De todos os lugares inóspitos de nosso planeta, talvez nenhum seja tão misterioso quanto a Antártida. Sua existência, intuída com base no princípio de equilíbrio e harmonia pelo filósofo grego Aristóteles, milênios antes de sua descoberta, só foi confirmada por volta do século XVI com as viagens de Américo Vespúcio. Os estudiosos, entretanto, acreditam que os povos que habitavam a América do Sul já conheciam, havia muito, sua existência.
A região é algo difícil de se imaginar. É um desafio mental pensar em um enorme território onde não cresce uma só árvore, onde não há estradas ou animais como conhecemos de outras áreas do mundo. No verão, seu território abrange 14 milhões de quilômetros quadrados, ou seja, é maior do que a Europa, maior do que a Oceania e apenas menor do que a América do Sul. Sua extensão prolonga-se por vastas barreiras de gelo sobre o mar, cuja amplitude varia ciclicamente segundo as estações, o que lhe valeu também o nome de Continente Pulsante. No inverno, quando grandes porções do oceano congelam, alcança 30 milhões de quilômetros quadrados.
E quanto mais aumenta a sua superfície, mais decresce sua população. Com efeito, no inverno há pouco mais de mil habitantes espalhados em cerca de 40 bases de pesquisa, mas no verão podem chegar a cerca de 10 mil pessoas, somando-se cientistas, militares, familiares e turistas. É importante lembrar que durante o inverno não há navegação possível na região e as temperaturas chegam a 50 graus negativos. Este artigo, que se baseia na obra UFOs na Antártida [Código LIV-038 da Biblioteca UFO, 2016], busca unir aos mistérios antártidos o enigma dos UFOs, apontando casos reais e oficiais registrados pela Marinha Argentina e pelos pesquisadores lotados nas unidades de pesquisa científica existentes no Continente Branco.
FONTE: GENETIC SOCIETY
A base chilena Arturo Pratt, alvo de inúmeros avistamentos ufológicos nos anos 60 e 70, continua em operação
Para que o livro UFOs na Antártida pudesse ganhar vida, este autor pesquisou o assunto por dez anos e teve a sorte de conhecer, e conseguir reunir, muitas das testemunhas originais, todos homens da Marinha que há anos não se viam. O reencontro desses antigos camaradas enriqueceu muito a qualidade da pesquisa, pois onde uma testemunha tinha dúvidas sobre os eventos, outra se lembrava bem dos fatos, e assim fomos construindo — ou melhor, reconstruindo — os diversos eventos presenciados por aqueles homens.
Obviamente, a pesquisa documental e jornalística permeia toda a obra, servindo muitas vezes de guia para conseguirmos datar e catalogar os diversos acontecimentos que invadiram as águas antártidas da primeira para a segunda metade do século passado. Os casos foram ruidosos — e mesmo que parte deles tenha ocorrido em uma época de repressão ditatorial, algo sempre saía publicado nos periódicos. No livro, detalhamos como se deu a divulgação dos casos e suas repercussões.
A difusão de vários incidentes ocorridos na década de 60, que veremos mais adiante, fez com que os jornais da época lembrassem um famoso Caso Orrego, ocorrido em 1949, quando um alto oficial do Chile, o comandante Augusto Orrego, declarou que vários UFOs haviam sido fotografados na Antártida. As fontes mais confiáveis encontradas indicam que os fatos ocorreram na Base Antártida Arturo Pratt, em 23 de fevereiro de 1949. As declarações de Orrego foram sensacionais, mas muito concisas: “Durante uma noite esplêndida na Antártida, vimos discos suspensos um sobre o outro girando a uma velocidade tremenda. Temos fotografias para provar o que víamos”.
É difícil, a partir desse breve relato, construir-se uma imagem mental do que foi observado. O que seriam “discos um sobre o outro”, girando velozmente? Na época, também foi dito que, além das fotografias, haveria mais de 300 m de filme em película colorida mostrando o objeto. Nos anos seguintes, diante da curiosidade que despertou o caso, a Marinha Chilena respondeu com uma sequência de contradições e desinformações, de modo que motivaram o eminente pesquisador Jacques Vallée a destacar o episódio como um exemplo paradigmático de ocultamento oficial.
“As fotos não existem”
Em 1951, o major Donald Keyhoe, diretor da National Investigations Committee On Aerial Phenomena (NICAP), fez os trâmites na embaixada do Chile em Washington para obter uma cópia dos filmes, mas o pedido foi negado alegando-se que o material havia sido classificado e não se achava disponível ao público. Em 1953, o investigador do Civilian Research, Interplanetary Flying Objects (CRIFO) Leonard H. Springfield enviou uma carta ao chefe da missão naval chilena nos Estados Unidos, e em 23 de dezembro recebeu uma curiosa resposta, dizendo que “a esse respeito, desejamos informar-lhe que recentemente recebemos uma comunicação do capitão Orrego, que declara não ter visto nenhum UFO sobre a Antártida em 1948. Portanto, as fotografias solicitadas pelo senhor, não existem”.
Do estrito ponto de vista da burocracia militar, a resposta estava literalmente corretíssima — nenhum UFO fora visto pelo capitão Orrego em 1948, porque ele os vira em 1949. E nós, que passamos por ditaduras militares na América Latina, conhecemos bem esse tipo de argumentação, tanto lapidares quanto absurdas. Porém, os ufólogos norte-americanos estranharam a resposta e Springfield reclama que, “se as fotos não estão disponíveis por terem sido classificadas, primeiramente têm que ter existido”.
Para aumentar as contradições, um documento liberado pelo Escritório Federal de Investigação (FBI) cita o episódio em termos positivos, mencionando-o como autêntico. “A Força Aérea Chilena tem trabalhado no tema desde 1949, quando várias fotos foram tiradas por um grupo de militares na Antártida”, dizia o documento. Portanto, uma vez mais o silêncio oficial caiu sobre os informes do comandante Orrego, e suas intrigantes fotos e filmes jamais foram divulgados.
A década de 60
Em nosso livro listamos e detalhamos uma série de ocorrências dos anos 50 e as circunstâncias que as acompanharam, mas neste artigo, por óbvias questões de espaço, não será possível fazê-lo. No entanto, vale a pena ressaltar que, contrariamente ao que poderia indicar o senso comum, desde que as denúncias sobre UFOs começaram a se tornar públicas, a partir de 1947, a Marinha Argentina manifestou um vivo interesse pelos objetos voadores não identificados — a ponto de haver criado, em 1952, sua primeira comissão de pesquisa para coletar testemunhos, imitando o critério utilizado pela Marinha dos Estados Unidos, na época da Guerra Fria.
A essa iniciativa logo se seguiram outras, com intenção similar, e dez anos depois a Marinha instaurou a Comisión Permanente de Estúdio del Fenómeno OVNI (Copefo), integrada pelos capitães de fragata Constantino Núñez e Omar Roque Pagani, e pelos jornalistas Eduardo Azcuy e Guillermo Gainza Paz. A figura mais relevante da equipe era o capitão médico Constantino Núñez, chefe do Laboratório de Física da Escola de Mecânica da Marinha, notável especialista em energia nuclear que foi o representante argentino perante o Comitê Científico para o Estudo dos Efeitos das Radiações Atômicas, da Organização das Nações Unidas (ONU).
A partir de 1947, a Marinha Argentina manifestou interesse pelos UFOs, a ponto de ter criado, em 1952, sua primeira comissão oficial de pesquisa e de coletar testemunhos, imitando o critério utilizado pela Marinha dos Estados Unidos
A equipe da Copefo teve uma estreia inesperada quando ocorreram alguns fatos realmente extraordinários bem no nariz dos militares durante uma semana de maio de 1962. E isso em uma época conturbada para a Argentina, pouco mais de um mês após o golpe mi
litar que depôs o presidente Arturo Frondizi, em março de 1962. Na ocasião, houve uma sequência de avistamentos de UFOs em uma das áreas nevrálgicas da Arma, na importante região que compreendia a Base Aeronaval Comandante Espora, o Destacamento Naval Puerto Belgrano, a cidade de Baía Blanca e algumas localidades vizinhas.
Naqueles locais infestados de marinheiros, de navios e de aviões de guerra foi observada uma sucessão de fenômenos aéreos que até hoje permanece, em sua maioria, inexplicável. Foram dez dias seguidos de um formidável “carnaval celeste”, que teve por testemunhas desde os mais altos oficiais da Marinha até o mais humilde dos moradores baienses. Como já haviam feito com outros países em outras ocasiões, os UFOs deixaram muito claro para os argentinos que não se importam com as fronteiras ou hierarquias terrestres.
Casos incríveis
Na madrugada de 13 de maio de 1962 dois objetos sobrevoaram Baía Blanca, Cipolletti e outras localidades. Eram esverdeados e deslocavam-se à grande velocidade, um muito perto do outro. Observações similares ocorreram em La Pampa, Mendoza e outras províncias [Estados]. Foram contabilizados 54 avistamentos apenas naquele dia nas províncias centrais do país, mais uma observação no Brasil e outra no Paraguai — o grande número de casos poderia indicar a passagem a um meteoro à grande altitude, que talvez tivesse se partido em dois por causa da fricção. Mas será?
Essa explicação seria perfeita não fosse o fato de que na mesma madrugada, e à mesma hora, 04h30, um grupo de caminhoneiros tivesse vivido uma experiência incrível, com lances cinematográficos. Tudo começou quando os motoristas de um comboio composto por três caminhões que viajava de Baía Blanca até Jacinto Aráuz, em La Pampa, pela Estrada Nacional 35, avistaram rente ao chão uma luz branca que se acendia e apagava intermitentemente. Eles diminuíram a velocidade e baixaram os faróis, imaginando que houvesse alguém em apuros.
FONTE: VOX
Maior do que vários continentes, a Antártida mantém escondidos mistérios diversos, inclusive avistamentos ufológicos
De repente, viram se acender uma fileira de 20 ou 30 luzes retangulares, como janelas de um trem, o que os fez pensar que houvesse dois micro-ônibus parados ali, um de frente para o outro. Então, a fileira de luzes começou a se elevar, intensificando seu brilho, e se acenderam dois focos verdes, um em uma das extremidades e outro no meio das luzes. O objeto cruzou a rodovia emitindo um facho de luz oblíquo para baixo, e quando já estava alto no céu os motoristas o viram se dividir em dois, cada um deles com uma luz verde em sua extremidade. No dia seguinte o local do pouso foi examinado e foram encontradas marcas e um resíduo esbranquiçado.
Após as análises feitas pela Marinha, constatou-se que o resíduo continha carbonato de cálcio e de potássio, materiais bem comuns em nosso planeta. Mas os casos não pararam ali. Em 18 de maio, o pessoal do Aeroporto de Baía Blanca registrou um objeto que voava à grande velocidade para o sul. No domingo seguinte, vários observadores, entre eles os policiais de um destacamento na Rodovia 3, viram um artefato luminoso que girava continuamente enquanto voava à baixa altitude sobre o campo localizado atrás do aeródromo — as testemunhas acompanharam o avistamento até o final, quando o aparelho se elevou em sentido vertical e desapareceu.
Dados oficiais
Na segunda-feira, dia 21, várias testemunhas observaram a passagem lenta de um objeto branco “do tamanho de duas ou três lâmpadas de mercúrio”, segundo testemunhas. Um repórter do jornal La Nueva Província conseguiu com sucesso tirar várias fotografias durante os 20 minutos de observação. Entre as muitas testemunhas se encontravam o contra-almirante Eládio Vásquez, comandante da Área Naval Puerto Belgrano,,,,, e seu chefe, o capitão-de-navio Aldo Molinari. Por outro lado, o capitão Mac Kinlay, chefe de meteorologia da Base Espora, assegurou de forma contundente que nenhum balão radiossonda havia sido lançado dali.
No dia seguinte, em busca de dados oficiais, os jornalistas do diário local foram entrevistar o capitão Luis Sánchez Moreno, chefe da Divisão de Informações de Puerto Belgrano. Longe de refugiar-se em evasivas ou em silêncio, o militar superou as expectativas dos cronistas, acrescentando casos recentes que eles desconheciam. Moreno relatou aos jornalistas que a Marinha Argentina mantinha, desde 1952, “uma constante preocupação com o aparecimento de objetos não identificados no espaço, do mesmo modo que faz a Aeronáutica. Em tal atividade, coincidimos com a preocupação que se observa em muitos países do mundo”.
Questionado sobre se acreditava na existência de UFOs, Sánchez Moreno não usou subterfúgios: “Particularmente posso dizer que os vi. Foi em fevereiro de 1955, em Mar del Plata. A observação aconteceu na companhia de um capitão-de-fragata e de um sinaleiro de nossa Marinha. O avistamento ocorreu várias vezes e durante 10 ou 15 minutos tanto à noite quanto de dia. Logicamente não se tratavam de estrelas nem de planetas, senão de corpos móveis, de deslocamento incrível e de irregularidade no seu itinerário”.
Tratamento oftalmológico
Além disso, Moreno também lhes contou que na madrugada do domingo, dia 13 de maio, quatro pessoas que viajavam em um veículo viram três objetos rentes ao chão, que iluminavam a cabine por dentro como se fosse de dia — a luz era de tal forma forte e brilhante que uma das testemunhas teve que se submeter a um tratamento oftalmológico porque o brilho lhe ferira a retina.
Na terça-feira, 22 de maio, a partir das 19h10 e durante 35 minutos, vários pilotos navais que voavam em formação próximo à Base Espora viram, em diversas oportunidades, um objeto alaranjado — ou talvez mais de um — que fazia evoluções não convencionais. Às 19h20, o aluno piloto Roberto Wilkinson, voando a 1.200 m de altitude, informou que sua cabine fora subitamente iluminada por um objeto situado atrás do avião. O UFO luminoso passou, então, por debaixo de seu aparelho, perdendo-se de vista entre as luzes da cidade. Durante a ocorrência, o rádio da aeronave deixou de funcionar.
A saga de observações que elencamos é apenas uma amostra dos casos produzidos em somente dez dias, e dentro de uma área muito limitada como é a periferia de Baía Blanca. Os relatórios sobre todos esses casos registrados, e investigados, por homens da Marinha, jamais vieram à luz. Mas as coisas não terminariam ali, naquele agitado céu do ano de 1962. Repetidos relatos de novas observações, feitas em diferentes bases militares em todo o país, se prolongariam até julho e agosto.
Casos de 1965
Três anos após os avistamentos citados acima, os UFOs voltaram a surgir sobre o território gelado do Continente Branco. Os eventos foram observados em duas localizações precisas: a Ilha de Laurie, situada no arquipélago de Orcadas do Sul, e a Ilha Decepción, que forma parte das Ilhas Shetland do Sul. Os dois locais estão separados por 650 km de mar aberto e perigoso, no Estreito de Drake.
Decepción encontra-se a oeste da Península Antártica e a uns 1.000 km ao sul de Ushuaia, na Terra do Fogo. A Ilha Laurie, por outro lado, se localiza a leste da península e está a 1.500 km a sudeste de lá. Tomamos Ushuaia, a “Cidade do Fim do Mundo”, como ponto de referência para que seja mais fácil visualizar as distâncias que se prolongam mais ao sul desse fim do mundo, até aos arquipélagos austrais que ainda hoje somente são praticamente desconhecidos. Na Ilha Laurie funcionava o Destacamento Naval Orcadas, da Marinha Argentina, base que continua ativa atualmente, e na Ilha Decepción havia três bases, já desativadas: a Base B, da Base Britânica de Pesquisa Antártida (BAS), a Base
Presidente Pedro Aguirre Cerdá, da Força Aérea Chilena (FACH), e o Destacamento Naval Decepción, da Marinha Argentina.
Os vastos campos de mar congelado tornavam impossível qualquer deslocamento de embarcações entre as ilhas — o acesso às mesmas, inclusive com navios quebra-gelo, só é possível no período de verão, que vai do mês de outubro ao mês março ou princípios de abril, e é sempre muito arriscado para um barco chegar à Antártida próximo da época da Páscoa. Outro dado a considerar é que há meio século não existia internet nem telefones celulares e a experiência com ligações telefônicas via satélite estava no início. A comunicação entre as bases antárticas e das bases para seus comandos era feita por rádio de ondas curtas e em código Morse, sistema que, embora já fosse antigo na época, garantia maior confiabilidade e alcance de sinal, mesmo sob más condições atmosféricas.
Daniel Perissé
Também seria impossível falarmos sobre os casos de 1965 sem mencionarmos o capitão-de-fragata aposentado Daniel Alberto Perissé. Perissé foi testemunha, investigador e divulgador dos fatos ocorridos em 1965 e por décadas suas declarações foram uma fantástica fonte de informação. Como chefe do Destacamento Naval Decepción naquele ano, o capitão participou do avistamento de 03 de julho, redigiu os radiogramas para informar os comandos da Marinha e depois se pôs à disposição da imprensa, pronto para explicar o sucedido em sua sala de rádio na base. O militar sempre respondeu aos repórteres com a cordialidade e a precisão de palavras que o caracterizavam.
No dia seguinte o local do pouso foi examinado e foram encontradas marcas e um resíduo esbranquiçado. Após análises feitas pela Marinha, descobriuse que continha carbonato de cálcio e de potássio, materiais comuns em nosso planeta
Depois da primeira grande difusão sobre os casos na imprensa, durante os meses de julho e agosto de 1965, Perissé manteve-se em silêncio até seu retorno ao continente. Logo depois aderiu à Comisión Permanente para el Estúdio del Fenómeno OVNI (Copefo), que naquela época estava sob a direção do capitão Omar Roque Pagani — as atividades da comissão eram reservadas e continua-se sem saber até hoje que destino tiveram seus volumosos arquivos.
Avistamentos de junho
Em meados da década de 70, coincidindo com a paulatina extinção da comissão oficial, Perissé intensificou os seus contatos com estudiosos particulares, para quem se converteu na referência indispensável sobre os UFOs vistos em 1965 na Antártida. Sempre disposto a difundir o tema, o capitão o fez através de conferências, artigos, reportagens e em seu único livro, publicado no ano de 2008. Vejamos agora os casos.
Ao todo, foram nove as observações de UFOs realizadas na Antártica naquele ano. Este autor possui o registro pormenorizado de seis delas, ocorridas na área da Ilha Decepción. Das três restantes conhecidas, duas ocorreram em Orcadas, uma no dia 03 de julho e outra posterior, que não foi tornada pública, verificada em uma noite do mês de agosto do ano de 1965. O que se sabe é que o pessoal do destacamento observou sobre o mar congelado da Baía Uruguai, ao norte da Ilha Laurie, quatro UFOs que, em formação losangular, se deslocavam para a esquerda dos observadores, cada um deles oscilando levemente em sentido vertical.
Enquanto se observava os objetos em movimento, surgiu em um dado momento da superfície do mar, na vertical da formação de UFOs, um lampejo de brevíssima duração, como um flash que iluminou a ilha como se fosse pleno dia. Os UFOs prosseguiram seu lento deslocamento até desaparecerem por trás das alturas localizadas a oeste da ilha. A terceira observação ocorreu nas proximidades da Base Esperanza, do Exército Argentino.
FONTE: RAFAEL AMORIM
Também há ocorrências de UFOs entrando e saindo dos mares e oceanos ao redor do Continente Gelado, os objetos submarinos não identificados
Dos casos ocorridos em Decepción, o primeiro se deu em 07 de junho, às 19h50, no destacamento naval da ilha. O céu estava totalmente nublado, de forma que não se viam a Lua ou as estrelas, ainda que esporadicamente. Segundo a testemunha, encarregada da observação meteorológica do destacamento — atividade de desempenhava a casa três horas —, o artefato que se parecia com uma luz amarelo clara tinha bordas bem definidas e permaneceu parado por cerca de cinco segundos a uma distância estimada de 2.000 m. Depois disso se moveu rapidamente e desapareceu de vista.
Logo em seguida, às 02h20 de 09 de junho, no mesmo destacamento e sob as mesmas condições atmosféricas, o objeto foi novamente visto parado, dessa vez por cerca de quatro segundos, por um marinheiro que fazia a checagem dos instrumentos. Como na observação anterior, o UFO se deslocou muito rapidamente. Após dois segundos do desaparecimento do objeto, pode-se perceber um som grave de pouca intensidade que logo desapareceu.
Os UFOs de julho
Alguns dias mais tarde, em 20 de junho, às 16h20, na base chilena Pedro Aguirre Cerdá, várias testemunhas viram no céu escuro e estrelado um objeto maior e mais brilhante do que as estrelas. Após pouco tempo, o UFO tornou-se alaranjado, sólido e com bordas definidas e passou a realizar várias e velozes evoluções em ziguezague, fulgurando e mudando de cor. O tamanho aparente do artefato foi comparado ao de um avião voando a 3.000 m de altitude. O artefato desapareceu por trás de um morro e, segundo as testemunhas calcularam, movia-se a 800 km/h.
O dia 02 de julho de 1965 foi uma noite seca e limpa, de céu estava estrelado. Havia Lua, mas com fraca luminosidade. Às 19h15, na Base Britânica de Pesquisa, várias testemunhas viram um objeto luminoso estático no céu, brilhando com luzes nas cores verde e vermelho, e eventualmente amarelo. O UFO tinha bordas definidas e, embora tenha sido visto estático em um primeiro momento, logo começou a fazer evoluções e movimentos em ziguezague e paradas bruscas — o avistamento perdurou por cerca de 15 a 20 minutos, foi feito por meio de binóculos e o tamanho do artefato não foi avaliado.
No dia seguinte, 03 de julho, ocorreu um novo avistamento, dessa feita na Base Pedro Aguirre Cerdá. As condições meteorológicas não haviam se alterado, o tempo continuava seco e limpo e o céu muito estrelado. Por volta de 19h15, a pessoa encarregada de fazer a observação meteorológica da estação teve sua atenção atraída por um objeto branco que se deslocava pelo céu em velocidade alta e constante, oscilando levemente. O UFO tinha aparência sólida, luminosa e bordas definidas. Na opinião da testemunha, tratava-se de um satélite, o que apenas os levantamentos posteriores poderiam confirmar. O avistamento teve duração de 20 minutos.
O texto explicava em linhas gerais os avistamentos feitos na base argentina e usava a sigla UFO para designar os objetos não identificados. Assim, UFOs viraram discos voadores e a explosiva notícia conseguiu ser colocada nas primeiras páginas
Pouco tempo depois, às 19h42, uma nova observação foi feita por várias testemunhas do Destacamento Naval Argentino Decepción (ARA). As condições climáticas não haviam se alterado e a noite continuava estrelada, limpa e seca. Segundo o relatório feito pelo citado capitão Perissé, as testemunhas avistaram um aparelho circular ou lenticular de bordas indistintas, que possuía centro avermelhado e halo de cores que viravam entre amarelo, alaranjado, verde, azul e branco.
O artefato, que estava à baixa velocidade, fez evoluções por mais de uma hora, algumas vezes pairando estático, outras oscilando, fulgurando, sumindo e reaparecendo. O UFO pode ser visto, inclusive, quando passava por trás das raras nuven
s stratus, e também se pode ver de forma clara que estava na frente de uma camada de cirrus. O objeto foi observado por meio de binóculos e de um teodolito. De acordo com as testemunhas, se parecia com um bico de Bunsen, com o formato de uma bola de rúgbi.
Sobre os avistamentos de 03 de julho, o capitão Perissé explicou que “na Base Presidente Aguirre Cerdá, a presença do objeto luminoso foi observada desde as 19h20 até às 19h40 do sábado, dia 03, quando o artefato se deslocou para o norte e perdeu-se de vista atrás de uns morros. Dois minutos depois apareceu na área de Decepción. Nessa época do ano, a luz solar se estende desde às 10h20 até às 15h30. A partir das 16h00, a escuridão é total, o que permitiu vê-lo com nitidez. Além do pessoal da base, o espetáculo foi presenciado por três integrantes da tripulação da base chilena, que se achavam ali para serem atendidos pelo médico argentino doutor Mario Hernando Soria”.
Discos voadores são reais
A sequência de avistamentos de 1965 mereceu detalhadas investigações por parte da Marinha, e conforme as notícias se espalhavam e o interesse do público crescia, começaram a surgir algumas distorções em relação ao número de objetos, de testemunhas e sobre o formato e tamanho dos UFOs avistados. Os detalhes que narramos aqui são aqueles constantes nos relatórios oficiais, portanto os mais verdadeiros possível. Também gostaríamos de informar aos leitores que as fotos que foram feitas na ocasião não saíram a contento — parte delas porque o filme utilizado não era adequado e parte porque as condições climáticas não ajudaram.
Muitas vezes a realidade supera a ficção. Como dito no início de UFOs na Antártida, o pânico causado pela famosa transmissão de Orson Welles, em A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells, que foi ao ar em 1938, sugeriu que a capacidade dos meios de comunicação para precipitar a conduta irracional das massas era considerável. Os acontecimentos daquele 30 de outubro de 1938 escreveram uma página memorável na história da opinião pública dos Estados Unidos.
Pouco se fala, porém, que a Argentina também teve um dia em que os discos voadores foram notícia exclusiva nas primeiras páginas dos jornais. A diferença é que as notícias não eram obra de ficção, como ocorrera em 1938, mas fruto da realidade. Contrariamente ao que sucederia anos mais tarde, naquele momento de 1965, a Marinha tinha um vivo e público interesse no estudo dos UFOs, seguindo o critério dos Estados Unidos no marco da Guerra Fria. A Comisión Permanente de Estúdio del Fenómeno OVNI (Copefo) estava em plena atividade quando se registraram os avistamentos e, como já dissemos, desde 1962 a imprensa vinha dando grande cobertura a qualquer incidente ufológico. Assim, em 07 de julho de 1965, os discos voadores foram a notícia do dia. O impacto na imprensa nacional foi enorme, com manchetes em tom de catástrofe nas primeiras páginas. O jornal La Razón chegou ao extremo de dedicar ao tema toda a sua primeira página, onde o desenho de um disco voador sobre o mapa da Antártida precedia um título intrigante: “Algo está para ocorrer”.
Publicação às pressas
Na verdade, tudo começara no dia anterior, quando um comunicado da imprensa de Santiago anunciava que, segundo a Força Aérea Chilena (FACH), UFOs haviam sido vistos na Antártida, com testemunhos que envolviam as bases antártidas de três países. Quando a notícia chegou à Argentina, foi colocada às pressas nas últimas edições dos jornais, sem que sequer se elaborasse algo sobre os fatos. A partir disso, criou-se toda uma história que, somada ao fato de que a Marinha Argentina não queria ficar atrás do comunicado vindo da Força Aérea Chilena, acabou por envolver Perissé, que redigira um texto chamado Avistamento de Objetos Voadores Não Identificados na Antártida Argentina, para ser inserido no informe Primeiro Comunicado Oficial da Secretaria Da Marinha, sobre o assunto dos avistamentos.
A mágica dos jornalistas
O texto do militar explicava em linhas gerais os avistamentos feitos na base argentina e utilizava a sigla UFO para designar os objetos não identificados vistos pelas testemunhas. Assim, por mágica dos jornalistas, UFOs viraram discos voadores e a explosiva notícia conseguiu ser colocada na primeira página do La Razón de 06 e no dia seguinte replicou-se nos jornais Clarín, El Mundo, Crónica e até nos mais conservadores, como o La Prensa e o La Nación. Pela primeira vez na Argentina e no mundo pôde-se confirmar oficialmente a presença de um disco voador. O título do Crónica foi “Discos Voadores Não São um Mito”. E em sua primeira página se dizia que os UFOs “constam, desde ontem, como pessoa jurídica. A Secretaria da Marinha Argentina assumiu, pela primeira vez, a responsabilidade de reconhecer oficialmente sua existência. A lenda se converteu em realidade”.
O que se seguiu a partir disso foi uma onda incontrolável de notícias que extrapolaram os jornais e alcançaram as emissoras de rádio, com informes e entrevistas constantes e um aproveitamento da situação pelo governo militar que, após uma série de incidentes, precisava de toda a propaganda positiva que pudesse conseguir — a Marinha, em especial, se beneficiou muito de toda aquela onda que se formou, uma vez que dela partiam todos os informes oficiais. Enfim, os casos foram reais, mas a dimensão que tomaram foi insuflada por uma espécie de histeria coletiva que dominou o país e que terminou insinuando que algo de muito ruim estava para ocorrer com a Argentina e, quiçá, com o mundo. Além disso, avistamento de algo desconhecido no céu foi transformado em avistamento de discos voadores, ou seja, de naves de outros planetas.
FONTE: JIM NICHOLS
Há quem afirme que militares nazistas mantiveram, e ainda manteriam, bases de UFOs em cooperação com extraterrestres que lá se enconderiam
A Marinha então emitiu um segundo comunicado, modificando o vocabulário. O segundo documento falava de “um objeto brilhante, como uma estrela de primeira grandeza”. Já não estavam as adjetivações “objeto sólido” e “lenticular”, que remetiam ao estereótipo clássico do disco voador. A alteração era demasiado sutil para que os jornalistas e mesmo o público a percebessem. Porém, não adiantava esperar mais correções, pois os militares nunca haviam sido propensos a pedir desculpas e a imagem do “disco voador antártico” já havia se instalado para ficar.
Como dissemos no início deste artigo, a Antártida guarda muitos segredos e pouco sabemos sobre que fenômenos residem ali e de que forma as forças da natureza, naquela região gelada e extrema do planeta, produzem efeitos físicos que podem estar sendo estudados por alguém mais. O que sabemos é que os eventos foram e continuam sendo reais, e a nós cabe pesquisá-los com isenção e honestidade, longe dos holofotes sensacionalistas e o mais perto possível da verdade dos fatos.