Em sua edição anterior, a Revista UFO mostrou com exclusividade imagens de um objeto não identificado que teria sido encontrado acidentado em 1969 próximo à cidade de Berezovsky, região de Yekaterinburg, na extinta URSS. O suposto disco voador foi achado por tropas da KGB parcialmente enterrado no solo. As imagens publicadas em UFO foram extraídas de um documentário sobre o assunto veiculado pela rede norte-americana TNT, a cabo. São filmagens fantásticas! De fato, desde a autópsia fraudulenta de Ray Santilli, em 1995, não víamos imagens tão fortes e marcantes. Se fossem verdadeiras, finalmente teríamos a prova da captura de uma nave pilotada por seres de outro planeta.
A alegria, porém, durou pouco. Assim que conseguimos cópia do filme, começamos a investigar as imagens e a história por trás dos bastidores. Dezenas de horas foram empregadas para análise detida e minuciosa das incríveis cenas. A equipe de investigação do caso foi encabeçada pelo jornalista Jefferson Martinho [Editor da revista eletrônica Vigília], composta por este autor, o jornalista Eduardo Castor [Da Agência Estado] e o produtor Gustavo dos Santos. Utilizando modernos equipamentos da empresa Cia Brasil de Cinema, analisamos todas as imagens quadro a quadro, bem como detalhes técnicos da produção do filme. Após cuidadoso estudo, chegamos à conclusão de que o filme supostamente feito pela KGB é falso.
Encenação – São várias as razões que nos permitem afirmar tal fato com tamanha certeza. Em primeiro lugar, em diversas cenas um cinegrafista militar aparece filmando o local e o objeto caído, mostrando-se em muitas seqüências como que obedecendo a ordens de um agente da KGB. Nestas cenas ele se agacha para filmar o objeto – e aqui está o primeiro erro da produção. Quem quer que tenha feito as filmagens esqueceu-se do tempo necessário para sua estabilização em uma câmera ótica. Uma filmadora como a mostrada no filme não funciona como uma câmera eletrônica dos dias de hoje. Não basta apertar o botão de gravação para se ter a imagem registrada e já estabilizada. Nas filmadoras óticas profissionais como a que aparece empunhada pelo cinegrafista um tempo de estabilização da ordem de cinco segundos é fundamental para a qualidade da filmagem. Isso não ocorre! Em todas as cenas em que o cinegrafista filma o objeto, ele não pára por mais do que três segundos o seu trabalho, provando ser tudo uma encenação.
Por outro lado, o início do filme mostra o símbolo da extinta KGB com uma mensagem em russo, afirmando tratar-se de material secreto. Nesta seqüência, pode-se observar na imagem riscos comuns a filmes antigos e inexistentes em filmagens eletrônicas, como em câmeras de vídeo modernas. Ao analisarmos repetidamente esta cena, podemos observar facilmente que também há uma tremulação da imagem – efeito esse conhecido como flicker. Os riscos existentes em filmes de emulsão, principalmente os antigos, apresentam também riscos negros que correm verticalmente pelo filme. Estes riscos cortam a imagem de cima para baixo, sendo visíveis em diversos quadros. Nunca são estáticos, como mostrou-se nas filmagens analisadas. Este foi outro erro! Em uma das cenas, um risco negro corta exatamente o centro da imagem, permanecendo fixo por vários segundos, o que sugere que foi colocado ali por meio eletrônico. Ou seja: manipulação da filmagem.
Os filmes de emulsão possuem uma película química que, ao receber a luz, registra as imagens. Em um processo apropriado, as figuras em negativo são reveladas. Ao se assistir uma seqüência qualquer filmada com câmera ótica, pode-se observar uma granulação da emulsão. Aproximando-se da imagem, ela aparenta ser formada por pequenos grãos coloridos de areia.
Este fenômeno simplesmente não existe nas filmagens da TNT, comprovando novamente que foram feitas por filmadora de vídeo, e não ótica. Por fim, em determinada cena é feita uma aproximação (zoom) de alguns destroços do objeto acidentado. Aqui está o maior erro de todos! As filmadoras óticas antigas não eram prismáticas. Isso quer dizer que o cinegrafista não via o que estava sendo filmado. As filmadoras possuíam uma pequena luneta que permitia orientar o cinegrafista, e só. Portanto, quando o profissional queria acionar o recurso de zoom, ele necessitava analisar corretamente a distância entre a câmera e o objeto.
No filme da TNT, o cinegrafista aplica o zoom, desfoca, retoma o zoom um pouco e foca novamente. Este erro é conhecido no meio cinematográfico pelo jargão ciscar. Com certeza o cinegrafista que fez as imagens estava vendo o objeto filmado por uma lente prismática moderna e não por uma filmadora da década de 60. Enfim, estes são alguns dos muitos pontos que provam que o vídeo mostrado pela TNT é uma fraude.