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O Fenômeno UFO é tão amplo e profundo que aqueles que de alguma forma entram em contato com ele dificilmente conseguem esquecê-lo ou tratá-lo com algo trivial. E porque é assim, desde o início da Ufologia, em 1947, e cada vez mais ao longo das décadas, que pessoas em posições importantes dentro dos meios oficiais e militares passaram a informar aos ufólogos sobre casos e eventos que os governos mantinham em absoluto segredo.
Esses informantes, muitos deles militares na reserva, normalmente se mantinham no anonimato ou, quando muito, se identificavam por um pseudônimo buscando preservar seus postos, seus familiares e até a própria vida. Fato é que muitos, após deixarem as Forças Armadas ou seus trabalhos em agências secretas, buscaram pesquisadores em quem confiavam e começaram a passar informações de forma mais clara e aberta.
Muitos detalhes precisam ser considerados nos depoimentos dessas pessoas, sendo o primeiro e mais importante deles a motivação e a veracidade dos relatos, uma vez que há pessoas que agem não para esclarecer, mas sim para confundir e tumultuar a Ufologia. Porém, a grande maioria dos ex-militares que vêm a público com suas histórias o faz por entender que as pessoas têm o direito de saber o que se passa neste mundo.
A verdade acima
Não é fácil para quem viveu anos em uma carreira altamente hierarquizada, com forte apelo cívico e de proteção ao país — onde ordem não se discute, mas se cumpre —, esquecer tudo o que jurou seguir e contar aquilo que lhe mandaram calar. E essa é uma das razões pelas quais depoimentos de militares e de ex-integrantes de agências de segurança nacional são tão valorizados pelos pesquisadores.
Em adição, normalmente esses informantes são pessoas com alto conhecimento técnico, que sabem sobre o que estão falando e que podem fornecer detalhes com maior precisão. Nosso entrevistado nesta edição é uma dessas pessoas. Aquilo que ele contou, quando finalmente decidiu fazê-lo, mostrou que não apenas os UFOs eram uma realidade, mas também que todos os governos — tanto dos países aliados com os Estados Unidos quanto os aliados ao antigo Bloco Comunista — sabiam de sua existência e os estudavam.
Essa afirmação sobre os estudos feitos a respeito dos UFOs ficou clara acima de qualquer questionamento quando, em dezembro de 2017, uma matéria do jornal The New York Times mostrou que o Pentágono mantinha um departamento para estudar o assunto, o Programa Avançado de Identificação de Ameaças Aeroespaciais (AATIP). E segundo se sabe, ele não foi extinto — portanto os estudos continuam. E não apenas isso, os estudos eram feitos em parceria com um contratado civil que também presta serviço para a Agência Espacial Norte-Americana (NASA), a Bigelow Aerospace.
Para o primeiro-sargento aposentado Robert Orel Dean, mais conhecido como Bob Dean, tudo começou nos primeiros anos da década de 60, quando ele teve acesso, por força das atividades que exercia para a então Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), ao relatório oficial de um estudo sobre UFOs feito pelas Forças Aliadas do Atlântico. “Eu simplesmente não podia deixar aquele assunto de lado. Era a coisa mais importante que podia existir e eu queria saber mais e mais”, confessou ele durante uma de suas centenas de entrevistas.
“Minha vida virou do avesso. Tudo o que eu pensava saber sobre o mundo e sobre porque estamos aqui simplesmente desmoronou. A vida não é apenas trabalhar, ser honesto, ter filhos e depois se aposentar em paz. A vida é muito mais do que isso, tem muita coisa acontecendo e ninguém está nos contando a verdade”, afirmou Dean em diversas ocasiões, sempre enfatizando que para ele o mais importante era que as pessoas soubessem o que estava acontecendo, para que pudessem reestruturar suas vidas e propósitos. “A verdade precisa prevalecer”, declarou.
Gerenciamento de emergências
Nosso entrevistado fez cursos nos campos da filosofia, arqueologia, psicologia, teologia, história antiga e possui o equivalente a um mestrado na área de gerenciamento de emergências. Era uma pessoa que conhecia os assuntos sobre os quais discorria. Bob Dean nasceu na cidade de Tucson, no estado do Arizona, em 1929. Quando estava no Exército, foi treinado como analista de Inteligência e ocupou cargos em importantes instituições militares, o que lhe permitiu conhecer a verdade de perto. Ele se aposentou com o posto de primeiro-sargento, e após deixar as Forças Armadas, em 1976, trabalhou durante 14 anos como gerente de segurança no Departamento de Serviços de Emergência do Condado de Pima, também no Arizona.
Dean também foi o diretor da Mutual UFO Network (MUFON), membro do Center for UFO Studies (CUFOS) e um dos diretores da Ancient Astronauts Society (AAS) por 12 anos. Nosso entrevistado também recebeu por três vezes o prêmio de serviços prestados por sua contribuição no campo da Ufologia. Além disso, participou de centenas de conferências e simpósios ufológicos, foi entrevistado por incontáveis programas de rádio e de TV e participou de diversos documentários.
“Um homem incomum”
Por aqueles que privaram de sua convivência, como o editor de UFO A. J. Gevaerd, que o conheceu e sua primeira viagem de conferência aos Estados Unidos, em 1992, Dean era descrito como sendo um cavalheiro, homem de extrema cultura, um filósofo preocupado com os destinos da humanidade. Ele conhecia muito sobre Ufologia e ufólogos, e no final de sua vida tornou-se menos crítico e mais esperançoso de que nós, humanos, temos salvação e de que conseguiremos fazer a transição necessária. Robert Dean faleceu em 18 de outubro de 2018. “Era um homem incomum, cuja inteligência transcendia em muito a média da dos ufólogos, simplesmente porque ele era mais do que um ufólogo — ele era um estudioso da raça humana e das espécies alienígenas”, disse o editor Gevaerd, que teve sua amizade por 25 anos.
A matéria que veremos a seguir é uma compilação de três entrevistas concedidas por Dean, a mais recente delas em 2017, provavelmente a última de sua vida. As perguntas foram selecionadas por sua relevância, atualidade e também por ser a respeito de assuntos sobre os quais Dean tinha certeza nas respostas. O leitor verá que há uma questão sobre o Irã que veio originalmente de uma entrevista de 2011. Estamos em 2019 e a mesma situação se apresenta. Como dizia nosso entrevistado, “somos muito lentos para aprender”.
Como o senhor se envolveu com o campo da Ufologia? Bem, essa é uma pergunta que precisa ser respondida em duas partes. Eu fui militar quase toda a minha vida, mas nunca tive qualquer contato com a realidade dos UFOs e coisas desse tipo até 1963. Naquele ano eu me candidatei — e fui aprovado — para um posto no Quartel-General Supremo das Forças Aliadas na Europa (SHAPE). Ali eu tinha um tipo de “trabalho dos sonhos”, todos queriam ir para lá. Assim, eu cheguei a Paris no verão de 1963 e imediatamente minha credencial de segurança foi elevada ao nível muito elevado, chamado de Cosmic Top Secret [Super Secreto Cósmico], que era o grau mais alto de segurança na então Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Em seguida fui designado para trabalhar em um local chamado Centro Operacional do Quartel General Supremo (SHOC), que era uma sala de guerra, um local de onde se monitorava todo o panorama da região.
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