Matéria, sobre a qual estrelas e galáxias se formam, não reflete ou emite luz
Astrônomos conseguiram mapear o “andaime” cósmico de matéria escura sobre o qual estrelas e galáxias se formam. a chamada matéria escura, ou matéria negra, não reflete ou emite luz, mas forma a maior parte da massa do Universo. Outros tipos de matéria, como gás, estrelas, planetas e galáxias, constituem apenas um sexto de toda a matéria do Universo.
O estudo, publicado na revista Nature e apresentado durante o 209º encontro da Sociedade Americana de Astronomia (AAS, na sigla em inglês) em Seattle, no Estado de Washington, fornece a melhor prova já obtida de que a distribuição de galáxias segue a distribuição de matéria escura.
Isto porque a matéria escura atrai outros tipos de matéria através de sua força gravitacional. Estudos anteriores sobre a matéria escura haviam se baseado em simulações. Mas este apresenta uma mapa tridimensional.
A matéria escura é invisível, por isso, apenas as galáxias podem ser vistas diretamente. As novas imagens são o equivalente às imagens de uma cidade espacial, os subúrbios e as estradas vistos pela primeira vez.
Galáxias
A pesquisa envolveu quase mil horas de observações usando o telescópio espacial Hubble e também telescópios terrestres. O mapa foi feito com base nas medidas de cerca de 500 mil galáxias distantes.
Para chegar até nós, a luz dessas galáxias tem de passar por matéria escura. Mas, segundo os pesquisadores, a matéria escura faz com que a luz se curve, como se estivesse passando por uma lente.
“Nós sabemos, estatisticamente, qual deveria ser a forma dessas galáxias”, explica o pesquisador Richard Massey, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) em Pasadena, que liderou o estudo.
“Se existe matéria escura no meio, esta matéria escura – através da sua gravidade – curva o caminho da luz. A forma das galáxias é distorcida, como se nós as estivéssemos vendo através de lentes. Cada uma dessas lentes é um pouco de matéria escura”, afirma.
Discrepâncias
De acordo com o pesquisador Carlos Frenk, da Universidade de Durham, na Grã-Bretanha, os resultados apresentam uma confirmação da teoria tradicional que explicam como estruturas existentes no Universo evoluíram ao longo de bilhões de anos.
Logo depois do Big Bang – a explosão que teria dado origem aos cosmos -, as primeiras grandes estruturas do Universo foram formadas com matéria fria. Essas estruturas, depois, caíram com o próprio peso e formaram vastos “halos”, ou auréolas. A tração gravitacional desses “halos” atraiu outros tipos de matéria, fornecendo o ponto de partida para a formação das galáxias.
Mas os astrônomos ainda têm de resolver algumas discrepâncias. No mapa, matéria comum quase sempre aparece junto de matéria escura, mas nem sempre. Algumas áreas de matéria escura parecem não ter nenhuma matéria comum ao redor.
“É um pouco inconveniente”, diz o professor Eric Linder, do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, nos EStados Unidos. “Seria de se esperar que os dois tipos de matéria estivessem sempre juntos”.
Os pesquisadores acreditam que as discrepâncias podem ser simplesmente o resultado de interferência nos dados colhidos, mas afirmam que será preciso mais pesquisa.
“Seria confuso se encontrássemos no Universo galáxias enormes no meio do nada, sem matéria escura ao redor delas. Isso sim seria chocante”, afirma Carlos Frenk.