Uma tradução de Luis Medeiros, da Equipe UFO.
Não é um tipo de discussão que você imagina ocorrer entre os figurões engravatados de \’Whitehall\’ – analistas da defesa debatendo a existência de homenzinhos verdes e especulando se eles têm ou não visitado a Terra.
Mas um grupo de documentos do Ministério de Defesa (MOD – Ministry of Defense) recém descobertos dá uma fascinante percepção acerca do interesse dos militares pelos UFOs. Eles contam a história da decisão do MOD em investigar a ameaça que os UFOs poderiam constituir; além das possibilidade de se utilizar a suposta tecnologia militar alienígena no campo da defesa. Eles também expõem as atitudes conflitantes dentro de \’Whitehall\’ sobre do assunto e os esforços que os oficiais fizeram para tentar manter o projeto em segredo.
Os documentos, muitos deles portando a tarja de “Segredos do Reino Unido”, exibem os procedimentos utilizados no Projeto \’Condign\’, que durou três anos e analisou mais de 10 mil possíveis avistamentos de UFOs – muitos destes por militares – coletados ao longo de várias décadas. A existência do relatório de 460 páginas foi revelada no ano passado em conformidade com as solicitações feitas por David Clarke, professor de jornalismo da Universidade Sheffield Hallam, e por seu colega Gary Anthony, através do Ato de Liberdade de Informação (FOIA).
Os documentos mostram os esforços internos para pressionar a realização de um estudo sobre os UFOs, que começaram em 1993. Numa breve nota de uma agência do MOD sobre a investigação secreta dos UFOs (chamada DI55) um autor anônimo escreveu: “As implicações para a segurança nacional são consideráveis. Nós temos muitos relatos de objetos estranhos nos céus e nunca os investigamos”.
Resposta paranóica
“Eu também acredito que é importante observamos que o que é considerado hoje como ‘fato\’ científico pode não ser no futuro … Se são obtidos relatos da existência de dispositivos que não utilizam sistemas de propulsão convencionais e que atingem uma larga faixa de velocidades e são silenciosos, sugiro que poderíamos utilizar este tecnologia, caso ela exista”.
E especula: “Se os dispositivos avistados não são da Terra, então necessitamos urgentemente conhecer os propósitos deles. As possibilidades são: 1- Militares; 2- Científicas; 3- Turísticas”.
Conforme um analista aposentado do MOD – cujo nome não foi perguntado – o Ministério ficou paranóico em meados dos anos 80 com rumores de que a União Soviética teria desenvolvido uma tecnologia que estava além dos conhecimentos da física ocidental. “Por muitos anos nós ficamos preocupados com as especulações de que, em algumas especialidades, a Rússia era capaz de lidar com a Física de forma que nós desconhecíamos. Nós simplesmente não sabíamos sobre quais bases eles estavam trabalhando…”, disse. “Encorajamos os nossos cientistas a não pensarem que nós do ocidente conhecíamos tudo que havia para ser conhecido!”.
O material referente ao Projeto Condign, obtido na sua versão original (através da lei de liberdade de informação), foi publicado em outubro após uma apelação, e sugere que o MOD suspeitava que este conhecimento científico vinha do estudos de UFOs (ou Fenômenos Aéreos não Identificados – UAPs Unidentified Aerial Phenomenas – como eles preferiam chamá-lo): “Autoridades russas, das ex-repúblicas soviéticas e chinesas fizeram um esforço coordenado para entender o fenômeno. Diversas aeronaves foram destruídas e ao menos quatro pilotos morreram ‘caçando UFOs”.
Uma das conclusões do Projeto Condign era a de que os UAPs poderiam ser explicados através de fenômenos pouco conhecidos chamados plasmas. O relatório diz que os militares russos estavam fazendo pesquisas utilizando os plasmas como antenas refletoras, redutores de atrito aerodinâmico, dispositivos de camuflagem e para a produção de objetos em forma de disco.
A solicitação inicial, em 1993, para uma pesquisa sobre os UFOs feita pelo MoD foi arquivada, mas num memorando posterior datado de 19 de junho de 1995 – após uma onda de avistamentos – um comandante do DI55 escreveu: “Até conduzirmos algumas análises dos arquivos, nós não teremos nenhuma idéia do que a maioria dos relatórios representam. Se em algum momento futuro for provada a existência dos UAPs, então haverá motivo para diversos embaraços”.
Clarke, cujo livro “Objetos Voadores: A História Social da Ufologia” será publicado em abril, diz: “Eles sabiam, devido ao fato de nenhum estudo detalhado acerca do assunto ter sido levado a cabo (e consequentemente não terem idéia do que os UFOs são), que não poderiam justificar adequadamente a afirmação de que estavam livres de qualquer ameaça”.
Nick Pope, que trabalhou no Ministério da Defesa até 1994, acrescenta: “Este sempre foi assunto de um intenso debate. Como você poderia avaliar a questão para ver se havia algo significativo para a defesa sem levar a cabo pesquisas e investigações? Penso que este é um daqueles temas com poucas probabilidades, mas com grandes conseqüências”, E acrescenta: “Se desejássemos gastar um pouco mais de dinheiro, o potencial obtido caso houvesse algo de importância para a defesa seria justificável”.
Mas quanto dinheiro o MOD gastou afinal de contas? Um documento aponta o custo estimado de 35.000 libras, enquanto outro de 1986 estima 80.000 libras por um ano inteiro de estudos. O Projeto Condign quando estava efetivamente começando levou mais de três anos para ser concluído. Portanto, isso significaria um custo de pelo menos 240.000 mil libras?
De acordo com o MOD, não. Embora ele não descarte esta possibilidade. “A hipótese da soma estar na casa das 80.000 mil libras por ano não tem fundamento e é imprecisa. Ela foi fundamentada a partir de um contrato já existente para os níveis orçamentários disponíveis”, acrescenta.
O projeto foi encomendado a terceiros sob confiança do MOD e, embora seus detalhes não tenham sido revelados, os documentos sugerem que ele foi elaborado de forma a não expor o Projeto Condign. Nas correspondências do início de 1993 sobre o assunto, um memorando do DI55 se refere ao potencial de “embaraço político” caso o projeto se tornasse conhecido. E continua: “Penso que abrir um novo contrato especificamente para este estudo e se utilizar de licitações poderia potencialmente expô-lo a um grande público”.
Mas Pope acredita que esta foi simplesmente uma medida prática. “Utilizar um contrato existente é sempre mais fácil do que contratar um novo. Não foi uma tentativa de evitar análise alguma. Foi uma solução rápida”.
Pensamentos Apreensivos
Os memorandos internos e as breves notas são tem
perados com menções de considerável ceticismo por parte do comando do DI55. Nas instruções originais de 1993 ele escreve: “Eu estou bem ciente de qualquer um que fale sobre UFOs seja tratado com um certo grau de receio. Estou insistindo no tópico porque o DI55 tem responsabilidade com o assunto e não porque eu converso com homenzinhos verdes toda a noite!”.
E num documento posterior ele descreve: “Os cientistas e engenheiros presentes lidam seriamente com o tema enquanto os não cientistas (ou aqueles sem um embasamento da ciência da física) comumente fazem piadas sobre homenzinhos verdes e alucinações em massa!”.
Quando o Projeto Condign foi eventualmente concluído em 2000, ele checou a conclusão de que não havia evidências de que os UAPs fossem de origem extraterrestre. Mas havia um limite no qual o autor poderia atuar, pois ele não era autorizado a entrevistar pessoas que houvessem testemunhado eventos de UAPs ou a falar com especialistas.
“A natureza da classificação secreta significava que ele não estava autorizado a discutir o estudo com cientistas que estariam aptos a aconselhar-lho sobre a credibilidade das conclusões obtidas”, diz Clarke. Isto explica a frustrada conclusão do Projeto Condign – de que os UAPs são reais, mas causados por estranhos fenômenos de plasma que desafiam a compreensão científica. “O relatório termina não explicando o mistério e caindo em outro”, diz Pope.