Para os astrônomos, ele é uma lenda viva. Para os ufólogos, um algoz implacável. Assim é considerado o astrônomo carioca Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, 71 anos, dono de um dos mais recheados currículos no meio acadêmico brasileiro. Autor de mais de 60 obras, o professor Mourão sempre foi um cético ferrenho e grande crítico da Ufologia e de seus métodos. Mesmo tendo sido apresentado às evidências, nunca admitiu que pudéssemos estar sendo visitados por seres de civilizações mais avançadas.
Bacharel em Física pela Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras da antiga Universidade da Guanabara – atual Universidade Estadual do Rio de Janeiro –, Mourão publicou seu primeiro trabalho em 1960, um estudo sobre estrelas duplas visíveis, área em que se especializou. Na mesma época, lançava também Astronomia Popular, seu primeiro livro. “Comecei a escrever muito cedo sobre Astronomia, inicialmente para um jornal do Colégio Andrews. Era um artigo que falava sobre a bomba atômica, o que mais provocava entusiasmo naquela época, logo após a Segunda Guerra Mundial”, declarou.
Bolsista do governo belga, doutor pela Universidade de Paris e reconhecido nos principais círculos astronômicos do planeta, já nas décadas de 60 e 70, foi um dos mais destacados integrantes do Observatório Nacional do Rio de Janeiro, que veio a dirigir, e pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq). Em 1970, Mourão, que já rejeitava a pesquisa do Fenômeno UFO, publicou seu primeiro Atlas Celeste, em que apresentava inúmeras cartas estelares e uma detalhada descrição do céu visível no Brasil. “A partir do Atlas Celeste, fui escrevendo outros livros. Ainda no ginásio escrevi um artigo sobre a Astronomia dos Lusíadas, que depois transformei no livro Astronomia e Camões”. Ele já confrontava naquela época os ufólogos que propunham a origem extraterrestre para os discos voadores, entre eles nossa pioneira Irene Granchi, presidente do Conselho Editorial da Revista UFO. As principais contribuições astronômicas de Mourão foram na área das estrelas duplas, asteróides, cometas e técnicas de astrometria fotográfica. Em 1995, foi eleito sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro.
O importante é o diálogo, o bom senso. Ufólogos e cientistas têm que se sentar à mesa de discussões e respeitar as opiniões alheias
Adversário de peso — O trabalho mais conhecido do astrônomo é o monumental Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica [Editora Nova Fronteira, 1995], cuja segunda edição chegou a mais de 900 páginas repletas de informação. Tinha cerca de uma centena de artigos científicos publicados quando passou a criticar publicamente a Ufologia, tornando-se rapidamente em seu principal combatente no país. Logo os ufólogos viram que estavam diante de um adversário de peso. Mourão teve participação pública em vários dos principais episódios da casuística ufológica brasileira, tais como o Caso Vasp Vôo 169, a chamada Noite Oficial dos UFOs, o Caso Capão Redondo etc. Mas suas opiniões sobre tais ocorrências, amplamente divulgadas pela imprensa, sempre foram precipitadas ou condenatórias, sem que o astrônomo procurasse fundamentá-las de maneira mais sólida, o que lhe valeu muitas críticas – às vezes até de seus colegas.
Com relação ao Caso Vasp Vôo 169, de 08 de fevereiro de 1982, que é um dos ícones da Ufologia Brasileira, Mourão teve um confronto não apenas com o comandante do avião da extinta companhia aérea paulista, o experiente Gerson Maciel de Britto – então com respeitáveis 26 mil horas de vôo –, mas também com um dos mais ardorosos defensores do episódio, o co-editor de UFO Marco Antonio Petit. O astrônomo disse que seria Vênus o UFO de grandes proporções visto por todos os mais de 150 passageiros e tripulantes do Boeing 727 da Vasp. Anos mais tarde, Mourão repetiria o erro ao afirmar prematuramente que a sonda ufológica do Caso Capão Redondo, de 02 de janeiro de 1998, também considerado um de nossos melhores casos, seria um raio bola. Neste episódio, foi duramente combatido pelo também co-editor de UFO Claudeir Covo e pelo consultor Ricardo Varela, além de cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Momentos de flexibilidade — Muitos anos se passaram e muitos livros o professor Mourão publicou, enriquecendo a Astronomia brasileira. E aos poucos o velho algoz dos ufólogos começou a mostrar alguns momentos de reflexão e flexibilidade, chegando a aceitar discutir Ufologia com a mente aberta e até participar de eventos na área em algumas cidades. Incrivelmente, chegou mesmo a demonstrar certa aceitação da atividade dos ufólogos, que ele rejeitava por completo menos de uma década atrás. Foi nessas circunstâncias, já disposto a abandonar o ringue de batalhas para adotar a mesa de debates, que Mourão participou, em novembro de 2005, do 32º Congresso Brasileiro de Ufologia Científica, em Curitiba, e, em julho de 2006, do 5º Cosmos, em Araçatuba (SP).
Este último evento, que é realizado anualmente pelo Instituto de Astronomia e Pesquisas Especiais (Inape) no interior de São Paulo, desde 2002, tornou-se um dos mais disputados do país por congregar, de maneira surpreendente e ao mesmo tempo, especialistas em Física, Astronomia, Astrofísica e Ufologia, que convivem harmoniosamente durante alguns dias. Foi na ultima edição do Cosmos que o professor Ronaldo Rogério de Freitas Mourão aceitou conceder entrevista à Revista UFO. Ela seria a primeira que o astrônomo concede a uma publicação ufológica, uma oportunidade que foi aproveitada ao máximo para se tentar entender o que mudou em sua posição quanto ao Fenômeno UFO e como ele vê, hoje, os casos ufológicos que condenou no passado.
A primeira pergunta que tenho a fazer, que acho clássica e certamente é a mesma de muitos ufólogos, diz respeito à sua atuação no passado. O senhor sempre foi um grande cético em relação ao Fenômeno UFO, e um grande contestador dos fatos mais consagrados da Ufologia Brasileira. O que mudou entre a sua posição no passado e a de hoje, já que agora o senhor até participa de eventos como esse, que une Astronomia e Ufologia? Eu acho que continuo mantendo a mesma posição de antes. Acho que não mudei em nada. Tenho até impressão de que venho me expressado mais facilmente agora, e mostrado que realmente os extraterrestres devem existir, sobre o que não há nenhuma dúvida. Agora, eu faço uma distinção entre UFOs, no sentido de objetos voadores não identificados, e seres extraterrestres. Este é um entendimento que considero fundamental. Aliás, eu faço esta observação na segunda edição de meu livro Anuário de Astronomia [Editora Bertrand Brasil, 2002], de forma mais clara de como saiu na primeira edição.
Por que o senhor resolveu aprofundar isso na segunda edição do Anuário? Nela eu reconheço que a Ufologia é muito importante e que se deve estudar os vários aspectos do Fenômeno UFO. Por exemplo, ressalto a questão psicológica da Ufologia, como o levantamento de dados das testemunhas, e trato dos UFOs como um problema social. Desde que haja declarações de pessoas que viram esses objetos, você tem que saber por que e o que as motivou a relatá-los. E se há pessoas que se julgam abduzidas, também se precisa saber qual a razão disso, como é que se explicam tais casos. Essas questões tornaram tudo um pouco mais difícil para a ciência, especialmente porque uma parte da comunidade acadêmica prefere adotar a posição de ignorar o fenômeno, sobre a qual sempre fui contra. Eu já não discuto o assunto, mas eles [os cientistas] não comparecem às discussões públicas.
Mas o senhor, ao contrário de seus colegas, tem comparecido a muitos eventos públicos sobre Ufologia. O senhor se sente bem participando de congressos sobre o assunto e estando no meio dos ufólogos? Sim, me sinto bem. Mas às vezes há pessoas ali que não gostam de mim, porque se lembram daquele problema com o Caso Vasp Vôo 169, de 08 de fevereiro de 1982. Veja, em algumas ocasiões eu tive posições exatamente contrárias ao assunto. Mas cada caso é um caso e temos que analisar seus aspectos. Se eu digo que é importante tal estudo, é porque há um fenômeno qualquer por trás dele. Um fenômeno que a gente desconhece, que pode até ser físico.
O senhor também se referiu aos UFOs como um acontecimento social. Sim. Há os aspectos sociais por trás do fenômeno físico. Há casos inexplicados que precisam de melhor compreensão.
Mas se o senhor considera que há um fenômeno físico e social por trás dos UFOs, é porque eles são, então, algo material. Ou seja, um UFO é algo que está aí, sendo visto e percebido fisicamente. O senhor mencionou até mesmo as abduções. Mencionei, pois há relatos de pessoas que se dizem abduzidas, que não podem ser ignorados. São testemunhas que dão depoimentos interessantes, que temos que pesquisar.
E como o senhor encara essas testemunhas, já que deve ter ouvido muitas delas… Ouvi algumas. E já me pediram para destratá-las, mas me recusei. Há um caso interessante de um ufólogo da Sociedade Interplanetária do Rio de Janeiro (SIRJA), que me pediram para desqualificar. Mas não aceitei. Numa ocasião, uma emissora de TV me telefonou e pediu que eu comparecesse a um programa porque ia ser feita uma entrevista com o ufólogo. Havia um psicólogo já escalado e me pediram para também dar a minha opinião sobre uma experiência que o cidadão estava contando. Mas eu não aceitei tomar parte nisso e disse ao pessoal da TV que não iria. “Não, Mourão, você pode chegar aqui e dizer mesmo que ele é louco”, insistiram comigo. Mas eu permaneci não aceitando. “Não, isso eu não faço”, disse-lhes.
O que houve, então? Não sei, mas não fui ao programa. E depois, outras emissoras e jornais me pediam para desacreditar outros casos, mas eu não aceitava. Eu acho que isso não vale, não leva a nada. Não dá para desacreditar simplesmente por querer. Tem que haver fundamentos para se desqualificar um caso.
O que o senhor acha que a imprensa pretende, agindo dessa forma? O que eles querem é briga, porque isso é notícia, chama a atenção do público. Todo mundo vai querer ver um astrônomo “acabando” com um caso, e as TVs depois ainda fazem inúmeras reprises das entrevistas, sempre por causa do ibope.
Mas o senhor tem fama de detrator da Ufologia e fez debates que renderam uma boa briga, como aquele que ficou na história, com nosso co-editor Marco Antonio Petit. Foi em 1982, num bar do Rio de Janeiro, e a discussão se deu em torno do famoso Caso Vasp Vôo 169. Lembra-se? Lembro. Foi uma boa briga, mas bem civilizada. Esse foi um dos debates que a imprensa queria que eu encontrasse um ufólogo de frente. Havia até uma torcida: “Você não pode acusar esse caso de fraude”, diziam uns. “Cadê as provas de que aquilo era mesmo um disco voador?”, perguntavam outros. A discussão começou sobre o Caso Vasp Vôo 169 e depois prosperou em torno da Ufologia de maneira geral.
E o que aconteceu no debate que mais chamou sua atenção? Bem, os ufólogos tinham uma pessoa lá, alguém que tinha participado do lançamento daquelas famosas fotografias da revista O Cruzeiro. E esta pessoa declarou que estava lá, na Barra da Tijuca, quando elas foram feitas. Disse que viu o UFO e coisa e tal. E hoje se sabe que as fotografias do Ed Keffel foram fraudadas. A Ufologia Brasileira já até pagou alguns dos seus pecados ao admitir publicamente que esse é um dos casos mais fraudulentos que já teve…
A ciência tem resistência quanto à Ufologia e aos fenômenos paranormais. A comunidade científica evita debater essas questões. Quanto aos UFOs, a maioria dos astrônomos simplesmente não quer tocar no assunto. Eles acham que é uma perda de tempo discutir isso, e alguns nem acreditam na existência de outras civilizações além da terrestre
O senhor tem razão. A revelação da fraude contraria alguns ufólogos mais antigos, mas tem que ser feita. Hoje sabemos ser falso o Caso Barra da Tijuca, de 17 de maio de 1952, que era considerado um ícone de nossa Ufologia. Pois é. Por isso que eu digo que tem que haver uma pesquisa mais séria em torno dos casos. Deve-se analisar também os depoimentos das testemunhas, que precisam ser pressionadas. Eu tenho a impressão de que a gente tem que levar isso muito a sério, e não se pode adotar uma posição intolerante. É a mesma coisa que acontece na eterna briga entre os astrônomos e os astrólogos. As pessoas querem que haja um enfrentamento entre eles, mas eu não acho que seja produtivo. É necessário o diálogo.
O senhor também é contra o debate entre Astronomia e Astrologia? Sim, porque não leva a nada. Eu faço o meu trabalho como astrônomo e mostro que o importante é a parte cinética da vida. Não posso agir diferente. Agora, uma outra questão é a gente supor que o Sol e os demais astros tenham qualquer influência sobre a nossa vida, como querem os astrólogos. Aliás, nós defendemos a energia solar em tudo, mas não como querem eles. Mas temos que ter respeito às pessoas. Se alguém pensa o contrário de mim, de uma determinada forma, essa pessoa tem sua razão para assim agir.
Sobre a pesquisa do Fenômeno UFO, que é algo que agora o senhor defende, por que acha que ela ainda encontra tanta resistência por parte dos cientistas, especialmente de seus colegas astrônomos, que deveriam ser os primeiros a estudar a questão? Acho que é a mesma resistência que a ciência ainda tem quanto aos fenômenos paranormais. A comunidade evita debater essas questões. Quanto aos UFOs, a maioria dos astrônomos simplesmente não quer tocar no assunto. Eles acham que é uma perda de tempo discutir isso – e alguns nem acreditam na existência de outras civilizações além da nossa. Então, fica muito difícil convencê-los a abandonar esta postura e partir para a pesquisa. Agora, houve um grande avanço quando, há 20 anos, um astrônomo criou uma comissão para estudar a vida fora da Terra, em outros planetas [Referindo-se ao Projeto SETI, de busca de inteligências extraterrestres], que existe até hoje.
O senhor faz parte dessa comissão? Não, não faço. Eu faço parte de três outras comissões. Uma da história da Astronomia, outra de estudo de estrelas duplas e múltiplas, e a terceira que investiga cometas. Eu escrevo bastante sobre isso, como sempre fiz. Quando estudo estrelas duplas, tenho muito interesse em procurar aquelas que possam ter planetas à sua volta.
Vida extraplanetária também? Não, porque não é tão fácil assim provar que exista vida em outros planetas. Até porque, há bem pouco tempo, havia a idéia de que só raramente as estrelas tinham planetas ao redor. Com o desenvolvimento da Astronomia Observacional, e agora com pesquisas mais precisas através de telescópios instalados fora da atmosfera, conseguimos comprovar que de fato há planetas fora do Sistema Solar, como é o caso dos que orbitam a estrela Vega [da Constelação de Lira, a 25 anos-luz da Terra]. Tais telescópios nos dão informações mais precisas, e se existem outros sistemas planetários, é provável que também tenham vida, embora não seja fácil provar.
O senhor acredita que está se confirmando a equação de Frank Drake, que diz que há um número ilimitado de civilizações extraterrestres que um dia serão descobertas? Sim, quanto a isso não existe dúvida. Elas podem ser tanto mais avançadas do que nós quanto mais atrasadas – nós podemos estar no meio do caminho evolutivo. Mesmo assim, sou descrente quanto aos programas de captação de sinais de rádio de outras civilizações, e não creio que irão dar resultados.
Como assim? Não creio porque nós ainda estamos fora da faixa de desenvolvimento tecnológico dessas outras civilizações, as que acredito serem mais avançadas do que nós. Elas podem estar usando outros métodos de comunicação, muito superiores aos nossos.
Ou seja, nossas tentativas de comunicação com outras civilizações, ou de ouvi-las através de programas como o SETI, podem ser infundadas? Não totalmente, pois há várias tentativas sendo feitas que podem resultar em alguma coisa, mas apenas se a gente encontrar lá fora uma civilização que use o mesmo processo tecnológico de transmissão que o nosso, por meio de ondas de rádio.
Ainda assim, caso isso ocorresse, tais civilizações podem estar tão longe de nós que o tempo entre a recepção de suas mensagens, nosso entendimento das mesmas e respectiva resposta a elas pode levar um tempo enorme, possivelmente gerações. Sem contar que elas podem não entender o que estamos respondendo, se é que entenderemos o que tentarem nos dizer… Pois é. Serão necessárias várias gerações. Este seria um diálogo que eu chamaria de muito solitário. É como se você falasse “oi” e só daqui a três gerações ouvisse a resposta. Mesmo se fosse uma estrela bem próxima de nós – como a Alfa do Centauro, por exemplo [Estrela Rigel da Constelação do Centauro, a pouco mais de 4 anos-luz da Terra] – você teria que gritar “alô” e a resposta só viria oito anos depois, que é o tempo que a mensagem levaria para chegar lá e ser respondida. Isso se houver alguém lá escutando. E de repente, a vida pode estar apenas além de 50 anos-luz da Terra. Daí, precisaríamos de 100 anos para ouvir a resposta ao nosso “oi”.
Então, o senhor desaconselha a continuidade desses programas de captação de comunicações de outras civilizações? Não, acho que devem continuar, pois há alguma possibilidade de a gente captar um sinal e esse sinal se repetir, indicando um padrão inteligente. É provável que venhamos a receber alguns sinais lógicos, racionais. Enfim, não dá para descartar esta possibilidade. Agora, eu tenho a impressão de que tudo isso é muito remoto, pois achamos que estamos num determinado estágio de desenvolvimento científico-tecnológico capaz de emitir, receber e compreender tais sinais, o que não é verdade. Tudo o que se vê hoje na Terra, em termos de tecnologia, pode ser pré-histórico para outras civilizações. Veja que há 50 anos ninguém seria capaz de prever a Era da Internet, que aí está.
Nós dependemos hoje de nossas descobertas e invenções mais recentes. Hoje, praticamente usamos somente a tecnologia dos últimos 20 ou 30 anos. Isto sugere ao senhor que ainda estamos numa fase embrionária de desenvolvimento tecnológico? Sim, nós estamos no começo e ainda temos muito pela frente. Embora eu ache que esse desenvolvimento cresce em proporção geométrica, não aritmética. À medida que um avanço provoca outro avanço, um ainda maior ocorre, sempre exponencialmente.
Seguindo seu raciocínio, existem outras formas de vida em outros planetas. E sendo parte delas mais avançadas que a nossa, como o senhor admitiu, não seria lógico deduzir que tenham desenvolvido veículos capazes de viajar pelo espaço e vir até a Terra, originando tantos relatos de observações de UFOs em nosso planeta? Ou seja, não é então possível que o Fenômeno UFO seja real e que naves estejam efetivamente nos visitando? Bem, não é tão fácil assim assumir tais conclusões. O problema da Ufologia é que fica tudo no campo dos relatos. Não há um instrumento de pesquisa adequado, não há testemunhas que tenham fotografado esses objetos…
Como assim? Nós já temos mais 100 mil fotografias de UFOs, além de mais de 10 mil horas de gravações em filmes, tudo isto documentando naves estruturadas, fenômenos concretos, objetos luminosos etc! As imagens só mostram fenômenos luminosos. O que eu quero ver são as naves que os ufólogos alegam que estão aí nos visitando…
Mas nós também temos fotos e filmes de naves em plena luz do dia, inclusive metálicas e de grandes proporções, feitas por centenas de pessoas em todo o mundo. Esta documentação não serve de prova? Não necessariamente. Este material precisa ser bem examinado.
Mas está sendo, professor. E muito mais já foi no passado! Há casos de grande repercussão, como por exemplo os ocorridos em 2004 e 2005 na Cidade do México, quando diversas pessoas filmaram esquadrilhas que chegavam a dezenas de UFOs, a partir de diversas posições. As pessoas não se conheciam e não poderiam ter fraudado as imagens. Além do que, os objetos com formato esférico chegaram a ser registrados em formação em áreas próximas do Aeroporto Internacional Benito Juárez, na capital mexicana. Não seria esse um indício suficientemente forte? Em termos. Tudo isso pode ser mais um caso de fenômeno natural.
Mas como seria aquilo um fenômeno natural, se as esferas realizaram manobras, trocavam de posições, foram detectadas por radar, descritas até mesmo por militares, perseguiram aviões etc? E esses fatos se repetem em outros pontos do mundo, até mesmo no Brasil. Bem, temos que pesquisar cada caso com cuidado. Temos que ver essas naves, fotografá-las e compará-las. Porque ainda existem muitos fenômenos desconhecidos na atmosfera, e a gente tem que pesquisar muito para descobrir seus mecanismos. Acho que atribuir o termo nave alienígena a objetos não identificados é algo um pouco forçado.
Além destes casos, há muitos que passaram por rigorosas investigações, realizadas por ufólogos capacitados. Eles foram analisados cuidadosamente e não podem ser descartados. Há ocorrências amparadas por documentação de alta qualidade, das quais todas as possibilidades de fraudes foram isoladas. Nem esses o senhor acha que podemos considerar como veículos originários de civilizações mais avançadas, como aquelas a que o senhor se referiu? Eu fico na dúvida, porque tem muita gente desonesta nessa área e é por isso que as comunidades astronômica e científica se afastam. Quando elas sentem que há embusteiros, ficam com receio e preferem não se envolver.
Mas há embusteiros também na ciência… Sim, não tenho dúvida nenhuma disso. Há fraudes na ciência como há em tudo na vida, especialmente em um tema polêmico como Ufologia.
O senhor sabe que os ufólogos são justamente os primeiros a denunciar as fraudes? Sempre que surge uma informação falsa, nós a expomos para que todos fiquem cientes dela, e assim temos promovido uma “limpeza” no setor. Por exemplo, de todas as fotos digitais supostamente ufológicas que recebemos e mandamos analisar – pelo doutor Ricardo Varela, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) –, 99% resultam ser objetos comuns ou defeitos nas lentes. É isso que é importante: fazer uma análise de cada caso. O Varela está colaborando, mas aí entra outro problema. Quando alguém do meio cientifico começa a colaborar, surgem as críticas dos colegas. Canso de ouvir coisas como “ah, o Mourão está participando desses congressos de Ufologia”, partindo de meus colegas astrônomos.
Isso o incomoda? Não, e eu não vejo minha participação nestes eventos de forma negativa. Eu adoto a posição de neutralidade, pois acho que a gente tem que discutir as questões, não fugir delas. Se não, a área fica dominada pelos “sem critério”. Veja você o que aconteceu com o SETI quando pessoas sem conhecimento no assunto entraram na questão para dar opiniões e acabaram atrapalhando seu desenvolvimento. Teve até um senador norte-americano que atuou de forma muito desonesta, criticando o programa e forçando a NASA a rever a verba destinada a ele, que acabou indo a quase zero [Referindo-se ao senador William Proxmire, do Wisconsin].
O argumento do senador foi de que não havia méritos na investigação conduzida pelo SETI, e por isso a mesma não poderia ser custeada com dinheiro público. Para atingir seus objetivos, que eram evitar que a NASA financiasse as atividades do programa, atacou o SETI e a agência espacial, mesmo sem saber nada sobre a pesquisa de vida extraterrestre. Pois é, ele foi muito desonesto. Mas aí o diretor da Microsoft, Bill Gates, e o produtor do filme 2001, Uma Odisséia no Espaço [1972], Arthur Clark, entraram no projeto, ajudando-o financeiramente. E depois veio o produtor Steven Spielberg, do Contatos Imediatos do Terceiro Grau [1977], com mais dinheiro ainda para custear as operações do SETI. Foi a iniciativa privada foi que salvou o projeto. E aí você vê que, se é difícil manter um programa científico, imagina a Ufologia, que tem boa aceitação num certo segmento, mas muita rejeição em outros. Até porque, no fundo também há uma coisa religiosa por trás dela.
Foi a iniciativa privada que salvou o Projeto SETI. Bill Gates, diretor da Microsoft, e Arthur Clark se aliaram ao Steven Spielberg para custear as operações do SETI. E aí você vê que, se é difícil manter um programa científico, imagina manter a Ufologia, que tem boa aceitação num certo segmento, mas muita rejeição em outros
Em que sentido? No sentido da perseguição que as pessoas sofrem para fazer suas pesquisas. É como no caso do filosofo Giordano Bruno [1549-1600], condenado por heresia pela Igreja Católica. Hoje sabemos da condenação que ele sofreu para defender suas idéias. E no fim descobriu-se que o que ele disse estava certo. Além de tanto outros depois dele, que também foram perseguidos.
O senhor acha que os ufólogos são perseguidos por suas atividades? De uma certa forma, acho que sim.
Alguns ufólogos defendem que um dia teremos contato oficial e definitivo com seres extraterrestres. O senhor acha que isso dá a impressão que a Ufologia tem alguma coisa de religião? Sim, parece. Esses dias eu vi uma discussão num programa de televisão, quando um rapaz dizia que “isso é coisa do demônio”, referindo-se à Ufologia. Quer dizer, ela influencia muita gente.
Eu entendo o que eu o senhor está querendo dizer. Mas veja que a Ufologia não tem nada de religião, como neste evento que está sendo realizado aqui em Araçatuba (SP), em que se mostram fatos concretos da pesquisa do Fenômeno UFO. Sim, estou vendo. E fiquei contente que vocês consigam aqui uma presença tão grande de público, com o auditório cheio de interessados. Isso é fantástico! Eu já participei de congressos de Ufologia em Curitiba, com auditórios até maiores e com mais pessoas [Referindo-se ao 32º Congresso Brasileiro de Ufologia Científica, em novembro de 2005].
O senhor pretende continuar freqüentando congressos de Ufologia? Sim, se for convidado, aceitarei com prazer.
O astrônomo Clyde Tombaugh, descobridor do planeta Plutão, entre outros, observou no século passado um objeto não identificado que classificou como sendo algo que fugia completamente a qualquer fenômeno convencional conhecido. Depois de Tombaugh, outros astrônomos também foram taxativos ao afirmar que viram e registraram objetos de grandes proporções na atmosfera e fora dela, às vezes até atravessando o disco lunar. O que o senhor acha das observações de seus colegas? Eu acredito na sinceridade de Tombaugh e dos demais astrônomos que alegaram ter tido tais observações. Mas insisto no fato de que ninguém tem meios para atribuir a esses objetos uma origem extraterrestre.
O que seriam tais objetos, então? Talvez algum fenômeno atmosférico, um meteoro ou um bólido. Ou ainda uma revoada maciça de pássaros. Só que as pessoas não dizem isso, porque têm medo de cair no ridículo.
Mas e quando um “bólido” desses entra na atmosfera, pára, faz curvas em ângulos fechados, volta por onde veio, divide-se em objetos menores, que voltam depois a formar os artefatos originais? E todas essas manobras são observadas e fotografadas por astronautas treinados, como os dos ônibus espaciais Discovery e Columbia, durante as missões STS-48, STS-80 e STS-81? O que poderiam ser esses fenômenos? Possivelmente, a explosão de um meteoro ou uma série deles entrando simultaneamente na atmosfera. São apenas luzes registradas pelas câmeras, que uma hora estão lá e depois somem.
Mas, professor Mourão, o tal “bólido” estava vindo na direção da Terra, porém, antes de cair e se desintegrar na atmosfera, parou e voltou intacto sobre a mesma trajetória pela qual veio. E logo após ainda se viu um outro “bólido” fazer as mesmas manobras, e depois um outro e assim por diante. Tudo isso foi registrado pelos astronautas e estão em gravações à disposição do público [DVDs Contatos com UFOs no Espaço e Informações que a NASA Oculta, respectivamente códigos DVD-007 e DVD-009 da coleção Videoteca UFO. Veja seção Shopping UFO desta edição]. Eu gostaria muito de ver isso… Mas não creio que estejamos diante da evidência de algo extraordinário. Pelo menos, não acredito. Podemos dizer que há alguns fatos que sejam significativos, mas não podemos atribuir a eles uma origem extraterrestre, como dizer que venham de alguma civilização alienígena.
Por que não? Porque eu acho que qualquer civilização extraterrestre teria uma tecnologia muito maior do que a nossa, um conhecimento tecnológico do qual a gente não teria sequer idéia. Nossos foguetes seriam bem rudimentares perto dos seus veículos. Nós vamos evoluir mais, a ponto de atingir este estágio, mas não sei qual é o caminho para isso.
Mas é exatamente disso que estamos falando. Que os veículos extraterrestres, quando observados pelos astronautas – e isso apenas para dar um exemplo –, demonstraram ser muito superiores do que os nossos. Não sei se podemos nos fiar nisso. Temos que examinar cada caso.
Tendo admitido a existência de vida noutros planetas como algo inquestionável, como o senhor imagina que sejam essas civilizações? Digo que podem ser mais adiantadas do que a nossa ou até mais atrasadas.
O senhor acredita que as mais adiantadas poderiam ter uma situação urbana e social semelhante a que nós temos na Terra, com cidades, comunidades, famílias, grupos sociais, universidades, escolas, igrejas, comércio etc. Enfim, como temos aqui? Eu tenho a impressão de que essa estrutura que nós conhecemos se manteria, quando aplicada à outras civilizações. Mas há a possibilidade de que seus habitantes tenham diferenças genéticas e biológicas significativas com relação à nossa espécie, e isso mudaria muita coisa.
O senhor acredita que civilizações mais avançadas tenham condição de fazer alterações genéticas para melhorar sua própria espécie? Sim, creio que agiriam em sua própria espécie, talvez para avançarem mais. Veja que nós mesmo já estamos começando a fazer alguma coisa neste sentido em nossa espécie. E isso não é coisa do demônio, mas coisa de Deus. Isso é, se você acredita na existência de Deus. Quem está orientando o cientista? Deve haver uma mente superior, e você tem que acreditar nisso. Portanto, acho que não se pode adotar uma posição contrária à pesquisa com as células-tronco e as clonagens. Não sou contra os clones e acho que toda pesquisa nesse sentido é válida e importante, mas as religiões atrasam muito o crescimento da humanidade. Acho que não deve haver um confronto entre ciência e religião, e que a gente tem que respeitar toda forma de manifestação religiosa. Só que precisamos separar as coisas.
O senhor é uma pessoa que se considera religiosa? Eu tenho uma formação católica, mas ela é muito diferente da que eu vejo hoje por aí. Eu estaria mais para um budista ou para um Spinoza [Referindo-se a Benedictus de Spinoza, 1632-1677, um dos grandes racionalistas da filosofia moderna, justamente considerado o fundador do criticismo bíblico moderno]. Eu aprecio muito a filosofia budista, que é mais que uma religião, é uma filosofia de vida.
É interessante que o senhor tenha falado do Budismo, pois ele aceita como indiscutível a existência de muitas outras formas de vida, e inclusive que nós já estamos tendo contato com elas. É verdade, há alguns budistas que acreditam nisso. Eu respeito essas pessoas e acho que seu trabalho é muito importante.
Eu tenho uma formação católica, mas ela é muito diferente da que eu vejo hoje por aí. Eu estaria mais para um budista ou para um Spinoza. Aprecio muito a filosofia budista, que é mais que uma religião, é uma filosofia de vida… Há alguns budistas que acreditam em vida extraterrestre e eu respeito essas pessoas, acho que seu trabalho é muito importante
O senhor conhece o trabalho de algum ufólogo específico, brasileiro ou estrangeiro? Conheço o da dona Irene Granchi e acho muito bom. Uma vez, indo a um programa de TV em que ela também estaria, meus colegas me perguntaram seu eu atacaria sua crença em UFOs. Mas jamais faria isso, porque admiro muito sua garra. Ela está lutando por uma idéia e isso precisa ser respeitado.
Eu posso lhe dizer que ela também tem um respeito muito grande pelo senhor, e o considera um adversário de respeito, intelectualmente falando. Ela é um exemplo para todos nós. Eu mesmo conheci a dona Irene Granchi quando tinha 17 anos e cresci admirando essa senhora. Por favor, transmita meus cumprimentos a ela.
Certamente. Mas vamos finalmente falar de casos pontuais da Ufologia, sobre os quais eu gostaria muito de saber o que o senhor pensa hoje. Vamos começar pelo Caso Vasp Vôo 169, que o senhor já afirmou que considera inquestionável que se tratasse do planeta Vênus. Exato, não tenho dúvida nenhuma.
O caso aconteceu em 08 de fevereiro de 1982, quando um Boeing 727 daquela companhia fazia o vôo 169, entre Fortaleza e São Paulo, com escalas em Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Por várias horas o avião foi seguido por um objeto enorme, desde Petrolina (PE) até o Rio. Mas o senhor garantiu que se tratava do planeta Vênus e, no dia seguinte, fez aquele mesmo vôo a pedido da Rede Globo para confirmar sua tese. Só que Vênus não apareceu, e quando o senhor descreveu como Vênus seria visto daquela altitude, o comandante Gerson Maciel de Britto disse que “não foi nada disso que nós vimos”. O co-piloto chegou a afirmar que se tratava de “uma luz extremamente mais brilhante que Vênus e que se movia inclusive na frente do Boeing”. O senhor reconhece hoje sua falha? Não, de jeito nenhum. Era mesmo Vênus e disso não tenho a menor dúvida. Durante o vôo de 09 de fevereiro, o camarada que estava ao meu lado no avião até falou “se a gente balançar, você vai ver Vênus aí”, porque o planeta estava mesmo lá. Agora, há uma coisa interessante que não foi discutida na época, sobre uma fotografia tirada por alguém de dentro do Boeing, que tentou vender à Rede Globo. Eu fui chamado para ver a foto.
Ela foi feita no vôo 169 de 08 de fevereiro? Sim, e alguém queria vendê-la pelo preço que na época dava para comprar um apartamento em Copacabana. Eu olhei a foto e falei: “Não é nada disso que foi visto. A pessoa fotografou outra coisa qualquer”. Não era a mesma luz e sequer batia com a descrição do que foi observado.
Mas isso não desqualifica a observação e o fato de que se tratava de um objeto inteligentemente controlado. E mais, o comandante Britto tinha na época 26 mil horas de vôo e falou que não havia a menor possibilidade de confundir aquilo que ele e toda sua tripulação viu com Vênus. Como é que o senhor reage a isso? Eu mantenho minha posição e acredito que foi Vênus. O Britto se enganou. Com toda a euforia que ele tinha, ele simplesmente se equivocou. Eu vou dizer mais uma coisa: é fato que muitas pessoas conceituadas podem se enganar, mesmo quem tem conhecimento astronômico. O comandante pode perfeitamente ter se confundido.
Mas ainda temos um outro problema, que é o fato de que o Cindacta confirmou a observação do UFO, e isso não pode ser contestado. Não sei como é possível que o Cindacta tenha registrado um objeto lá, se nada havia além de Vênus. Ademais, há uma quantidade enorme de meteoros que entram o tempo todo na atmosfera, que também poderiam causar o engano.
Então já não seria mais Vênus, mas um meteoro? Sim, poderia também ter sido um meteoro.
Mas um meteoro voaria lado a lado com o avião, como nesse caso, em que o Boeing foi acompanhado pelo objeto durante mais de uma hora? Foi um meteoro. Os aviadores alemães seguiam muito esses bólidos durante a Segunda Guerra Mundial. Eles eram até chamados de foo-fighters [Referindo-se ao fenômeno visto durante o conflito, que atravessavam aviões sem danificá-los].
Mas os foo-fighters também têm uma natureza extraordinária, provavelmente extraterrestre. Então, agora o senhor diz que não seriam mais meteoros, mas sim os foo-fighters que seguiram o avião da Vasp? Sim, para mim poderia ser um. Eu tinha em arquivo algumas observações semelhantes, que foram explicadas mais tarde e que hoje sabemos que eram armamentos norte-americanos lançados durante a Segunda Guerra Mundial. Isso explica algumas coisas. Agora, o da Vasp não tem…
Explicação? A explicação é o planeta Vênus. Ele estava lá, direitinho, e eu fiz a viagem no dia seguinte para confirmar.
Mas, professor, como é possível que o Cindacta detectasse Vênus? E por tanto tempo? Além do que, o Boeing fez um pouso em Belo Horizonte e, ao decolar, já quase uma hora depois, a perseguição foi retomada, agora tendo o avião outra trajetória, não mais seguindo para o sul, mas para o leste, no sentido do Rio de Janeiro? Eu não acho. E esta minha posição eu não revejo [risos].
Okay. Temos outros problemas, então. Por exemplo, aviões de diferentes companhias – Aerolíneas Argentinas e Transbrasil – e em diferentes rotas também observaram o UFO que o senhor diz que era Vênus. Eles também pediram e receberam confirmação do Cindacta quanto à materialidade do objeto em questão. Esta situação deixa o senhor sem opção. Como vê, já não é mais tão fácil admitir que aquilo era um planeta… Como eu disse, fiz a viagem no mesmo trajeto no dia seguinte, em 09 de fevereiro, e todo mundo a bordo do avião viu Vênus. Não havia dúvida alguma. Eu acho que aí é que entra o problema da dificuldade.
Qual dificuldade? Da dificuldade de relacionamento entre a comunidade científica e a ufológica, pois a Ufologia não vai direto aos fatos. Ela se mantém na mesma posição, tanto quanto o cientista, que também não quer mudar a sua. E assim não dá.
Mas os ufólogos foram, sim, atrás dos fatos e levantaram detalhes do Caso Vasp. Os comandantes desses aviões deveriam conhecer mais sobre Astronomia. Isso teria evitado até tragédias, como a daquele Boeing da Varig que caiu no Mato Grosso [Referindo-se à queda, em setembro de 1989, de um avião 737 que decolou de Marabá (PA) e errou a rota, fazendo pouso forçado na selva].
Mas este não é o caso do comandante Gerson Maciel de Britto, que tinha sólido conhecimento astronômico. Ele havia sido instrutor de vôo até mesmo nas companhias American e Canadian Airlines, que fazem muitas exigências quanto ao controle psicológico e conhecimento astronômico de suas tripulações. Okay, mas mesmo assim eu acho que neste caso não tem dúvida. Eu fiz o vôo no mesmo caminho e deu exatamente aquilo que havia dito. Vênus!
Bem, se o que eu disse até aqui não o convenceu da realidade do Caso Vasp Vôo 169, e são todas informações bem objetivas, as que lhe darei agora, que são de certa forma subjetivas, tampouco irão. Mas, mesmo assim, arriscarei. O senhor sabe que, logo após o comandante se aposentar, ele resolveu descrever em mais detalhes sua experiência, relevando fatos que até então pouca gente sabia. Entre os quais, disse que tentou contato telepático com quem quer que estivesse dentro daquela bola de luz, o que foi documentado por ele, pelo co-piloto e pelos comissários que apareciam na cabine. Além, é claro, dos quase 150 passageiros a bordo. E sabe o que ocorreu? O objeto que o senhor alega que é Vênus saía da posição em que estava, à esquerda da aeronave, vinha até a frente dela e às vezes ia para o lado direito do avião. O UFO fez isso várias vezes, indicando que havia uma inteligência por trás daquele fenômeno e que ela respondia aos estímulos mentais do comandante. O que o senhor diz com relação a isso? Não sei, não. Acho que isso tem que ser analisado melhor. Mas vou ficar por aqui. Vou respeitar o que o comandante disse e não questionarei mais nada, porque aí vai ficar muito sério. Não sei se ele poderia estar divagando. Não digo nada e acho que ele será julgado por si mesmo.
Então, sua posição final quanto ao Caso Vasp Vôo 169 é de que se tratava do planeta Vênus? Sim, se tratava do planeta Vênus.
Esta entrevista terá continuidade em nossa próxima edição, UFO 131, de março de 2007.