Novamente, ressurge em alguns sites e blogs a polêmica matéria sobre a suposta origem extraterrestre do DNA. Todavia, na mania do “copiar, colar e encaminhar”, lamentavelmente não apareceu ninguém para realizar uma análise minimamente adequada e imparcial do conteúdo.
Afinal, o que é real e qual parte foi sensacionalizada? Originada em meados de 2007, a “revelação” na verdade nada mais é do que a mistura de fatos reais com interpretação de texto manipulada.
Vamos ao seu conteúdo integral:
Cientistas descobrem genes extraterrestres em DNA humano
(Arquivo Portal da Ufologia Brasileira, 2007)
Existiriam civilizações de seres humanos avançados espalhadas pelas galáxias?
Um grupo de pesquisadores trabalhando no projeto genoma humano fez uma descoberta impressionante. Eles acreditam que 97% do DNA humano, que são formados pelas assim chamadas “seqüências não-codificadas” são nada menos que códigos genéticos de formas de vida extraterrestres. As seqüências não-codificadas são comuns em todos os organismos vivos da Terra. “Elas constituem grande parte do DNA humano”, disse o professor Sam Chang, líder do grupo.
As seqüências não-codificadas, originalmente conhecidas como “DNA-Lixo”, foram descobertas anos atrás e sua função permanece um mistério. A esmagadora maioria do DNA humano vem de fora do nosso planeta. Esses evidentes “genes-lixo extraterrestres” simplesmente “curtem o passeio” com os outros genes ativos, passando de geração à geração.
Depois de abrangentes análises com a assistência de outros cientistas como programadores, matemáticos e outros sábios acadêmicos, o professor Chang se perguntou se o DNA-Lixo humano foi criado por algum tipo de programador extraterrestre. “As cadeias alienígenas dentro do DNA humano têm suas próprias veias, artérias e seu próprio sistema imunológico que resiste vigorosamente à todos os tipos de drogas anti-câncer conhecidos”, observou Chang.
O professor Chang estipulou também que “nossa hipótese é que uma forma de vida extraterrestre superior se ocupou de criar novas formas de vida e de plantá-las em vários planetas. A Terra é apenas um deles. Talvez, após programar-nos, nossos criadores se ocuparam de criar-nos como criamos bactérias em laboratórios. Nós não sabemos seus motivos, se era para ser um experimento científico, ou um jeito de preparar novos planetas para a colonização, ou se é um trabalho de longo prazo de semeação de vida no universo”.
Chang, além disso, ressaltou que “se nós pensarmos nisso em termos humanos, os supostos programadores extraterrestres provavelmente estavam trabalhando em um grande código consistente de vários projetos, e esses projetos devem ter produzido várias formas de vida para vários planetas. Eles também devem ter tentado diversas soluções. Eles escreveram “o grande código”, executaram-no, não gostaram de algumas funções, mudaram-no ou adicionaram novas funções, executaram-no novamente, fizeram melhorias, tentaram novamente e novamente”.
Além disso, o time de pesquisadores do professor Chang conclui que “os programadores extraterrestres talvez tenham sido ordenados a excluir todos os seus planos idealísticos para o futuro quando se concentraram no “projeto Terra” a fim de terminá-lo no prazo adequado. Provavelmente com pressa, cortaram drasticamente o grande código e o entregaram somente com as características básicas planejadas para a Terra”.
Chang é somente um de vários cientistas e outros pesquisadores que descobriram origens extraterrestres para a humanidade. Ele e seus colegas mostram que as aparentes lacunas no seqüenciamento do DNA, precipitadas por uma suposta pressa em criar a vida humana, presenteou a raça humana com o ilógico crescimento desordenado de células que conhecemos por câncer.
O professor Chang ainda apontou que “o que vemos em nosso DNA é um programa consistindo de duas versões, um código básico e um grande código”. Chang então afirmou que “o primeiro fato é que o programa completo absolutamente não foi escrito na Terra, isto é um fato confirmado. O segundo fato é que os genes, por si sós, não são suficientes para explicar a evolução, deve haver algo mais no jogo”.
“Cedo ou tarde”, disse Chang, “nós teremos que enfrentar a inacreditável idéia de que toda a vida na Terra carrega códigos genéticos de nossos “primos extraterrestres” e que a evolução não se deu do jeito que pensávamos.”
Depurando e desmistificando a história
Bem, temos aí alguns fatos sobre genética e biologia evolutiva, indubitavelmente reais e que devem ter saído de pesquisas científicas tradicionais, incorporados a um alto grau de absurdos técnicos e, inclusive, um “paradoxo de paradoxo”.
Comentamos e analisamos a seguir:
• Realmente, cerca de 97% de nosso DNA, chamado de íntrons ou DNA-lixo permanece insolúvel – os 3% codificados são chamados de éxons. A grande maioria dos especialistas trabalhava neste campo sob a lei de uso e desuso, de Lamarck, na qual explicaria esta fantástica sobra como sendo resquícios de um DNA que fora utilizado no passado e atualmente seria irrelevante, atrofiado pela inutilização;
• No entanto, considerando-se o mesmo uso e desuso, o DNA-lixo não deveria estar mais ali (muito menos com 97%), pois o próprio organismo o descartaria pela adaptação e evolução. Atualmente, sabe-se que os íntrons são essenciais e muito mais importantes e ativos do que se imaginava;
• Neste sentido, novos trabalhos acadêmicos vêm levando adiante pesquisas abordando e testando o contrário, ou seja, o “lixo” poderia ser o conteúdo que ainda não utilizamos e estaria “adormecido”, esperando a oportunidade de ser acionado (através de centenas de milhares de anos e suas gerações, não num estalar de dedos, obviamente). Seria um componente da evolução futura e não pregressa.
Até aqui, nos mantemos fiéis à literatura científica e demonstramos as verdades contidas no texto principal. Agora, partiremos ao contexto ficcional e supervalorizado da matéria:
• Logo de início, encontramos um personagem, o “professor Sam Chang”, do qual nao há referência alguma – de que universidade? Qual instituto/entidade? Equipe de onde? – além das fontes as quais o citam envolvido nas declarações do texto. Não há informação oriunda de fontes confiáveis ou oficiais sobre Chang. Existem centenas de homônimos e, numa busca básica, o retorno nos leva a (pasmem!) 168 milhões de resultados envolvendo Sam Changs pelo mundo. Fica aparentemente claro que tal nome foi propositalmente inserido ao enredo;
• Constatado este erro, gravíssimo – um pseudo cientista, não localizável – automaticamente desmonta toda a história, mesmo que seja baseada em teorias e estudos científicos reais. Perde completamente qualquer validade;
• As questões levantadas sobre a origem extraterrestre, não somente do DNA primordial como também sobre sua possível procedência em “laboratório”, não é novidade alguma. Oras, levando-se em conta a cosmogênese científica (cosmologia e astrofísica, por exemplo), o difícil – para não dizer impossível – seria apontar o que seja originalmente terrestre na face da Terra, incluindo ela própria. É o que poderíamos classificar como “paradoxo do paradoxo“;
• Somos totalmente extraterrestres na árvore genealógica universal, surgimos a partir do Big Bang – que não ocorreu no nosso quintal, nem no do vizinho – e assim sucessivamente. Nosso planeta é extraterrestre, junto com o Sistema Solar, a Via Láctea e infinitamente adiante, desde seu princípio, que pode abranger ainda multiversos que sequer sonhamos ainda;
• Já a péssima idéia de citar células cancerígenas no enredo, para chamar a atenção, foi infeliz e inoportuna. Cientistas ETs, com muita pressa e perdendo o prazo da “meta do mês”, teriam dado um “jeitinho brasileiro” e acabaram nos presenteando com cânceres variados! A patogenia, incluindo as celulares e genéticas, seriam então “dádivas” alienígenas? Melhor nem comentar;
O problema do texto em si, parte da certeza de que foi supervalorizado e sensacionalizado, dentro de um contexto real e relevante, mas que acabou falhando irremediavelmente, tornando-se mais um hoax ou fake virtual, indo direto para lixeira de qualquer internauta um pouco informado sobre o tema.
Resumindo, as “revelações” do professor Chang são conhecidíssimas e absolutamente nada trazem de revelação.
“Memento homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris.” [Lembra-te homem, que és pó e em pó hás de tornar. (Roma, 1670)]. Somos todos do universo e a ele retornaremos. Leia também: