
Em 04 de setembro deste ano faleceu um homem que deu enorme impulso à Ufologia Brasileira. O brigadeiro José Carlos Pereira fez sua transição no Hospital de Força Aérea Brasileira (FAB), no Galeão, Rio de Janeiro. Pereira ingressou na FAB em março de 1958, formou-se oficial em dezembro de 1963 e ocupou importantes cargos e funções. Dentre elas, foi oficial do Gabinete Militar da Presidência da República, comandante da Base Aérea de Canoas, delegado do Brasil na Junta Interamericana de Defesa, em Washington, subchefe do Estado-Maior das Forças Armadas, comandante da Academia da Força Aérea (AFA) e comandante-geral de Operações Aéreas, sendo transferido para a Reserva em julho de 2005. Mas foi como comandante do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra) que deu sua mais importante contribuição à Ufologia.
O órgão é o mais importante da área de Defesa da República, onde são tomadas as derradeiras decisões para manter a soberania do espaço aéreo brasileiro. Esta entrevista é uma justa homenagem da Equipe UFO a este homem único. Ela foi publicada antes em duas partes nas edições 141 e 142 da UFO, respectivamente em abril e maio de 2008. Sua primeira parte está sendo republicada aqui e a segunda na edição de dezembro. Veja a seguir como aconteceu este diálogo histórico e inédito na Ufologia.
Decepção e surpresa
A seção Mensagem do Editor da edição UFO 140, de março de 2008, foi publicada com o título Militares Confrontados pelos Ufólogos se Contradizem sobre os UFOs, comentando o fato de que autoridades das Forças Armadas vinham repetidamente dado declarações sobre o Ufologia consideradas infelizes pelos ufólogos. O personagem central da questão, na época, era o brigadeiro José Carlos Pereira, que, em relação às afirmações dadas por este editor em entrevista ao site O Globo Online, em 29 de janeiro — de que a Aeronáutica teria centenas de registros de ocorrências ufológicas no País —, teve uma reação inusitada. Embora confirmasse a existência dos arquivos secretos sobre UFOs em poder da Aeronáutica, Pereira disse que “todos sabem que os discos voadores não existem”, garantindo também que “os ufólogos vão se decepcionar com os registros”. Foi uma grande surpresa para os estudiosos do Fenômeno UFO no País, que tinham Pereira como uma das figuras mais favoráveis à realidade da presença alienígena no meio militar brasileiro.
A certeza dos ufólogos quanto à intimidade do brigadeiro com os discos voadores decorria de alguns posicionamentos que o militar adotou publicamente no passado, de franca receptividade, atenção e até mesmo de interesse pelo assunto. Pereira é, de longe, o membro de nossas Forças Armadas que mais se pronuncia sobre o Fenômeno UFO. Tanto que, em entrevista ao deputado Celso Russomanno, apresentada no programa Circuito Night and Day, em 19 de janeiro de 2002, o militar chegou a mostrar no ar um livro de registros de casos ufológicos mantido na sede do Comdabra, em Brasília — apenas naquele ano, o livro contava com mais de 90 episódios de “tráfego hotel” sobre o País, como são chamados pelos militares os casos de UFOs captados por radar. Pereira apenas não permitiu a Russomanno que abrisse o livro diante das câmeras, por ser confidencial.
Outra circunstância já bem conhecida de todos ocorreu durante o encontro oficial — e inédito — que os integrantes da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) tiveram com militares da Aeronáutica, em 20 de maio de 2005. No fim do encontro, que durou quase cinco horas, o próprio brigadeiro Pereira escoltou os ufólogos até a saída do prédio do Comdabra. Durante a despedida, ao ser presenteado com alguns exemplares da Revista UFO, falou: “Agradeço o brinde, mas informo que sempre compro a publicação nas bancas de Brasília”. Informalmente, e sem qualquer restrição, Pereira confirmou aos ufólogos seu grande interesse e elevado nível de informação sobre o assunto. Assim, diante de um posicionamento como este, soou contraditório, para dizer o mínimo, que o brigadeiro tenha dado a inusitada declaração ao O Globo Online, em resposta à afirmação de que a Aeronáutica tem mesmo arquivos secretos sobre UFOs.
Desvendando a contradição
“Não é fácil para os militares admitirem sua inoperância e falta de capacidade de controlar nosso espaço aéreo, quando os ‘invasores’ são discos voadores”, declarou Marco Antonio Petit, então coeditor da Revista UFO, tentando entender a manifestação negativa de Pereira. “O brigadeiro pode ter sido instruído a reverter seus depoimentos favoráveis ao Fenômeno UFO, dados anteriormente, em uma tentativa de esconder importantes documentos”, analisou Fernando de Aragão Ramalho, então conselheiro especial da publicação. Pode ser, mas o fato é que o desapontamento dos estudiosos com a resposta do militar ao O Globo Online tinha uma justificativa clara — é de conhecimento geral da Ufologia Brasileira que, se alguém na hierarquia militar tem informações concretas sobre a existência e materialidade dos UFOs, além de sua procedência inquestionavelmente extraterrestre, este alguém era ninguém menos do que o brigadeiro José Carlos Pereira. Até tempos atrás, aliás, ele nem sequer fazia questão de esconder o que os militares sabiam sobre o assunto.
E foi assim, neste clima de surpresa e perplexidade na Comunidade Ufológica Brasileira, que a edição UFO 140 foi lançada no começo de março de 2008 estampando a matéria Militares Confrontados pelos Ufólogos se Contradizem sobre os UFOs. Porém, quase simultaneamente à chegada da edição às bancas, a situação se reverteu drasticamente, quando, também para nossa surpresa, o oficial aceitou conceder uma entrevista exclusiva à Equipe UFO, na qual mostraria a realidade dos fatos. A entrevista se concretizou em 08 de março, em Brasília, e ofereceu a oportunidade ímpar, para a Ufologia Brasileira, de esclarecer definitivamente a posição do militar quanto ao assunto. Mais do que isso, permitiu a todos conhecerem em detalhes seu pensamento sobre diversos aspectos relativos ao Fenômeno UFO, notadamente no que se refere à Aeronáutica, à Segurança Nacional e as reações que o meio militar brasileiro tem quanto ao tema. Foi um diálogo histórico e significativo para desfazer por completo o mal-estar anterior.
“Estou inteiramente à disposição dos ufólogos da Revista UFO e será um prazer atendê-los a qualquer instante”, declarou Pereira ao aceitar o convite, formulado em nome da Equipe UFO por Ramalho, que também se surpreendeu com a receptividade do militar. “Pensei que fosse ter que convencer o brigadeiro da importância que suas declarações teriam para os ufólogos brasileiros, mas não foi necessário, pois ele estava ciente disso e queria realmente colaborar”, disse Ramalho. “Sempre respeitei o trabalho desta publicação e desejo contribuir para o movimento que ela realiza, visando à liberdade de informação ufológica no País”.
Toneladas de documentos
Mesmo dias antes de definida a data da entrevista, já se estimava que ela teria, após publicada, impacto semelhante à outra ocasião histórica da Ufologia Brasileira, em que a Revista UFO também esteve diretamente envolvida — a entrevista com o coronel Uyrangê Hollanda, em 1997, onze anos antes. Para a publicação, esta seria a oportunidade não somente de conhecer as ideias de um dos mais brilhantes militares do País, mas também de atraí-lo para o movimento UFOs: Liberdade de Informação Já, o que foi feito. “É hora de serem liberados todos os segredos sobre este assunto no Brasil, estejam em que bases aéreas estiverem, e vou trabalhar para isso”, declarou.
Como se verá na entrevista, o brigadeiro Pereira chegou a mencionar que, há poucos anos, quando foram destruídos documentos secretos da época da Ditadura Militar na Base Aérea de Salvador, ele determinou que todos os que restaram fossem centralizado
s em Brasília, e isso teria resultado em mais de 14 toneladas de papel. “Quanto disso tudo o senhor estima que sejam documentos ufológicos?”, perguntei ao militar. “Não posso dizer com precisão, mas não é pouca coisa”. Pouco a pouco, na entrevista, que teve mais de 100 perguntas e durou cerca de quatro horas, o militar foi mostrando a seriedade com que via o assunto e sua pesquisa, e confiou a este editor importantes informações.
Colaboração total
O brigadeiro José Carlos Pereira falou abertamente sobre todos os assuntos abordados, não se esquivando de qualquer pergunta formulada. “Pretendo conversar com meus colegas de farda e me informar sobre qual é exatamente o clima hoje dos quartéis e bases aéreas, e buscar trazer o apoio de alguns deles ao trabalho de vocês”, ofereceu antes mesmo de ser solicitado a fazê-lo. Sua ajuda foi mais do que bem-vinda e chegou em um momento crucial para a campanha UFOs: Liberdade de Informação Já — este movimento, inédito e único no Brasil, levou o Aeronáutica a liberar quase 20 mil páginas de documentos ufológicos antes secretos, hoje disponíveis a qualquer cidadão para consulta no Arquivo Nacional, em Brasília.
Ao longo da sabatina, Pereira falou da segurança do espaço aéreo brasileiro, das infiltrações que a Nação sofre de objetos não identificados, da chamada Noite Oficial dos UFOs no Brasil, da Operação Prato e de seu comandante, coronel Uyrangê Hollanda, e até descreveu alguns episódios ufológicos que desconhecíamos. “Hollanda era um homem sério e de resultados, diligente e respeitado por todos”, disse Pereira, confirmando o que os ufólogos sempre souberam, mas não tinham como garantir — que de fato a Operação Prato resultou, sozinha, em mais de 2.000 páginas de documentos, além das já sabidas mais de 500 fotos e 16 horas de filme. Sobre o Caso Varginha, no entanto, alegou nada saber além do que leu na imprensa e na Revista UFO, e pareceu sincero. Afinal, o caso pertence a outra Arma, o Exército.
Membro da elite militar
Mas quem é o brigadeiro José Carlos Pereira? Este não é um militar qualquer. Nascido em Salvador (BA), Pereira foi, além do informado no começo desta entrevista, também piloto de caça, de transporte e de operações aéreas especiais, além de paraquedista militar. Voou dezenas de tipos de aeronaves em todo o mundo, por mais de quatro décadas. “Vocês não podem imaginar como é lindo e inusitado o pôr-do-Sol sobre o oceano, a mais de 13 km de altitude”, declarou aos entrevistadores. Na década de 90, o brigadeiro Pereira foi ainda comandante de operações da Força Aérea Brasileira (FAB), tendo 13 generais e um total de 27 mil homens subordinados a ele. Foi de 1999 a 2001 que ele comandou Comdabra, órgão que já foi chamado de “Área 51 Brasileira”. Como se vê, não é nenhum exagero dizer que Pereira foi, durante um bom tempo, o guardião da chave do cofre onde estão os segredos ufológicos do País. Em 27 de março de 2006, já na reserva, o brigadeiro ainda tomou posse na presidência da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), nomeado pelo ministro Nelson Jobim em meio ao terrível caos aéreo que tomou conta da Nação. Com pulso firme, quase resolveu a crise, que, no entanto, persistiu por problemas maiores do que se pode supor. “Ninguém queria acabar com o problema, esta é a verdade”, declarou. Vamos à entrevista, tal como conduzida em 2008.
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