O estranho episódio envolvendo um jovem empresário paulista que ficou conhecido como Caso Marcelo, sempre foi um evento mal explicado da Ufologia Brasileira. Trata-se de uma ocorrência de grande importância que não teve o devido tratamento jornalístico e ufológico que merecia. De todas as informações a seu respeito que foram veiculadas em dezenas de publicações nacionais e internacionais, datas e fatos foram mencionados de maneira errada, informações foram distorcidas e por vezes ignoradas. O Grupo Sumaré de Estudos Ufológicos (GSEU), com a colaboração da maior autoridade brasileira em hipnose para abduções Mário Rangel, reabriu o caso e o expõe agora à comunidade ufológica.
O Caso Marcelo aconteceu na madrugada do dia 20 para 21 de setembro de 1995, próximo a Santa Bárbara d´Oeste, cidade localizada a 160 km de São Paulo. O município tem uma população média de 260 mil habitantes, segundo números do IBGE, e sua principal fonte de renda é a cana-de-açúcar. Santa Bárbara é conhecida em todo o país pelas grandes usinas de destilação de álcool existentes em seus arredores, e, agora, por abrigar um interessante caso de abduções alienígenas. Entre 1995 a 1998, cerca de 30 avistamentos de UFOs foram registrados e pesquisados por grupos ufológicos na região — as cidades de Capivari, Monte Mor,Piracicaba e a própria Santa Bárbara são um palco de rica casuística. Destaca-se entre os principais casos ufológicos da região o ocorrido ao empresário Edson Roberto Marcelo, então 29 anos, proprietário de uma rede de funerárias.
Segundo Marcelo, eram entre 23h00 e 23h20 da data mencionada quando deixou a casa da sua então noiva, M. F., na cidade vizinha de Capivari. Eles haviam discutido na ocasião e, no trajeto de volta a Santa Bárbara, Marcelo trafegava pela Rodovia SP-306, próximo a Via Romi, que liga sua cidade a Capivari. Perto do local onde havia um estacionamento de ônibus, na conhecida Fazenda São Luiz, uma luz forte surgiu em cima de seu automóvel, uma Caravan 1982 de cor azul. A temperatura dentro do carro começou a aumentar gradativamente, até que o empresário perdeu por completo a consciência.
Estranhas marcas circulares
Marcelo não se lembra de quanto tempo ficou inconsciente, mas afirmou aos pesquisadores que, quando a luz o atingiu, estava a 15 km de Santa Bárbara — ao acordar, já estava na entrada do município. Não sabe ao certo o que aconteceu no trajeto, caso típico de situações de abdução. Recuperado, seguiu em direção ao centro da cidade, onde encontrou cinco amigos e lhes contou sua história. Um dos rapazes conhecia uma pessoa na cidade que na época era colaborador do extinto Centro de Estudos e Pesquisas Exológicas de Sumaré (CEPEX), o senhor Osni Nielsen. Tal entidade foi extremamente ativa nos anos 90, investigando casos ufológicos por toda a região, principalmente ocorrências de chupacabras. Seus fundadores e dirigentes, Eduardo e Osvaldo Mondini, hoje afastados da Ufologia, chegaram a ser consultores da Revista UFO.
O amigo de Marcelo o levou até a casa de Nielsen naquela mesma madrugada, acordando-o para relatar o ocorrido. E este, no dia seguinte, apresentou o empresário aos irmãos Mondini. O CEPEX foi o primeiro grupo a realizar as investigações relativas ao caso. O engenheiro e ufólogo Claudeir Covo, coeditor da Revista UFO e presidente do Instituto Nacional de Investigações Aeroespaciais (INFA), também foi consultado a respeito do acontecido e afirmou que todas as evidências “indicavam um provável caso de contato de quarto grau, uma abdução”. Nesse ritmo seguiram as avaliações do que hoje é chamado de Caso Marcelo. Em 22 de setembro, uma equipe do INFA, que tem sede em São Paulo, conversou e examinou Marcelo, constatando duas marcas circulares de aproximadamente 4 cm em seu pulso esquerdo — ele também apresentava uma mancha avermelhada no rosto e olhos completamente inchados e sensíveis à luz.
Os pesquisadores constataram que todos os sentidos do empresário estavam desorientados — ele tinha a impressão de ouvir zumbidos e barulhos que, de acordo com sua descrição, eram semelhantes aos sons que um enxame de abelha produz quando voa. Protuberâncias atrás de suas orelhas causavam fortes dores. Eduardo Mondini, que analisou o automóvel do empresário, concluiu que o volante não apresentava sinais de ter sido submetido a uma temperatura alta o suficiente para dilatá-lo. Outros exames se seguiram em Marcelo e seu carro. Um fato bastante curioso nesse caso ocorreu dias depois do incidente, quando o empresário retirou seus cartões de visitas que estavam no porta-luvas do veículo. Ele tinha apanhado os cartões recentemente na gráfica e eles estavam novos, mas percebeu que em um deles havia um telefone desconhecido, escrito no verso. Marcelo não se recordava de ter anotado aquele número e ficou surpreso.
Sem memória de fatos vividos
Movido pela curiosidade, o empresário ligou para o tal número e, para seu espanto, quem atendeu foi sua tia, que morava em Rio das Pedras, cidade a 30 km de Santa Bárbara do Oeste. O possível abduzido afirmou que há sete anos não tinha contato com ela e que nem sequer sabia do número de seu telefone. Depois, foi confirmado através de uma entrevista anterior à hipnose a que Marcelo foi submetido, que foi ele mesmo quem escreveu aquele número no verso do cartão — apesar de afirmar que não se lembrava de tê-lo anotado. No telefonema ele contou à sua tia o ocorrido, inclusive as imagens que lentamente começavam a aparecer em sua mente, de uma enigmática mulher que descreveu como sendo uma moça loira, de altura mediana, pele clara e muito meiga. “Uma das expressões dessa pessoa, estampada em seu rosto, era de angústia”, contou.
A tia, muito impressionada com a história — principalmente com a detalhada descrição da pessoa — pediu para que ele viesse para sua residência, em sua cidade. A senhora mencionou que conhecia uma mulher com as características que o empresário descrevera, que se chamava Rosana. Aparentemente, Marcelo, de alguma forma conseguia captar, descobrir e sentir fatos relacionados à vida daquela mulher. Seus sentimentos, medos e anseios mais profundos eram por ele “recebidos” de forma involuntária, algo que a parapsicologia chama de telepatia direcionada incondicional. Quando pôde finalmente estar frente a frente com a moça, o empresário teve a grande e derradeira surpresa. Naquela mesma noite em que seu caso ocorreu, mas em outro horário, Rosana tinha trafegado sozinha pela mes
ma rodovia, embora em um trecho diferente.
Segundo afirma, em um determinado ponto do trajeto começou a sentir uma angústia profunda, sem origem ou motivo. A moça também declarou aos investigadores que tal sensação só desapareceu no momento em que conheceu Marcelo, nesse encontro que tiveram — ele, por sua vez, não teve dúvidas de que aquela mulher era a pessoa que estava em suas visões. Tempos depois, abandonou a antiga namorada e casou-se com Rosana, com quem hoje tem uma filha.
Capacidades telepáticas
Os pesquisadores que acompanhavam o caso, em uma tentativa de lançar mão de todos os dispositivos que pudessem para determinar sua complexidade, utilizaram variadas técnicas. Entre elas estava o uso das chamadas Cartas Zener, que levam o nome do pesquisador de uma universidade norte-americana onde, no final da década de 20, trabalhou o cientista Joseph Rhine, que acabou se tornando um pioneiro no estudo de seus resultados.
As Cartas Zener constituem um método científico, baseado em probabilidade matemática, para comprovação de capacidades telepáticas em pessoas. O baralho é composto por 25 cartas, cinco com cada figura, que são ondas, círculo, quadrado, estrela e cruz. O método funciona da seguinte forma: a pessoa que está aplicando o teste olha a carta e, mantendo-a fora do alcance visual de quem está sendo testado, lhe pergunta qual é o símbolo que contém. Há um índice de acerto e erro padrão, aplicável a qualquer pessoa. Quando alguém tem um número de acertos acima desse padrão, há indícios de capacidade paranormal. O teste é feito de tal forma que todas as 25 cartas são “mentalmente” apresentadas a quem está sendo testado, para se examinar sua quantidade de acertos. Para que tenha consistência científica, o teste é ministrado no mínimo três vezes. Nessas séries, a probabilidade de acertos é de cinco por rodada.
O empresário Edson Roberto Marcelo se submeteu ao teste com as Cartas Zener, mas o resultado foi negativo — ele acertou uma média de três símbolos em cada rodada de 25 cartas. O empresário não apresentou capacidades telepáticas. As investigações, então, continuaram em outra direção. Na quarta-feira após o ocorrido, 27 de setembro, Marcelo foi encaminhado para Campinas, onde o psicanalista José Antônio de Oliveira o submeteu a uma sessão de hipnose regressiva. Durante o processo, já em transe hipnótico, o rapaz relatou a aproximação de uma luz forte em direção ao seu automóvel e detalhou a sensação que teve do calor aumentando em seu interior. Foi nesse exato momento que ele teve uma reação violenta e, com um sobressalto, voltou à consciência, saindo da hipnose. Segundo o psicanalista, “toda vez que um paciente se sente ameaçado por alguma coisa, ele recobra a consciência, como se fosse um dispositivo de segurança”.
Muitas contradições foram publicadas pela imprensa, na época, quanto ao procedimento hipnótico. Em matérias de jornais e no próprio Boletim CEPEX foi afirmado que várias sessões de hipnose foram realizadas, mas apenas uma realmente feita. Marcelo também alega que foi submetido a um procedimento semelhante com um médico de São Paulo, mas aparentemente o rapaz somente esteve com tal profissional, não sendo por ele hipnotizado. De acordo com informações publicadas no jornal Diário de Santa Bárbara, de 19 de outubro de 1995, em uma das últimas sessões de hipnose — sendo que apenas uma aconteceu — Marcelo teria descrito a sensação de estar acompanhado de duas figuras dentro de uma câmara. Ele também teria afirmado, em transe hipnótico, que não foi submetido a hostilidades pelas pessoas que o acompanhavam, e que elas até tentaram se comunicar com o empresário, murmurando palavras em português semelhantes a querer e saber.
A casuística se intensifica
Há outro sintoma desenvolvido pelo empresário após sua experiência, a fotofobia ou aversão à luz, que foi comprovada clinicamente — até hoje ele não pode ficar exposto à luz solar sem a proteção de óculos escuros. Além disso, uma estranha cera branca se forma em seus olhos toda manhã. Sobre esses fatos, o psicanalista José Antônio de Oliveira afirmou que “o paciente realmente passara por algo incomum”. Não restam dúvidas disso. Mas os relatos na região se intensificam depois desse acontecimento. Na noite seguinte ao Caso Marcelo, outros fatos aconteceram na vasta área do interior de São Paulo. A Folha do Sudeste chegou a investigar um episódio ocorrido com dois guardas municipais de Santa Bárbara, Ederaldo Klaus Martins e Antonio do Nascimento, que avistaram várias luzes vermelhas e alaranjadas no céu. Quando os policiais se aproximaram dos objetos, eles se movimentaram agressivamente e sumiram.
Até hoje a testemunha não pode ficar exposta à luz solar sem a proteção de óculos escuros. Além disso, uma estranha cera branca se forma em seus olhos toda manhã. Ele realmente passou por alguma coisa incomum
Tal caso também teve repercussão na cidade — que já estava alerta para a escalada na casuística local. Nas semanas seguintes ao fato envolvendo o empresário Edson Roberto Marcelo, inúmeros pesquisadores e redes de TV chegaram a realizar vigílias noturnas na região, mas nenhuma aparição foi registrada. Hoje ele mora em Rio das Pedras, a cidade da tia. Casado com Rosana, a mulher de sua misteriosa visão, ainda é dono de uma rede de funerárias. Pesando 110 kg e 1,91 m de altura, seus olhos continuam sensíveis à luz. Ele se lembra daqueles dias com um ar sincero: “Só sabe como é isso aqueles que já passaram por situações assim”. Ao ser reaberto o caso, ele foi convidado a se submeter a uma nova sessão de hipnose, dessa vez conduzida por Mário Rangel e sob coordenação do Grupo Sumaré de Estudos Ufológicos (GSEU). Tendo aceito, uma nova fase na investigação se iniciou.
Em 16 de março de 2003, Rangel foi a Sumaré e encontrou-se com Marcelo nas dependências da Câmara Municipal local, onde também estavam outros membros do GSEU, Laurindo Graciano da Silva, Marizilda e Renata Massucatto. Em uma sala isolada esse autor e o hipnólogo se reuniram, trocaram informações sobre o caso e entrevistaram o rapaz, que corrigiu algumas informações publicadas anteriormente — ele pareceu confuso em determinar datas envolvend
o o ocorrido. Submetido à primeira sessão de hipnose após sete anos, Marcelo demonstrava um pouco de nervosismo. Em transe, no entanto, foi lentamente se lembrando de fatos de sua infância, até cair em estado de hipnose profunda — a sessão chegou finalmente à sua quinta etapa, após terem ocorrido catalepsia, amnésia intra e pós-hipnótica, alucinações visuais, táteis e gustativas, regressão de idade, sonho sugerido e forte emoção.
“Não posso contar”
Como procedimento de praxe, foi implantado um sinal na mente do hipnotizado, para ser depois utilizado como meio de se chegar rapidamente ao estágio hipnótico desejado, o que aconteceu com êxito. Quando Marcelo foi regredido ao período de sua experiência, ele de imediato se lembrou da data, 20 de setembro de 1995. Recordou-se da hora exata em que deixou sua então noiva, precisamente às 23h20, e das roupas que ela vestia. Quando reviveu hipnoticamente o momento em que a luz o atingiu, ele se levantou com gestos bruscos, mais uma vez saindo da hipnose, e levou as mãos ao rosto, assustado. Rangel o acalmou e fez com que quase imediatamente retornasse ao estado de hipnose — sob o qual disse que não poderia contar o que tinha ocorrido. O experiente hipnólogo o acalmou novamente e sugeriu que ele agisse como se estivesse assistindo a um filme, do qual era o único espectador — disse que ele não sentiria emoções, mas mesmo sob hipnose o rapaz se negou a contar os fatos.
Mário Rangel seguiu procedimentos padrões em casos do gênero e, antes de despertar o empresário Edson Roberto Marcelo, pediu que esquecesse o que acontecera durante a sessão — ele se lembraria de tudo só depois que o hipnólogo dissesse algumas palavras-chave. Desperto, o possível abduzido achou que tinha sonhado, e o hipnólogo explicou o que tinha acontecido e perguntou se gostaria de saber o que realmente se passou naquela noite, pois tinha tal direito. Comentou palavras relacionadas ao termo substituição e disse que no lugar onde estava havia mais pessoas, todas desconhecidas, com a exceção de Rosana. Então calou-se. Como se vê, o Caso Marcelo é bastante interessante, não só por sua fantástica história, digna de um filme de Steven Spielberg, mas também pelos seus desdobramentos.
Marcelo é um empresário de sucesso, pessoa equilibrada e de fala pausada, de caráter e de profunda honestidade. Em 1998, quando foi entrevistado pela primeira vez, ele ainda não tinha certeza do que havia acontecido naquela noite — jamais mencionou as palavras disco voador ou seres extraterrestres, apenas afirmando que “só quem passou por uma experiência pode saber como é”. A imprensa local, em 1995, agiu sem respeitar datas ou fatos, às vezes publicando matérias com títulos sensacionalistas e até ofensivos à pessoa envolvida. Não houve uma investigação minuciosa por parte dos grupos ufológicos. Rangel, após realizar a hipnose com Marcelo, chegou à conclusão de que “algo aconteceu com o empresário naquela noite de 20 de setembro, mas não podemos afirmar que tenha a ver com o Fenômeno UFO”. Isso é possível, pois o caso não apresenta provas materiais e dados concretos que permitam encaixá-lo em um padrão ufológico. Mas devemos nos lembrar que Ufologia é um campo muito amplo e complexo, e que nos cabe, como pesquisadores, avaliar os fatos e informações, apresentando-os com a máxima imparcialidade possível — e o caminho é a investigação de campo.
Entrevista com o provável abduzido no interior de SP
Por Wendell Stein
Confira alguns trechos de uma entrevista com o empresário Edson Roberto Marcelo, protagonista do estranho encontro com uma luz não identificada ocorrido na madrugada do dia 20 para 21 de setembro de 1995, próximo a Santa Bárbara d´Oeste, no interior de São Paulo. Entre 23h00 e 23h20 daquela noite, Marcelo trafegava pela Rodovia SP-306 quando uma luz forte surgiu em cima de seu automóvel, fazendo se elevar a temperatura em seu interior, até que perdeu por completo a consciência.
Passados alguns anos, o que você acha que aconteceu com você? Ainda não sei de verdade. O que aconteceu foi um fato isolado, foi a primeira e única vez. Isso muda a vida da gente porque a descrença passa a ser crença. A pessoa começa a acreditar em algo que nem sabe o que é — na verdade, nossa rotina é corrida, e fica difícil parar e pensar em alguma coisa.
Mudou alguma coisa em sua vida após essa experiência? Não mudou muito. Para as pessoas que nunca passaram por uma experiência como essa, é fácil agir de forma irônica. “Ei, você que viu o bicho? Foi você que passeou de disco voador? Tinha mulher na nave?”, brincam. O duro é que essas pessoas não perguntam apenas como
curiosos, mas sim para gozar de mim.
Quanto à sua saúde, houve alguma mudança? Não, mas tenho um problema no olho até hoje e não consigo sair sem óculos escuros. Meus olhos incham e os oftalmologistas não sabem o que é. Não têm explicação científica. Dentro de meus olhos forma-se uma pasta branca que acabo tirando com a mão. E também tem uma mancha roxa que não sumiu de meu rosto [Até março de 2003, Marcelo ainda apresentava diabetes e hipertensão].
Você notou mais alguma coisa fora do comum? Houve alguns fatos novos em minha vida. Eu encontrei uma pessoa que nem conhecia e me casei com ela. Foi uma coisa meio rápida. Às vezes, por alguma coisa de telepatia, minha situação se complicava. Por exemplo, ela ia me dar um presente e eu já sabia o que era. Outro dia comentei com ela que estava com um carro novo e que tinha que tomar cuidado, pois achava que ele iria ser roubado. Naquela mesma noite o carro foi roubado. Também tenho um furo nas minhas costas que Rosana encontrou — eu nunca tomei uma injeção em minha vida e nenhum tipo de acidente que pudesse causar tal marca. Fora isso, mais nada.