Quando embarquei no Aeroporto de Madri, minha mente já estava sintonizada em outra freqüência. Mato Grosso era o nome que martelava em meu cérebro, numa incessante vontade de chegar para conhecer os mistérios daquela terra ignota. Mas ainda haveria que transpor muitos milhares de quilômetros. A escala em Lisboa e logo a travessia do Atlântico, até São Paulo, contabilizariam mais de 12 horas. Era tempo suficiente para revisar minhas anotações, fotocópias de velhos livros e algumas folhas impressas extraídas da internet. Mato Grosso é o lugar onde o célebre coronel Percy Fawcett perdeu as botas e talvez a vida em 1925. Buscava as ruínas de um povo sobrevivente da Atlântida. Teosofista – um dos irmãos viajou pela Ásia com Helena Blavatsky, que fundou a Sociedade Teosófica na Índia –, acreditava que outras raças inteligentes habitaram a Terra antes da existência do Homo sapiens. Estava tão convencido que se empenhou em buscar vestígios dessa raça no continente americano, atraído pelas lendas e mistérios amazônicos, incluído o Mato Grosso.
Com uma parte do diário do coronel britânico e muito tempo de viagem pela frente, dediquei um pouco mais de tempo às anotações. Minha missão inicial em Mato Grosso consistia em dar três palestras sobre mistérios arqueológicos, ufológicos e parapsicológicos da minha própria colheita. Afinal, são mais de 15 anos percorrendo três continentes em busca de enigmas variados. Meu destino era a cidade de Barra do Garças, à beira do esplendoroso e caudaloso Rio Araguaia. Lá, a competente organizadora de eventos Mônica Porto, juntamente com o parapsicólogo e ufólogo Ataíde Ferreira, de Várzea Grande (MT), e o veteraníssimo ufólogo e editor da Revista UFO, A. J. Gevaerd, decidiu realizar um sonho, o Mistérios do Roncador – Primeiro Congresso de Ufologia e Parapsicologia do Vale do Araguaia, que aconteceu entre 23 e 27 de junho de 2004 e está prestes a se repetir. Estava muito feliz pelo convite e com a oportunidade de intercambiar idéias com muitos investigadores e com o público que estaria presente às conferências. Os organizadores do evento tinham a favor a localização, já que nas proximidades estava a mística Serra do Roncador, palco de numerosos fenômenos sobrenaturais, terrestres, intraterrestres e extraterrestres. UFOs, almas penadas, sítios arqueológicos e até mesmo o primeiro ovniporto ou discoporto do Brasil se concentravam naquela serra, capaz de intrigar o mais cético dos seres humanos.
Povos guerreiros e orgulhosos — Por fim, depois de quase 36 horas de viagem, cheguei ao amanhecer em Barra do Garças (MT). Enquanto esperava Ataíde Ferreira, olhei ao meu redor na rodoviária e vi um casal de indígenas. Eram da etnia Xavante, um dos povos mais guerreiros e orgulhosos de suas origens e tradições de toda a América. O homem possuía um tubo de bambu atravessado em uma das orelhas. Vestiam-se como camponeses e levavam consigo um bebê. Era meu primeiro contato com as raízes do Mato Grosso. No caminho de Barra, Ferreira decidiu parar à beira do Rio Araguaia e me mostrou um monólito posto sobre um pedestal. Na verdade, era uma rocha de forma irregular, talvez com um metro de diâmetro, repleta de círculos concêntricos e outras inscrições sobre sua superfície. “O que você acha que significam estes símbolos?”, perguntou-me meu novo amigo. Eram petroglífos, isto é, obra humana. Esses baixos-relevos parecem ter alguma relação com os astros, talvez conotações astronômicas. No passado, os antigos habitantes do Brasil já possuíam avançados conhecimentos da posição e comportamento dos astros sobre a esfera celeste, coisa que durante muito tempo os arqueólogos desprezaram ou nem sequer perceberam.
Havia um detalhe curioso gravado na base da pedra: a data de 1811 e um nome inteligível. Era de um colono que recolhera a rocha na beira do rio e a transportara até aquele lugar, longe das inundações. De acordo com uma lenda, um garimpeiro enterrou, debaixo da pedra, uma garrafa com diamantes cujo paradeiro é desconhecido. Quase ao lado da pedra está o Disconauta Palace Hotel, um hotel que, aparentemente, só recebe extraterrestres mas que faz algumas exceções aos simples mortais terrestres nos seus humildes aposentos. Na cidade, fui recebido por Mônica Porto, sorridente e muito simpática, que me contou um pouco sobre a organização do evento e os participantes. A sua agência de viagens, a Aventur Turismo, estava especializada em levar os visitantes a alguns lugares recônditos da Serra do Roncador.
Em 22 de junho de 2004, primeiro dia em Barra do Garças, fui entrevistado por várias emissoras de TV e rádios locais para divulgar o evento. Conheci Genito, um jovem cenógrafo que decorou alguns painéis do discoporto na Serra do Roncador. “Quando era garoto eu morava em uma fazenda. Cheguei a ver uma bola de luz flutuando à altura do chão com uma mancha escura no centro. Aquilo pulsava, aumentando e diminuindo ligeiramente de tamanho. O objeto ascendeu um pouco, parou e expulsou outro artefato luminoso menor que voou para longe. A bola principal foi desvanecendo pouco a pouco até desaparecer”, relatou o cenógrafo. Fui então até o gabinete do advogado José Mário Miguez, presidente da delegação da Academia de História de Mato Grosso em Barra do Garças. “Aqui ao lado, na cidade de Aragarças, surgiu o Projeto Brasil Central antes da Segunda Guerra Mundial. Tratava-se de um contato com os indígenas e colonização desta região. Os famosos irmãos sertanistas Vilas Boas tiveram um papel importante nesse processo. Os índios xavantes e bororos ocupam parte da região. Os primeiros são guerreiros e os segundos mais amigáveis. Ambos lutam por manter suas tradições e línguas próprias”, contou o advogado.
Ao final da tarde, Ferreira me levou até um complexo de águas termais em Barra. O lugar possui várias piscinas que imitam pequenas lagunas com temperaturas diferentes. O inverno de Barra é ameno, isso faz com que a temperatura das águas termais seja perfeitamente suportável. Afinal de contas, merecia um momento de relaxamento depois daquela longa viagem entre o velho e o novo continente. Porém, muitas surpresas ainda me esperavam naqueles próximos dias.
Reflexões ufológicas — O congresso prometia ser emocionante, com convidados tão importantes. Um deles era o professor Nelson Vilhena Granado. Seu modo de falar é respeitoso e demonstra grande cultura. Ele me disse sobre as numerosas vicissitudes ao longo de sua vida, especialmente os diversos pontos de vista filosóficos e morais de nossa existência terrena. Ex-professor de física, descobriu a partir da ciência que existem muitas leis que o ser humano desconhece e que resumiu no livro Dimensionalis [Wanel Editora, 2004. Veja seção Suprimentos de Ufologia desta edição] onde define o conceito da chamada “cidadania cósmica”. A Ufologia foi a plataforma de embarque para estas e outras reflexões. Junto
com o saudoso general Moacyr Uchôa, Granado teve o privilégio de compartilhar muitas vigílias na região de Alexânia (GO), célebre pelas numerosas aparições ufológicas na década de 70 e fenômenos paranormais.
Mais tarde encontrei o biólogo e ufólogo Carlos Alberto Machado, um dos maiores especialistas em todo mundo sobre o chupacabras, também convidado a fazer conferência no evento. Seu livro Os Olhos do Dragão: Reflexões para uma Nova Realidade [Editora Aramis Chain, 2001] já é referência obrigatória entre todos os investigadores de fenômenos insólitos. No congresso ele iria expor suas últimas pesquisas a respeito de mortes e mutilações humanas supostamente provocadas por ETs.
Barra do Garças tem um potencial ufológico que se iguala à sua vocação turística. Por isso faremos o congresso na cidade – Mônica Porto
Barra do Garças é uma pequena aglomeração urbana que, juntamente com Aragarças e Pontal do Araguaia, tem pouco mais de 70 mil habitantes. Plana, com poucos edifícios, chama a atenção dos visitantes os típicos orelhões feitos de fibra de vidro, mas com forma de animais, geralmente uma onça em posição de ataque ou uma garça. Na praça central há uma estátua homenageando um garimpeiro, símbolo da colonização local. Vale lembrar que a famosa expedição Roncador-Xingu, dos irmãos Vilas Boas, partiu de Aragarças para desbravar os sertões e contatar os indígenas, abrindo uma polêmica frente de colonização que terminou com a criação do Parque do Xingu, uma espécie de enorme reserva indígena onde se agruparam diversas etnias.
No centro de Barra há uma importante loja de artesanato, a Arte Indígena da Amazônia. Para minha surpresa, encontrei uma cabaça decorada que simboliza uma cabeça humana. Pertencia à tribo dos Kalapalos, cujos membros, segundo algumas teorias, teriam matado o coronel britânico Percy Fawcett no norte do estado, em 1925. Esse personagem, considerado como o verdadeiro Indiana Jones que inspirou Steven Spielberg, era um místico que procurava os restos de uma cidade perdida construída pelos sobreviventes do cataclismo que fez submergir o continente de Atlântida, e que se refugiaram no coração do Brasil.
Avistamentos na região — Em visita à Rádio Gazeta, juntamente com o projeciologista Wagner Borges e o biólogo-explorador Paulo Aníbal Mesquita, conheci uma adolescente cujo tio fora testemunha da aparição de três humanóides na região de Iporá (GO). Na saída, o biólogo Fernando Penteado nos levou até o já nacionalmente famoso discoporto, idealizado pelo político e escritor Valdão Varjão. O lugar está a quatro quilômetros da cidade, no alto da Serra Azul, onde encontramos Genito, que estava com um aerógrafo na mão dando os últimos retoques na carroceria de uma maquete de um disco voador pousado sobre uma espécie de tripé. “Varjão teve a feliz idéia de realizar este projeto, que popularizou nossa região e tem atraído turistas. Não se acredita, logicamente, que os UFOs descerão aqui, mas é verdade que toda esta área é palco constante de sobrevôos de objetos não identificados”, disse o jovem cenógrafo.
Sobre a esplanada natural encontramos também uma espécie de painel onde era inevitável enfiar a cabeça na abertura correspondente para bater uma foto com um corpo de ET. Eis um bom exemplo de humor ufológico. Vi algo semelhante no Parque Nacional de Yunke, em Porto Rico, no Caribe, onde o painel estava pintado com o corpo de um chupacabras, entidade que praticamente invadiu a ilha a partir de meados dos anos 90. Abandonamos o discoporto e nos encaminhamos até a enorme estátua de um Cristo Redentor, na mesma área, ao redor do qual existe um magnífico mirante. Lá de cima tivemos noção das dimensões do Rio Araguaia e das três cidades. Penteado, nosso guia, contou como fora protagonista, em três ocasiões, de avistamentos de UFOs, sendo que, em uma delas, chegou a intercambiar sinais luminosos – com o foco de uma lanterna – com outro não identificado.
Ele também mencionou que um senhor chamado Auri, procedente de Itaipu (RJ), viera morar em Barra do Garças em 1998, em função do projeto da construção do discoporto, e fora abduzido por extraterrestres que conversaram com ele por telepatia. “Ele contou que eram altos, de cabeça grande e pele fina. Incumbiram Auri de construir um discoporto. Chegou a desenhar o projeto a partir de informações que recebia dos ETs em sonhos. Como naquela época não havia dinheiro para concretizar tal trabalho, foi embora da cidade. Isso foi no ano 2003. Desde então não soube nada mais sobre ele”, afirmou Penteado.
A Ufologia é apenas uma das ferramentas de evolução humana. E em Barra do Garças se pode praticá-la como em nenhum outro lugar
– Nelson V. Granado
Pela noite, já no auditório da cidade, Borges deu uma palestra sobre viagens astrais. Rompedor de tabus, conseguiu levar ao público amplo conhecimento, aparentemente hermético, e uma prática que alguns consideram perigosa. “Isso se deve a pouca informação a respeito dos desdobramentos astrais ou, como alguns preferem dizer, projeção astral. Ainda existe a crença de que se saímos do nosso corpo podemos nos perder. O cordão de prata pode romper-se”, comentou Borges.
À noite fomos até o Boto, um restaurante flutuante sob o Rio Araguaia, capitaneado pelo lusitano Eduardo Jorge da Silva Oliveira. Para minha surpresa, Oliveira fora um dos criadores do Grupo OVNI, de Lisboa, nos anos 70, um dos precursores da moderna Ufologia Portuguesa. “Naquela época, entre 1976 e 1977, era adolescente e fizemos a revista OVNI. Nosso grupo era muito ativo. Fazíamos vigílias nas proximidades de Lisboa e discutíamos as novidades ufológicas do mundo inteiro”, comentou o empreendedor que, casualmente, viera parar naqueles confins paradisíacos para estabelecer seu negócio. Durante os dias em que durou o congresso, o Boto foi o ponto de encontro dos conferencistas, que se deleitaram com as peixadas e outras refeições patrocinadas pelo amigo português.
Rumo ao Vale dos Sonhos — Na manhã seguinte, parti juntamente com Aníbal rumo ao enigmático Vale dos Sonhos. Penteado nos levou primeiro até a pequena comunidade homônima onde mora um grupo de mulheres que constituem a associação Pró-Fundação Vespertina. Herméticas, não costumam falar com os visitantes e não buscam propaganda. Realizam um importante trabalho educativo junto à comunidade local, desde o ponto de vista filosófico, ecológico e científico. Algumas delas são ex-professoras universitárias que vieram de grandes cidades até aquele rincão isolado. Logo seguimos pela estrada, onde s
ão comuns as grandes boiadas de zebus, tocadas pelos típicos boiadeiros com sua indumentária regional e com o berrante na mão. Pouco a pouco galgamos a Serra Azul, um setor ao sul da mística Serra do Roncador, e nos detivemos diante de uma formação pétrea de pouco mais de 20 m de altura. Uma espécie de castelinho constituído por grandes rochas de cor avermelhada.
A formação está cercada, pois se trata de uma propriedade particular pertencente à Academia de Ciência Futura, liderada pelo místico e cientista norte-americano J. J. Hurtak. O lugar é utilizado para realizar vigílias e meditações. Hurtak e seus seguidores acreditam na existência de uma civilização subterrânea naquela região, possivelmente de seres descendentes daqueles que um dia vieram de outros planetas. Esses grupos alienígenas sofreram uma série de cataclismos e logo encontraram as chamadas embocaduras, entradas de cavernas, onde se abrigaram.
Esses alienígenas teriam realizado experiências genéticas – mestiçagem – com os nativos e, assim, teria surgido a raça humana. Acredita-se que a primeira grande civilização surgira ali, no Rocandor. A segunda em Mu, no Oceano Pacífico. E a terceira na Atlântida. Logo vieram aquelas que nós conhecemos, como as da Mesopotâmia, Paquistão, Egito etc. A última grande civilização é a dos Estados Unidos, que estaria em plena decadência por repetir muitos dos erros das anteriores: corrupção, guerras, ausência de amor universal, entre outros. Aliás, tais fatores não são apenas erros comuns aos norte-americanos, mas a outras muitas nações. Todas essas são fundamentações sobre as quais militam esotéricos da região.
O grupo de Hurtak tem vários pontos em comum com a Sociedade Brasileira de Eubiose criada por Henrique José de Sousa, pois ambos defendem que no interior da Terra e debaixo do Roncador habita, até hoje, uma civilização mais avançada que a nossa, os chamados iluminados. Os UFOs que são vistos sobre a região procederiam não do espaço exterior, mas das profundidades. Desde o ponto mais elevado da área pudemos avistar, ao longe, uma serra com uma formação denominada A Esfinge. Nossa ascensão à Serra Azul nos levou a um dos pontos culminantes, de onde podíamos ver o Vale dos Sonhos e o Arco de Pedra. Caminhamos entre arbustos e vegetação rasa e seca até alcançarmos um abismo gigantesco. À nossa esquerda se estendia o arco, uma espécie de ponte pétrea de várias dezenas de metros de comprimento. “Esse é o ponto onde vários grupos se concentram para realizar vigílias e meditações”, disse Penteado.
De acordo com os conhecimentos de outro grupo esotérico da região, o Monastério Teúrgico do Roncador, o arco é artificial, sendo a ponte de comunicação entre este e outros mundos. Não muito longe dali, no município de Pimentel Barbosa, a Serra do Roncador demonstra porque recebeu esse nome, pois a terra ronca. Alguns atribuem esse fenômeno a desconhecidas convulsões do planeta, algo difícil, pois não se trata de uma área sujeita a terremotos ou movimento de placas. Por outro lado, outros dizem que tal fenômeno se deve à presença de uma civilização subterrânea. Porém, existem outros fenômenos sonoros, talvez mais próximos à parapsicologia e o espiritismo, que se manifestam no alto da serra. São os choros e murmúrios aparentemente de pessoas, mas em um lugar onde não habita ninguém. Seriam fenômenos naturais provocados pelas formações rochosas, dilatações térmicas ou pelo vento?
Descemos a serra e seguimos pela rodovia rumo a Nova Xavantina, deparando-nos com um espetáculo soberbo da natureza, o Dedo de Deus ou o Guardião e o Índio, este último cognome outorgado por Udo Oscar Luckner às elevadas formações pétreas. Luckner, ou o supremo hierofante do Monastério Teúrgico do Roncador, foi um sueco – de origem bávara – que considerava o Guardião uma espécie de portal dimensional, e que viu naquela região o futuro da humanidade. Sonhador, utopista ou visionário, Luckner, já falecido, deixou um legado místico importante que é seguido, hoje em dia, por sua viúva, Teresa Luckner, que vive em Barra do Garças.
No retorno a cidade, paramos na estrada esburacada para fotografar um tamanduá-bandeira atropelado e morto. Aníbal extraiu de seu colete um frasco para guardar algumas amostras de pêlos do animal. “Quero saber as características desse pêlo para comparar com os do mapinguari da Amazônia, supostamente um bicho-preguiça gigante pré-histórico que sobreviveu no meio da selva”, observou o biólogo. Ele perseguiu os rastros da criatura no Pará, onde obteve informações de vários nativos sobre sua existência real. “Acho que não é uma lenda, é uma criatura criptozoológica”, afirmou.
Roncador esotérico — Nos bastidores do congresso conheci a italiana Marguerita Detomas. Era muito amiga de Timothy Patterson, que se dizia sobrinho-neto do célebre coronel britânico Fawcett, que desapareceu no norte da Serra do Roncador, em 1925, em busca de uma cidade perdida, Atlantes. Patterson faleceu no dia 18 de maio de 2004, perto de Bozzano, Itália, onde residia. Estava afetado pelo Mal de Parkinson e, desde 1998, se movimentava em uma cadeira de rodas. Ele esteve várias vezes em Barra do Garças e região seguindo a pista do seu tio-avô, que acreditava ter vivido muitos anos debaixo da terra, com um povo subterrâneo mentalmente evoluído.
O Timothy era uma pessoa excepcional. Costumava trazer alguns grupos para realizar pesquisas e fazer meditações na Serra do Roncador. Tinha uma grande intuição e contava, em perfeito português, histórias a simpática e bela Marguerita, que continuava seguindo os passos de seu mestre. No congresso conheci também Cláudi
o Carone, de São Paulo, um veterano gnóstico que freqüenta a região do Roncador há vários anos. Estava acompanhado de Armando Luvison, autor de um livro sobre ensinamentos místicos. Sua esposa é dona Deusinha, mais conhecida como a Vestal do Roncador, que realiza rituais em cavernas e montanhas da região. O livro de Leo Doctlan, Minha Vida com uma Vestal [Editora Sananda, 1997], fala dos ensinamentos dos mestres do Império de Duat, um dos mundos subterrâneos que teriam preparado uma emissária – a atual vestal – física e psicologicamente, desde os seus nove anos. Teresinha Luckner também esteve presente ao evento. Afável, falando baixinho, me levou ao templo do Monastério Teúrgico do Roncador, junto a sua casa em um bairro da cidade.
No seu interior guarda fotos do falecido marido, Udo, o criador da ordem, assim como uma reprodução do misterioso ídolo de pedra que o coronel Fawcett levava consigo quando desapareceu no Roncador. O ídolo fora um presente do escritor inglês H. Haggard, autor de Ella [1887] e As Minas do Rei Salomão [King Somolon’s Mines, Editora Tor Books, 1985], ao explorador e que, segundo uma médium, procedia de um templo situado no Mato Grosso, guardado por um sacerdote da Atlântida. Na verdade o ídolo lembrava um sacerdote hebreu ou egípcio, sustentando uma espécie de placa com algumas inscrições indecifráveis.
“Eu e o meu marido, Udo Oscar Luckner, viajamos muito pelo Peru, visitando restos de antigas civilizações. Ele chegou a entrar em contato com os habitantes do mundo subterrâneo que existe debaixo do Roncador. Conhecia muitos segredos e deixou vários livros escritos, com ensinamentos espirituais. Udo não buscava riquezas materiais, senão aquelas que enaltecem a alma”, observou a viúva, que continua o trabalho do marido, agora convertida em sacerdotisa do templo.
O ufólogo e jornalista Marcos Dantas de Araújo, autor do livro Extraterrestre, Quem São e o que Fazem?, trouxe ao congresso a abduzida Maria Piedade de Sousa, da cidade de Piranhas (GO), que viveu uma incrível experiência junto aos grays [Cinzas]. Pesquisadores como Ferreira deverão hipnotizar a testemunha para tentar descobrir novas informações a respeito da abdução. Também nos bastidores do congresso conheci o advogado Eurípedes Esteves Júnior, autor de um livro inédito sobre esoterismo e vida em outras dimensões. Assim como antigos espíritas, crê na existência de uma forma de vida peculiar no Sol. Foi ele quem me levou até a Cachoeira da Usina, dentro dos limites de Barra, no Parque da Serra Azul. O lugar é paradisíaco, pois se trata de uma área de proteção natural de abundante vegetação e com um mistério. Os índios bororos deram o nome de Kieguereirial ao lugar – que significa morro dos pássaros – devido à grande diversidade de aves que vivem nas redondezas.
“Você vai ver algumas ruínas pelo caminho. Acredito que sejam de uma civilização perdida”, dizia Esteves. De fato, abrindo um pouco a vegetação, encontramos restos de muros de pedra. Porém, poderiam ser reminiscências de antigos garimpos na região, talvez, até mesmo, da época dos bandeirantes. Faltaria, porém, fazer uma pesquisa histórica para saber quem esteve em tempos pretéritos naquela área. Na volta ao hotel, encontrei vários militares da Aeronáutica lá hospedados. Casualmente, realizavam uma série de treinamentos na região. Mais tarde, uma vigília noturna aconteceria no alto da Serra Azul, na esplanada do discoporto. Um grupo de mais de 50 pessoas compareceu para uma verdadeira confraternização. Como já sabemos por experiência própria, nem sempre temos a sorte de ver um UFO durante uma vigília. Acabamos descobrindo que o bom mesmo é o bate-papo, mesmo que não apareça nada estranho sobre nossas cabeças. A visão noturna da cidade desde um mirante natural era extraordinária. Uma estrela cadente cortou o céu quase tirando o fôlego de alguns de nós. “Alarme falso!”, gritaram.
A Casa de Pedra — Depois de apresentar minha palestra sobre petroglífos e fenômenos insólitos na Ilha de Ometepe, na Nicarágua, veio conversar comigo o guarda-florestal Dorival, da Fundação Estadual do Meio Ambiente de Barra do Garças (FEMA). “Vi que durante sua conferência mostrou símbolos milenares que se encontram gravados nas pedras dos vulcões em Ometepe. Alguns parecem com outros que vi em um lugar conhecido como Casa de Pedra, aqui no Mato Grosso. Gostaria que conhecesse esse lugar e que opinasse a respeito”, convidou Durval. O local ficava a quase 200 km de Barra, dentro de uma enorme fazenda. “Trata-se de uma formação rochosa difícil de localizar, apesar de já ter estado lá algumas vezes”, esclareceu o guarda-florestal.
No dia seguinte, pela manhã, partíamos em uma expedição junto com Ferreira, Marguerita, Aníbal, o ufólogo Fernando Ramalho, de Brasília (DF), e o engenheiro Rubens Machado, de Barra do Garças, até a tal Casa de Pedra. Pelo caminho paramos na gruta da Estrela Azul, sendo que no interior deste pequeno refúgio encontramos dezenas de símbolos em baixo relevo, alguns pintados, de tempos pré-cabralinos. Outros lembravam a hélice do DNA ou formas de cometas na cor azul, além de uma misteriosa mão espalmada com apenas quatro dedos. Machado me mostrou algumas fotos que realizou no sítio rupestre de Cocalinho, em Goiás. São vários petroglífos gravados em rochas e lajeados com caráter simbólico e geométrico. Ele também observou várias luzes estranhas que, de vez em quando, sobrevoam a região de Barra do Garças. Na cansativa viagem que nos levou até a fazenda, o que vi foi aterrador: a vegetação nativa fora devastada para dar lugar a enormes plantações de soja ou pasto para o gado. Triste visão de um Brasil que acredita que os latifúndios destinados à exportação serão a salvação para todos os seus males.
Atravessamos um riacho e logo deixamos os veículos parados à beira de uma estrada de terra. Descemos por uma ribanceira, cruzamos um rio pouco caudaloso repleto de caldeirões – buracos feitos pela erosão da água – e subimos até uma colina onde encontramos, finalmente, a Casa de Pedra. Trata-se de uma formação rochosa que parece vigiar o fundo do pequeno vale, onde corre o rio que atravessamos. Sua forma é quase circular, talvez com mais de duas dezenas de metros de
diâmetro, esburacada como um queijo suíço. A base está rodeada por um abrigo rochoso onde encontramos os primeiros sinais humanos: inscrições ou petroglífos com uma simbologia geométrica complexa. Algumas das ranhuras estavam recobertas com tinta vermelha, como a que apontou Ferreira. “Veja, Pablo, esta lembra muito o símbolo dos Ummitas, ou seja, uma espécie de letra H estilizada”, observou o pesquisador. Os Ummitas seriam os hipotéticos habitantes do planeta Ummo, cuja existência ficou conhecida, pela primeira vez, em meados dos anos 60, na Espanha. Contudo, sua realidade concreta é algo muito discutível, em função das fraudes descobertas nos últimos anos ao redor do assunto.
Uma das inscrições tinha a forma de um pé humano coberto de pintura vermelha em todo o seu interior e em baixo-relevo. Em diversas regiões do Brasil existem pegadas humanas que, segundo os jesuítas do período colonial, era a representação do deus Sumé dos índios – Pai Tomé ou Santo Tomé –, que teria vindo evangelizar os nativos antes de Cabral. Encontramos um estranho buraco que me pareceu de origem artificial, onde cabia o rosto de uma pessoa. Também existiam outras aberturas na rocha que pareciam orientadas astronomicamente. Isso porque possivelmente alguns raios solares – talvez nos equinócios ou solstícios – ou mesmo a Lua, em determinadas fases, poderiam projetar-se no interior de uma cavidade do tamanho de uma salinha justamente sobre algumas inscrições com forma de lua, sóis e estrelas. “A Casa de Pedra realmente tem conotações arqueoastronômicas”, comentou Durval. Mas deveriam fazer estudos e observações durante solstícios e equinócios para verificar onde os raios incidem.
Provavelmente com um bom mapeamento e um software de astronomia apropriado se possa fazer essa averiguação. Havia um detalhe importante que Marguerita tinha captado: uma das inscrições, em forma de número oito ou do símbolo de infinito, tinha o seu interior aparentemente vitrificado. “Eu havia estado aqui há vários anos junto com o Timothy Patterson e ele me disse que o processo de vitrificação da rocha somente se obtém a altíssimas temperaturas. Ora, na pré-história brasileira não havia ninguém com tecnologia capaz de gerar sobre a rocha tais temperaturas”, declarou a italiana Marguerita. Então, quem teria sido?
Talvez aquela avançadíssima civilização que vivia ou vive no interior da Serra do Roncador? Olhei para um enorme rosto com feições diabólicas perto de uma das aberturas. Tinha chifres e o formato era bem redondo. Quem seria aquela entidade? Um dos seres do mundo subterrâneo? Um deus maligno? Descobri outro, de menor tamanho e corpo inteiro, cuja cabeça tinha a forma de uma letra U ou talvez representasse chifres. Parecia dançar de forma alucinada, uma dança dionisíaca para convocar os deuses vindos das estrelas.