Os praticantes da Ufologia, ao contrário do que muitos parecem pensar, de forma muitas vezes caricata, não se limitam a olhar os céus em busca de algo anômalo. A Ufologia que eles praticam é uma questão de incrível e profunda complexidade. E mais uma vez indo contra aquilo que muitos imaginam saber, o fato de sermos incapazes de elucidar questões complexas não resulta na inexistência da questão, ou seja, o problema não desaparece porque não conseguimos resolvê-lo.
Ao contrário, o fato de não o resolvermos cria uma perspectiva equivocada, produzindo resultados nulos que se projetam em pensamentos circulares, que nunca evoluem. O tempo, com sua incontrolável transformação, acaba por desiludir de tal forma o buscador que ele termina em um deserto absolutamente ermo, desolado por hesitações e argumentos sobre sua exploração inicial. Diante disso, ocorre a negação sistemática de todas as suas conjecturas, do objetivo de sua busca e da própria essência do assunto.
Isaac Asimov expressou uma vez que “a ciência não garante uma resposta a tudo. A única coisa que oferece é um sistema para obter respostas, uma vez que você tenha informações suficientes”. No caso que nos diz respeito — a Ufologia — são os dados que continuam a se aglutinar vertiginosamente com o tempo, de modo que se transformaram em uma autêntica madeixa fenomenológica, e em uma entropia de proporções astronômicas. Desde então, criou-se um perene frenesi em busca de novidades sobre os UFOs, abandonando-se, em consequência, a análise dos dados e as investigações anteriores. Afinal, somos cronistas ou pesquisadores?
Metodologia
O termo Ufologia origina-se da sigla inglesa UFO, de unidentified flying object, ou o nosso objeto voador não identificado, e logia, termo compositivo derivado do grego logos, que significa estudo ou tratado, e nos remete a um estudo que inclui todo tipo objeto ou fenômeno aéreo de natureza desconhecida. Nesse sentido, a Ufologia se traduz em uma miríade de produção de dados advindos de comparações feitas com todos os fenômenos ou artefatos conhecidos. Em outras palavras, ela coleta e produz relatórios de evidências negativas, tudo o que não é, e não se concentra na análise de evidências positivas, do que pode ser. É fundamental esclarecer que, embora exista um processo de seleção ou triagem de casos ufológicos, que na verdade se referem a objetos voadores identificados, ele deve constituir apenas um filtro casuístico inicial, e não a Ufologia em si.
O escritor e ufólogo catalão Antonio Ribera, em seu livro El Gran Enigma de los Platillos Volantes [O Grande Enigma dos Discos Voadores. Plaza & Janes, 1973], alega que “é necessário remover os UFOs do campo de outras ciências, como a astronomia e a meteorologia etc, onde sempre desempenharão o papel de parente pobre e tentarão reduzi-los a fenômenos conhecidos”. No entanto, a Ufologia, até o momento, não se concentra no estudo de casos desconhecidos, mas continua no processo aparentemente ad eternum de separar o que é UFO e o que não é, o que a torna bastante órfã entre várias disciplinas atualmente robustas.
A natureza interdisciplinar da Ufologia é irrefutável e, como toda ciência ou conhecimento, ela se inter-relaciona com outra, constituindo-se em uma espécie de canivete suíço analítico, porém sem delimitá-la. Como Ribera colocou corretamente, sua independência é necessária, e para isso é também necessário um quadro metodológico padrão para seu estudo. Apesar de a arbitrariedade necessária em construções desse tipo, isso facilitaria o processo de investigação, uma vez que a obstrução acidental do estudo, que ocorre devido à falta de um quadro metodológico, alimenta o argumento de detratores sobre sua eficácia ao não encontrar respostas positivas testáveis, e sim a obstinação por respostas negativas. Em outras palavras, a falta de metodologia não deixa o estudo avançar.
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