“Fugindo da tirania Cylonia, a última nave de combate, Galactica, segue com uma frota desmantelada numa busca solitária de um planeta brilhante, conhecido como… Terra”. Com esta introdução e uma música tema inesquecível, o seriado Galactica, Astronave de Combate [Battlestar Galactica] estreou na rede norte-americana ABC em setembro de 1978. Mesmo tendo durado poucos anos, três temporadas apenas, a série possui ainda hoje fãs no mundo inteiro, sendo eventualmente reprisada nos Estados Unidos. Segundo seu criador, Glen A. Larson, a idéia original da série surgiu nos anos 60, em um projeto chamado Adam’s Ark. Ele tentou vender a produção mais ou menos na mesma época em que a série clássica Star Trek já enfrentava sua queda, o que acabou jogando sua idéia no “espaço”. Somente em 1977, com o sucesso de Star Wars, que o antigo projeto de Larson foi considerado pelos executivos como uma fonte de lucros.
A trama foi baseada nas teorias de Erich von Däniken, que escreveu o livro Eram os Deuses Astronautas? [1970], mostrando que a humanidade teria originado no espaço e que seus indivíduos seriam os antepassados das civilizações clássicas como os egípcios, toltecas, gregos etc. Em vários momentos a série traz referências a civilizações da Terra. A primeira nave de batalha a aparecer é Atlantia, e os capacetes dos pilotos lembra os adornos utilizados pelos faraós. Mas Galactica não se resumiu apenas nas referências de vestuário. Em um dos episódios eles descem em um mundo onde encontram traços dos primeiros colonos vindos de Kobol, planeta de origem da humanidade. Além disso, os planetas, chamados de colônias, trazem o nome dos signos zodiacais, como Caprica, Leo, Virgo, entre outros.
O grande motivo de Galactica ter sido rotulada como um plágio de Star Wars, é que algumas pessoas envolvidas na época com a empresa Industrial Light and Magic (ILM) criada por George Lucas, em 1975, trabalharam nos bastidores da série. O principal deles foi John Dykstra, um dos maiores nomes dos efeitos especiais e produtor dos primeiros episódios, além de Ralph McQuarrie, autor dos desenhos, e Joe Johnston, que anos depois dirigiria Jurassic Park III [2001]. A Fox e a Lucas Film chegaram a processar a Universal, acusando o seriado de ser uma mera cópia de Star Wars, porém após alguns meses de disputa judicial as partes acabaram entrando em um acordo.
Galactica conta a história de como as 12 colônias humanas foram levadas a sua destruição, logo após a tentativa frustrada de paz (estavam em guerra há mais de 1.000 anos) com os cylonios, uma raça de robôs que lembra os centuriões romanos em sua forma. Depois dos humanos serem traídos pelo conde Baltar, um humano com sede de poder, as máquinas investem contra a humanidade e a dizima completamente, assim como as astronaves de combate. A única sobrevivente é Galactica, que agora foge com uma frota de naves com os poucos humanos que sobraram em busca da 13ª colônia, a Terra. O grande problema enfrentado por Adama, o comandante dos refugiados, é que nosso planeta é uma lenda. E agora, como em todas as lendas, eles devem procurar a verdade em sua própria história.
Elenco de atores consagrados — Com um elenco de primeira, Galactica, Astronave de Combate contava com nomes importantes como Lorne Greene, falecido em 1987, e Ben Cartwright, da série Bonanza [1959]. Greene interpretava o comandante Adama. Além disso, a série era composta por Richard Hatch, conhecido pelos seriados All My Children [1970], São Francisco Urgente [1972] e outros, que vivia o filho de Adama, o capitão Apollo, e Dirk Benedict, conhecido no Brasil pela série Esquadrão Classe A [1983], que interpretava o Cara de Pau. Em Galactica, Benedict era o intrépido piloto e mulherengo tenente Starbuck.
Completavam ainda a série Serina, Jane Seymour de Doutora Quinn [1993] e Em Algum Lugar do Passado [1980], com Christopher Reeve, e Boxey, interpretado por Noah Hathaway que trabalhou em A História Sem Fim [1984]. Maren Jensen é Athena e Herbert Jefferson Júnior faz o papel do tenente Boomer. Mais tarde, ele trabalhou em séries como A Super Máquina [1982], Águia de Fogo [1984] e no filme Apollo 13 [1996]. Havia também o coronel Tigh, Terry Carter, Cassiopeia, Laurette Spang, capitã Sheba, Anne Lockhart (filha de June Lockhart, da série original Perdidos no Espaço [1965]), conde Baltar, John Colicos, Lúcifer, Felix Silla (com voz de Jonathan Harris, mais conhecido como doutor Smith), além, lógico, do cão-robô Muffit. O figurino foi criado por Jean-Pierre Dorléac, e a trilha sonora composta por Stu Phillips, interpretada no episódio piloto pela Filarmônica de Los Angeles.
Galactica foi planejada como uma minissérie composta por um episódio de três horas e mais dois longas de duas horas, mas a rede de televisão norte-americana ABC resolveu fazer um projeto para um seriado completo. Antes mesmo de sua estréia na TV, o piloto foi lançado nos cinemas em uma versão reduzida de duas horas de duração, exibida no Brasil em 1979. O capítulo com três horas de duração, intitulado a Saga of a Star World, com cenas não exibidas nos cinemas, passou na ABC em 17 de setembro de 1978. No total foram exibidos 22 episódios, que incluem as três partes do piloto, quatro capítulos divididos em duas partes e um especial de duas horas. Infelizmente podemos notar que o projeto foi realizado às pressas, a fim de se aproveitar do grande sucesso de Star Wars.
Os produtores da série sabiam que fazer um programa semanal estouraria o orçamento, por isso as cenas de batalha eram repetitivas, sempre mostrando momentos do primeiro programa, centralizando o roteiro na história dos personagens e muito menos em combates espaciais. Galactica também teve participações especiais de grandes astros do cinema como Fred Astaire, falecido em 1987, que interpreta um vigarista que dizia ser o pai de Starbuck, no episódio The Man with Nine Lives. Outro importante nome foi o de Lloyd Bridges, falecido em 1988, do filme Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu [1980], que interpretou o comandante Cain da astronave Pegasus. Mesmo com bons roteiros e participações especiais, a série obtinha índices de audiência insatisfatórios, além de um elevado custo, o que resultou no seu cancelamento em abril d
e 1979, exibindo no dia 29 o episódio A Mão de Deus.
Galactica 80 — Em 1980, a rede ABC chamou Larson para produzir um especial de duas horas, o qual os Guerreiros Coloniais e a Frota finalmente chegariam ao planeta Terra. A série teve apenas 10 episódios. A história se passa 30 anos depois e os únicos remanescentes da versão original são o comandante Adama e Boomer. A produção foi um fracasso total, com um orçamento totalmente reduzido e roteiros fracos e sem criatividade. O único bom episódio foi O Retorno de Starbuck, que trouxe Dirk Benedict reassumindo seu papel como o tenente Starbuck. Galactica 80 é totalmente ignorada pelos fãs e pela própria Universal, não fazendo portanto, parte da cronologia oficial da série. O seriado passou por canais no Brasil, como a Rede Globo, em 1981, e foi chamado de Batalha nas Estrelas, mesmo título das obras da série Europa América, que trouxe clássicos da ficção como Star Wars, Feitiço de Áquila e a própria novelização de Galactica em língua portuguesa, mas de Portugal, o que não impediu a compra dos livros pelos fãs, sendo hoje material cobiçado por muitos colecionadores.
Mas a série não foi bem tratada, já que era freqüentemente interrompida pelo futebol. Depois de anos esquecida foi reprisada ainda na década de 80, pela extinta Rede Manchete, incluindo os episódios de Galactica 80. Depois de quase duas décadas no estaleiro, o seriado voltou ao ar em 2003, através do canal Sci-Fi Channel, que produziu uma minissérie totalmente nova, com novo elenco e produção. Aqui a grande diferença fica para os cylonios, que foram criados pelos seres humanos, e para o personagem Starbuck, representado agora por uma mulher. O retorno foi o esperado pelo canal, mesmo com as diversas críticas por parte de fãs.
A minissérie se tornou um programa semanal sendo exibido no Brasil pelo canal a cabo TNT. Galactica está em seu primeiro ano, com um segundo já garantido. No elenco, nomes conhecidos e famosos como Edward James Olmos (de Blade Runner [1982] e Miami Vice [1984], entre outros), sendo o comandante Adama, Mary MacDonnell, de Independence Day [1996], interpretando a presidente Laura Roslin e o próprio Richard Hatch, o antigo capitão Apollo, que fez uma participação especial como um terrorista.
De onde viemos? — Esta é uma das perguntas realizadas com mais freqüência pelas crianças. Principalmente hoje, quando estamos rodeados por tanta informação. Mas as respostas continuam as mesmas de tantos séculos anteriores: Deus. Tudo se resume a esta pequena palavra de quatro letras, o que torna a resposta opressora. Confirmar que o ser humano veio de outros planetas ou até mesmo que foi “criado” por outras civilizações, através da engenharia genética, é complicado, pois a teoria bate de frente com uma história disseminada há mais de 2.000 anos, de que o homem é a imagem e semelhança de Deus. E isso é derrubar conceitos definidos pela igreja, num planeta onde a religião ainda é o poder centralizador.
É a mesma batalha entre criação versus evolução. Onde os que são favoráveis à teoria da evolução são taxados de radicais e ateus. O que se esquece é que estes radicais e ateus são, em sua maioria, crentes também no divino. Apenas de uma forma diferente de confirmar a existência da vida extraterrestre é colocar em xeque 2.000 anos de história. Perguntas irão aparecer. Somos realmente a imagem e a semelhança de Deus? Porque se somos, então quem são esses seres? A humanidade obteve ajuda para criar sua sociedade? Somos filhos de colonos vindos de outros pontos do espaço? Quem e o que realmente somos?
Muitos pontos de interrogação que séries como Galactica introduziram em seus episódios. Esses questionamentos não surgem para destruir um sistema imposto, mas sim para mostrar que a evolução existe e está aí, a do pensamento livre. Taxar de radicais e ateus os favoráveis à “crença” em vida extraterrestre, é impor uma censura de pensamento. E infelizmente isso não é feito apenas pelos meios de comunicação, mas também por indivíduos que ainda crêem que quando caímos, é porque Deus quis.