NOTA DO EDITOR — Na edição passada, a primeira parte deste artigo mostrou um panorama geral da casuística ufológica amazônica, apresentando casos recentes e antigos e discorrendo, com ênfase, sobre a Operação Prato. Esta segunda e última parte mostra alguns interessantes casos recolhidos nas últimas viagens do autor à região.
Verde, rica e misteriosa. Talvez sejam estas as palavras que melhor definam o universo de 5,5 milhões de km2 da Região conhecida como Amazônica. De toda essa imensidão geográfica, 60% estão em Território Brasileiro, assim como está conosco a maior bacia hidrográfica do mundo. Quaisquer que sejam os termos que se use para definir ou qualificar a Amazônia, não há como se fugir dos superlativos. Tudo é gigantesco, tudo é imenso, tudo é a perder de vista por lá, inclusive — e infelizmente — sua destruição, que vem aumentando ano a ano, apesar do que diz o Governo Brasileiro.
Os mistérios que a Amazônia ainda guarda, assim como tudo o mais, são imensos, a começar pelo grande número de espécies de plantas, animais, peixes e insetos que são descobertos a cada nova expedição de biólogos. De lá saem ingredientes para remédios, cosméticos e óleos, alimentos para milhões de pessoas, muitas descobertas científicas e mais uma infinidade de coisas de que precisamos ou consumimos todos os dias, e não é à toa que cientistas do mundo inteiro visitam e pesquisam a região. Isso sem falarmos dos outros mistérios que a floresta densa e emaranhada oculta, como, por exemplo, tribos ainda desconhecidas e as famosas pirâmides, que tanta controvérsia causam no mundo da ciência.
Embora a Amazônia tenha sido “descoberta” em 1540 por exploradores portugueses — que para lá enviaram desbravadores a fim de impedir a invasão de ingleses e holandeses —, foi apenas em 1637 que Portugal encomendou uma grande expedição para a região. Naquela mesma época a exploração de castanhas e do cacau passou a ganhar fortes contornos comerciais. Mais tarde, no final do século XIX e no início do século XX, foi a vez das seringueiras ganharem destaque e o ciclo da borracha ter início, durando por algumas décadas e levando para a região muitos forasteiros de outros estados e países. Junto com os forasteiros chegaram novas crenças, costumes e doenças, essas últimas responsáveis por dizimar muitas tribos nativas.
Mas, mesmo com todo o esforço feito para se aculturar os índios e mudar seu modo de vida, a cultura nativa se mostrou mais resistente do que se poderia esperar. Isso tudo sem falarmos que, em várias décadas do século passado, vimos a Amazônia ser literalmente invadidas por milhares de mineiros de todas as partes do país, que transformaram locais como Serra Pelada em um formigueiro humano, e também por grandes corporações mineradoras, muitas vezes multinacionais, que se assentaram sobre as enormes jazidas de minérios — alguns raros e pouco encontrados em outras partes do mundo — e também promoveram sua cota de depredação do meio ambiente.
As lendas e os mitos
Recheada de lendas e de histórias de aparições de luzes e de seres ou animais mágicos, a cultura dos índios amazônidas sobrevive entre os moradores da região, hoje quase totalmente miscigenados. Não é raro encontrarmos até hoje histórias envolvendo o Boto ou a Cobra Grande, como já foi descrito na primeira parte desta matéria. Porém, estas não são as únicas lendas que desafiam o tempo e chegam até nós. E, se para os moradores dos grandes centros as histórias envolvendo seres como o Curupira e a Matinta Pereira são apenas crendices, para os moradores da região elas são reais. Muito reais.
Há bastante controvérsia sobre a origem das histórias e é preciso reconhecer que muitas delas são a maneira que os nativos do local têm para tentar explicar aquilo que os antigos habitantes já vivenciavam há séculos, fosse bom ou fosse ruim. Assim, uma flor perfumada é explicada como sendo nascida da morte de um belo e desconhecido índio chamado Piripirioca, e o Rio Amazonas nascido das lágrimas da Lua, que chorou muito por não poder se casar com seu amado Sol. Por outro lado, há histórias que chamam a atenção porque, embora sejam contadas em linguagem simbólica e mais pareçam fábulas, quando as olhamos com atenção percebemos que talvez sejam verdadeiros casos ufológicos. Isso é muito frequente de se encontrar.
Não são raros e nem causam surpresa os relatos de luzes vistas na floresta ou sobre os rios e igarapés, que muitas vezes acompanham as pessoas e que, em algumas ocasiões, até interagem com elas. Da mesma forma são os relatos que falam sobre fogos azulados, vermelhos e verdes que saem de dentro dos rios e voam sobre a mata até desaparecerem ou que entram nela, mas sem causar incêndios, embora sua luminosidade seja intensa e dure por muito tempo. Há também diversos “causos” envolvendo o encontro entre moradores e seres de aparência estranha, muitas vezes associados a animais ou a espíritos da floresta.
Interpretação dos fenômenos
Nenhum de nós precisa de um diploma em antropologia para entender que cada povo nomeia e descreve os fenômenos conforme a cultura e sociedade em que vive — se na Idade Média os UFOs eram chamados de carruagens voadoras, na Amazônia são apelidados de “fornos”, “castelos voadores”, “procissões”, “fogo fátuo” ou qualquer outra coisa da realidade local com o que se assemelhem. O mesmo raciocínio se aplica à interpretação dos fenômenos avistados. As pessoas tentam explicar aquilo que veem com base em sua vivência. Se há um silvo agudo emitido por um objeto voador não identificado, pode ser o som de um macaco, e se um ser que desce de uma nave tem olhos puxados, chamam-no de “japonês”, até porque há muitos deles na região.
Quando se conversa com os habitantes da região, descobre-se, por exemplo, que embora não haja mais ataques ou extrações de sangue por parte dos alienígenas, os avistamentos de UFOs continuam acontecendo e o medo continua presente
É fundamental que se entenda que um mesmo objeto, ser ou fenômeno pode ser descrito de muitas maneiras diferentes e que, p
ara quem acorda e dorme entre rios e matas, as referências não serão as mesmas utilizadas por quem acorda e dorme entre edifícios e asfalto. Assim que se toma consciência disso e se deixa o preconceito de lado, uma nova circunstância surge diante de todos nós: a realidade ufológica. Para sermos francos, se os UFOs estão aqui para estudarem nosso planeta, que lugar seria melhor do que a Amazônia, com sua infinidade e diversidade biológica?
Dos casos acontecidos nos estados do norte do país, sem dúvida os mais expressivos são os que envolvem o fenômeno chupa-chupa, que levou à Operação Prato, e aquele ocorrido na Ilha dos Caranguejos, que resultou na misteriosa morte de pescadores, até hoje sem explicação — ambos foram tratados em nossa edição anterior. Mas esses não são os únicos casos significativos que aconteceram por lá, e sim apenas os que ganharam mais notoriedade. Quando se conversa com os habitantes da região, descobre-se, por exemplo, que embora não haja mais ataques ou extrações de sangue por parte dos alienígenas, os avistamentos de UFOs continuam acontecendo e o medo
continua presente.
As luzes assombradas
Segundo o senhor Flávio Monteiro Gomes, 60 anos, nascido e criado na comunidade de Acajatuba, no Amazonas, há alguns anos os moradores começaram a ver “uma luz piscante que aterrissava, voava devagar e encobria todas as casas”. Seu relato gravado é detalhado. “Nós fazíamos um grupo de homens e mulheres e nos amontoávamos dentro de uma casa para evitar sermos atacados. Mas não tinha como escapar: uma luzinha vermelha vinha e depois virava uma verde”. A luz que mudava de cor seguia em direção às pessoas, segundo a testemunha, para atacá-las. O medo era tanto que Gomes não teve dúvidas sobre como agir para defender as mulheres que estavam apavoradas: “Saquei a espingarda e atirei na luz, mas não acertei”. Ainda segundo a testemunha, a luz pousou a certa distância e de dentro dela “saiu um cara usando um uniforme, com a cabeça coberta. Não dava para ver os olhos nem nada. Depois ele foi embora”. Este tipo de relato se encontra às centenas onde quer que se vá na Amazônia.
Gomes, no entanto, não foi o único que tentou abater a luz a tiros. Segundo nos contou o senhor Hudson Matias da Silva, mais conhecido pelo apelido de Jacaré, ele morava em uma região chamada Janauari, onde também eram frequentes os relatos de ataques do chupa-chupa. Como o fenômeno ficou muito conhecido em todo o norte do país, a maioria das pessoas passou a nomear qualquer luz que visse como “vampira”. De acordo com Silva, “só o que o povo comentava era sobre esse chupa-chupa. Foi durante mais ou menos um mês que sofremos daquilo. Todo mundo se reunia em uma só casa, em Iranduba. O pessoal se ajuntava porque dizia que, quando ficava só uma família, a luz atacava”. E completou dizendo que “muita gente atirava na luz, mas ninguém nunca acertou”. Estamos falando de casos que ocorreram nas décadas de 70, 80 e 90, e que se espalham pelos anos.
Outro morador da comunidade de Acajatuba, a cerca de 50 km de Manaus, Rio Negro acima, o senhor Sebastião Pereira da Silva, 70, nascido e criado na região, contou que sempre via luzes quando ia pescar à noite, mas que ele e os amigos não ligavam, achavam que era avião. Porém, segundo diz, ele também viu as luzes em outra ocasião, quando ia com a esposa, remando, para Manaus. Note o leitor que a distância é algo considerável, o que não é fácil de ser transposto em uma canoa — isso dá uma ideia da força e da bravura da população daquela região. “Quando chegamos em uma área chamada Sutuba, já perto do distrito, eu me deparei com uma luz ‘andando’ e pensei que era uma embarcação, mas não era. Aquilo aumentava e diminuía”. A testemunha não viu a aproximação da luz, portanto não soube dizer de onde viera, mas afirmou que “ela se aproximou durante um tempo e depois foi embora e não me fez nada”. Um caso típico do Navio Fantasma.
“Eu vi uma ‘luzona’”
O agricultor Jaime Pereira de Siqueira, 70, sobre quem falamos na matéria anterior, também teve uma experiência com as luzes e disse que elas sempre aparecem, mesmo na atualidade. Segundo afirma, “as luzes ficam em cima das castanheiras e iluminam tudo em baixo. O pessoal fica dando tiro para ver se acerta, mas ninguém nunca acertou nenhuma luz”. Também, felizmente, não há revide por parte das luzes. Siqueira narrou ainda uma experiência que teve durante uma madrugada, ao regressar para casa. “Eram umas duas horas e eu estava voltando de uma pescaria — eu sempre gostei de pescar e caçar à noite, com lanterna. Quando cheguei, o pessoal de casa estava todo dormindo. Eu coloquei a caça lá e aí fui tomar um banho antes de deitar. De repente, olhei e vi uma ‘luzona’ vindo para cá. Era muito grande. Quando passou, iluminou tudo e foi embora”.
Siqueira contou também outra experiência que teve envolvendo luzes estranhas. “Foi quando eu também estava pescando à noite, com lanterna. De repente, saiu aquela luz da água, em forma de bola — era assim como um fogo azul. Ela aumentava de repente e daí diminuía. E depois foi embora por cima do rio”. Quando perguntado se chegou a sentir medo daquele fogo azul, ele respondeu: “Não senti medo, mas também não cheguei perto”. Ele falou, além disso, que teve outros avistamentos e que as luzes passavam por cima dele, mas que nunca desceram. Em alguns casos, as pessoas têm sensações físicas incomuns perto das luzes — como leveza, desorientação, arrepios etc, tudo com curta duração, embora haja também relatos de diarreias, dores de cabeça, vômitos etc.
Em todos esses relatos que reproduzimos aqui, algumas coisas chamam a atenção em especial. Por exemplo, a ausência de sons emitidos pelos artefatos. Mesmo no caso do senhor Sebastião Pereira da Silva, que disse imaginar que as luzes eram aviões, não houve relatos de som. Quase todos os avistamentos são silenciosos.
Capítulo à parte
Outro fator a se notar é a ausência de vento — as luzes passam por cima das árvores e das casas, mas não provocam deslocamento de ar, nem mesmo aquelas que pairam sobre as castanheiras e que são alvo dos tiros dos moradores locais agitam as folhas das árvores. Em muitos relatos, as testemunhas falam de bolas de fogo que não queimam, mesmo quando adentram a
floresta. Pode-se, claro, aventar a possibilidade de que sejam fenômenos naturais, mas quais? Relâmpagos globulares e emanações como gases e fogo fátuo não acompanham pessoas, não mudam de coloração e não duram mais do que alguns segundos.
Aliás, sobre as manifestações do que os nativos chamam de “fogo fátuo”, pode-se escrever um capítulo à parte sobre a casuística ufológica. É que a região tem imensas e incontáveis áreas pantanosas ou encharcadas próximas de rios e igarapés, sob as quais estão enterradas grandes quantidades de material orgânico. Como se sabe, sua decomposição leva à emissão de gases que, quando alcançam a superfície, de tempos em tempos, alguns metros acima, se incendeiam em contato com o ar com uma luminosidade de amarelada a azulada. É a ocorrência do fogo fátuo natural, que pode vir acompanhado de algum estrondo baixo e que em geral é rasteiro e dura um ou dois segundos — pessoas perto podem se queimar. Este fato é visto por toda a floresta, mas gerou uma lenda totalmente nova na esteira do folclore local.
É que quando um ribeirinho vê uma luz, seja ela no solo — podendo ser mesmo o fogo fátuo — ou voando, para ele é tudo a mesma coisa. Eles se habituaram a chamar tudo que voa e é iluminado de fogo fátuo, especialmente na área amazônica a oeste de Manaus, mesmo que a luz em questão não faça ruído, tenha formatos como cilindros, discos e esferas, voem e parem abruptamente no céu ou realizem manobras mais complexas. “Para nós é tudo fogo fátuo”, diz Orlando Pereira, morador da margem leste do Rio Negro. Assim surgiu a lenda, que tem uma claríssima origem na manifestação de naves alienígenas profusamente iluminadas.
“Japoneses” e “marmotas”
Um dos fatores mais importantes, se não o mais importante, em uma pesquisa ufológica são os relatos das testemunhas, por isso a necessidade de se colhê-los in loco sempre que possível. Investigadores procuram fazer e refazer as mesmas perguntas de maneiras variadas às testemunhas, na tentativa de se encontrar brechas nos depoimentos ou comprová-los — isso não vale apenas para os momentos iniciais das pesquisas, mas também para seu acompanhamento ao longo do tempo. Assim, com este fato em mente, este autor voltou a procurar por algumas testemunhas com quem havia falado há 10 anos. Em alguns casos, o reencontro foi por coincidência, em outros, planejados.
O leitor pode argumentar que 10 anos é muito tempo e que as memórias podem se apagar ou sofrer modificações, o que é realmente verdade. Mas o principal, porém, permanece — um encontro com uma nave ou um ser alienígena não é algo que se esqueça com facilidade e para muitas testemunhas bem-intencionadas os detalhes podem desvanecer, mas o fato não. Aliás, falar com os entrevistados muitos anos depois é um bom método de se aferir a veracidade dos relatos colhidos anteriormente. E foi o que se fez. Inclusive, em alguns casos, entre uma entrevista e outra com a mesma testemunha, outros fatos podem ter ocorrido e são por ela narrados.
Um caso típico do Navio Fantasma: ‘Quando chegamos em uma área chamada Sutuba, já perto do distrito, eu me deparei com uma luz andando e pensei que era uma embarcação, mas não era. Aquilo aumentava e diminuía de intensidade’
Um caso explicativo foi o reencontro que tive com o senhor Petrônio Souza e sua esposa, dona Luzia, na citada comunidade de Acajatuba, próxima do Rio Negro. Em um primeiro encontro, eles relataram alguns fatos ocorridos na época do chupa-chupa e agora pretendi saber se os relatos permaneceriam os mesmos após tantos anos. Souza, então, recontou a história da seguinte forma: “Eram umas 18h00 e ela [Dona Luzia, a esposa] estava ali no mato quando começou a correr gritando que o chupa-chupa estava vindo. Ela ouviu o barulho e depois eu também ouvi. ‘Tec-tec-tec’. Era feito uma máquina de costura”, descrevendo um caso raro em que houve som. Perguntei a eles o que havia acontecido depois, e assim como havia feito 10 anos antes, Souza relatou que “Luzia foi para dentro de casa e ele viu quando um objeto parecido com uma ‘caixa de isopor’ parou sobre a residência e dela saíram dois ocupantes com roupas de ‘soldados da malária’, usando capacetes, aquele uniforme meio avermelhado deles”.
Aqui vale uma explicação. Desde a década de 70, soldados do Exército Brasileiro vêm percorrendo as mais remotas regiões da Amazônia levando remédios contra malária. Como se sabe, a doença não tem cura definitiva, mas pode ser controlada e o paciente pode viver sem qualquer sintoma, caso seja corretamente medicado. Na época, as incursões militares eram feitas por barcos e por terra, via selva. Não havia nenhum aparelho que se assemelhasse ao descrito por Souza e Luzia. E os soldados não pousavam sobre o telhado das casas e nem as invadiam sem autorização dos donos. Aliás, relatos de tripulantes de UFOs, ora vistos por trás de janelas e à curta distância, ora vistos descendo das naves, invariavelmente são feitos descrevendo-se tais seres como militares, devido ao seu uniforme.
Muito medo do fenômeno
Petrônio Souza continuou seu relato dizendo que um dos “soldados da malária” estava entrando em sua casa e que naquele momento Luzia gritou e o homem voltou para a tal caixa de isopor. “Era uma caixa grande, cabia dois homens lá dentro. Tinha uma escadinha que descia e ele subiu por ela e foi puxado de volta para a caixa”. Depois disso, Souza fez o que vários de seus companheiros vem fazendo ao longo do tempo: atirou no UFO. “Mas só para espantar, porque ninguém acertava neles, não. Muita gente atirou, mas todo mundo errava”, garantiu ele. O curioso é que, embora aparentemente se trate do mesmo chupa-chupa que era visto no Pará, onde eram ferozes e retiravam sangue das pessoas, no Amazonas eles não tinham a mesma agressividade, ou quase nenhuma.
Ouvido o relato, perguntei a Souza e dona Luzia se era mesmo o chupa-chupa que eles viram, conforme as histórias que ocorriam em toda a redondeza, e o casal respondeu que sim e que todo mundo tinha muito medo do fenômeno, “porque diziam que ele mirava e desmaiava a pessoa para depois chupar o sangue”. Isso, entretanto, não aconteceu com a dupla. Segundo o homem, depois de levantar voo, a “caixa de isopor” pairou sobre o rio, de onde começou a retirar água por meio de uma mangueira. Então foi possível ver a
fisionomia de seus dois tripulantes pela grande janela do aparelho. “Eram um japonês e uma japonesa e eles estavam pegando e bebendo a água do rio”, declarou Petrônio Souza, associando os olhos oblíquos dos ETs à raça oriental. De acordo com ele, depois daquilo ninguém mais dormiu e eles foram todos para a casa da mãe de Luzia. “Tinha um cachorro que estava dormindo embaixo do fogão e nós deixamos ele ali. Quando voltamos, estava morto”, declarou.
Fogo e chuva ao mesmo tempo
Em outro caso pesquisado, a testemunha Benedita Ferreira dos Santos, uma agricultora de 60 anos, esposa do senhor Jaime Ferreira de Siqueira, relatou diversos avistamentos que ela, filhos e marido tiveram. Eles não sabem definir o que eram, que eles chamam apenas de “fogo”. Benedita contou que em uma determinada noite, por volta das 22h00, terminava de lavar a louça, após assistir à novela, quando, de uma hora para outra, se deparou com um “fogo muito grande suspendendo do chão”. Ela explicou que naquela noite havia caído uma grande tempestade e que quando viu o tal fogo já caía uma chuva fininha. Assim, chamou o marido e as filhas, mas a família não acreditou nela, justamente por estar chovendo — como poderia haver fogo debaixo de chuva? Quando os familiares finalmente foram até o local, puderam de fato ver um fogo forte, de cor vermelha brilhante, se erguendo do chão e ganhando altura. Depois de algum tempo, o fogo mudou para a coloração azul, desceu até o chão, adquirindo uma grande forma circular, e desapareceu. A pergunta que fica é o que foi que a família viu?
Certamente uma manifestação ufológica. Em outro relato, Benedita contou que ela e sua família estavam regressando de uma festa quando mais uma vez viram o tal fogo. “Eram umas 20h00 mais ou menos e nós vínhamos pelo lago em um barquinho com motor de proa. Quando chegamos em frente a um igarapé, que se chama Opapolá, a gente viu aquele fogo bem grande se levantando da água”. Pedi que ela explicasse melhor o que havia visto e Benedita disse que “o fogo saiu de dentro do lago em forma de labareda. A impressão que dava era que tinha um pé, um apoio embaixo dele. E esse fogo, quando você vê, tem que ficar muito quieto ou ele segue você”.
Um caso que existe às centenas na região: ‘O fogo saiu de dentro do lago em forma de labareda. A impressão que dava era que tinha um pé, um apoio embaixo dele. E esse fogo, quando você vê, tem que ficar muito quieto ou ele segue você’
Já foram descritos outros casos de outras testemunhas sobre luzes ou fogos que seguem as pessoas pelas águas. No caso de Benedita, questionei a testemunha sobre o que ela e o grupo fizeram. “Nós ficamos quietos e o fogo também ficou. Se você não se mexer, ele para e aí fica andando sobre o rio, de um lado para outro. Mas se você se mexer, ele segue você”. Benedita também explicou que o fogo vai seguindo sobre a água até que se transforma em um círculo e some. E acrescentou: “Já vi muitas dessas ‘marmotas’ aí. Muita gente também viu, mas não quer falar”. Foi então que se descobriu que muitas pessoas da região usam a palavra “marmota” para designar fenômenos que não conseguem explicar. Mais uma das muitas peculiaridades da Amazônia…
Benedita também contou sobre um episódio ocorrido com seu marido envolvendo o fogo que anda pelo rio e pelas matas. “Ele tinha voltado muito suado, lá pelas 03h00 ou 04h00, e tinha ido colocar a rede para pescar. Ele foi tomar um banho no cano [De água] e aí viu aquele fogo sobre o rio, rente à mata. O fogo foi aumentando, subindo e começou a andar por aí tudo. Depois de um tempo, ele foi indo, indo e sumiu”. O número de pessoas que relata ter encontrado esse fogo é muito grande e parece acontecer em todos os estados, mas é no Amazonas e no Acre que a incidência do “fogo que anda na água” é maior. De dia, no entanto, os aparelhos são vistos com formatos clássicos de cilindros, discos e esferas, envoltos por metal.
Mais casos impressionantes
Na primeira parte desta matéria falamos sobre as testemunhas Leila Costa dos Santos e Marilene Alves da Costa, duas pessoas que não se conhecem, mas que tiveram experiências que envolveram fortes arrepios, paralisia, sons estranhos, escurecimento do ambiente e forte choque emocional. Ao fazer uma pesquisa sobre casos inexplicados envolvendo a região, deparamo-nos com uma série de relatos semelhantes espalhados pelo Pará, Amazonas e Acre. As interpretações são diversas e vão desde possessão demoníaca até prováveis influências de gases e plantas da região. Não temos uma explicação para o que Leila e Marilene viveram, só podemos dizer que arrepios, fortes respostas emocionais, sensação de paralisia e desorientação são sintomas frequentes em relatos de abdução ou contato.
Ainda falando sobre o avistamento do fogo que surge e desaparece sem qualquer aviso ou acontecimento conhecido que o provoque temos o testemunho da senhora Maria Irene Ferreira, uma agricultora de 60 anos também nascida e criada em Acajatuba. Assim como a maioria dos habitantes da localidade, ela nunca saiu de lá e todas as suas referências estão ligadas aos rios e à floresta. Em nossa conversa, ela relatou que andava pensando em se mudar por causa das chuvas e do grande número de relâmpagos que caem por ali e que já haviam matado vários de seus animais — ela não se sente mais segura no local em que reside e parte disso vem por causa “do fogo azul que surge do nada sobre a água e no meio da mata”, conforme narrou.
Maria Irene contou que, em determinada ocasião, quando o rio estava tão baixo que se via o leito, ela e alguns familiares estavam de saída para uma festa e foram tomar a benção de sua mãe. Isso teria acontecido por volta das 20h00. Maria Irene estava se arrumando para sair quando decidiu olhar pela janela de sua casa e viu, na parte externa, “um fogo bem azulzinho que aumentava e diminuía”. Ela e os familiares ficaram olhando a cena até que de repente o fogo desapareceu e houve um grande estrondo na mata. A testemunha relatou que “parecia que estava pegando fogo na floresta viva e eu senti muito medo”. O filho de Maria Irene correu para pegar a espingarda, mas não havia nada em que atirar. “Ninguém sabe o que era. Parecia fogo na mata, mas não tinha nada lá”, declarou a testemunha. Ainda segundo ela, no dia seguinte seu cunhado foi até o local, mas não encontrou qualquer vestígio do que quer que fosse. “A terra estava limpinha, sem marcas e nada estava queimado”, disse o rapaz.
“Castelos” e “fornos”
Dois outros nomes interessantes que discos voadores recebem naquelas paragens bucólicas da Amazônia, especialmente no emaranhado de afluentes do Arquipélago de Anavilhanas, cerca de 200 km a oeste de Manaus, são “castelo&rdqu
o; e “forno”. No primeiro caso, foi relativamente fácil descobrir que o que os moradores chamam de castelo é um objeto de grandes proporções e profusamente iluminado que ora aparece sobre a mata, ora sobre o rio. Em um caso espantoso, colhido há alguns anos, o senhor José Melo declarou ter visto o castelo sair de dentro da água. Ele estava pescando em um afluente do Rio Negro, já depois do pôr do Sol, quando se surpreendeu com um esguicho de água no meio do rio, que se elevava a alguns metros da superfície. “De repente, vi surgir lá embaixo umas luzes que pareciam presas a um aparelho. Quando aquilo chegou à superfície, iluminava tudo como se fosse um castelo voador”. Ele completou dizendo que era enorme, com pelo menos 30 m de diâmetro, e, convencido de que era mesmo um castelo — “destes que a gente vê em filme” —, disse ter sentido uma mistura de admiração e medo. Mas o objeto subaquático não identificado continuou se elevando no céu e partiu.
São incontáveis as histórias que se ouve na Amazônia de aparelhos que saem das águas e se esvaem no firmamento. Em alguns casos, também são descritas “ilhas” com as mesmas características dos castelos, mas com menos ou nenhuma iluminação. “Eu mesmo também já vi uma ilha bem ali no meio do rio, onde pesco todos os dias. Mas nunca aquela ilha havia estado lá, surgiu do nada — e no dia seguinte também já não existia mais”, disse a mesma testemunha. Que ilhas são estas que surgem de uma hora para outra e logo partem bem no meio de rios caudalosos? Um detalhe: não têm vegetação e parecem ter superfície lisa e metálica.
Mas se castelos e ilhas assombram, a história do “forno” é ainda mais icônica, especialmente porque se sabe, como já dito, que as pessoas tendem a descrever os fenômenos ufológicos que veem relacionando-os com situações ou artefatos de seu dia a dia. Custei a entender o que eram aquelas coisas que as pessoas que entrevistei diziam serem fornos que passavam sobre suas casas. “Não senhor, discos voadores a gente nunca viu aqui. Mas o que a gente vê sempre são estes fornos passando baixinho e devagar”, me disse o senhor Raimundo Nonato, lá em Acajatuba, como muitos outros depoentes que encontrei em várias viagens à região — era sempre o forno que se via. O mistério só foi decifrado quando, dias depois, ao entrevistar outros ribeirinhos em algum ponto mais acima do rio, um deles me convidou para acompanhar sua família no descasque e moagem de mandioca, para posterior torra para transformá-la em farinha. E onde é que se torra a mandioca moída? Em um tacho de alumínio de 1,5 a 2,0 m de diâmetro, com abas baixas, colocado sobre pedras ou tijolos e com fogo embaixo. Este era o forno, ou seja, um objeto discoide perfeito, um disco voador. Como vemos, a Amazônia é um celeiro de mistérios.
O futuro e os extraterrestres
Para muitos dos habitantes ribeirinhos, a concepção de UFOs simplesmente não existe. Eles veem fogos, luzes, caixas de isopor e até fornos, como vimos acima. Por outro lado, há fatores a serem considerados entre os muitos relatos colhidos — as pessoas da região são impressionáveis e propensas a acreditarem nas histórias que correm por lá, como, por exemplo, o caso que citamos em nossa matéria anterior sobre as almas que caminham ao meio-dia em busca de luz. São crenças disseminadas que acabam por se misturar aos inúmeros fenômenos que habitam a floresta.
A Amazônia com seus mistérios é uma grande peça no tabuleiro de nossa sobrevivência cósmica. De alguma forma precisamos encontrar um equilíbrio entre nossa curiosidade e a falta de respeito que temos quando se trata de saciar nosso desejo de saber
É incontestável, porém, que não conhecemos quase nada do que ocorre no dia a dia de pessoas que vivem da pesca artesanal e da agricultura familiar, longe da região urbana, longe dos grandes centros e que em sua maioria dependem do Exército para a entrega de remédios e mantimentos. Não é uma vida fácil, mas é o mais perto que conseguimos chegar, nesta época de tanta tecnologia, de ter um contato direto com a floresta e os rios. O que para nossas testemunhas é normal, para nós é material de pesquisa. O que para elas são marmotas, para nós são fenômenos ufológicos. Seja lá como for, por tudo o que ouvimos e percebemos nos relatos, a atividade ufológica na Amazônia é intensa e pede mais investigação de campo e mais dedicação para, talvez, começarmos a entender os propósitos de nossos visitantes.
Precisamos também, e com urgência, pensar no futuro que queremos para nosso planeta, tão vilipendiado e explorado de forma feroz, a ponto de muitos de seus biomas não conseguirem mais se recuperar. Somos uma espécie movida pelas perguntas que não conseguimos responder, impulsionada pelo desejo de explorar e descobrir tudo o que há. Se por um lado esta característica nos permitiu sair das cavernas, erigir civilizações e alcançar grandes conquistas tecnológicas, por outro ela também pode nos levar à extinção. E a Amazônia é uma grande peça no tabuleiro de nossa sobrevivência. De alguma forma precisamos encontrar um equilíbrio entre nossa curiosidade e a falta de respeito que temos quando se trata de saciar nosso desejo de saber.