manobra militar nas imediações — coisa que já nos ocorreu algumas vezes e pode confundir as pessoas, que pensarão tratar-se de UFOs. Enfim, se busca levantar toda a informação possível que possa complementar a investigação.
Em média, quanto tempo dura uma investigação, desde a primeira entrevista com as testemunhas até sua conclusão final? Pode durar uma semana, em geral. Depende dos fatos. Se há evidências físicas, como amostras a serem analisadas, o laboratório pode demorar alguns dias para nos entregar os resultados. Se temos evidências fotográficas, os técnicos também podem demorar mais outros dias para emitir seus laudos. Às vezes demora porque não temos pessoal exclusivo para fazer esses trabalhos. Nós utilizamos recursos do Estado Uruguaio, da Força Aérea e de universidades parceiras. Já quanto às análises de imagens, temos a sorte de contar com um grupo que trabalha com fotografia aérea na Base de Boiso Lanza, e quando necessitamos de um serviço, lhe enviamos as evidências fotográficas.
Todo o processo de investigação da Cridovni parece bem meticuloso, com várias fases e dupla checagem dos fatos. Sim, e estimo que uma conclusão sobre um determinado caso pode demorar entre uma semana e 10 dias. Por exemplo, há pouco tempo, quando a seleção de futebol do Uruguai chegou a Montevidéu, vinda da Copa do Mundo, durante os festejos de sua classificação surgiu uma série de fotos de anomalias aéreas, e elas foram todas analisadas [Veja edição UFO 170, idem]. Esse trabalho nos tomou quase duas semanas, porque conforme as notícias saíam nos jornais, passaram a aparecer mais e mais fotos — tanto que, devido à quantidade de e-mails recebidos, o servidor da Comissão ficou saturado. No total recebemos mais de 60 fotos, mas que não eram apenas daquele acontecimento, porém de vários outros, em diversos lugares e épocas. Precisamos de quase duas semanas para analisar todas.
E o que era, afinal, o objeto registrado durante a chegada da seleção uruguaia? Com relação ao que foi fotografado durante os festejos, como houve fotos obtidas de diferentes ângulos, pudemos concluir que se tratava de um objeto conhecido, que podia ser um balão de nylon ou de papel. Muitos balões foram soltos naquela ocasião e confundiram as pessoas quando baixavam as fotos em seus computadores — não houve testemunhos diretos desse fato, apenas fotos.
Perfeito. Voltando ao seu método investigativo, descreva as outras fases dos procedimentos da Cridovni, por favor? Depois que temos todos os dados e informações sobre um determinado caso, fazemos cinco perguntas básicas: 1) se há possibilidade de fraude por parte da testemunha; 2) se há possibilidade de fraude por parte de terceiros; 3) se há possibilidade de ilusão psicológica dos envolvidos; 4) se há possibilidade de se tratar de um fato convencional não identificado pela testemunha; e 5) se há possibilidade de algo não convencional. São esses últimos os casos mais interessantes, e somente depois de esgotadas todas essas perguntas é que estamos aptos para começar nossas análises de testemunhos e evidências. Entre outras coisas, contamos com psicólogos na Comissão para se realizar um perfil dos observadores. Também temos astrônomos, engenheiros, pilotos, controladores de voo, meteorologistas etc. Como já falei, há uma quantidade muito rica de recursos humanos, e de diferentes disciplinas, para que possamos avaliar cada caso. Depois de tudo isso, a documentação passa ao Departamento Técnico, que analisa e finalmente elabora um relatório final sobre o acontecimento.
Nossos agentes, ao receberem um chamado, vão com uniformes e às vezes até em carros militares, depende da situação. Por exemplo, pode ser que me liguem em casa às 10 horas da noite, por causa de algo que esteja ocorrendo naquele momento, e tenho que sair imediatamente (…) É importante que se diga que recebemos chamadas a qualquer instante e temos que estar preparados.
O senhor falou que são duas ou três as pessoas escolhidas para irem a campo falar com as testemunhas. Com base em que elas são selecionadas? E vão com uniforme militar? Sim, vão com uniformes e às vezes até em carros militares, depende da situação. Por exemplo, pode ser que me liguem em casa às 10 horas da noite, por causa de algo que esteja ocorrendo naquele momento, e tenho que sair imediatamente. Ligo para algum oficial ou mesmo para um civil da Comissão para que possa me acompanhar naquela missão, e saímos em uma equipe de duas ou três pessoas, dependendo da urgência e da disponibilidade de pessoal naquele momento. É importante que se diga que recebemos chamadas a qualquer instante e temos que estar preparados. Sou eu quem decide quem vai a campo, e posso nomear um oficial ou um civil da Comissão, ou sair eu mesmo em missão.
Operações conjuntas
Quantos são os ufólogos civis da Cridovni e o que fazem? São vários antigos investigadores, alguns deles provenientes de grupos de pesquisas uruguaios, convidados para tomar parte do grupo quando ele foi criado. Nos anos 70, havia uma meia dúzia de organizações civis que trabalhavam com Ufologia no Uruguai, e quando a Força Aérea formou a Comissão, em 1979, todos foram convidados a participar de um trabalho de investigação conjunta.
Isso é fantástico! É justamente o que buscamos junto à Força Aérea Brasileira (FAB), através de nossa campanha UFOs: Liberdade de Informação Já. Obrigado. Assim, no início, em torno de 30 pessoas da Comunidade Ufológica Uruguaia entraram e permanecem na Comissão. Mas depois o grupo diminuiu um pouco, passando a ter uns 20 pesquisadores, e hoje somos entre 12 e 18 membros entre civis e militares.
Desses, quantos são os civis e quantos são os militares? Em atividade, nesse momento, somos apenas três militares — um tenente, um tenente-coronel e um coronel, que é o presidente da Comissão, eu. Mas já tenho mais dois oficiais escalados para o trabalho, quando então seremos cinco militares em atividade. E temos ainda mais oito pesquisadores civis, constituindo um grupo de 12 membros permanentes. Fora esses, temos também integrantes eventuais, assessores que colaboram conosco dependendo de cada caso. Por exemplo, se precisamos de análises fotográficas, contamos não só com um grupo de analistas da Força Aérea — que nos empresta seus membros —, mas também com um engenheiro especializado em análises de imagens, que igualmente participa das investigações. O staff permanente da Comissão é de 12 pessoas, cinco oficiais e sete civis.
Quando se chega ao resultado final de uma investigação ufológica e se descobre que o objeto observado não é algo convencional, o que se faz? Quando as conclusões são de que a observação foi causada por algo não convencional, o caso é arquivado, mas fica pendente, pois não há nada que se possa fazer com ele — a menos que apareçam novas informações que determinem que, afinal, se tratou de algo convencional.
Arquivadas? Mas não são justamente esses os casos mais interessantes que sobram quando se peneira todos os outros que têm possíveis explicações? Sim, e dou um exemplo. Suponha que tenhamos um objeto triangular negro fotografado e visto pela tripulação de uma aeronave militar, que tenha conseguido alcançá-lo e persegui-lo. Esse é, no momento, um caso não convencional. Mas imagine que depois de alguns anos descobrimos que se tratava de um avião experimental de alguma força aérea amiga, que estava, digamos, sem comunicação e perdido na região. Essa informação pode chegar muitos anos depois e nos forçará a reabrir o caso para dá-lo como esclarecido. Assim, sempre deixamos os arquivos pendentes à espera de novas informações que não temos no momento.
E em casos de ocorrências não convencionais significativas, quem vocês têm que informar? O comandante da Força Aérea Uruguaia (FAU), o presidente da República, enfim, algum departamento ou outro órgão do país? Sim. Nesses casos, sempre informamos os fatos ao comandante da Força Aérea, pois nossa Comissão está subordinada a ele e tenho que lhe relatar qualquer coisa que ocorra no país e que envolva a arma — algo que possa ser não convencional, por exemplo. Em seguida a informação segue para o ministro da Defesa e para o presidente da República. E no caso de a ocorrência ser muito importante, fica a cargo do presidente decidir o que fazer.
Conhecimento do presidente
Mas vocês têm ideia do que ele faria com uma informação como essa, ou comunicam o fato apenas por obrigação? Nós lhe informamos para que esteja ciente do que se passa em nosso território, pois é de sua competência. Houve um caso ufológico muito interessante, ocorrido em nosso país, que responde um pouco à sua pergunta. Em 2007, recebemos o relato de um avião da companhia alemã Lufthansa, que estava indo do Aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, para a Europa e teria que atravessar parte dos territórios uruguaio e brasileiro. Exatamente sobre o Rio da Plata, os pilotos observaram um objeto que cruzou o céu de baixo para cima, bem perto do avião e em velocidade muito alta — aquilo passou a metros da cabine da aeronave. Esse caso foi tratado de tal forma que chegou ao conhecimento do presidente.
A Cridovni tem obrigação de informar tudo o que apura por meio dessa linha de comando? Não. Nossa obrigação é de informar apenas nosso superior imediato, que é o comandante da Força Aérea. Mas em um caso como o de 2007, que envolveu a intervenção de um país vizinho, houve exceções. Nós passamos informações à Força Aérea Argentina (FAA) e conversei pessoalmente com o chefe de relações públicas daquela arma, na época, que descartou totalmente que tivesse sido um míssil ou uma aeronave secreta de seu país. Assim, acabou sendo necessário informar também o ministro da Defesa.
E como ficam os arquivos dos casos que vocês investigam? Por exemplo, se um civil vai à Cridovni e pede para ver os documentos de um episódio como esse da Lufthansa, de 2007, ele poderá ter acesso ao material? Sim, mas não podemos entregar os arquivos à pessoa, como se fossem livros de uma biblioteca. O interessado fará a solicitação, nós procuraremos a informação desejada e, se a localizarmos, mostramos os arquivos e diremos qual foi nossa conclusão. As pessoas podem ver o que aconteceu e o que não aconteceu com relação a cada caso que investigamos aqui na Comissão. Claro que não podemos mostrar todas as 1.200 ocorrências que pesquisamos porque isso seria uma loucura — simplesmente não há disponibilidade de tempo e nem de pessoal para tanto. Por isso, oferecemos acesso apenas aos casos que nos solicitam. Por exemplo, se alguém quer saber o que se passou no Uruguai no ano de 1986, quantos relatos recebemos, nós mostramos os arquivos, dizemos detalhes dos casos etc. Aqui não há segredos.
É muito bom saber disso, coronel. Mas… Não há mesmo segredo algum? Nem de casos mais graves? Não, lhe asseguro que não existe. Nós sempre damos todas as informações que nos pedem. O que não podemos fazer, como falei há pouco — e biblioteca alguma no mundo faria —, é dar ou mostrar a alguém todos os livros e arquivos de uma só vez, para que sejam levados ou consultados pelos interessados.
Houve algum caso muito grave, entre os pesquisados pela Cridovni, em que vocês receberam determinação, instrução ou recomendação de que não fosse divulgado publicamente, ou os seus resultados? Como ordens do ministro ou do presidente, por exemplo? Não, até agora não. Temos levado ao conhecimento público todos os fatos que nos chegam e os resultados de nossas investigações — até mesmo casos envolvendo as próprias aeronaves da Força Aérea Uruguaia (FAU) e nossos pilotos. Simplesmente, nunca houve necessidade de ocultamento de qualquer episódio, pois não há razão para isso. A Comissão não estimula e nem desestimula a questão ufológica, e ocultar informações é algo que nunca fizemos em mais de 30 anos. Veja que lhe relatei até mesmo o caso dos aviões Púcaras que perseguiram um UFO sobre uma represa no país e não puderam alcançá-lo. “Não nos treme o pulso dar essa informação