Desde o século passado, graças aos avanços científicos, o ser humano pode encarar o Universo como um enorme agrupamento de astros potencialmente providos de vida inteligente. Isso se restringiria, num primeiro instante, às ciências exatas. Mas o homem é complexo por natureza, e tais possibilidades estatísticas mexeram com um antigo e sempre presente mito ancestral: o de seres superiores vindos do céu, de natureza divina. A história e a antropologia têm registros de representações em esculturas e pinturas rupestres.
A abordagem mais técnica usada nas últimas décadas modificou e ampliou esse mito, quase que o materializando em computadores da NASA (Agência Espacial Norte-Americana) e em outros órgãos e instituições que se dedicam ao estudo do cosmos. O ser humano passou a ter, finalmente, números e estudos reconhecidos pela comunidade acadêmica para saltar da mera crença na existência de outras civilizações inteligentes para a realidade inconteste quanto à veracidade do Fenômeno UFO. E o advento da chamada Ufologia Moderna, a partir de 1947, completou o quadro. Eles existem. Eles nos visitam. Eles mantêm contato conosco. Quem seriam eles, afinal? Não podemos deixar de levar em conta que são eles que reacenderam – ou modificaram – nosso antigo mito do ser superior. Uma das premissas básicas da quase totalidade das seitas ufológicas aponta um padrão de comportamento em que temas como existir, visitar-nos e manter contato conosco são colocados acima de qualquer dúvida, muitas vezes chegando à irracionalidade e à perda do controle emocional, conforme exaustivamente demonstrado na análise dos indivíduos ligados a diversos tipos de seitas, sejam elas ufológicas ou não.
Diversidade religiosa — O Brasil está entre os países com terreno fértil para o surgimento de grupos de fanáticos, quaisquer que sejam seus enfoques de adoração. Isso se dá, principalmente, pela grande variedade de culturas que formaram o atual cenário social nacional. Verificando nosso continente, podemos identificar culturas originárias de quase todas as partes do mundo e que influenciam nosso modo de agir e pensar. Basta prestar atenção à diversidade religiosa que impera de norte a sul do Brasil. Ao longo do tempo e por razões políticas, sociais e financeiras, importamos crenças variadas – o que não é, de forma alguma, algo ruim. Entretanto, tal característica permitiu que nosso povo estivesse de mente sempre aberta a formas diferentes de encarar o sobrenatural. Essa macro condição possibilitou que estivéssemos individualmente disponíveis a eventuais movimentos de culto, que nem sempre primam pelo equilíbrio e bom senso. Essa tendência seria característica única do nosso país? Certamente que não. Nos Estados Unidos, por exemplo, também existem tais movimentos. Porém, outros fatores foram mais determinantes e influenciaram no conjunto a ser analisado. Sem entrar nos muitos detalhes sobre o porquê chegaram a isso, podemos dizer que os norte-americanos têm uma conduta social que se prima pelo consumismo – que não se restringe apenas a um carro novo ou aparelho de tevê digital de última geração. Tal necessidade de consumo pode também se refletir em novas idéias e conceitos, ainda que não tenham necessariamente um embasamento teórico aceitável em termos técnicos, científicos ou mesmo filosóficos.
Sobrecarga de informação — Isso dá vazão ao surgimento das seitas, como explica a socióloga italiana Valéria Paterna. Segundo ela, movimentos de culto de cunho ufológico também se fazem presentes nos países da Europa. Porém, senão em menor número, pelo menos em menor intensidade. E por que tal diferença? Sabe-se que o nível cultural dos europeus difere do dos norte-americanos, em especial na maneira de encarar as relações do continente com o restante dos países. Enquanto as escolas dos Estados Unidos priorizam a história e a cultura regionais, a educação nos países europeus enfoca o relacionamento entre os países. Isso acaba por apurar o senso crítico dos cidadãos no que concerne não somente aos movimentos de culto, mas também a outras questões, de cunho político, econômico, social etc.
Ao expandir o próprio leque de informações, sobre os mais variados assuntos, as pessoas se tornam cada vez mais aptas a emitir juízo, com argumentação, e rebater críticas equivocadas. Mas é preciso separar o joio do trigo, já que nem todo dado é informação. Como podemos, por exemplo, cobrar uma correta interpretação dos fatos de pessoas que têm acesso a informações distorcidas e/ou manipuladas? Será que aqueles que tiveram desde sua fase de formação intelectual uma sobrecarga de informações direcionadas, ainda que de forma sutil, poderão um dia se livrar desse fardo e ampliar o senso crítico? Tal fardo poderá eventualmente transformá-lo em vítima de charlatões dos mais variados quilates ou, quem sabe, de suas próprias armadilhas mentais. É preciso muita cautela.
Essa discussão traz embutida, quando se analisa todo o contexto ufológico, a importância e a responsabilidade dos formadores de opinião nessa área. Temos nós, ufólogos ou simpatizantes, o direito de alardear possibilidades – às vezes puras especulações ou até mesmo fraudes – como sendo verdades incontestáveis, confundindo pessoas que, incautas, poderão um dia se tornar personagens do que foi exposto nesse artigo? Isso é algo a se pensar. Para encerrar, peço permissão aos leitores para, num paralelo com a matemática, solicitar que mantenham em mente a seguinte equação:
Ufologia séria = estar bem informado + senso (auto) crítico