A Ufologia é surpreendente. “Os marcianos têm mais de 2 m de altura, são acinzentados e possuem olhos e boca grandes, nariz e orelhas compridas. Seus cabelos nascem apenas da metade da cabeça para trás e só falam em espanhol”. Esta foi a descrição que fez o marceneiro Plínio Bragatto dos seres que alega terem-no seqüestrado. Bragatto é morador de Governador Valadares (MG), no Vale do Rio Doce, e seu caso se tornou o principal assunto na cidade, tendo repercussão na imprensa nacional. O episódio foi pesquisado pela equipe do Centro de Investigações e Pesquisas de Fenômenos Aéreos Não Identificados (CIPFANI), chefiada pelo ufólogo mineiro Paulo Henrique B. Werner, consultor da Revista UFO.
O caso ocorreu em 09 de dezembro de 1996, por volta das 18h30, quando Bragatto, pai de dois filhos e então com 74 anos, voltava para o sítio em que trabalha como caseiro, situado no Pico do Ibituruna, ponto culminante daquela cidade. Depois de passar no bar de Carlos Andrade e comprar cervejas, prosseguiu sua caminhada. Na subida, teria parado para beber uma latinha, sentando numa pedra no meio do trajeto. Já estava escuro e o marceneiro tomava calmamente sua bebida, quando sentiu a aproximação de um objeto voador não identificado. O UFO tinha forma ovalada e, segundo Bragatto, “pernas como barbatanas de peixe”. Uma porta se abriu no artefato e surgiu uma pequena escada com corrimão. Do interior saiu um ser humanóide com quase 2 m de altura, classificado pela Ufologia como tipo gama.
A aventura do mineiro estava apenas começando. O estranho ser acenou para Bragatto e o convidou a entrar no objeto — havia outros dois nele. O homem, sem hesitar, afirmou que entrou e ficou admirado com o interior do veículo. “Tudo era aveludado e num tom azulado”, disse. A comunicação entre os seres e Bragatto era verbal e, segundo ele, o idioma falado pelos visitantes era parecido com o castelhano. “Era possível compreender tudo perfeitamente”. Depois de um giro dentro da nave, o abduzido foi convidado a conhecer o planeta de origem dos seres. Bragatto diz ter aceitado o convite sem preocupação, pois, segundo ele, os estranhos “eram gente boa”. O homem teria passado por uma avaliação médica feita pelos seres, antes de viajar, durante a qual sua barriga foi apalpada por aparelhos com pontas de borracha.
Orelhas e boca desproporcionais
Plínio Bragatto vestiu um colete, cuja função não soube explicar. Um dos seres chegou a ficar nu, sendo descrito pelo abduzido como igual a nós, “até mesmo naquelas partes”. Havia no UFO um ser que pareceu ser o comandante e uma mulher. Todos usavam roupas colantes com vários medalhões dourados. Sua fisionomia era bem parecida com a nossa, sendo que seu cabelo descia da metade da cabeça para trás. Tinham orelhas e boca desproporcionais aos padrões terrestres e eram feios, segundo Bragatto. Durante a viagem, supostamente ao planeta Marte, o marceneiro diz ter comido uma fruta parecida com mamão, chamada pico, e saboreado uma iguaria bem parecida com uma empada. Afirma que também tomou uma bebida adocicada e levemente alcoólica. Em retribuição, Bragatto diz ter oferecido uma das latas de cerveja.
Em pouco tempo o marceneiro chegou a um lugar que, segundo os seres, era chamado de Martiolo, a suposta capital de Marte. “Havia mais gente me esperando lá do que quando o Papa veio ao Brasil”, disse. Assim que a nave pousou, todos vieram receber o visitante do planeta Bacha, como os marcianos chamam a Terra. Segundo Bragatto, o local era muito bonito, tinha grandes prédios e imensas pontes feitas de um material parecido com o náilon, muito resistente. Ele diz que conseguiu apanhar uma pedra e a escondeu. Logo depois, um dos seres se aproximou e falou que era hora de voltar, pois já havia se passado mais de oito horas que ele estava desaparecido. Na viagem de volta, o mineiro disse ter visto uma televisão muito estranha, na qual as imagens flutuavam no ar. Viu também animais parecidos com dinossauros e muitas outras coisas.
Plínio Bragatto perguntou a um dos seres se eles voltariam. Sua resposta foi interessante: “Iremos voltar quando as tempestades forem menos intensas”. Segundo tal ser, cinco naves marcianas já sofreram acidentes por causa de relâmpagos na Terra. Por volta das 04h30 da manhã do dia seguinte, os seres teriam deixado Bragatto num pasto. “Pensei que eles tinham me abandonado num outro planeta”, falou. Para sua felicidade, avistou um caminhão passando ao longe e caminhou até a estrada. Assim que conseguiu pegar uma carona, disse ao caminhoneiro que seu carro havia quebrado e que precisava de um mecânico. O motorista avisou que em Montes Claros ele encontraria vários, o que fez o homem se espantar.
História com indícios de credibilidade
Montes Claros fica no norte de Minas Gerais e distante mais de 800 km de Governador Valadares, onde Bragatto foi abduzido. Assim que desceu na cidade, Plínio esperou o comércio abrir, tomou café e procurou a polícia. Lá foi bem atendido pelo delegado Castelar Leite, que lhe perguntou detalhes que pudessem esclarecer o mistério. Leite ligou então para Governador Valadares e conversou com o detetive André Luiz, que foi até o local do suposto contato inicial, no Pico do Ibituruna, e encontrou o que parecia improvável: marcas circulares com 3 m de diâmetro. O mais interessante é que as marcas eram idênticas às descritas pelo marceneiro. A pedra que Bragatto diz ter trazido de Marte teria sido trancada num cofre.
Teve início uma pesquisa ufológica e o estudioso Paulo Werner deslocou-se até Governador Valadares para coletar informações sobre o caso, mas teve uma entrevista com Bragatto impedida pela TV Rio Doce, sob pretexto de que o abduzido trabalhava para um dos donos da emissora. Mais tarde, ainda com muita dificuldade, Werner conseguiu seu intento. Na conversa, ficou evidente que Bragatto era uma pessoa carismática e que realmente acreditava no que dizia. Não havia muitas contradições em suas declarações. Apesar da idade, Plínio Bragatto é ativo e simpático — condições que, evidentemente, não validam a priori o alegado rapto por extraterrestres.
O marceneiro é um semi-analfabeto e não conseguiu ler a credencial do CIPFANI que lhe foi apresentada por Werner. “Pessoa simples, certamente não teria conhecimento suficiente para elaborar uma história com tantos detalhes”, declarou o ufólogo. A suposta pedra que ele diz ter trazido do planeta em que esteve — e que, segundo a diretoria da TV Rio Doce, foi trancada em um cofre dentro da emissora — confirmadamente não existe, o que prejudica a credibilidade do caso. Em conversa com o detetive André Luiz, da Polícia Civil, Werner obteve boas referências a respeito de Bragatto. Ele confirma o fato de ter ido ao local do pouso do suposto UFO e constatado estranhas marcas circulares no solo. Mas como o marceneiro desapareceu de Governador Valadares, no leste de Minas, e reapareceu em Montes Claros, não se sabe. O que se tem certeza é que não é impossível forjar tal situação, como também não há provas de que ele realmente chegou em Montes Claros na madrugada seguin
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Marcianos têm mais de dois metros de altura, são acinzentados e possuem olhos e boca grandes. Seus cabelos nascem apenas da metade da cabeça para trás e só falam em espanhol
O comerciante Carlos Andrade é uma das poucas testemunhas que afirma ter visto Plínio Bragatto na tarde do dia anterior, 09 de dezembro, horas antes de sua suposta abdução. Outro fato interessante foi a declaração do abduzido a respeito da televisão com imagens que flutuam no ar. Sem perceber, ele mencionou uma espécie de holografia. Já em outro ponto da narração, diz que os ETs evitam os meses com mais intensidade atmosférica, por causa dos raios. Estes detalhes tornam o caso muito interessante, pois, para um senhor de pouca cultura, as declarações podem ter algum sentido.
Ufólogos e integrantes do CIPFANI entrevistaram várias pessoas, inclusive parentes e vizinhos de Bragatto, que invariavelmente deram boas referências a seu respeito. “Ele pode ser tudo, menos mentiroso”, enfatizou seu primo. Essas menções são pontos significativos sobre o estranho acontecimento — que ainda não pode ser rotulado como fraude ou devaneio do marceneiro. Como dizia o saudoso astrofísico J. A. Hynek, “já que não possuímos naves extraterrestres e seus tripulantes para analisar, resta-nos o que há no momento de mais importante, o contatado e seu testemunho”. Não é a primeira vez que alguém afirma ter visitado o Planeta Vermelho, e as histórias conhecidas na Ufologia são tão numerosas quanto fantasiosas. Essa, de Plínio Bragatto, tem ingredientes semelhantes a várias outras narrativas, mas surpreende pela maneira lúcida como o suposto abduzido descreve sua experiência.