Entre os estados nordestinos, o Maranhão é um dos que tem a mais rica casuística ufológica. Observações e UFOs a baixa altitude e perseguições a moradores da zona rural são relativamente comuns, assim como pousos de naves e seqüestros de pessoas. Em Coquelândia, povoado de 27 mil habitantes localizado a 36 km da sede do município de Imperatriz, é possível contar nos dedos de uma só mão os moradores que não tenham visto até agora objetos voadores não identificados sobrevoarem a região. O “aparelho”, como chamam os populares, foi observado pela primeira vez em 1987 a alguns quilômetros do povoado, ao lado de uma rede de alta tensão da Eletronorte erguida para ligar a hidrelétrica de Tucuruí (PA) a subestação de Imperatriz, e respectivamente a outros centros.
Pelos relatos dos moradores, ao menos três pessoas que tiveram contatos com UFOs em várias épocas ainda hoje sofrem algum tipo de seqüela. É o caso do lavrador Milton Cabral Oliveira, de 52 anos, que afirma quase ter morrido ao ser atingido por um feixe de luz proveniente de um estranho objeto que ele acredita ser uma espaçonave de outro mundo. Oliveira conta que era início da madrugada e estava se preparando para voltar para casa, depois de uma caçada mal sucedida, quando foi surpreendido por um objeto não identificado que flutuava acima de um matagal, a alguns metros de distância, que o atingiu com focos de luz em forma de cilindro de várias cores, deixando-o adormecido. “Estava já voltando para casa quando percebi um negócio me cercando a umas cinco braças de altura e jogando uma luz como se fosse uma lanterna muita boa”, declarou.
A surpresa do lavrador, que a princípio pensou ser uma assombração, transformou-se em momentos de terror. “Eu virei para ver o que era aquilo e não dei conta de quase mais nada por causa do reflexo da luz, que era muito forte e me fazia suar bastante. Então eu pensei: ‘é o aparelho!’ Levantei-me e protegi o rosto com o chapéu e saí do local, mas logo à frente tinha uma cerca de arame e uma cancela”. Oliveira diz ainda que ficou com medo de passar pelo arame farpado e de o objeto o alcançar. Correu até a cancela e conseguiu passar por ela, mas não pôde ir muito adiante. “Logo depois me faltou força e entrei debaixo de um pé de anajá, de onde fiquei observando ele jogar as luzes até apagar todas elas horas depois e desaparecer”, relembra o lavrador. Oliveira disse ainda que somente mais tarde conseguiu, ainda tonto, sair do esconderijo e ir para casa. Ele conta que ao chegar na residência revelou a experiência para sua família e os vizinhos, mas estes, em sua maioria, não acreditaram no ocorrido, apesar de seu estado de saúde ser muito precário.
Fraqueza nas Pernas — Esposa da vítima, a também lavradora Maria Madalena Gonçalves não só confirmou sua história como acrescentou que, em virtude da experiência, Oliveira perdeu sua força física e ficou com a pele amarelada, supostamente por ter perdido grande quantidade de sangue. Maria Madalena disse que ainda hoje seu marido sente dores de cabeça e fraqueza nas pernas, onde teria recebido descarga maior do UFO. “Ele também tem problemas na visão e teve que abandonar o trabalho na roça”, disse, lamentando que o fato tenha reflexos diretos no sustento da família, pobre como a maioria dos que habitam a desértica região. Desde o episódio, Oliveira mudou-se para um bairro periférico de Imperatriz, onde sobrevive fazendo bicos de pedreiro. Por falta de condições financeiras, o lavrador afirma não ter procurado um médico. Ele garante que está se recuperando a base de remédios homeopáticos produzidos a partir da orientação de vizinhos e amigos.
O contato mais significativo que aconteceu na região, no entanto, deu-se com o lavrador Ananias Feitosa da Silva, de 48 anos, que atualmente mora num assentamento não muito distante de Coquelândia, no município vizinho de Cidelândia. Feitosa confirmou ter se deparado com um UFO de forma inesperada, do qual ficou a distância de apenas três metros. O episódio deu-se em novembro de 1994, quando estava voltando para sua casa, na sede do povoado de Coquelândia, depois de uma caçada noturna. “Estava andando no mato quando uma luz se aproximou. Deitei, fiquei quietinho e aquele objeto pousou. Para ver se ele iria embora ou se sairia alguma coisa de dentro dele, fiquei escondido no local”, contou. “Até porque eu não acreditava naquilo e também estava armado com um facão, caso ele se aproximasse. Mas isso não aconteceu”. Feitosa afirma ainda que a vontade de esperar para ver o que ocorreria com a suposta espaçonave aportada a sua frente era grande. “Se aquilo viesse pra cima de mim, eu cortava no facão…”
Mas o lavrador teve que desistir do plano depois que o objeto passou a emitir um feixe de luz muito intenso, de cor amarela, em sua direção. A intensa luminosidade o atingiu em algumas partes do corpo, causando desconforto. Os cães que o acompanhavam foram de encontro ao objeto e também acabaram atingidos pela luz, latindo incessantemente. Por isso é que se levantou dali e correu, abrindo uma trilha no mato. “Sai correndo e somente um quilômetro depois parei e então não vi mais nada. Mas acho que o objeto ainda ficou lá”, declarou. Como resultado do contato, o lavrador afirmou ter ficado com seqüelas. Horas depois de ser atingido pelo foco de luz do UFO, Feitosa disse ter vomitado bastante e sentido febre intensa por quase 24 horas. Ao contrário de Oliveira, no entanto, continua vivendo na roça e não vem sentindo dores ou qualquer outro sintoma atribuído ao contato extraterrestre.
Sua história é confirmada por várias pessoas, que conhecem a reputação do lavrador. Um deles é seu sogro, Zeca Lopes, que não tem dúvidas da experiência de Feitosa e sua gravidade. Lopes, no entanto, revelou a este autor fatos que o genro preferiu não contar, entre eles que da nave teria saído um alienígena e atingido o lavrador com um choque nas pernas. O sogro também afirmou que o suposto alienígena, acuado pelos cachorros de Feitosa, teria entrado na nave e decolado. De acordo com Lopes, de 70 anos, quinze anos depois do fato seu genro ainda sente problemas de saúde e dores pelo corpo, supostamente por causa do contato. “Não sei porque ele não disse isso, pois todos nós, parentes dele, sabemos que ele sofre por causa daquilo que aconteceu”.
O ufólogo e administrador de empresas Carlos Alberto Lima Pinto, que mora em Coquelândia há dois ano
s, acredita que os dois lavradores tiveram contatos reais com UFOs. No caso de Oliveira, Pinto vai mais longe e crê que houve uma situação favorável para a ocorrência de uma abdução, tendo a vítima possivelmente sido levada ao interior do disco voador, onde pode ter sido submetida a exames clínicos e experiências. “Normalmente, a testemunha não se lembra conscientemente do processo e dos exames por que passou, mas apresenta sinais físicos visíveis, como perfurações, marcas de retirada de sangue e até supostos implantes de objetos”, disse o estudioso.
Moradores com Medo — Em Coquelândia, em virtude de um elevado número de pessoas já ter visto discos voadores, as experiências dos lavradores são muito bem aceitas. As mulheres do pequeno município não saem de casa à noite, assim como grande parte dos homens. Somente caçadores e pescadores se arriscam a passar anoite no mato. Todos contam ter sido “focalizados” por luzes provenientes dos tais aparelhos, e para escapar deles saíram correndo até o refúgio mais próximo. “Em outubro de 1993, eu estava voltando a pé de uma pescaria, por volta de 23:00 h, quando no meio do caminho uma luz apareceu a certa distância e então foi se aproximando e me focalizando. Com medo, passei a andar ligeiro e logo vi esse aparelho bem lá na frente, onde me esperava”, conta Martin Gomes Salazar, de 63 anos. Foi neste instante que entrou no mato para se esconder, vendo em seguida o UFO desaparecer e permitindo assim que fosse correndo até sua casa.
UFOs na “Faixa” — A mesma experiência foi vivida pelo lavrador Jadir Diniz, de 46 anos, que disse ter visto o aparelho em uma das vezes que esteve caçando nas imediações da “faixa” – como se referem os moradores àquela linha de floresta desmatada sobre a qual passa a linha de transmissão da Eletronorte.
Com 72 anos, o lavrador Sinval Antonio da Silva também sustenta ter tido experiências com UFOs e desafia quem não acreditar nas aparições dos objetos. Suas observações começaram em 1997, tendo a última delas ocorrido em 2000, sempre no período das chuvas. “Eu estava de frente para o mato e os cachorros tinham acuado um tatu. Foi quando, ao mirar a lanterna nas árvores, em busca de um local menos fechado para ir até onde estavam os cachorros, me deparei com um reflexo muito forte”, conta o corajoso lavrador. Quando ele virou para ver o que era, aquela luz veio em sua direção e ficou parada bem em cima dele, emitindo forte calor. “Era uma quentura só. Juntei os pés e cai dentro do mato. Mas o aparelho ficou na altura de uma palmeira, chiando à minha procura e acendendo e apagando as luzes, até que foi embora”. O senhor Sinval conta ainda que um colega não acreditou no fato que ele narrou e, dias depois, ao se deparar com uma situação idêntica, teve diarréia e não mais quis sair à noite para caçar.
Antonio Ferreira de Santana, de 45 anos, mora a mais de 15 anos no povoado e tenta explicar à sua maneira os motivos que levam os UFOs a preferir o período das chuvas. Ele supõe que seja pelo difícil acesso ao local através da estradas vicinais e trilhas da região, que obrigaria os moradores a demorarem muito mais tempo para ir de um local a outro. “É aí que o bicho pega”. Outra possibilidade, segundo os moradores, seria a de que o aparelho estaria furtando energia da rede de alta tensão da Eletronorte, uma hipótese que também foi levantada pelo ufólogo Arismaris Baraldi Dias, consultor da Revista UFO. De fato, é comum que discos voadores concentrem suas atividades nas imediações de represas hidrelétricas, usinas de geração de energia ou mesmo linhas de alta tensão. São incontáveis os registros de UFOs em atitude suspeita, próximos desse tipo de local. Eles são observados geralmente à noite, como se estivessem sugando energia das fontes abundantes. O curioso é que, segundo a casuística ufológica, reagem contra intrusos quando são notados. Talvez este seja o motivo que os levou a atacar tantas pessoas em Coquelândia.
Pânico Coletivo — Consultada a respeito, a psicóloga Venúsia Ribeiro Milhomem, de Imperatriz, vê com reserva o relato dos moradores. Ela faz questão de explicar que não é conhecedora de Ufologia, mas como profissional do comportamento adverte para o risco de um frisson coletivo. “Em muitas situações, um evento que tenha tido repercussões emocionalmente traumáticas pode sugerir alterações senso-perceptivas. Nesses casos, as pessoas passam a ouvir ruídos e a enxergar coisas oriundas da fantasia”, adverte. A doutora Venúsia também comenta o quadro atual do lavrador Oliveira. Disse não ter condições de afirmar se suas seqüelas são resultado de contatos com UFOs, “até porque não examinei o homem pessoalmente”. Mas informa que um evento externo, para que possa ser traumático a ponto de deixar distúrbios emocionais importantes – como transtornos de ansiedade e depressão –, deve contar com um fator predisponente na pessoa, que favoreça o desencadeamento de tais quadros. “Não basta que a situação externa tenha sido traumática. É preciso considerar também os recursos internos da pessoa atingida, sua história de vida etc”, finaliza a psicóloga.
Apesar do posicionamento neutro da respeitada profissional, a vivacidade e riqueza de detalhes com que as vítimas descrevem suas experiências não deixam dúvidas. Coquelândia, assim como tantas pequenas cidades do interior do Nordeste, é uma área de grande concentração de casos ufológicos extremos. E eles seguem justamente o padrão da casuística local, que já é mundialmente conhecida: o de UFOs agredindo sem nenhuma razão seus observadores. Muitas vezes deixando seqüelas permanentes nos corpos e na vida dos que tiverem o infortúnio de flagrarem estas naves em ação. No entanto, dos estados da região, Maranhão está, ao lado do Piauí, entre aqueles cuja casuística é menos conhecido. Esse quadro só mudará com o surgimento de novos ufólogos.