por Rogério Chola
Abduções, Varginha, onda ufológica no México e aliens bons de marketing
Começo a coluna deste mês referindo-me a um e-mail que recebi do senhor Luiz Alberto, assíduo leitor da Revista UFO que questiona quais os métodos estatísticos que foram utilizados pela publicação para afirmar, em anúncio sobre filiação ao Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV), na capa traseira da edição 108, que “a cada 6 horas, em média, uma pessoa é abduzida por seres extraterrestres em algum ponto da Terra”. Bem, eu também não sei e adoraria conhecer a resposta…
Comentando o teor da referida edição, refiro-me primeiramente à matéria do parapsicólogo Jayme Roitman, que descreve o histórico encontro entre um ufólogo – Ubirajara Rodrigues – e um médico legista – Fortunato Badan Palhares –, ocorrido num programa de rádio da CBN Campinas. Trata-se do artigo Debate Esquenta o Caso Varginha. Houve momentos no encontro que merecem destaque. Embora entre alguns ufólogos já se sabia que nenhuma nova revelação seria feita no debate, ele foi de extrema importância para o estudo do Caso Varginha. As respostas de Rodrigues, consultor jurídico de UFO, mostram o nível de profissionalismo que a Ufologia pode chegar se seus proponentes agissem de forma mais coesa, didática e, principalmente, se se atualizassem – academicamente falando –, em vez de ficarem simulando conhecimento científico.
Primarismo ufológico — O que tenho visto em certos trabalhos e palestras ufológicas é de um primarismo que ignora completamente conhecimentos clássicos e essenciais a um estudo que deseja ser encarado como sério. Rodrigues foi cuidadoso tanto nas perguntas que fez a Palhares como nas respostas que deu a ele. Os termos que utilizou para se referir aos elementos do Caso Varginha devem ter eliminado de vez o aspecto sensacionalista que o mesmo recebeu através dos anos. A manutenção do sigilo das identidades das testemunhas militares é absolutamente necessária e não sei porque vertentes mais céticas insistem que isso significa que não existam provas de que o caso é legítimo. Ora, alguém sabe o que realmente aconteceu com o presidente Kennedy ou o teor completo das declarações em forma de provas testemunhais que são feitas durante uma
CPI na Câmara dos Deputados? Pois é. Existem coisas que não podem ser tornadas públicas (ainda), e outras que sim.
Ainda com relação ao debate, as perguntas ressaltadas por Roitman em seu artigo são sem dúvida pertinentes. Uma evidência fotográfica do Caso Varginha o tornaria mais ou menos autêntico? A situação envolvendo Palhares num argumento falacioso, sobre seu envolvimento com as ossadas de Perus, e a resposta enigmática que ele forneceu a um estudante de Direito levantam um forte argumento favorável a sua rejeitada – por ele mesmo – participação no caso. Também é hilária a posição de membros das Forças Armadas, de que episódios de natureza anômala, como esses, teriam de seguir os “caminhos burocráticos normais”!
Poder da mídia — Quanto aos demais textos da edição 108, o artigo de Júlio César Goudard realmente é interessante, didático e mostra o poder da mídia sobre o sistema de crenças das pessoas. Não considerei o título da matéria adequado – Alienígenas São Bons de Marketing – e não sei quem o escolheu. Afinal, não são os alienígenas que são bons de marketing, e sim os terráqueos que estão faturando em cima da temática. De qualquer forma, parece existir uma pequena contradição na página 18 da edição, no trecho em que é citada a propaganda da Intel, de que seria “uma referência clara a um caso clássico da Ufologia Brasileira”. E mais adiante se pode ler que “…aparentemente foi ele [O caso clássico] quem inspirou a produção do comercial da Intel”. É inegável o fato de que os aliens se tornaram um eficiente instrumento de marketing, nem sempre utilizado de forma adequada.
Por razões éticas, não farei comentários sobre o texto atualizado que escrevi sobre o Caso México – Análise da Onda Ufológica do México – que, em minha opinião, está praticamente encerrado. Mas refiro-me ao comentário de Jaime Maussán sobre a abertura do governo mexicano sobre UFOs – que até o momento não ocorreu –, perguntando se somente Maussán teve o tão esperado acesso às informações sigilosas e agora nós devemos esperar uma abertura por parte dele? Na didática matéria de Laura Elias sobre o mesmo tema, Aprendendo a Dura Lição Mexicana, é preocupante a declaração do general Vega Garcia sobre porquê os militares não procuraram ajuda de cientistas para compreender os fatos de março de 2004. Além de não saber porquê não o fizeram, Vega disse ainda que “talvez tenha sido porque nós não os conhecemos”. A citação do ufólogo Santiago Yturria, correspondente da Revista UFO naquele país, também merece comentário. Não é porque uma civilização tenha construído monumentos em forma de pirâmides que deva ser considerada avançada – e ainda que fosse, em que sentido seria?
Laura levanta questões pertinentes e fundamentais para a Ufologia e para os ufólogos que gostam de utilizar a ciência como se fosse um sapato – usa-se quando se quer e descarta-se quando o pé começa a doer. Por fim, a matéria Comunicação com Extraterrestres, de Alexandre Carvalho Borges, é interessante como informação, já que é assunto ainda tão polêmico quanto os UFOs. Considerei o título da matéria forçado, o que leva a uma conclusão tendenciosa. Ainda não sabemos o que seria exatamente um espírito ou um ser de outra dimensão, nem que ligações exatamente o tema teria com o Fenômeno UFO. Enfim, como bem escreveu Borges em seu artigo, “só o futuro nos dirá”. Ou não!