Que os metamateriais estão permitindo a criação de mantos da invisibilidade cada vez mais aprimorados muita gente já sabe [Veja também Cientistas descobrem como tecer fios com invisibilidade real]. Mas agora, o professor Martin McCall e seus colegas da Universidade College London estenderam matematicamente o conceito para demonstrar que é possível criar um manto da invisibilidade capaz de esconder eventos inteiros. Um “editor da história”, como eles o chamam.
Acontecimentos invisíveis – “A luz normalmente se desacelera quando entra em um material, mas é teoricamente possível manipular os raios de luz de forma que algumas partes acelerem e outras desacelerem”, diz McCall. Em vez de ser curvada no espaço, no esquema proposto pelos matemáticos, a luz se “abre” – a metade desse leque de luz acelera e chega antes de um evento, enquanto a outra metade fica para trás e só chega depois que o evento já ocorreu.
Isto significa que, durante um breve período, a cena não fica iluminada e nada que acontecer lá nesses momentos poderá ser visto. Cria-se, assim, um manto da invisibilidade espaço-temporal, ou uma camuflagem de eventos, como os cientistas chamam essa espécie de corredor temporário, no qual energia, matéria ou informações podem ser manipuladas ou transportadas sem que se possa detectar.
“Se alguém estiver se movendo ao longo do corredor, parecerá a um observador distante que essa pessoa se moveu instantaneamente, criando a ilusão de um teletransportador tipo Jornada nas Estrelas”, diz McCall. “Então, teoricamente, essa pessoa poderá ser capaz de fazer algo e você não perceber!”.
Processamento contínuo – É claro que as dimensões e os tempos envolvidos são pequenos demais para se imaginar algo prático nas dimensões humanas. Mas o Dr. Paul Kinsler, que ajudou a criar o conceito da invisibilidade espaço-temporal já fez uma demonstração usando fibras óticas mostrando que a idéia poderá ser útil na computação e no processamento de sinais.
Um canal de dados poderia, por exemplo, ser interrompido para executar um cálculo prioritário em um canal paralelo durante o funcionamento da camuflagem de eventos. Para as partes externas do circuito, fora do corredor de camuflagem, seria como se aquele canal estivesse processando informações de forma contínua.
Imagine os canais de dados como se fossem uma avenida com trânsito intenso, na qual você quer abrir uma passagem para que um pedestre atravesse, mas sem parar o tráfego. Uma parte dos carros corresponderá à seção dianteira do leque de luz – esses carros vão andar mais rapidamente.
O grupo de carros imediatamente a seguir corresponderá à seção traseira do leque de luz – esses carros vão andar mais lentamente. Isso cria uma lacuna no meio, por onde o pedestre pode atravessar. Um observador que olhe tudo de longe só verá o fluxo constante de tráfego.
Invisibilidade no espaço-tempo – Uma questão que surgiu durante o desenvolvimento da teoria foi como acelerar a transmissão de dados sem violar as leis da relatividade. Os cientistas resolveram o problema idealizando um metamaterial inteligente, cujas propriedades variam tanto no espaço quanto no tempo, permitindo a criação do corredor camuflado.
“Temos certeza que existem muitas outras possibilidades abertas pela nossa introdução do conceito de invisibilidade no espaço-tempo”, diz McCall, “mas como, nesta fase, ela ainda é teórica, é preciso desenvolver os detalhes concretos para as aplicações que propomos.”