Ufologia dá arrepios
A edição anterior de Ufo provocou calafrios logo nas primeiras páginas, e não por causa da bela capa. Foram as cartas dos leitores que me causaram estupefação. Com raras exceções, o que teve de leitor viajando na maionese foi uma enormidade, com todo o respeito. Para começo de conversa, ninguém tem grande conhecimento de Ufologia. Ninguém. O máximo que alguém pode ter é informação, muita informação. Mas conhecimento, não. É zero vírgula zero. Um leitor pede uma investigação sobre a vida de Steven Spielberg, achando que ele, na melhor das hipóteses, é um ET! E tem a ousadia de dizer “é sério”!
Tudo bem que a matéria sobre visão remota possa ter sido bem escrita, mas continuo sem entender qual a relação com a Ufologia que justifique sua publicação. É assunto para outro tipo de revista. Lá na frente, em Busca de Respostas, outro leitor levanta a hipótese de que Buda também seria um “deles”. E, por fim, ao leitor César A. dos Santos esclareço, mais uma vez, que as críticas nunca são dirigidas aos autores, mas às matérias. E é, sim, papel desse colunista corrigir erros de português. Gostaria de saber qual o critério de escolha para publicação das cartas? Dá para ser mais seletivo? E quando publicá-las, tomar mais cuidado na hora de editar, pois muitas tiveram palavras, frases e parágrafos inteiros cortados.
Já não basta o carnaval de coisas estranhas ao universo da Ufologia e agora aparece mais uma encrenca, esses tais de Rods. E, junto deles, uma baciada de comentários, chutes, certezas, suposições, especulação… O que há, a Ufologia não está mais dando conta da curiosidade? Escrever a coluna dá muito prazer, mas tem momentos em que a paciência fica bem curta! A série de relatos publicados em Mundo Ufológico deveria ser melhor avaliada. Não há uma fonte de referência, dados para confirmação, registro cruzado de informações. Qualquer um pode afirmar que os acontecimentos descritos são meras fantasias, invencionices, devaneios. A Ufo tem que primar pela seriedade. Há muita coisa em jogo aqui, e esta edição, até o momento, está deixando muito a desejar.
A matéria de João Oliveira, O Legado de Jung, chamou-me a atenção por abordar um tema que sempre me interessou. E na leitura dinâmica que fiz, pressionado pelo tempo para entregar esse texto no prazo, fiquei com a sensação de ser bem escrito, não tendencioso e não conclusivo. Apenas informativo, como deve ser. Em contrapartida, tendencioso foi o texto Inesquecível Caso Varginha, que já começa falando sobre a “captura de duas criaturas desconhecidas e possivelmente alienígenas”. Se nem o autor da única obra sobre o caso se aventurou em tal afirmação, baseada em quê a Equipe Ufo a faz?
E aproveitando o embalo, a legenda da foto que abre a matéria Viagem à Terra dos Inkas, de Alcione Giacomitti, extrapolou. Dizer que o arco de pedra foi esculpido pelo tempo foi um tapa na nossa inteligência. E finaliza com “estranhas observações ufológicas”. Existe alguma que não seja? Mas a “viagem” do autor não tem limites: sugerir que as duas máscaras sejam representações de alienígenas foi demais. Então, abri uma exceção aqui e pedi ao editor que publicasse a foto dessa máscara. Peço aos leitores e ufólogos que escrevam para a revista dando sua opinião. Ela foi encontrada em M’Bakutu, África setentrional, em 1972, e somente agora revelada, depois de ter sido descoberta no inventário de um antropólogo recentemente falecido.
Está certo que a Ufo tem que vender seu peixe, mas será que não está exagerando na dose? É UFO nas pirâmides da Amazônia, nas marcas no solo do Acre, nas origens de Buda, nas viagens ao Peru, nas praias do litoral paulista, no espiritismo, em seriados para a tevê… Cuidado, se o trem perder os freios o estrago pode ser irreparável. E para encerrar, com todo o respeito que merece o ufólogo Marco Petit, o seu Projeto Contato é de uma imaturidade perigosamente assustadora. Suas convicções se tornaram uma crença, e, como tal, um passo para a religiosidade do tema, tão combatido por essa coluna.