Em 1988, eu fui a uma livraria para comprar o best seller de Kitty Kelly, His Way: The Unauthorized Biography of Frank Sinatra [De Sua Forma: Uma Biografia Não Autorizada de Frank Sinatra, Bantam Press, 1987]. Naquele dia comprei também um livro chamado Intruders [Intrusos, Record, 1991], escrito por Budd Hopkins. Limpei a poeira da capa do livro, que mostrava luzes vindas de dentro da floresta, porque me pareceu uma interessante novela de mistério. Confesso que a imagem da capa também me lembrava de luzes insólitas que pareciam sair do fundo da garagem de alguma casa, algo um tanto assombrador, mas instigante. Pensei: quero este livro.
Naquela tarde, decidi ler a obra de Hopkins primeiro, porque ela era a mais fina. Então, me sentei confortavelmente na cama e comecei a folheá-la. Rapidamente percebi do que se tratava: ora, era um livro sobre UFOs. Mas, para minha surpresa, Intruders era mais espantoso do que qualquer livro de mistério que eu já houvesse lido, embora não me assombrasse da mesma forma que as novelas policiais. Não, o espanto era diferente e na hora eu não reconheci e nem entendi minha reação. Parei em uma página curta no final do capítulo 1, onde li a seguinte passagem referindo-se a um caso ufológico pesquisado por Hopkins: “Há evidências que Kathie e seu filho Tommy tenham implantes perto de seus cérebros, inseridos por meio da cavidade nasal”. Naquele ponto comecei a sentir pânico — e eu sabia por quê!
Em 1976, 12 anos antes de eu ter comprado o livro, descobri um inchaço no lado direito de meu nariz — pensei que pudesse ser um tumor e aquilo me deixou com medo. Imediatamente, fiz uma consulta com um dos melhores médicos especialistas da cidade. Pensei: Isto não pode estar acontecendo comigo. Eu tinha acabado de dar à luz ao meu primeiro filho, Stephen, e estava muito feliz. O médico me deu uma boa, mas curiosa, notícia: o inchaço era uma reconstrução da cartilagem, uma cicatriz cirúrgica. Respondi a ele que aquilo era impossível, pois a única cirurgia que eu havia feito fora a remoção do dente do siso. Mas ele insistiu: “Isso é uma cicatriz cirúrgica causada por um bisturi”. Poderíamos ficar discutindo o dia todo sobre o que causara a cicatriz, mas eu estava muito agradecida pela boa notícia. Entretanto, eu não podia deixar de notar um sentimento muito peculiar sempre que eu me olhava no espelho.
Difícil de acreditar
Então, lá estava eu, mais de uma década depois, com uma perturbadora passagem do misterioso livro de Hopkins. Passei todo o ano de 1988 argumentando comigo mesma a favor e contra entrar em contato com ele, que morava em minha mesma cidade, para relatar que eu suspeitava ter algo igual ao que ele descrevera em Intruders. Foi na primavera de 1989, em abril ou maio, que criei coragem para enviar uma carta ao editor de seu livro. E, para minha surpresa, Hopkins me telefonou alguns dias depois. Minha reação em relação ao fato foi contrária à visão intelectual que eu tinha — eu não achava possível acreditar na existência de UFOs, e muito menos em alienígenas. Eu sabia que estava aprendendo um novo fato da vida, como a maravilha do milagre do nascimento que havia experimentado um pouco antes.
Hoje tenho inveja daqueles que ainda têm desconfiança quanto ao assunto, pois eu já não tenho mais o luxo de poder ter dúvidas. A desconfiança é a coisa mais sadia do processo — é como cola, que faz as pessoas ficarem juntas. Você, que deseja saber mais sobre o meu caso, logo terá detalhes. Ele é muito complexo e eu quero que tenha todos os detalhes corretos. E um bom modo de começar é não se deixar enganar pela propaganda contrária que os três desinformantes circularam por aí a respeito de minha experiência. O que eles dizem se baseia em informações insuficientes passadas por pessoas não atualizadas, são rumores e mentiras que usaram para tentar fazer com que seus discursos se tornassem críveis — e os meus sejam desacreditados. É uma manobra espúria e injusta.
Mas o que os três desinformantes fizeram não foi simplesmente uma injustiça com Hopkins, seus colegas e comigo — foi injusto com todos os interessados no progresso da Ufologia também. Todos temos o direito de saber a verdade sobre nossos visitantes e toda a informação que obtivermos a seu respeito é importante. Hopkins era o pesquisador que tinha sob sua posse todas as evidências, testemunhos e particularidades do meu caso. O que ele descobriu é algo no qual ninguém quer acreditar. Porém, aconteceu de fato e suas implicações são assustadoras. Às vezes eu vejo uma luz no fim do túnel de todo este episódio. Mas, então, me sinto receosa porque a luz que vejo pode ser apenas o farol de um trem que se aproxima.
Um pouco sobre mim
Meu nome é Linda Cortile. Nasci e cresci na cidade de Nova York, em uma família norte-americana de classe média. Meus pais foram bons e me proporcionaram um ambiente rigoroso, protegido e amável. Minha família nunca foi supersticiosa, interessada no sobrenatural ou em UFOs. Um aspecto interessante em nossas vidas era nossa doutrina religiosa — éramos católicos e em uma ocasião minha mãe pediu a um padre para abençoar nossa casa. Eu tenho uma irmã mais velha de quem gosto muito, que também é esposa e mãe. Minha descendência é italiana e sou uma patriota republicana conservadora.
Fiz apenas escola secundária e trabalho como secretária. Quando era mais jovem, tive um breve e agradável “bico” como cantora. Aos 20 anos perdi meu noivo, um marinheiro de 22 anos de idade, na Guerra do Vietnã, dois meses antes de nós nos casarmos. Sua morte trouxe para mim um trauma. Após cinco anos, casei-me com meu marido, Steve. Quatro anos depois, meu filho mais velho, Stephen, nasceu. John, seu irmão mais novo, veio sete anos depois.
Naquele momento minhas pernas estavam paralisadas. Eu então me sentei, arrastando minhas pesadas pernas. Puxei uma grande almofada e joguei-a nele, acertando bem no alvo. Mas imediatamente depois disso meu corpo todo se paralisou, exceto a cabeça
Eu não sou uma contatada porque nunca contatei alienígenas. Não sou especial e nem tenho dons especiais. Não sou médium ou uma pessoa adepta à era new age. E nem sou uma pessoa famosa, como andaram falando. Sou apenas eu. E porque algumas pessoas dizem terem me visto ser abduzida por três pequenas entidades para dentro de um UFO, fui intitulada abduzida. Considerando que seus relatos como testemunhas oculares confirmam aquilo que relatei sob hipnose e o que eu conscientemente vi em meu quarto, então, sim, eu sou uma abduzida, uma abduzida que
viveria uma vida muito boa, não fosse isso. Meu mundo era minha família e minha casa, até que tudo mudou por volta das 03h00 de 30 de novembro de 1989.
Começa a abdução
Naquela madrugada me preparei parar dormir como sempre fazia. Steve não estava trabalhando e já estava adormecido. Mentalmente, como sempre, comecei a rezar o Pai Nosso, quando um sentimento peculiar veio sobre mim — havia uma forte e estranha presença no quarto. Steve estava roncando para valer, então não era ele. Talvez um dos meus filhos? Sussurrei os nomes de Stephen e Johnny, para ver se era um deles, mas não houve resposta. Insisti: Tudo bem, crianças, mas nada de TV esta noite. Recebi silêncio, sem resposta.
Logo comecei a perceber a familiar sensação de adormecimento, que sentira periodicamente em toda minha vida, subindo vagarosamente pelos dedos dos pés até a cabeça. Mas a sensação logo se revelou algo diferente do habitual. Eu já conhecia Budd Hopkins e tinha lido sobre os abduzidos, e então suspeitei que aquele sentimento poderia significar algo diferente. Mantive os olhos fechados, chamei pelo meu marido, gritei e o sacudi uma porção de vezes. Ele não respondeu. Eu sabia que se quisesse ter alguma chance de mandar aquele sentimento embora, tinha que abrir os olhos. Mas eu estava muito assustada e, ao mesmo tempo, senti algo semelhante a um arrepio, mas não tinha como evitar. Bem, abri finalmente os olhos e olhei diretamente para frente, e então dei um grito de terror e comecei a chorar, porque havia um ser ali, bem nos pés de minha cama, olhando fixamente para mim.
“Eles mataram minha família”
Naquele momento minhas pernas estavam completamente paralisadas. Eu então me sentei, arrastando minhas pesadas pernas comigo. Puxei uma grande almofada e joguei-a nele, acertando bem no alvo. Mas imediatamente depois disso meu corpo todo se paralisou, exceto minha cabeça. Senti remorso pelo que havia feito, porque pensei que aquela coisa iria ficar zangada e pegar minhas crianças, ou algo pior. Gritei por Steve mais uma vez, sem obter resposta, e então chorei como um bebê. Disse para o tal ser: Eu ficarei boazinha! Minha última lembrança foi a de um tecido branco flutuando e cobrindo meus olhos e depois descendo sobre mim. E também me recordo de sentir a vibração de alguma coisa, talvez pequenos pulsos, dando leves pancadas em minhas costas.
Minha próxima lembrança consciente foi a de cair em minha cama. Em pânico, corri para o quarto das crianças para vê-las — acendi a luz, parei na porta e as encontrei dormindo. Mas alguma coisa estava errada: tudo estava muito quieto. Os garotos estavam em silêncio e eu não podia ouvir meu marido roncando no quarto. Cheguei mais perto para ter uma visão melhor de meus filhos, e parecia que não estavam respirando. Comecei a sentir que meu coração pularia para fora do peito. Abaixei-me e coloquei o rosto perto do rosto dos meninos para sentir um fraco sopro em minha face, mas nada! Os garotos não estavam respirando. Pensei: Oh, meu Deus, eles estão mortos. Eles mataram toda a minha família. E culpei-me por ter arremessado aquela almofada.
Histericamente, corri para o banheiro para pegar um espelhinho e colocá-lo perto do nariz das crianças. As lágrimas ofuscavam minha visão, mas finalmente, após duas ou três tentativas, vi o fraco, mas bem-vindo embaçamento de suas respirações no espelho — eles estavam vivos. Então cheguei até Steve e meu marido roncava novamente. Eu havia tido noites ruins antes, mas aquela foi a pior que já tive em minha vida. Poucas horas mais tarde, telefonei para Hopkins para marcar um encontro e discutir o acontecido. E dias depois ele fez uma regressão hipnótica comigo. Porém, eu estava consciente do que havia acontecido em meu quarto naquela noite. Eu sei o que vi e ninguém pode me dizer que eu não vi. Sob hipnose, no entanto me assisti caminhando pelo corredor que ía do quarto até a sala de estar — mas um ser caminhava à minha frente e outros dois atrás de mim. De alguma forma, eles me fizeram ir com eles.
A outra coisa que vi foi um tecido branco flutuando e cobrindo meus olhos. Eu imaginei que minha camisola tivesse levantado e depois caído. Meses mais tarde, Hopkins descobriu, sob hipnose, que eu estava em posição fetal, o que eu desconhecia. Minha camisola cobria meus joelhos e eles estavam na frente dos meus olhos. Era por isso que eu vi o tecido branco. Eu estava parada no ar, do lado de fora de minha janela, a 12 andares do chão e banhada por aquela traiçoeira luz branco-azulada. Estava com medo de cair e me arrebentar na calçada lá embaixo. Não conseguia me mover. Senti uma pressão prendendo minhas pernas e minha coluna. Estava difícil respirar e meus lábios não se moviam. E embora eu implorasse por ajuda, estava sozinha ali. Meus olhos pareciam estar presos e eu podia olhar apenas para uma direção, para a qual eu estava virada. Eu não sei o que dentro daquela luz me forçou a fazer as coisas que fiz, mas naquele momento sentia que havia algo ali me obrigando a agir.
Em busca da verdade
O que restava de meu ceticismo quanto às abduções alienígenas evaporou ali mesmo, mas eu dei um jeito de me agarrar à sombra da dúvida. Essa descrença ajudou a me fortalecer nos meses seguintes, a aceitar a realidade de um fenômeno que eu não podia negar. A maior parte do tempo eu preferia estar louca, porque para isso há tratamento. Meu sentimento de compaixão pelos outros abduzidos aumentou muito além do que eu pensava. Finalmente, eu entendi e me questionei: Oh, meu Deus. Alguém pode nos ajudar?
Quatorze meses depois daquele novembro, em fevereiro de 1991, Hopkins telefonou novamente. Não consigo me lembrar de palavra por palavra do que foi dito, mas aquela foi uma chamada que eu não iria esquecer tão cedo. Ele disse que tinha algo para me contar e perguntou: “Você está sentada?” Eu lhe respondi que sim e ele, então, disse que tinha recebido uma carta de dois oficiais de polícia chamados Richard e Dan e que eles lhe haviam dito que testemunharam a abdução de uma mulher ou uma criança, em novembro de 1989, entre 03h00 e 03h30. E perguntou-me: “Sua experiência aconteceu por volta de 03h15 da manhã, certo?” Sim, era isso mesmo. Tínhamos uma confirmação de tudo o que se passou, de gente que me viu ser levada através da parede de meu apartamento para um disco voador, por meio de um tubo de luz estacionado ao lado do 12º andar.
O efeito daquele incidente me deixou presa em casa na maior parte do ano. Amigos me pressionaram para contatar as autoridades, mas o que mais me preocupava eram meus abdutores. Eles voltariam, pensava. Ma
is tarde, minha vida estabilizou-se
Enquanto confirmava o horário para Hopkins, intimamente eu estava espantada, pensando quem seria uma outra pobre alma que passara por aquela experiência quase na mesma hora que eu. Ele então perguntou qual era o nome da rua em que eu morava e, quando lhe respondi, exclamou: “Linda, é a sua rua. A descrição que eles deram do incidente é igual à sua”. Hopkins então repetiu o que Richard e Dan tinham dito a ele e completou: “Essas pessoas lembram de que edifício e de qual janela a mulher saiu. Eles usaram binóculos e estavam a curta distância, apenas dois quarteirões. Eles vão contatá-la. Acho que foi você que eles viram”.
Após o choque inicial, nós nos sentimos um pouco preocupados. Budd Hopkins me telefonou mais tarde e explicou os prós e contras de uma situação como aquela. Se de fato fosse eu a pessoa que eles tinham visto, eles viriam me procurar. Hopkins precisava confirmar com seus próprios ouvidos e ele não queria nos contaminar com outras informações. Assim, em uma manhã do final de fevereiro de 1991, aproximadamente duas ou três semanas após o chocante telefonema, houve uma leve batida na porta. Olhei através do olho-mágico e vi dois homens grandes parados do lado de fora. Perguntei quem eram e eles me mostraram um emblema dourado.
Minhas pernas enfraqueceram
Os homens estavam vestidos com roupas simples, o que me levou a acreditar que fossem detetives da polícia local fazendo suas rondas novamente. Naquela época, meus vizinhos e eu tínhamos sido questionados pela polícia sobre crimes cometidos do lado de fora do condomínio, na esperança de acharem testemunhas. Abri a porta e convidei-os a entrar. Eles o fizeram olhando fixamente para mim, e o homem que mais tarde eu soube ser Dan ficou de boca aberta. Então, eles se apresentaram e eu senti algo muito, muito forte. Pensei: Não, isto tem que ser uma coincidência! Eu lhes perguntei se eram as pessoas sobre as quais Hopkins falara e os dois balançaram a cabeça: “Sim, somos nós”. Minhas pernas enfraqueceram.
Dan estava sentado no sofá com as mãos na cabeça dizendo: “É ela, Richard. É ela!” Richard ficou perto de mim, no meio da sala de estar e em frente ao sofá olhando fixamente para Dan com um ar de preocupação no rosto. Eu estava sem palavras e as reações deles me fizeram chorar. Para falar a verdade, eu não sabia como me comportar naquela situação. Nunca, nem em meus sonhos mais loucos, poderia imaginar que aquela situação pudesse acontecer. Richard abraçou-me e eu fiquei feliz porque precisava de conforto. Quando eu olhei para ele para agradecer-lhe o apoio, me senti pior — aquele homem grande e forte, de aparência dura, estava à beira das lágrimas.
Comportamento perturbado
Dan levantou-se do sofá e me disse: “O que você fez? Como você levitou para fora deste prédio?” A forma como ele falou aquilo foi como se estivesse me dizendo que causei o incidente. Richard tentou acalmá-lo, mas ele continuou irado perguntando-me como eu sabia quem eram e como conhecia Hopkins? Richard se colocou entre nós, tentando parar a gritaria antes que ela se transformasse em algo muito pior. Para mim não foi difícil recobrar a calma, porque eu estava com mais medo do que zangada. Eu expliquei como conheci Hopkins, mas eles continuaram a me questionar, querendo ver a janela através da qual eu havia flutuado para fora do apartamento. Insistiram em saber mais sobre minha experiência, mas educadamente expliquei-lhes porque não podia falar sobre o assunto — recomendei que telefonassem para Hopkins, mas eles se recusaram.
Finalmente, após meia hora, eles se foram. Eu, então, olhei os dois pelo olho mágico e vi que Dan mostrava um comportamento perturbado: ele agarrou Richard pela roupa e começou a sacudi-lo, dizendo repetidas vezes: “Jesus Cristo, Richard. Era ela!” Telefonei para Hopkins e lhe contei sobre a visita, e não demorou muito para nós dois nos darmos conta de que havíamos sido investigados antes do primeiro contato dos homens com Hopkins, e que, portanto, não era um grande mistério para Richard e Dan que eu havia sobrevivido à abdução antes de eles me fazerem a visita. Nas semanas seguintes, minha vida familiar começou a mudar para pior. Eu estava inquieta, sem paciência e estava dando menos atenção à minha família. Procurei esclarecimentos para o ocorrido, mas toda explicação que me ocorria se dissolvia quando pensava naquela criatura que vira em meu quarto. Não havia dúvidas de que aquele caso iria mudar nossas vidas.
Entre fevereiro e março, me encontrei com Richard mais duas ou três vezes fora de minha casa. Eu não desisti de estimulá-lo a contatar Hopkins, mas ele não o fez. Em vez disso, enviou-lhe uma mensagem gravada em áudio explicando o que eles tinham visto naquela madrugada de novembro. Mas, em abril de 1991, Hopkins recebeu outra carta de Richard e Dan, uma das mais importantes correspondências até então. Eles foram mais adiante em relação às circunstâncias especiais que os tornava tão relutantes em se apresentarem: havia um terceiro homem, uma importante figura política, no carro com eles naquela madrugada em que me viram do lado de fora do prédio, flutuando. E foi naquele momento que nós compreendemos que Richard e Dan não eram policiais comuns. A complexidade do caso começou a aumentar, assim como meu medo.
O efeito daquele incidente me deixou presa em casa na maior parte do ano. Amigos me pressionaram para contatar as autoridades e denunciar Dan e Richard, mas o que mais me preocupava é com meus abdutores. Eles voltariam, pensava eu. Mais tarde, minha vida social estabilizou-se. Ninguém que não fosse da minha família passou pela porta de minha casa ou da de Budd Hopkins. Mas meus amigos estavam com medo de mim e eu estava com medo de sair sozinha. Descobri que esse era um dos efeitos que sofrem quem passa por abduções. Outro foi ter sentido dores e ter tido sangramentos pelo nariz, que me levaram a fazer exames de raio-X a pedido de Hopkins e por recomendação de um médico da família — e neles se constatou a presença de um estranho corpo em meu cérebro. Quando o médico me comunicou aquilo, fiquei assustada e questionei: Aquela coisa está realmente na minha cabeça? Nunca esquecerei a expressão no rosto de Hopkins quando lhe mostrei a radiografia.
O caso vem a público
E então percorremos a história de meu caso novamente, em sua casa. Eu o lembrei de que nunca havia visto um UFO, nem de longe. Aquele incidente era o único que tinha vivido, e foi o
mais intenso possível dentro da casuística ufológica conhecida. Talvez isso fosse o que amedrontasse Dan e Richard, além do fato de eles terem que preservar a identidade do terceiro homem que estava com eles no carro, quando me viram ser abduzida. E olhem que eu apenas vi aquele tubo de luz branco-azulada e a parte de baixo do objeto do lado de fora do prédio. Mal pude acreditar quando Hopkins me dissera ter recebido uma carta de uma outra pessoa que também testemunhara o que eu passei. Era uma mulher que lhe escreveu e enviou um desenho que fez do fato, de figuras magras representando os três ocupantes do UFO e eu.
Daquele dia em diante, o número de testemunhas, relatos e outras evidências de minha abdução começaram a multiplicar-se drasticamente. Eu nunca sabia quando uma nova testemunha iria aparecer. Afinal, estávamos em Nova York. O tempo passou e dentro da comunidade ufológica dos Estados Unidos pedaços de versões deturpadas do meu caso começaram a aparecer. As pessoas queriam saber o que aconteceu com “aquela mulher na cidade de Nova York”. Então Hopkins apresentou o episódio em julho de 1992 em um simpósio da Mutual UFO Network (MUFON) no Novo México, ao meu lado. Respondi a perguntas feitas pela plateia e todos foram maravilhosos comigo e ajudaram-me a me sentir bem. Senti o calor de estar entre amigos.
Mas, quando voltamos para Nova York, não pude acreditar no que nos esperava: ataques de três desinformantes, que tinham levado o debunker Philip J. Klass para o seu grupo cético. Eles descobriram e revelaram meu nome verdadeiro à imprensa, deram meu número de telefone e outras informações pessoais em um telejornal nacional, junto com sua versão contra o caso, que apontava que eu havia inventado tudo aquilo. Foi ultrajante! Eles tentaram de todas as formas me desmoralizar, pois aquele era o método de Klass, que havia tentado — soube depois — fazer o mesmo com o abduzido Travis Walton, do Arizona [Autor de Fogo no Céu, código LIV-025 da coleção Biblioteca UFO. Confira na seção Shopping UFO desta edição e no Portal UFO: ufo.com.br].
Eles tiraram de mim o que era mais precioso: a segurança e o anonimato de minha família. Passei a ser vigiada por estranhos, por tipos esquisitos que me assustavam e aos meus filhos. Eu era perseguida na rua, fotografada, xingada e até recebera trotes telefônicos ameaçadores. Não pude entender a razão desta reação das pessoas. Em meio a tudo isso, a investigação que Budd Hopkins fazia de meu caso, parcialmente por meio de sessões de hipnose regressiva, foi grandemente prejudicada, o que era uma lástima, pois eu queria — e precisava — saber tudo o que havia me ocorrido dentro daquela nave para a qual fui levada naquela madrugada.
Sempre me perguntei como consegui lidar com tudo aquilo? Talvez, se fosse uma pessoa de cidade pequena, e não de uma metrópole alucinada como Nova York, as coisas teriam sido diferentes. De qualquer forma, uma parte muito importante desta história acabou um dia se apresentando quando descobrimos quem seria o terceiro homem no carro de Dan e Richard naquela madrugada, uma pessoa cuja identidade jamais poderia ser trazida a público em conjunção com uma situação que envolvera o Fenômeno UFO e, muito mais do que um mero avistamento, uma abdução alienígena. Quase caí de costas ao receber de Hopkins o resultado de sua investigação a respeito, que confirmara sem sombra de dúvidas que o terceiro homem era ninguém menos do que um diplomata que na época de meu incidente era o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Javier Pérez de Cuéllar. É evidente, no entanto, que ele jamais admitiu uma só parte da história, que para ele simplesmente nunca existiu.
A luz no fim do túnel
A abdução em si já é algo traumático. Ser tirada do aconchego de seu lar, do lado de seus entes queridos e levada por estranhas figuras de aspecto gray para bordo de uma nave alienígena é algo que não pode ser minimizado na vida de ninguém. Receber a visita destes seres em seu próprio dormitório, no meio da madrugada, é algo que choca. Mas sentir-se compelida a andar em direção à janela, como que pisando sobre a parte de baixo de um tubo de luz, e avançar para fora do 12º andar de um prédio, em pleno ar e no meio da madrugada, é aterrador. Como se não bastasse tudo isso, tenho pavor de altura e não sei como não desmoronei naquela situação, mas certamente devo a minha estabilidade em caminhar no ar para o UFO a algum poder mental dos seres que me levaram.
Este poder não pode ser menosprezado. Eles conseguiram “apagar” meu marido ao meu lado, que nem mesmo os meus gritos ouviu e cotoveladas sentiu, assim como diminuir o processo respiratório de meus filhos, como se os tivessem hibernado por alguns instantes, enquanto faziam o que bem entendiam comigo. Enfim, eles têm o controle de tudo quando querem levar alguém. E quando o fazem, se repete, como também ocorreu comigo, a velha rotina de exames médicos e experimentos na nave, culminando com a colocação de um implante em minha cabeça, que até hoje parece estar onde deixaram.
A casuística ufológica mundial, aprendi nos anos que se seguiram, está repleta de casos idênticos ao meu, com a mesma sequência de acontecimentos. Portanto, não sou exceção e nem especial em nada. Talvez, no máximo, meu episódio tenha como diferencial o fato — bastante incomum, descobri com Budd Hopkins — de eu ter sido levada de um apartamento de um edifício e em meio a uma imensa cidade reconhecida por nunca dormir, que vive 24 horas por dia, 7 dias por semana, todos os 365 dias do ano. Isso parece ser raro, como também é raro que uma abdução tenha testemunhas, e muito mais ainda do porte de um secretário-geral da ONU e seus guardas de segurança altamente treinados. Mas, enfim, há anos tudo isso passou e minha vida voltou ao normal, ou, pelo menos, ao que posso julgar ser normal. Enfim, após tudo, vi uma luz no final do túnel, e por enquanto ela não se mostrou ser o farol de um trem.
Em uma madrugada de novembro de 1989, Linda Milano, que assina este artigo como Linda Cortile, foi abduzida em uma situação dramática. Seu caso foi inicialmente estudado pelo famoso pesquisador norte-americano Budd Hopkins, falecido em 2011. Dada à estranha e delicada natureza dos acontecimentos, tanto Hopkins quanto Linda optaram por manter o caso em segredo enquanto faziam suas investigações, preservando não apenas a testemunha, mas seu marido e filhos. Enquanto as pesquisas eram realizadas, informações e evidências foram se acumulando, até formar um volume considerável.
Conforme as investigações avançavam, Hopkins foi contatado por dois homens que diziam ter testemunhado a peculiar abdução de Linda, caso raro na casuística ufológica mundial. Mas, quando se descobriu a identidade daqueles homens e a de um terceiro personagem, importante diplomata, a testemunha decidiu se retirar de cena, visto que o caso alcançara proporções inéditas em um contexto ufológico. Ao invés de se sentir melhor, Linda passou a ser perseguida publicamente e até hoje as retrai, em uma atitude que revela a fragilidade dos abduzidos.
Coroando a cadeia de invasões de privacidade com a qual Linda teve que lidar, um novo personagem foi adicionado ao caso, o cético Phillip J. Klass, o mesmo que anos antes havia perseguido Travis Walton, tentando provar de todas as formas que o rapaz mentira sobre ter estado em uma nave — ele tentou, sem sucesso, o mesmo com Linda. No artigo que veremos a seguir, ela conta sua história, também narrada na obra Case of the UFO Abduction [Caso de Abdução por UFO, Sentinell, 2001], que mostra quão desumanas podem ser as pessoas quando se defrontam com fatos que não conseguem assimilar. A. J. Gevaerd