Na edição passada, os leitores foram surpreendidos com uma entrevista exclusiva concedida à Revista UFO por um dos mais conhecidos astrônomos do Brasil, o carioca Ronaldo Rogério de Freitas Mourão. A surpresa estava no fato de que o professor Mourão, 71 anos, é considerado um dos maiores algozes da Ufologia Brasileira, tendo sido um cético ferrenho e grande crítico da pesquisa dos discos voadores durante toda a vida. Nas últimas décadas, apesar de ter tido acesso às evidências, nunca admitiu que a Terra pudesse estar sendo visitada por seres de civilizações mais avançadas. E sempre fez questão de mostrar sua posição, quando questionado ou não, atribuindo aos nossos principais casos ufológicos explicações astronômicas geralmente bizarras e incabíveis, o que lhe custou muitas críticas, às vezes até de seus próprios colegas.
Entre os episódios mais notórios da Ufologia Brasileira que o professor Mourão tentou “explicar” estão o Caso Vasp Vôo 169, a chamada Noite Oficial dos UFOs e o Caso Capão Redondo. Suas opiniões sobre tais ocorrências, amplamente divulgadas pela imprensa, foram implacavelmente negativas à possibilidade de se tratarem de veículos extraterrestres. Esta é uma hipótese que o cientista jamais cogitou, e mesmo agora, quando mostra uma certa flexibilidade em suas posições – a ponto de conceder entrevista a uma publicação especializada em Ufologia, pela primeira vez –, Mourão ainda não entrega os pontos. Na primeira parte da entrevista, publicada na UFO 130, ele continua alegando que o veículo alienígena que seguiu o Boeing 727 da Vasp, em 08 de fevereiro de 1982, era o planeta Vênus, uma teoria que lançou na época e que foi imediatamente refutada.
Na segunda e última parte da entrevista, o astrônomo responde questões sobre outros casos, igualmente célebres da Ufologia Brasileira, insistindo em atribuir-lhes explicações convencionais – e inusitadas. Como se verá a seguir, o professor Mourão “explica” o Caso Capão Redondo, de 02 de janeiro de 1998, considerado pelos ufólogos como uma rara ocorrência de manifestação de sonda ufológica em área urbana. Na época do fato, consultado pela Rede Globo, o cientista afirmou prematuramente que o objeto avistado e filmado no bairro paulista seria um raio bola. Por isso, foi duramente criticado pelo co-editor da UFO Claudeir Covo e pelo consultor Ricardo Varela. Cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) também discordaram veementemente de sua análise. Para nosso espanto, mesmo passados quase 20 anos do episódio, o astrônomo insiste na mesma versão.
Diálogo com os ufólogos — Mas, se por um lado não há muito progresso em sua posição, especialmente quando sustenta explicações discutíveis para os casos ufológicos referidos, por outro veremos na entrevista que o algoz agora aceita pelo menos sentar-se com os ufólogos e dialogar. Tanto que o professor Mourão vem participando, até com entusiasmo, de eventos sobre discos voadores, como 32º Congresso Brasileiro de Ufologia Científica, realizado em outubro de 2005 em Curitiba, e do 5º Cosmos, de julho de 2006, em Araçatuba (SP). Foi neste último evento, realizado anualmente pelo Instituto de Astronomia e Pesquisas Especiais (Inape) no interior de São Paulo –, que o professor Mourão aceitou conversar com a Revista UFO, ocasião em que mostrou a flexibilização de suas posições.
Reconhecido como um dos mais importantes astrônomos do mundo, com mais de 60 obras publicadas, o cientista tem um currículo respeitável. Suas principais contribuições à Astronomia estão na área das estrelas duplas, asteróides, cometas e técnicas de astrometria fotográfica, mas ele tem ajudado a consolidar conhecimento sobre a disciplina também em muitas outras especialidades. Um dos mais destacados integrantes do Observatório Nacional do Rio de Janeiro, que veio a dirigir, e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o professor Mourão é bacharel em Física pela Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras da atual Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Seu trabalho mais conhecido é o Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica [Editora Nova Fronteira, 1995], além do recente Anuário de Astronomia [Bertrand Brasil, 2005], onde, corajosamente, incluiu uma discreta menção à Ufologia.
A Ufologia ainda enfrenta muita resistência nos meios acadêmicos porque seus métodos precisam ser aprimorados
Ao encerrar a primeira parte da entrevista, o professor Mourão respondeu uma questão sobre o Caso Vasp Vôo 169, dizendo não estar convencido de que o Boeing da extinta companhia aérea paulista tivesse sido seguido por um objeto de origem não terrestre. “Acho que isso tem que ser analisado melhor. Mas vou ficar por aqui. Vou respeitar o que o comandante disse e não questionarei mais nada, porque aí vai ficar muito sério”, afirmou. Ao ser indagado se achava que o piloto – o experiente Gerson Maciel de Britto, então com 26 mil horas de vôo –, sua tripulação inteira e quase 150 passageiros a bordo estariam equivocados ou teriam tido uma visão, o professor Mourão insistiu: “O que eles viram era apenas o planeta Vênus”. Vejamos o restante da interessante entrevista.
Muito bem, então. Vamos para o caso seguinte, que foi um fato grave que tivemos em nosso país, ocorrido em 19 de maio de 1986, conhecido pela Ufologia Brasileira como Noite Oficial dos UFOs no Brasil. Naquela noite, 21 UFOs de formato esférico e grandes proporções – chegou-se a falar em 100 m de diâmetro – entupiram o espaço aéreo do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Goiânia. Os objetos chegaram a ser perseguidos por jatos da Força Aérea Brasileira (FAB) e o próprio ministro da Aeronáutica na época, o brigadeiro Octávio Moreira Lima, admitiu que se tratavam de artefatos de natureza desconhecida. Na ocasião, o senhor foi entrevistado pela imprensa e disse que se tratavam de fenômenos atmosféricos. Sua posição mudou quanto a este caso? Não, não mudou. Disse que eram meteoros, e era isso mesmo que eram aquelas luzes. Uma série de meteoros entraram na atmosfera.
Mas, professor, como é possível que esses meteoros ficassem parados sobre o Rio e São Paulo? Ou que perseguissem e fossem perseguidos por aviões da FAB? Eles não ficavam parados, mas se deslocavam e deixavam rastros de luz. Há pessoas que viram isso e falaram que era algo espetacular…
Os ufólogos também falaram com as testemunhas, inclusive nosso co-editor Claudeir Covo fez uma detalhada investigação sobre o assunto, ouvindo depoimentos até mesmo dos pilotos da Aeronáutica envolvidos na perseguição. Um deles, o capitão Márcio Brizolla Jordão, que pilotava em caça F-5E, em determinado momento, foi acompanhado por 13 UFOs, seis de um lado e sete do outro. Como tais manobras seriam possíveis a meteoros? Não sei, mas eram certamente meteoros. Há muitas histórias sobre isso, e na época se falou muito disso. Não tem mistério.
O senhor acha mesmo que o ministro da Aeronáutica na época iria a TV, como foi, expor-se e admitir que aqueles objetos não tinham natureza conhecida? E os pilotos militares iriam dar entrevista coletiva, como deram, falando que não eram veículos conhecidos? Bem, eu acho que não. Mas tem coisas aí que eu prefiro guardar para mim.
Não seria mais fácil admitir a possibilidade de termos sido visitados naquela noite por veículos de outras civilizações do universo? Não, isso não aconteceu. O que ocorreu naquela noite foi uma bela passagens de meteoros, um negócio fantástico. Aliás, essa é a grande dica que eu dou aos ufólogos, que façam uma observação sistemática do céu, como nós, astrônomos. Isso pode trazer uma grande quantidade de informações sobre fenômenos que ocorrem na atmosfera, inclusive alguns que não registramos. Idem quanto à Meteorologia, que tem fenômenos incomuns também.
Mas eu insisto, professor. Os objetos registrados demonstraram ser controlados por alguma forma de inteligência. Eles iam, voltavam, paravam no ar, retomavam seu curso, paravam novamente etc. O próprio ministro Moreira Lima admitiu isso… Aí eu não sei. O ministro não é autoridade no assunto. Pode ser autoridade dentro da especialidade dele, mas não em Astronomia nem Meteorologia.
Mas tínhamos acabado de sair da época da Ditadura Militar e aquele ministro era muito influente no Governo. Certamente, ele não iria se expor ao ridículo de anunciar à Nação que tínhamos sido invadidos por meteoros. E tem ainda as detecções feitas por radar… Ah, os meteoros estavam bem distantes dos radares. Mas, de qualquer forma, eu não acho que o ministro sabia o que eram. O fato [De termos saído da Ditadura Militar] não quer dizer nada.
Eu tinha a impressão, dado o fato de que o senhor tem participado de vários congressos de Ufologia, que já tinha uma posição mais favorável a esses casos pontuais que descrevi, que foram muito bem documentados. Imaginava que o senhor já tivesse uma abertura maior quanto a eles… Eu respeito a opinião de vocês, ufólogos, mas os casos têm explicações.
Veja, professor, que o episódio da Noite Oficial dos UFOs no Brasil é um dos alicerces de nossa campanha, realizada entre 2004 e 2005, para pedir ao Governo abertura de seus arquivos. E ela foi vitoriosa, porque, pela primeira vez, os ufólogos foram recebidos pela Aeronáutica, dentro do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra). Os militares nos mostraram pastas com documentos sigilosos de operações de detecção e perseguição a UFOs no país. Um deles era justamente esse episódio de maio de 1986, sobre o qual há farta documentação, transcrição de conversas entre as torres de controle e os pilotos que perseguiam os objetos e até os registros feitos por radares. Ou seja, a FAB reconheceu a Noite Oficial dos UFOs no Brasil como sendo efetivamente um dos momentos em que estivemos mais próximos de um fenômeno anômalo de origem desconhecida, provavelmente não terrestre. E o senhor diz que se tratou de uma série de meteoros… Sim. E o que é muito importante sobre este caso é ver o risco que nós passamos de um meteoro poder chocar-se com a Terra, como ocorreu. Por isso, acho muito importante que se faça a observação desses fenômenos. Assim como dos asteróides rasantes, aqueles que passam muito próximos da Terra. Eles provocam explosões na atmosfera e são registrados pelos radares também. Os norte-americanos sabem disso.
Mas há vários outros problemas com sua explicação, entre eles o fato de que, se fossem meteoros, como explicar que mantinham uma certa altitude e voavam na horizontal? Eles mudavam de trajetória, paravam no ar e não caíam no solo, como os meteoros… Mas os meteoros também voam. Eles passam na nossa atmosfera, tangenciando-a, e vão embora para o espaço novamente. Isso é possível.
Tudo bem. Mas 21 meteoros voando juntos, entrando e saindo da atmosfera? E todos de mesmo tamanho, admitidos pela Aeronáutica como tendo por perto de 100 m de diâmetro? Eles podem fazer isso, podem ser enormes. E deixavam rastros por onde passavam. Eles cortam a atmosfera e vão embora.
Mas nenhum fragmento deles cairia no chão? Não, pois quando passam pela Terra desta forma, eles estão numa velocidade tal que nada cai no solo.
Aceitando sua tese como válida, como é possível, então, que fossem perseguidos pelos caças da Força Aérea Brasileira (FAB) a mais de 2.000 km/h? Os pilotos viram luzes de meteoros que entraram na atmosfera.
Pois é, 21 “meteoros” perseguidos pelos caças… Não foi perseguição, pois os aviões não chegaram até sua altitude. As luzes estavam a uma grande distância deles.
Mas os radares de bordo dos aviões registraram os objetos e os depoimentos dos pilotos confirmam as manobras, como daquele que começou a perseguir um UFO e logo tinha 13 objetos ao ser redor… Eu queria ver este relato para poder opinar.
Mas na ocasião o senhor viu, pois foi entrevistado pela Rede Globo. Mas este relato eu não cheguei a ver. Vi a entrevista coletiva que os pilotos deram, mas eles não mostraram nenhuma documentação. Falaram só de boca.
Sim, eles mostram algo. Inclusive, todos foram colocados à disposição da imprensa pelo ministro Moreira Lima, que na mesma coletiva prometeu um relatório completo do ocorrido para dali 30 dias. E o relatório do ministro, acabou saindo?
Não, nunca saiu, nunca foi divulgado. Mas temos a informação da existência desse documento. Vocês tiveram acesso a ele de alguma forma?
Não, mas tivemos um informante na época, uma fonte ligada ao ex-presidente João Baptista Figueiredo, que viu o documento e nos informou que ele se referia ao diâmetro dos UFOs como sendo de cerca 100 m, além de terem formato esférico. Algumas pessoas que viram me falaram que foi. Descreveram a observação como espetacular. Eu tentei acompanhar o fenômeno, pois as pessoas me telefonavam e relatavam o que estavam vendo, mas não deu.
E ainda assim, para o senhor, não passavam de meteoros? Sim, meteoros que atravessavam a atmosfera em alta velocidade. Mas podiam também ser restos de satélites [Reentrando na atmosfera]…
Mas eles não chegam a ser detectados por radar… Chegam sim. Alguém, na época, acho que na Bahia, falou que as luzes eram pedaços de satélites [Referindo-se aos seus colegas do Observatório Astronômico Antares, da Universidade Estadual de Feira de Santana]. Eu pensei “pode ser um deles. Deixa eu ver se não tem nenhum objeto entrando na atmosfera”. Mas aí já tinha saído num jornal a manchete “É um meteoro, declarou Mourão”. Eu tentei avisar sobre a entrada do satélite, não me lembro mais qual, e telefonei imediatamente para os jornais. Mas já era tarde…
Mas então, eram meteoros ou restos de um satélite? Era um satélite. Não tenho dúvidas porque eu vi que aquilo só podia ser um, pelas descrições que as pessoas davam etc. Os primeiros relatos indicavam que se tratava de um meteoro de grandes proporções. Mas daí eu falei que era fundamental ir até o local verificar onde ele teria caído, e rápido, porque um satélite tem valor econômico e muita gente corre para pegar os pedaços, para colecionar ou vender.
Professor, eu tenho que discordar novamente do senhor. Antes o senhor defendeu com muito vigor a tese de que seriam meteoros, e agora fala igualmente seguro de que o episódio de 19 de maio de 1986, a chamada Noite Oficial dos UFOs no Brasil, foi causado por um meteoro reentrando na atmosfera. O que era, afinal, aquilo? Eu acho o seguinte: é importante a gente debater e participar [Das investigações]. Mas não deve haver posição de rejeição a qualquer teoria por parte dos pesquisadores, sejam astrônomos ou ufólogos. E acho que a discussão deve ser mantida, pois se não o fizermos, não haverá avanço.
Concordo, mas acredito que os astrônomos deveriam não somente investigar mais o Fenômeno UFO como também ousar mais ao apresentar suas conclusões, e não deixar de fazê-lo por medo da crítica de seus colegas. E não se esqueça da Física Atmosférica, que é uma área muito importante nesta pesquisa. E ainda mais usada pela Aeronáutica. Muitas vezes, não será o astrônomo que vai decidir o que era determinado objeto, mas os físicos atmosféricos. E acho também que o Cindacta registra muita coisa nos céus, mas também perde muita informação.
É muito importante saber que há risco de um meteoro chocar-se com a Terra, como já ocorreu. Por isso eu acho muito importante que se faça a observação desses fenômenos. Assim como dos asteróides rasantes, aqueles que passam muito próximos da Terra. Eles provocam explosões na atmosfera e também são registrados pelos radares
O senhor tocou em um tema curioso, que é o fato de que, quando há alguma observação de um objeto anômalo na atmosfera, um relato de UFO próximo ou sobre alguma cidade, a imprensa acaba procurando algum astrônomo para dar explicações, e não um ufólogo, que é a pessoa mais indicada para o caso. Ora, astrônomos entendem de astros e objetos fora de nossa atmosfera, enquanto os UFOs se manifestam bem dentro dela… Certo, concordo. Nesse caso, teria que ser procurado pela imprensa alguém relacionado à meteorologia e à física atmosférica. Mas há uma certa razão de a imprensa nos procurar, porque os jornalistas acham que os astrônomos têm conhecimento sobre os objetos que entram na atmosfera, os meteoros, fenômenos astronômicos, Vênus etc. Além do que, as pessoas que não conhecem Astronomia se enganam quanto ao que vêem no céu, como é o caso do [Ex-presidente norte-americano] Jimmy Carter. Ele viu Vênus e achou que era um UFO [Referindo-se à observação que o político fez de uma esfera luminosa em Leary, Geórgia, em outubro de 1969, durando quase 12 minutos].
Os céticos dizem que ele se enganou. Mas Carter até hoje mantém a posição que viu um UFO autêntico. Não era. Tal como a observação daquele outro político, que tinha um astrólogo como assessor. Acho que era o Ronald Reagan.
Vários políticos de diversos países já admitiram ter visto UFOs, inclusive no Brasil, como foi o caso do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sua esposa dona Ruth e do então ministro Celso Furtado [Em uma praia da Fortaleza (CE), em 1979]. E não são apenas políticos, mas cientistas, celebridades, astronautas… Bem, como falei, acho que a coisa tem que ser pesquisada de maneira imparcial, não atribuindo a natureza dos objetos a nada extraordinário até que se saiba o que são. E por falar nisso, vi que vocês publicaram recentemente matéria sobre o fenômeno das anomalias lunares [Tema da edição UFO Especial 44, de junho de 2006].
Sim. O senhor documentou essas anomalias? Sim, nós observamos algumas lá no Observatório Nacional do Rio de Janeiro. Eu cheguei a organizar e a liderar todos os registros das anomalias feitas daqui do Brasil. Uma vez observamos estranhas luzes na Cratera de Aristóteles.
O senhor chegou a registrar aqueles fenômenos mais incomuns, como os que parecem pirâmides e torres sobre a Lua, como mostramos na revista? Não, não. Eram apenas luzes não identificadas. Teve uma que causou até o adiamento de uma missão espacial da NASA à Lua. Mas não sabemos de que natureza eram tais luzes…
O senhor está a par de que vários astronautas que foram à Lua chegaram a admitir terem visto essas luzes misteriosas? Alguns até descreveram como sendo veículos espaciais. Ouvi dizer, mas nosso trabalho nada tinha a ver com isso. Era apenas o de observar a Lua de diversos observatórios e registrar tudo o que ocorresse de anormal. Fizemos isso a pedido da NASA, que estava compilando um relatório. Na época, eu redigia um formulário e enviava a eles.
Como e quantos foram os registros dessas luzes no Observatório Nacional do Rio? Em geral eram focos de luz, às vezes uma bola. Mas não eram círculos. Alguns casos se pareciam com um flash de câmeras fotográficas. Eles apareciam parados sobre certas regiões e às vezes eram coloridas. Num dia, tais anomalias foram vistas oito vezes.
O senhor conserva alguma foto desse fenômeno? Fotografias, não. Apenas relatórios, parte dos quais conta da documentação da missão Apollo 18 [Programada para o início de 1973, acabou sendo cancelada pela NASA].
Sobre as tais anomalias lunares, lá no Observatório Nacional, a pedido da NASA, registramos focos de luz sobre a Lua, às vezes uma bola. Mas não eram círculos. Alguns casos se pareciam com um flash de câmeras fotográficas. Eles apareciam parados sobre certas regiões e às vezes eram coloridas. Num dia, tais anomalias foram vistas oito vezes
Professor Mourão, voltando à Ufologia, há um terceiro caso específico sobre o qual gostaria de ouvir sua opinião, hoje. Trata-se da observação de um estranho fenômeno luminoso esférico sobre o bairro de Capão Redondo, em São Paulo, em 02 de janeiro de 1998, considerado outro de nossos melhores casos. Na época, o senhor deu declarações a respeito do fato, que foram muito combatidas pelos ufólogos, entre eles o co-editor da UFO Claudeir Covo e o consultor Ricardo Varela, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), ambos engenheiros. O objeto foi filmado por alguns minutos e ficou visível por mais de meia hora, fazendo manobras que acompanhavam os declives e construções na área, mas o senhor disse que se tratava de raio bola. O senhor ainda defende esta posição? Sim. Pesquiso os raios bola há muito tempo e me lembro que a descrição dada pelas testemunhas era precisamente a de um fenômeno do tipo. A esfera de luz se movia lentamente e algumas vezes parecia parar no ar.
Mas, segundo os especialistas consultados pela Revista UFO, entre eles os professores Osmar Pinto Júnior e Iara Pinto, ambos doutores em eletricidade atmosférica e funcionários do citado INPE, os raios bola não são caracterizados justamente por uma explosão e por uma pequena temporalidade. Eles duram muito pouco tempo… Eles duram muito pouco tempo e depois desaparecem com um estrondo. São muito interessantes!
Mas o fenômeno de Capão Redondo, que os ufólogos consideram uma sonda ufológica, demorou muito tempo, não teve estrondo e parecia ser inteligentemente controlada. Ademais, era noite de tempo bom, sem nuvens ou tempestades. Como seria possível surgir um raio bola nestas condições? Os raios bola são um dos fenômenos mais interessantes que conheço…
Esse era certamente bastante interessante, porque chegou a ser filmado por vários minutos. Eu nunca vi essa filmagem, mas gostaria de ver.
Mas mesmo assim o senhor deu sua opinião de que era um raio bola, em matéria levada ao ar pela Rede Globo. No dia seguinte, a emissora consultou dois meteorologistas do INPE, especialistas no fenômeno dos raios bola, que negaram completamente qualquer possibilidade que se tratasse de um. E aí, professor Mourão, como fica isso? Bem, na verdade existem poucos registros de raios bola e não há um estudo muito profundo sobre isso. Você está dizendo que os consultados eram especialistas, mas não há nenhum especialista neste fenômeno no Brasil. Primeiro, porque é muito difícil a observação de tais raios. Tem estudiosos até que não acreditam sequer que existam. Eu acredito.
E o senhor ainda sustenta que o fenômeno em Capão Redondo tenha sido um raio bola? Mesmo com o fato da observação ter durado mais de meia hora? Eu acho que era. Tudo indica. Eles podem durar muito tempo.
E quanto ao objeto ter feito um movimento aparentemente inteligente, acompanhando o declive do terreno, o contorno das construções, subindo e descendo telhado, desviando-se dos postes etc, como explica isso? Deve haver um exagero na descrição das testemunhas quanto a isso.
Mas estes detalhes do movimento da sonda estão na filmagem em vídeo, que mostra isso perfeitamente. Como disse, eu gostaria de ver a filmagem.
Talvez aí o senhor mudasse de idéia… Não creio, mas o tal objeto desapareceu como?
Sumiu lentamente, sem explosão e sem as características de um raio bola. É… No fundo, a gente chega à conclusão de que isso deve ser pesquisado mais a fundo. Não podemos confundir tais fenômenos com fatos supostamente extraterrestres, como defende a Ufologia.
Mas a Ufologia lida justamente com a hipótese de que somos visitados por veículos e seres provenientes de fora da Terra. Assim, objetos como essa sonda, observada sob as circunstâncias descritas, se encaixam na definição de extraterrestres. Como a Ufologia vai dissociar o seu trabalho da pesquisa de vida extraterrestre? É justamente por isso que a Ufologia é questionada [Pela ciência], porque já parte para a definição do fenômeno, para o qual atribui uma natureza antes de checar a possibilidade.
Certo, mas a atribuição de uma natureza não terrestre para tais veículos e seres só é feita após muita pesquisa. Mesmo entre seus colegas, como o astrofísico J. Allen Hynek, que era da Northwestern University, em Chicago, tais conclusões já são aceitas. E ele foi seguido por muitos outros, inclusive Carl Sagan, ainda que este não admitisse publicamente saber da origem extraterrestre dos UFOs. Não sei, mas acho que ainda não podemos aceitar tal conclusão. E acho que o Sagan tinha uma posição diferente da do Hynek.
Bem, publicamente ele tinha uma posição diferente. Mas ambos trabalhavam no mesmo departamento de outra universidade, Cornell, em Nova York, e Hynek chegou a aludir várias vezes que seu colega Sagan sabia das coisas… Você conhece a célebre frase do Hynek, quando diz que não tinha nenhuma ferramenta científica adequada para comprovar os UFOs?
Não, esta eu não conhecia. Mas sei de uma outra frase dele, proferida durante o 2º Congresso Internacional de Ufologia, que aconteceu em Brasília, em 1983, quando eu o conheci. Ele dizia que os discos voadores são tripulados por seres extraterrestres e que esses seres estavam nos ensinando a jogar dados com suas manobras e manifestações, de uma maneira interativa. “Eles estão nos ensinando as regras do jogo”, dizia Hynek. É, mas aí entra novamente a mesma questão: como é que eu posso acreditar nisso? É uma hipótese, apenas. Ele acreditava nisso, pronto. Mas, agora, ele tinha como comprovar essa hipótese? Creio que não. O problema da Ufologia é que ela tem que usar o método científico.
É justamente o que nós buscamos. Mas vocês não usam os meios científicos, porque já partem do princípio de que um UFO é um objeto material, e daí o rotulam de extraterrestre.
Não, UFO é apenas um fenômeno, que pode ser qualquer coisa. Apenas depois de muito bem investigado, quando depuramos dele toda possibilidade de ser algo conhecido, é que o consideramos extraordinário, fora do ordinário, quando então passamos a investigá-lo com os métodos que dispomos. E estamos sempre buscando comprovar a teoria de que sua origem é extraterrestre através das observações, das pesquisas, seguindo o método. E para tanto, buscamos nos assessorar das pessoas que têm capacidade de nos dar subsídio para isso. O problema mais difícil, creio, é aliviar o choque que representa a forma como vocês usam seus métodos para a comunidade científica. Ela rejeita o fato de que vocês atribuem uma origem para o fenômeno, o que é um erro. Vou te dizer uma coisa: eu sou totalmente aberto a tudo. Tanto que uma vez apareceu um objeto estranho quando eu estava no observatório, fazendo movimentos incríveis.
O senhor viu um UFO? Em que ano? Através de um telescópio? Vi algo a olho nu. Já deve ter uns 20 ou 25 anos. Era um dia, perto do pôr-do-Sol. Aliás, o Sol tinha se posto e já era noite. Era um objeto que se deslocava e fazia movimentos totalmente aleatórios. Perguntei-me se poderia ser inteligente, pois era incrível! Eu estava com um colega.
E o que houve? Aí eu falei a ele: “saia correndo e apanhe a luneta de procurar de cometas” [Referindo-se a um objeto bem menor que um telescópio, além de móvel]. Quando nós vimos através da luneta, sabe o que era? Era um papagaio, uma pipa, dessas que se desprendem da linha e ficam solto no céu. E a luz da cidade a iluminava, dando a ela uma estranha característica.
Creio que o problema mais difícil é aliviar, para a comunidade científica, o choque que representa a forma como os ufólogos usam seus métodos. A ciência rejeita o fato de que vocês atribuem uma origem para o fenômeno, o que é um erro. Vou te dizer uma coisa: eu sou totalmente aberto a tudo. Tanto que uma vez apareceu um objeto estranho quando eu estava no observatório
E se aquilo que o senhor viu tivesse sido algo bem mais complexo, como um objeto desses que a Ufologia defende como sendo extraterrestre, o senhor teria admitido publicamente uma observação dessas? Teria.
Há 25 anos atrás? Mesmo assim. Foi por isso que eu mandei meu colega apanhar a luneta, para confirmar o que era aquilo.
O senhor tinha expectativa de que fosse o quê? Qualquer coisa. Mas, para mim, se aparecer um extraterrestre aqui, eu aceito. Seria até melhor, pois comprovaria uma das teorias que existem para o fenômeno dos UFOs, a de que existe vida nos outros planetas.
Mas se as pessoas não recebem subsídios para acreditar neles, especialmente com a maioria dos integrantes da comunidade científica rejeitando a origem extraterrestre, se aparecerem UFOs abertamente será um choque. O que o senhor acha? A maioria hoje está dividida. As pessoas questionam, acham que o universo é muito grande. Veja você vê minha posição, que é apenas uma entre tantas. Agora eu vou contar um caso pra você, mas não vou dizer o nome da pessoa que o viveu, pois é um astrônomo que eu respeito muito.
Muito bem, pode confiar em minha discrição. Também não vou dizer em que observatório ele trabalha, pois se não você acaba descobrindo [Risos]. O fato é que ele estava observando o céu e me disse: “Hoje eu vi uma coisa incrível, que vai contra as teorias científicas. Só podia ser uma nave”. Pela descrição, era uma dessas naves-mãe, que estava junta de outras que vocês chamam filhotes.
O senhor quer dizer sondas ufológicas? Sim, era uma nave mãe e as sondas. E o sujeito me disse: “Mourão, aquilo atenta contra os princípios da Astronomia”. Ele viu aquele conjunto no céu. Os objetos menores estavam em torno da nave-mãe e iam subindo, mas esta se mantinha na mesma altitude.
Qual era o formato e tamanho daquela nave-mãe? Ele a descreveu com o formato de um disco. Mas daí eu virei para ele e disse: “Você observou bem? Você estava olhando pela 46, não é?” Mas ele estava observando em uma 21, que é uma luneta equatorial [Referindo-se respectivamente a tipos de luneta que têm 46 e 21 cm de diâmetro].
Uma luneta equatorial? O que ela tem de especial e diferente das outras? Tem que tudo que você vê através dela fica de cabeça para baixo ou forma uma imagem inversa. Ou seja, ele estava vendo um balão com uma luneta equatorial e não se deu conta disso. Por isso, a imagem apareceu bizarra, contra as leis físicas.
Mas um profissional desse gabarito não iria notar um erro tão banal, não perceberia que a imagem estava invertida, especialmente o que estava ao fundo? Bem, ele quase me xingou [Risos]. E nunca mais falou sobre aquilo, porque sabe que se enganou. Mas tem muita gente que se engana com balões.
É, mesmo astrônomos experientes… Isso pode acontecer, assim como tem muita gente que viaja…
Mas, voltando à Ufologia, o senhor mantém sua opinião de que seres extraterrestres podem até existir, mas não estão visitando a Terra? Mantenho. Não sei se eles estão nos visitando, e isso é algo que eu não posso afirmar. Acho que, dentro de tudo que temos visto até aqui, só há hipóteses e nada comprovado. Até o momento, os tais discos voadores são apenas objetos não identificados.
O senhor acredita que eles permanecerão não identificados por muito tempo, ou que teremos uma resposta para isso rapidamente? Não posso estimar, mas creio que esta é uma questão governamental. Basta que se invista um pouco mais de dinheiro [Nas pesquisas] e poderemos ter a resposta. Mas vou ser sincero com você: nenhum caso ufológico até hoje me convenceu que já tenha acontecido um contato com outras civilizações.