As estrelas duplas são alvos fáceis para telescópios de todos os tamanhos. Muitas combinam estrelas de cores deslumbrantes. Por serem fontes pontuais, você pode observar as mais brilhantes mesmo sob céu claro.
Observar estrelas duplas é uma das experiências mais fascinantes, ainda que menosprezada, na investigação do céu. Mesmo pequenos telescópios podem enxergar milhares destas jóias e nenhum par é exatamente parecido.
Além disso, você pode apreciá-las em noites que servem para tudo, exceto para observar outras maravilhas do céu profundo, devido à neblina, interferência luminosa da Lua ou artificial.
Enquanto duplas de azuis e brancas bem conhecidas como Mizar (Zeta [z] Ursa Majoris) e Castor (Alfa [a] Geminorum) ou algumas douradas como Algeiba (Gamma [g] Leonis) aparecem bem no telescópio, são os pares com contrastes marcantes de cores que empolgam a maioria dos observadores.
Você descobrirá alvos entre as estrelas vistas a olho nu, que se distinguem bem quando vistas pelo telescópio. Como disse J. Dorman Steele há mais de um século, “cada cor que fulgura nas flores do verão incandesce nas estrelas à noite”. E enquanto muitas destas cores são ilusórias – resultado dos efeitos do contraste entre estrelas de brilho diferente – em outros casos elas são reais.
Aqui estão 21 das duplas coloridas de que mais gosto. Organizadas em ordem de ascensão reta, elas fornecerão a você um ano inteiro de prazer em suas observações. Para melhor resultado, use a menor magnificação capaz de separar cada par. Às vezes, desfocar um pouco a imagem (o que uma vista ruim já faz) ajudará a perceber tonalidades sutis, pelo espalhamento da luz por uma área maior de sua retina.
Presentes duplos da primavera
A constelação de Cassiopéia abriga uma gema pouco conhecida – a Struve 3053 – cujos tons dourado e azul fazem alguns observadores relembrar a famosa Albireo, que é vista no inverno. Apesar de ser notavelmente mais pálida, a Struve 3053 é uma presa fácil para um telescópio de 8 cm (3 polegadas) com 30x. Ela é melhor observada com um telescópio de 20 cm (8 polegadas) a 60x.
Eta () Cassiopeiae é uma bela dupla em que a estrela principal, amarela e de quarta magnitude, brilha mais que sua companheira, que é roxo-avermelhada. Ela já foi descrita como castanha, lilás, lavanda e mesmo alaranjada por outros observadores. Um telescópio de 5 cm (2 polegadas) a 25x mostra a cor característica da componente menos brilhante, mas Eta se torna mais surpreendente à medida que a abertura aumenta. Com um telescópio de 25 cm ou 30 cm a 60x ou mais, prepare-se para ficar boquiaberto.
Uma das estrelas duplas mais coloridas é Almach (Gama [] Andromedae). A estrela principal tem cor topázio e sua companheira aparece em tom de água-marinha. As cores são lindas com um telescópio de 10 cm, de 50x a 100x. Devido às estrelas estarem separadas por apenas 10″, a visão não perde impacto quando feita com telescópios grandes. Os observadores tendem a usar magnificações mais altas com telescópios maiores, de maior distância focal. Muitas vezes isso separa excessivamente os pares.
Abaixo de Órion, em Lepus, você encontrará Gama () Leporis, uma dupla grande e atrativa para telescópios pequenos. A estrela principal é amarelada e a outra, castanho-avermelhada. O colunista de Astronomy Phil Harrington descreve o par como “banhado com cor viva”, e o considera um dos mais admiráveis do céu. Enquanto uma bela vista pode ser obtida com um refrator de 5 cm a 25x, a dupla é muito separada para obter melhores resultados com magnificações maiores.
Em um artigo há alguns anos, chamei h3945 em Canis Major de “Albireo do verão”, e o apelido parece ter pegado. Este conjunto magnificamente colorido brilha com tons de vermelho-fogo e azul-esverdeado. As duas estrelas são impressionantes com um telescópio de 8 cm a 30x e maravilhosas com instrumento de 15 cm a 50x. O prefixo “h” indica que é uma das muitas duplas descobertas pelo astrônomo inglês John Herschel (1729-1871).
Pares especiais do outono
Iota () Cancri é uma estrela dupla laranja e azul que você pode distinguir até com binóculos com aumento de 7x. É uma vista admirável mesmo para o menor telescópio. A conhecida observadora de estrelas duplas Sissy Haas, da Pensilvânia, pensa que o par tem o contraste de cor mais evidente do céu visto por seu refrator de 5 cm. Ela considera Iota melhor que Albireo. A percepção de cor varia entre as pessoas, então assegure-se de checar Iota por si mesmo.
Alaranjado vivo e esmeralda devem ser as melhores cores para descrever a 24 Comae Berenices. Ela permite uma visão excelente com um telescópio de 10 cm a 45x, e está esperando por você entre as muitas luzes pálidas desta constelação rica em galáxias. Você não precisará de um telescópio maior para observar a estrela principal, de magnitude 5, e a secundária, de 6,3.
Chamada de Pulcherrima, “a mais bela”, pelo observador russo Wilhelm Struve (1793-1864), Izar (Epsilon [] Boötis) exige magnificação relativamente alta e boas condições para uma distinção clara por telescópios pequenos. Um telescópio de 13 cm a 100x é capaz disso. O de 8 cm a 150x mostra seus discos amarelo-dourado e verde-azulado quase se tocando – uma vista verdadeiramente fascinante!
Xi () Boötes é um par amarelo e roxo-avermelhado que causa surpresa e empolgação a qualquer um que a vê pela primeira vez. De visão absolutamente refinada com um telescópio de 15 cm a 50x, seus tons são bem vistos com telescópios grandes, que muitas vezes saturam as cores das duplas mais brilhantes devido ao excesso de luz. Nestes casos, é bom diminuir a abertura.
Se você gostou de Xi Boötes, Kapa () Herculis aparece como um clone maior dela. É fácil distingui-la com um telescópio de 5 cm a 25x, com as cores amarelo e castanho-avermelhado, e a lateral possivelmente tingida de um tipo de alaranjado. As estrelas se separam por 27″ e brilham com magnitude de 5,1 e 6,2.
Antares (Alfa [] Scorpii) é a mais difícil mas a mais espetacular (ao menos quando vista por grandes telescópios) de nossa lista. A estrela maior, vermelho-fogo, é acompanhada de perto por uma parceira que só pode ser descrita como verde-esmeralda. Mas esta cor verde é verdadeira?
O observador e escritor William H. Smyth (1788-1865) observou a estrela companheira ao emergir, antes da principal, de um eclipse da Lua. O tom esverdeado visto por ele, então, não resultou de um efeito de contraste com a estrela principal. Observações similares recentes atribuem uma cor azul à companheira.
Você pode distinguir as estrelas de Antares com um telescópio refrator de 13 cm, a 100x, em noites de boa visibilidade. Vista com um refrator de 33 cm a 190x, esta é possivelmente a estrela dupla mais espetacular do céu!
A aconchegante par laranja e verde-azulado Ras Algethi (Alfa Herculis) remete os observadores a Antares. Um telescópio de 5 cm a 75x distinguirá bem as duas, e elas formam uma vista adorável com um telescópio de 20 cm a 100x. A magnificação nece
ssária para separar Ras Algethi depende do brilho da estrela variável principal.
Omicron () Ophiuchi tende a ser suplantada pelos diversos aglomerados globulares encontrados nesta região, mas não a perca de vista. Essas jóias alaranjada e azul, separadas por apenas 10″, são maravilhosas vistas por um telescópio de 8 cm, a 30x.
Já 95 Herculis é preciso ver para acreditar! As cores são exatamente como Smyth descreveu há mais de 150 anos: verde-maçã e vermelho-cereja. Estes tons surpreendentes brilham sutilmente, mas com persistência em todas as aberturas de telescópio, e são melhor vistas com o de 15 cm, a 50x.
A dupla 70 Ophiuchi tem um tipo de contraste inteiramente diferente da maioria das estrelas a que nos referimos – amarelo e vermelho. Alguns observadores dizem ter visto um toque persistente de violeta na estrela companheira, de sexta magnitude. O tom que você vê depende da percepção de cor de seus olhos.
A magnífica Albireo (Beta [] Cygni) tem a responsabilidade de ser “a estrela dupla favorita de todas as pessoas”, não por acaso. Suas gloriosas cores alaranjada e azul são inconfundíveis mesmo em um telescópio de 5 cm, a 20x, e podem ser vistas por binóculos 10×50. E essas cores são definitivamente reais.
Se Albireo não for suficiente, Cygnus oferece outra dupla bastante colorida, que também é impressionante por telescópios pequenos – a Omicron (o) Cygni. As cores imitam as de sua vizinha famosa, mas os dois sóis estão muito mais distantes, de forma que o contraste não é tão forte. Também há uma estrela branca-azulada, a 331″ de distância, fazendo dessa formação um sistema aparentemente triplo.
A amável dupla amarela e verde pálida Gama Delphini, com uma separação de 9″, se distingue com um telescópio de 8 cm a 45x. Com telescópios de 15 cm ou mais, esta é uma das duplas mais refinadas. Também há uma dupla com aparência fantasmagórica escondendo-se no mesmo campo de visão. Chamada de Struve 2725, suas componentes têm magnitudes de 7,6 e 8,4 e se separam por apenas 6″, o que contribui para a fascinação da cena.
Delta () Cephei é o protótipo das famosas variáveis cefeidas que os astrônomos usam para medir distâncias no céu. Desta forma, ela é muitas vezes subestimada como atraente estrela dupla. Suas componentes laranja-amarelada e azul são muito bem vistas por um telescópio de 10 cm em aumentos tão baixos quanto 16x.
Estrelas duplas
A nomenclatura das estrelas duplas é simples. A “principal” é a dupla mais brilhante do par e os astrônomos as consideram o centro do sistema. A estrela mais pálida é a companheira, ou “secundária”. A “separação” mede a distância entre as estrelas em segundos de arco. Os astrônomos medem o ângulo de posição em graus do norte (0°) para oeste (90°) e retornando ao norte (360°).
A ESTRELA PRINCIPAL de Ras Algethi (Alfa [] Herculis) varia de magnitude 2,7 a 3,9, enquanto a companheira mantém magnitude 5,4;
A 70 OPHIUCHI exibe cores incomuns para uma estrela dupla. O par combina uma principal amarela de magnitude 4,2 com uma companheira vermelha de magnitude 6,2;
OPHIUCHUS, A PORTADORA DA SERPENTE, é uma constelação ao norte do centro da Via Láctea. Hercules fica em sua margem norte;
OMICRON (o) CYGNI é um par bastante separado (106″) que fica a 5° a oeste-noroeste de Deneb (Alfa Cygni). Com baixa magnificação, esta estrela dupla imita Albireo, amarela e azul;
CYGNUS, O CISNE, fica ao longo dos densos campos de estrelas da Via Láctea e por isso mesmo é repleto de grandes estrelas duplas para telescópios de todas as aberturas;
ALBIREO (Beta [b] Cygni) marca a cabeça de Cygnus, o Cisne. Albireo pode ser a estrela dupla mais conhecida do céu. Suas componentes dourada e safira brilham com magnitudes 3,4 e 4,7;
BOÖTES possui muitas estrelas duplas, mas poucas tão brilhantes quanto Izar;
IZAR (Epsilon [e] Boötis) combina a luz de estrelas de magnitudes 2,6 e 4,8. Se você tiver dificuldade para encontrá-la, apenas olhe 10° a nordeste de Arcturus (Alfa Boötes). As componentes desta estrela dupla se separam por apenas 3″, então use magnificação alta para separá-las;
Gama () Delphini fica a cerca de 15° a leste-nordeste da brilhante Altair (Alfa Aquilae), na ponta do paralelogramo que forma a pequena constelação Delphinus. Tipicamente, os observadores descrevem as cores deste par como amarelo e verde-limão;
DELPHINUS, O GOLFINHO contém diversos objetos interessantes, como o aglomerado globular NGC 7006. Sua estrela dupla mais interessante é Gamma.