Em seu livro Dragões do Éden [Círculo do Livro, 1977], Carl Sagan especulou, entre outras coisas, sobre o que teria acontecido se um dinossauro carnívoro como, por exemplo, o troodonte — uma criatura de pequeno porte, mas com o cérebro proporcionalmente maior do que seus colegas gigantescos — não tivesse sido extinto e pudesse ter continuado sua marcha evolutiva. Teríamos hoje uma civilização de répteis inteligentes?
Em 1981, inspirado pelos questionamentos de Sagan, o geólogo e paleontólogo canadense Darrell Russel, que à época era o curador de fósseis vertebrados do Museu Nacional do Canadá, em Ottawa, decidiu pesquisar mais sobre o assunto e, estudando os fósseis de troodonte, descobriu que o animal tinha dedos semi manipulativos, conseguindo agarrar, em algum grau, determinados objetos. Ele descobriu também que o dinossauro tinha visão binocular,
parecida com a humana.
Após várias pesquisas, em 1982, Russel construiu um modelo de como ele imaginava que fosse a aparência atual do troodonte, caso o animal não tivesse sido extinto. O resultado, chamado de dinossauroide [Mistura de dinossauro e humanoide] gerou muita discussão nos meios acadêmicos e muitos paleontólogos acusaram Russel de “humanizar” demais seu modelo.
Invasões alienígenas
De qualquer forma, o experimento abriu uma interessante linha de pensamento e discussão sobre os caminhos da evolução em diferentes espécies e também sobre o que, de verdade, a ciência conhece sobre o assunto. E não foi só isso que o dinossauroide de Russel fez — imagens de seu estudo começaram a circular pela internet assim que ela começou a existir publicamente, recheando sites sobre reptilianos e invasões alienígenas.
Até hoje vemos reproduções do smartssauro [Espertossauro, em uma tradução livre], como a imprensa o apelidou, ilustrando matérias sobre abduções nas quais os autores juram que o desenho foi feito pela testemunha. Em outros casos, o sauroide de Russel aparece em vídeos ligados a teorias conspiratórias sanguinárias, piores do que àquelas descritas por David Icke. Mais um caso típico que ilustra como a internet cria mitos onde eles não existem. E mais um alerta para aqueles que confiam cegamente em tudo o que leem, sem se preocuparem em investigar melhor o assunto.