No fim de novembro, circulou entre alguns ufólogos brasileiros e interessados na questão um panfleto com o sugestivo título: “OVNIs – Chega de embustes e mistificações!” A princípio, pelo impacto do título, alguns dos recebedores do material acharam até que seria coisa séria, mas com a leitura do mesmo – muito bem acabado graficamente, por sinal – viram que se tratava de mais um dos excessos cometidos por um jovem e exagerado personagem já bem conhecido da nossa comunidade ufológica – comunidade essa que o rapaz acusa de estar despreparada para a Ufologia. Logo no início de seu panfleto, está impresso: “Nos últimos anos, em função da irresponsabilidade de indivíduos inescrupulosos que se intitulam \’ufólogos\’, a Ufologia Brasileira viu-se mergulhada na mediocridade. Agora, finalmente, chega ao Brasil a Ufologia Científica”.
Aparentemente, pelas palavras empregadas, o ufólogo quer nos redimir de nosso primitivismo, quer desbravar nossa ignorância e trazer – “finalmente”, como disse – a salvação para nossa estúpida Ufologia, segundo ele a descreve. Mas, com estas linhas, o descuidado autor do material simples e levianamente taxa centenas de ufólogos novos ou pioneiros e dezenas grupos e entidades que levam a sério a Ufologia como meros irresponsáveis, que jamais souberam fazer Ufologia e que, além de medíocres, seriam impostores sem qualificação (“se intitulam ufólogos”).
Imediatamente à circulação do folheto, vários pesquisadores e integrantes do movimento ufológico brasileiro ligaram ou escreveram à UFO e ao CBPDV para saber o que se passava. A maioria estava perplexa com o que leu, principalmente partindo de quem partiu, figurinha carimbada da Ufologia Brasileira já há vários anos! Nossa ufóloga maior, Dª Irene Granchi, a quem o autor do folheto já chamou de falsa e mentirosa noutro de seus ataques, do alto de toda sua experiência nos escreveu uma frase que diz tudo: “Tudo muda, o milênio acaba e as surpresas já não são mais surpresas”, numa alusão ao fato de já conhece a personalidade do autor das acusações e que seu destempero a este nível já não é surpresa para ninguém! Então, segundo o raciocínio do remetente, entre os ufólogos acusados de pertencerem à “mediocridade” da Ufologia Brasileira – sem citar nomes – estão figuras que, em nossa opinião, merecem o maior respeito de todos, entre elas Walter K. Buhler, Claudeir Covo, Marco A. Petit, Victor Soares, Húlvio B. Aleixo, Max Berezowski, Ubirajara F. Rodrigues, Jean Alencar, Daniel Rebisso, Reginaldo de Athayde, Rafael Cury, Antonio Faleiro e tantos outros nomes que fazem nossa Ufologia ser o que é – e o que o autor da carta não gosta que seja! Igualmente, grupos verdadeiramente esforçados como o GEONI, GUG, GUA, CEPEX, CENEU, CEPU, AFEU, GIOANI, NPU, CIFAE, CEPEU etc (para não citar o próprio CBPDV), segundo as acusações do missivista, seriam medíocres, inescrupulosos e impostores? O missivista não poupou ninguém de sua ira infantil!
Mas o leitor deve estar se perguntando: quem afirma tais coisas? Oras, ninguém menos do que um indivíduo que é justamente menos ufólogo do que qualquer um dos citados acima ou dos não citados e englobados nas críticas de sua carta – e que são verdadeiros ufólogos (entre eles, os consultores de UFO e associados ao CBPDV). Quem afirma tais coisas é o jovem paulista Philippe Piet Van Putten, que há poucos anos se chamava Peter Conway e que, antes disso, ninguém sabe como se chamava.
E qual é sua organização ufológica, também devem estar se questionando os leitores? É também uma das menos ufológicas (ou menos organização) do Brasil, muito longe de ter o esforço de um GEONI, a perseverança de um ICCS ou a organização e estrutura do CBPDV. Sua organização é uma “empresa”, como ele mesmo diz, chamada Academia Brasileira de Paraciências, que, apesar do pomposo nome (que dá a entender ao leitor incauto de que se trate de algo gigantesco, institucional, multicefálico), funciona em um quarto de seu apartamento em Moema, São Paulo, onde trabalha ele e sua secretária – que parece ser bem mais humilde e realista que seu patrão.
Fora isso, além de mais umas 2 ou 3 figuras, ninguém conhece outros “acadêmicos” da entidade! Pior que isso, Philippe diz que sua empresa é a primeira brasileira a atuar no setor paracientífico, devidamente registrada e oficializada, fazendo de conta que não sabe que o Grupo Editorial Paracientífico, de Campo Grande, ligado ao CBPDV e â produção de UFO, é na realidade a primeira entidade do gênero, registrada em 1988 e com reconhecimento municipal, estadual, federal e internacional (através da UNESCO).
E este rapaz, que tão esbravejadamente proclama ser o baluarte da Ufologia Científica, tem qual formação científica de verdade, também deve ser uma das perguntas dos leitores? A resposta é nenhuma! Philippe cursou comunicação social e tem especialidades, segundo seu vastíssimo currículo (há poucos anos divulgou uma lista de suas profissões: eram mais de 40, segundo Claudeir Covo…), em áreas como relações públicas, jornalismo, publicidade, marketing etc. Infelizmente, não tem nenhuma formação científica – aliás, como boa parte dos pesquisadores que ele acusa de se “intitularem ufólogos”, que têm, isso sim, formação científica ou técnica! Sua ocupação profissional não é conhecida, exceto que Philippe costuma dizer que é “consultor de criação”, sem definir bem o que é isso. No entanto, este jovem sem qualquer formação científica tem a pretensão de – “finalmente”, segundo ele – trazer a Ufologia Científica ao Brasil, ignorando que ela já vem sendo praticada aqui (e muito bem, por sinal) há mais de 4 décadas, com imenso reconhecimento no exterior graças á atividade pioneira de grandes ufólogos e a perseverança dos já não tão pioneiros, mas igualmente valiosos pesquisadores, classe à qual, aliás, o acusador não faz parte! Para se ter idéia, um dos decanos da Ufologia Brasileira, o Dr. Walter Buhler, que iniciou suas atividades no Brasil em 1957, em uma conferência recente afirmou que “a pesquisa ufológica brasileira apresenta um lastro de 60 a 70 significativos casos de tripulantes de UFOs. todos muito bem pesquisados por ufólogos nacionais e já com boa aceitação pelos foros ufológicos internacionais”. Quem é um Philippe para dizer o contrário?
Ainda em sua missiva (veja reprodução), o autor escorrega em outros devaneios e caprichos. Segundo seu raciocínio, a Ufologia Brasileira è medíocre e cheia de impostores porque até agora nada se fez para conectá-la aos organismos ufológicos internacionais, como a Mutual UFO Network (MUFON). Aliás, o objetivo de sua carta é dizer que “após a irresponsabilidade de indivíduos inescrupulosos”, a Ufologia Brasileira vai passar a valer alguma coisa porque ele, o Philippe, trouxe para o Brasil a representaç
;ão da MUFON Só por isso, agora, a Ufologia Brasileira, capitaneada por este jovem que já descrevemos, vai prestar para alguma coisa! Seus deslizes, aí, são vários. Primeiramente, o autor diz que a MUFON é a maior organização ufológica do mundo; no entanto, há 3 meses, em São Paulo, conhecemos seu diretor pessoalmente (já o conhecíamos por carta há 10 anos), Walt Andrus, que nos afirmou que a entidade tem 3.200 associados, perdendo posição para o CBPDV, que tem 5.100! Philippe, como não reconhece o CBPDV e a UFO, ou qualquer outra coisa séria no Brasil, desconsiderou isso. Segundo, disse que agora a MUFON terá representação no Brasil. Outra mentira, pois a entidade – de fato uma das mais completas e estruturadas do mundo – já é representada no Brasil há quase 20 anos, pelo gaúcho José Victor Soares, competente ufólogo que dirige a Irmandade Cósmica Cruz do Sul (ICCS), que Philippe também não reconhece (mas o que ele reconhece, ou conhece, então?). Desde 1983, também, a MUFON tem sido representada por outras duas pessoas, Cynthia Newby Luce, para o Brasil-Leste, e este que vos escreve, para o Brasil-Oeste. Philippe ignorou esse fato também, mais não é isso que importa para nós, e sim sua postura desairosa, deselegante e perniciosa para com a Ufologia Brasileira em geral.
Por fim, no panfleto, o missivista diz que “com sua nomeação, a eficiente estrutura da MUFON será aos poucos implantada no Brasil, semeando um novo tempo para a Ufologia Brasileira”. Fora a pretensão de se transformar no todo-poderoso da “nossa” Ufologia, o novo representante da MUFON desconhece que existem dezenas (senão centenas) de projetos e programas esforçados para melhor conduzir as atividades ufológicas em nosso país – e todas com soluções nacionais à sua altura (da Ufologia). Um famoso ufólogo de Minas, ao ler a carta de Philippe, comentou algo muito interessante, que serve como resposta e que aqui transcrevemos: “Episódios como esse, da carta, só nos mostram a necessidade da libertação da Ufologia Brasileira de um certo complexo de inferioridade. Quem ler um panfleto como esse vai achar que estamos no século 18. num iluminismo tardio: \’a MUFON vai chegar para redimir nossa Ufologia das trevas do 35 Mundo\’, pensariam os incautos. Mas, na verdade, o primeiro-mundismo não tem sido feliz na condução do estudo do Fenômeno UFO, e seus pesquisadores não são tão autoridades no assunto, como pensamos. A própria APRO era apenas uma loja alugada no Arizona, e o professor Húlvio Brandt Aleixo, quando visitou o CUFOS em Chicago, achou tudo tosco e precário – seus arquivos eram apenas 2 vezes ou pouco mais o do professor!” E nisso concordamos perfeitamente, pois estivemos nos EUA há pouco, como conferencistas convidados, e lá constatamos que nossa posição no “ranking mundial” é excepcional – como os leitores podem ver em nossa edição nº 15.
E continua o mineiro: “Acho que é de uma subserviência e um deslumbramento sem tamanho seguir as doutrinas destas organizações hoje em dia. Nós, brasileiros, temos gabarito! Nossa Força Aérea foi uma das primeiras a se ocupar seriamente do assunto, já em 1954, através do coronel João Adil de Oliveira. Também fomos os primeiros a tratar com o devido respeito os casos de contatados, de 3º graus e superiores (os EUA só os admitiram mais tarde). Fomos também os primeiros a ter documentos fotográficos expressivos dos UFOs, tanto de civis (Baraúna, Aguiar etc) como de militares (coronel Holanda e sua equipe, na Amazônia). Nosso maior problema, no entanto, é a desunião da Ufologia, além da falta de dinheiro (por isso que os americanos parecem ser melhores: eles têm dinheiro)”. As palavras desse ufólogo concluem, aqui, nossa defesa da Ufologia Brasileira e da posição firme do CBPDV, o Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores, editor de UFO, em denunciar tentativas inúteis e descabidas de indivíduos que, estes sim, passando-se por ufólogos científicos e donos da verdade, querem subjulgar um batalhão de pesquisadores sérios, esforçados, altaneiros e com um currículo verdadeiro para apresentar. Não é do feitio de UFO, e muito menos nossa intenção, acusar quem quer que seja, mas é uma posição absolutamente reta e da qual não abrimos mão, expor ao público todas as tentativas que se insurgirem para transformá-la num verdadeiro circo. Combateremos tais movimentos, que já nasceram fadados ao fracasso, com energia e muita disposição.