Temos que ler nas entrelinhas do processo brasileiro de abertura ufológica
Em eventos de Ufologia recentes, tanto no Brasil quanto no exterior — aliás, principalmente lá —, a palavra mais ouvida no palco e nos bastidores era abertura, ou disclosure, em inglês. Tanto nas concorridas palestras quanto nas corriqueiras rodas de conversa que inevitavelmente se formam nos corredores dos congressos, esta palavra é a ordem do dia. Há um visível e crescente clamor por parte da Comunidade Ufológica Brasileira e de todos os círculos internacionais pelo fim imediato do sigilo imposto à presença alienígena na Terra há 60 anos, praticamente desde que se descobriu que ela estava ocorrendo.
Muito já se falou tanto sobre esta absurda campanha mundial de segredo sobre os discos voadores quanto sobre a necessidade de seu fim. Alguns artigos neste sentido, publicados na UFO, são pérolas que terão seu brilho eternamente a iluminar o caminho dos que buscam a verdade sobre nossos visitantes. Entre eles eu citaria o excelente Acobertamento Ufológico: As Razões Para Seu Início e os Motivos Para o Fim Imediato, do co-editor Marco Antonio Petit, publicado na edição 111, de junho de 2005 — justamente a que contém a cobertura da visita oficial e histórica dos integrantes da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) ao Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta) e Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra), em Brasília, em 20 de maio daquele ano.
Como se sabe, este encontro inédito entre os ufólogos civis e os militares da Força Aérea Brasileira (FAB) ocorreu em decorrência da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, que a CBU lançara apenas menos de um ano antes, como um de seus principais resultados. Ele seria seguido pela liberação, até o momento, de quase cinco mil páginas de documentos oficiais e antes secretos sobre UFOs no Brasil, além de centenas de fotos. Entre todo este material, por exemplo, espantam os desenhos coloridos de naves pousadas feitos pelos membros do Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani), o grupo militar criado pela FAB nos anos 60 para investigar o tema.
Grande momento da Ufologia
Outra peça produzida pela abertura ufológica que também causa espécie é o documento intitulado Relatório de Ocorrências, emitido pelo Ministério da Aeronáutica em 02 de junho de 1986 e assinado pelo brigadeiro José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, na época comandante do Comando Geral do Ar. O documento tinha o objetivo de informar o então ministro Octávio Moreira Lima dos espantosos fatos que cercam a chamada Noite Oficial dos UFOs no Brasil, em 19 de maio daquele ano. O que mais chama a atenção é o conteúdo da parte Considerações Finais, que diz claramente que os mais de 20 objetos esféricos de cerca de 100 m de diâmetro cada que fizeram movimentações sobre a Região Sudeste naquela noite “…eram sólidos e refletiam certa forma de inteligência pela capacidade de acompanharem e manterem distância dos observadores, como também por voarem em formação”.
O Governo está abrindo seus arquivos secretos gradualmente, mas até agora só forneceu à Comunidade Ufológica Brasileira a ponta do iceberg, mantendo a sete chaves os documentos mais importantes. Mesmo assim, papéis significativos e reveladores foram liberados. Por quê?
Mais claro, impossível. Este documento é uma das peças mais importantes da já expressiva abertura ufológica brasileira — e se causa perplexidade aos ufólogos brasileiros, causa ainda mais aos de outros países. Tenho tido a oportunidade de cumprir uma intensa agenda de eventos internacionais, onde apresento palestras que versam sobre os diversos aspectos da Ufologia Brasileira, em especial a abertura, que considero nosso grande momento. E nestas ocasiões, em países como México, Itália, Portugal, Chile, Austrália, Estados Unidos etc, transformo no ponto mais importante de minhas conferências a apresentação de documentos como este Relatório de Ocorrências, devidamente traduzidos para os idiomas locais e que faço questão de ler na íntegra.
Meu entusiasmo em fazer isso para platéias e colegas de outros países é recompensada pela satisfação que tenho ao ver estampados nos seus rostos o espanto e a perplexidade com a informação apresentada. Documentos com este teor existem aqui e ali, vazados de quartéis-generais das forças armadas de vários países ou liberados por alguns, tal como os EUA, através de dispositivos como a Lei de Liberdade de Informações. Mas então, por que o espanto e a perplexidade? Pela simples razão de que não se espera que um país como o Brasil, que não tem exatamente no segredo aos UFOs uma de suas prioridades militares, um dia possa ter produzido uma peça tão direta e clara afirmando que os objetos voadores não identificados não apenas são sólidos, ou seja, materiais, como estão sob controle de uma forma de inteligência.
Mas temos que ler nas entrelinhas do processo de abertura ufológica que está em andamento no país. Os integrantes da CBU, que estão sendo atendidos em seu pleito, sabem perfeitamente que o Governo está liberando uma quantidade de documentos que corresponde apenas à ponta do iceberg. O conteúdo mais significativo, volumoso e importante da manifestação ufológica no país continua em total segredo e bem longe dos olhos dos pesquisadores e da sociedade. Sim, não podemos ter a ilusão de que, mesmo com nossos reiterados esforços, a campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, hoje coordenada pelo conselheiro especial da UFO Fernando de Aragão Ramalho, vai ser contemplada com a liberação de todos os segredos guardados a sete chaves há décadas. Isso nunca irá ocorrer.
Liberação acidental ou proposital?
No entanto, se é assim, ou seja, se o Governo libera apenas um pouco do que sabe — e não importa nesta discussão porque o resto ainda é omitido —, como entender peças tão bombásticas como o Relatório de Ocorrências emitido e assinado pelo brigadeiro Albuquerque? Um documento desta envergadura, que tanta agitação produziu na Ufologia Brasileira, teria sido liberado por acidente no meio de um monte de papéis com importância muitas vezes menor? Ou, ao contrário, teria sido liberado propositalmente? E neste caso, com que intenção?
Sou da opinião de que sua liberação não foi acidental, e de que ela teve a função de mostrar aos ufólogos um pouco, pelo menos, do que de mais sério o Governo tem registrado sobre a presença alienígena na Terra. E a razão disso pode ser tanto nos dar um alento para perseguirmos nosso objetivo ou para nos testar sobre como reagiremos à informação que o documento contém. Ou ambas. É como se estivéssemos sendo testados em nossa capacidade de avaliar a seriedade do Fenômeno UFO, da mesma forma como nossos militares o vêem. Ou seja, precisamos ler nas entrelinhas da abertura ufológica que ocorre em nosso país.