Quando José Marcos Sabino de Carvalho resolveu abrir aquelas duas malas descoradas, com as capas rachadas por 35 anos de desprezo num canto de porão, retirou delas duas ou três peças de roupa mofada e alguns livros. No meio deles estava um dicionário japonês/português, com caracteres nipônicos escritos a nanquim e umas poucas palavras inteligíveis em nosso idioma. A tinta estava manchada, quase ilegível. O pequeno livro protegia três fotografias em preto e branco, de bordas amareladas, que mostravam um objeto em forma de prato, visivelmente em relevo, em que se destacavam três superfícies.
Na maior, o corpo daquele prato alongado é o suporte para uma espécie de superfície mais volumosa, encimada por uma superior, que dá impressão de ser uma cúpula. Em frente à fachada do Hotel Hidrominas, um dos mais antigos e tradicionais da cidade mineira de Poços de Caldas, quatro homens apontam o objeto que paira no céu, confundindo-se com as nuvens de um dia de tempo chuvoso.
O objeto está estabilizado e simetricamente alinhado com o chão, mantendo-se imóvel ao lado de uma das serras que limitam a progressista estância hidromineral e turística. Não se sabe se as pessoas que aparecem na foto ainda estão vivas, porém alguns colaboradores de Poços de Caldas estão desenvolvendo esforços no sentido de identificar, com os mais idosos, quem possam ser os quatro protagonistas de uma rara fotografia ufológica, como esta que contém tantos pontos de referência e várias testemunhas apontando o objeto, no instante do flagrante!
Atualmente, o hotel tem o nome de Palace, ainda mantido sob constante conservação próximo à enorme e arborizada Praça Pedro Sanchez, cujo marco é o Monumento Minas ao Brasil. A fachada da construção, com detalhes em estilo romano, praticamente não mudou. Evidentemente, as árvores alteraram o tamanho e formato das copas. Mas o Monumento, que já se erguia desde o início da década de 50, também proporcionou um muito bem-vindo ponto de referência para quem tentar uma fotografia na mesma posição e ângulo utilizados pelo anônimo que presenteou o futuro com seus felizes e oportunos registros. Uma aresta da base do monumento aparece na foto, no canto inferior direito da foto.
Pequena aeronave – É impossível saber em que seqüência o fotógrafo obteve seus flagrantes. Nem qual a trajetória seguida pelo objeto fotografado. Mas a outra fotografia encontrada na mala esquecida espanta mais ainda. Contendo também no canto inferior direito algo sombreado – possivelmente o dedo do fotógrafo em frente à objetiva da câmara, mas com maior probabilidade o lado da cabeça de uma das testemunhas –, o suposto UFO parece vergar-se com suas bordas rumo ao plano do horizonte, mostrando mais sua parte superior, recebendo diretamente a luminosidade do Sol.
E ao centro da foto cruza uma pequena aeronave, logo abaixo do objeto. A terceira fotografia, assim classificada apenas por questão de identificação, parece de uma felicidade ainda mais incomum. Bem à direita da lateral da copa de uma árvore alta, o objeto, desta vez apresentando-se perfilado à direção da objetiva, mostra com incrível nitidez o seu formato e seu relevo.
Tudo indica, considerando-se a distância focal, que o UFO não alterou sua altitude, pois o tamanho aparente é o mesmo. Sabino encontrou as fotografias numa chácara que administra, deixada por uma família de italianos que o criou. A chácara pertenceu à família, que veio para o Brasil logo após a Segunda Guerra, e adquiriu o Hotel Sion, hoje modesto, no centro da cidade de Itajubá (MG).
Falta de interesse – Todos foram falecendo e Sabino herdou a responsabilidade de administrar o pequeno sítio, em cujo porão estão diversos móveis estragados, alguns pertences velhos do Hotel e poucas malas deixadas por viajantes que não mais retornavam para apanhá-las – coisa comum na época. A família desfez o negócio do hotel em 1969 e todos foram residir na chácara, levando os objetos que não entraram na transação, por falta de interesse. Quando ainda criança, Sabino costumava ficar na portaria do hotel engraxando sapatos.
E acabava por ter contato com quase todos os que lá se hospedavam. Lembra-se de um japonês que se instalava periodicamente por alguns dias no hotel, pois trabalhava – acreditava Sabino –, com remédios ou produtos agrícolas. Tudo ia bem até que, certa vez, provavelmente por falta de dinheiro, o japonês não retornou mais ao hotel, deixando lá suas malas para sempre.
Isto era realmente comum quando alguns viajantes, por não conseguirem sucesso em suas vendas, não podiam pagar a estadia no hotel e sumiam deixando alguns pertences de pouco valor. Sabino lembra-se ainda de que o japonês viajante tinha suas atividades em Poços de Caldas e Itajubá, e supõe que ele teria na casa de trinta anos de idade.
Ainda que sem poder afirmar com segurança, Sabino crê que a última vez em que aquele viajante estivera no hotel foi no final da década de 50 ou início da de 60. Possivelmente entre 1958 e 1964. Com o passar dos anos, a proprietária do hotel comentava algumas vezes sobre as fotos e, certa vez, disse que o viajante lhe afirmara que havia enviado cópias e os negativos para os EUA, ao que tudo indica para a NASA, mas que no entanto jamais recebera qualquer resposta. Consta que as fotos foram batidas pouco depois do meio-dia, o que realmente faz supor se observarmos o jogo de luz e as sombras que as compõe, estando o Sol quase a pino. É provável que a máquina utilizada se tratasse de uma Yashica do tipo caixão, muito comum e a mais usada na época, mas isto é mera suposição. Quando dona Ana Castiglioni, a proprietária do hotel, faleceu em 1996, seu pupilo ficou com as chaves da propriedade e hoje é o responsável pelo patrimônio, incluindo os móveis em estilo antigo que guarnecem a sede do sítio.
As coisas inutilizadas e envelhecidas encontram-se no porão, entre elas alguns livros de registro do hotel. As fotos foram encontradas em uma das malas, dentro do pequeno dicionário, mas de fato não há qualquer negativo. Sabino não hesitou em entregar as fotos com encontrou ao jornalista Alair de Almeida, 50, ainda em outubro de 1997. Alair publicou-as no seu bem apresentado Região Sul, um jornal que cobre 53 cidades do sul de Minas Gerais e já chegou a uma tiragem de 12.000 exemplares.
Grande entusiasta da Ufologia, dando a esta enorme apoio, Alair, formado em letras e ex-seminarista, faz um jornalismo independente e respeitado, noticiando os fatos tal como acontecem, sem qualquer ligação política suspeita. Por isso, incomoda a muitos e é colecion
ador de vários processos na Justiça. Durante a enorme comoção gerada pelas notícias a respeito do Caso Varginha, Alair afirma que contatou conhecidos que prestam serviços na Escola de Sargentos das Armas (ESA), de Três Corações, e recebeu informações importantes de pessoas que chegaram a ver de perto as alegadas criaturas capturadas. Quando este autor foi até Itajubá para a coleta de dados a respeito das fotos, não conseguiu, após horas de busca, encontrar nos livros antigos do hotel o registro de um japonês cujo nome se encontra no dicionário: T. Fujihara.
Em meio aos entulhos – Fui então até o Hotel Sion, na Praça Pereira dos Santos, hoje arrendado por outra família, onde informaram que somente os livros que abrangem os últimos seis meses encontram-se disponíveis. Todos os livros antigos haviam realmente sido levados pela família de italianos para a chácara. Porém, outros livros se encontravam em meio aos entulhos e precisavam ser encontrados. Os anteriores a 1960 não apresentavam nenhum registro de Fujihara.
O surpreendente é que, num exemplo de extraordinário desprendimento, Alair e Sabino fizeram questão de deixar as fotos sob minha custódia, para que fossem publicadas na Revista UFO. O que mais espanta, no entanto, o fato de tais fotos terem permanecido naquele porão escuro e, ao mesmo tempo, apresentarem um objeto com características idênticas às do que foi motivo das cinco fotografias de Ed Keffel, que em companhia do repórter João Martins, da revista O Cruzeiro, rodaram o mundo e o tempo, como exemplos dos mais nítidos registros de imagem ufológica até hoje obtidos.
As fotos da Barra da Tijuca, como ficaram conhecidas, são por outro lado foco de muita discussão, desde 7 de maio de 1952, quando foram batidas. Primeiro, mereceram duas páginas completas do conhecido relatório conclusivo do Projeto Livro Azul, elaborado pela comissão chefiada por Edward U. Condon, em 1967, a mando da Força Aérea Norte-americana (USAF). Em 1973, aconteceu uma importante exposição em Bruxelas, promovida pela Société Belge d’Étude des Phénomènes Spatiaux (SOBEPS), e as fotos de Keffel foram a vedete.
Através dos anos, as fotos passaram por diversos testes e análises, escapando incólumes. Sabemos que, logo após a revelação, foram submetidas à observação, na redação da então O Cruzeiro, do coronel Hughes, adido aeronáutico da embaixada norte-americana no Rio de Janeiro.
Depois, foram contestadas pela reconhecida entidade ufológica do Arizona Ground Saucer Watch (GSW), na época dirigida por William Spaulding e hoje extinta, que colocou em dúvida o jogo de luz e sombra, que não era tão coincidente com a posição do Sol no momento dos alegados flagrantes. No Brasil, o trabalho minucioso de Carlos Alberto Reis, hoje afastado da Ufologia, bem como do ufólogo Claudeir Covo, atual presidente do Instituto Nacional de Investigação de Fenômenos Aeroespaciais (INFA), também apontaram detalhes que fazem concluir contra a autenticidade das fotos.
A quarta foto de Keffel mostra o objeto no momento da “descaída”, quando se pode ver a parte superior da superfície composta de três relevos, exatamente como aparece na fotografia descoberta por Sabino, em que aparece um pequeno avião logo abaixo do suposto objeto voador não identificado.
Trata-se do que conhecemos aqui no interior de Minas como um teco-teco, uma pequena aeronave fabricada de lona e mancho de alavanca, que conduz dois passageiros e é bem versátil, apesar de frágil. Ou, em última hipótese, poderia ser um Cessna monomotor, ainda que antigo, da época. Poucas vezes a Ufologia teve a oportunidade de comparar fotos do mesmo objeto, batidas em locais distantes e em tempos diferentes. Bom momento para frisar que a cidade de Poços de Caldas tem uma usina de extração de urânio radioativo, mantida sob uma certa discrição por motivos óbvios. Não é fácil encontrar panfletos ou impressos com o histórico e detalhes das atividades na usina, cujo espaço aéreo é proibitivo ao vôo de qualquer tipo de aeronave.
Sobrevôo proibido – Há cinco ou seis anos, o irmão de um residente na cidade de Poços de Caldas apresentou a este autor duas fotografias em cores, nítidas e bem focadas, de um possível UFO cuja trajetória era o perímetro da área de sobrevôo proibido. O objeto passou abaixo do avião particular de um amigo do fotógrafo, que voava a cerca de 800 m, portanto num vôo rasante de no máximo uns 500 m de altitude. O objeto também tem o mesmo formato daquele que aparece nas fotos encontradas por Sabino e nas chapas de Ed Keffel!
Mas recusou-se o informante, terminantemente, a permitir que fossem feitas cópias e que as fotos do irmão fossem divulgadas, sob argumento de que, por um lado, alguém poderia supor que ele e o proprietário do avião estivessem sobrevoando a área restrita. E, por outro, que o irmão acreditava que as fotos poderiam valer muito dinheiro, o que certamente se trata de um engano, já que flagrantes de UFOs existem aos milhares, autênticos ou não, constituindo-se antes como um material de interesse da pesquisa ufológica do que qualquer outro.
Ainda a quarta foto de Ed Keffel, quando o objeto toma posição diferente em “descaída”, aparecendo na parte inferior a serra com uma palmeira em destaque, mostra um artefato idêntico ao fotografado pelo nosso desconhecido japonês. Keffel e os analistas que cuidaram dos negativos em primeira-mão concluíram que o objeto se encontrava a 720 m de altitude e a 1.100 m de distância.
Se correta a estimativa, e na hipótese de autenticidade, o UFO era, portanto, bem grande. Considerando-se a posição e altitude de vôo do teco-teco que fez o indescritível favor de passar no céu no momento do flagrante, de no máximo 800 m, aparentemente, o UFO de Poços de Caldas também parece ter sido de grandes proporções.
Mormente por estar recebendo diretamente a luz do Sol, apesar do dia nublado, ao contrário do pequeno avião, que aparece escuro contra o fundo claro constituído pelas nuvens. Infelizmente não dispomos dos negativos do objeto fotografado em Poços de Caldas e não se sabe se ainda se encontram em meio à velha papeleira, guardado em malas e pastas carcomidas, naquele porão de fazenda.
Ou se realmente foi enviado para a NASA. Nem ao menos se pode ter certeza da data e
m que foi exposto, ou que o objeto foi fotografado. A data mais concreta, que faz parte de um registro num dos livros posteriormente encontrados por Sabino, é o ano de 1960, como será visto em maiores detalhes pouco mais adiante. E aqui tem-se um espaço de oito anos da aventura de João Martins e Ed Keffel. Aliás, as fotos da Barra da Tijuca parece que ainda correrão por muitas mãos competentes, até que se tire uma conclusão a respeito de seu real valor. Como quer que seja, à época, as fotos movimentaram forças armadas e setores do governo.
Quando foram publicadas em encarte especial da edição de O Cruzeiro de 7 de maio de 1952, além das edições extras de jornais, rádios e TVs, atraíram para a redação da revista até o então ministro da Guerra, o general Ciro E. S. Cardoso, além do general Caiado de Castro, chefe da Casa Militar da Presidência da República.
Estudo técnico da FAB – O Estado-Maior da Aeronáutica chegou a encarregar enviados especiais para levantar a ocorrência, entre eles os majores Artur Peralta e Fernando Hall, o capitão Múcio Scevola e o técnico em fotografias Raul Alfredo da Silva. Consta que a FAB realizou um estudo técnico sobre as fotos, analisando todos os seus aspectos para tentar uma explicação que pudesse eliminar a hipótese de um UFO.
O estudo gerou um relatório divulgado parcialmente em 3 de outubro de 1954, durante uma conferência na Escola Superior de Guerra. Nos estudos feitos pela norte-americana GSW, utilizou-se de computadores para se fazer a dissecação de cores da foto, transposição para relevo e projeções de luz em modelo.
O jogo de luz e sombra apresentado nas fotografias não convenceu a entidade, que aventou a hipótese de o objeto voador ter sido um modelo com 40 cm de diâmetro lançado para o alto. No Brasil, os resultados de tais estudos foram conseguidos pelo extinto Centro de Estudos Exológicos (CEEX), de Carlos Reis e Jaime Lauda.
Ufólogo reconhecidamente capacitado para análises fotográficas, Claudeir Covo reproduziu, no mesmo local em que se encontravam Keffel e Martins, vários instantâneos, visando complementar com maior propriedade o trabalho pericial sobre as famosas fotografias. Em 1984, Covo foi à Barra da Tijuca munido de um modelo de isopor em escala. No mesmo horário, no mesmo dia e no mesmo mês de obtenção das fotos, porém 32 anos depois, passou toda a manhã tentando localizar os pontos exatos, usando as próprias cópias de Keffel como referência.
Fez medições da posição do Sol, situou o modelo tal como o UFO aparecia nas fotos, pendurando-o com fio de náilon e bambu. Assim, com os valores em mãos, trabalhou minuciosamente no Laboratório Fotométrico da Arteb, do qual era gerente. Com um projetor de raios paralelos, Covo simulou o Sol e colocou o modelo e o Sol (projetor) na posição certa para analisar as sombras. Depois posicionou o projetor num ângulo propício à obtenção da mesma sombra que caracteriza as fotos de Keffel, e concluiu que nas fotos de números 4 e 5, as sombras estão completamente divergentes.
Conclusões parciais – Covo descobriu que possivelmente as fotos mostram duas imagens sobrepostas, ou seja: a paisagem foi fotografada, primeiro, com inserção da imagem do UFO posteriormente. O trabalho técnico desenvolvido por Covo nunca foi publicado, mas o pesquisador afirma que ainda pretende dar-lhe uns retoques importantes para divulgação a futuro breve [Editor: UFO já está aguardando o material para publicar em sua edição de julho].
E oferece um primeiro resumo de suas conclusões parciais para hipótese de trabalho: Ed Keffel tinha um filme de 12 poses. As seis primeiras fotos contêm motivos ainda desconhecidos do público. O negativo (quadro) número 7 registra o fotógrafo e o repórter João Martins sentados numa mesa externa de bar, no sítio das alegadas aparições.
O negativo número 8 mostra o momento em que o UFO aparece sobre o mar, vindo na direção do continente. Logo após, o número 9, tem o disco sobre o morro Dois Irmãos, o 10 flagra a a-proximação do artefato da Pedra da Gávea e o 11 já o objeto sobre o morro elevado caracterizado por uma palmeira.
O ciclo de evolução do UFO termina com o seu afastamento em definitivo, quando aparecem as duas ilhas de fundo. Espanta portanto, curiosamente, que o fotógrafo tenha tido a sorte de ter o seu filme dividido e contado com precisão para utilizar exatamente as últimas cinco poses, durante as evoluções do UFO que, aliás, teria feito um círculo perfeito ao redor do ponto onde se encontravam os jornalistas (sic). Essas conclusões de Covo conduzem ainda, com plotagem para um gráfico, a uma divisão quase que por igual dos 360º da circunferência, nos pontos correspondentes a cada uma das cinco fotos! Por outro lado, as mencionadas análises da então GSW demonstram que a quarta foto, que contém a palmeira abaixo, possui as sombras do disco voador em direcionamento exatamente oposto às do ambiente.
E na quinta fotografia, correspondente ao quadro número 12, a sombra da cúpula do suposto disco, que se projeta em seu corpo circular, só poderia estar posicionada daquela forma caso o Sol estivesse dentro da água! Mas e as fotos encontradas por Sabino? A primeira dificuldade reside no fato de que não foram, até esta altura de nossas investigações, encontrados quaisquer negativos – o que dificulta sobremaneira um parecer técnico por gente especializada. Nem se sabe ao certo quem teria sido o seu autor.
Três dias de permanência – Em nossas buscas pelos mofados livros de registro do Hotel Sion, guardados no sítio administrado por Sabino, há alguns nomes de viajantes japoneses, escritos nos anos de 1954, 1957, 1958 e 1960 – períodos que escolhemos para um primeiro levantamento. Porém, o dicionário japonês/português, dentro do qual as fotos foram achadas, contém apenas o nome T. Fujihara.
Tentando localizar o registro de alguém com esse nome, Sabino e o repórter Alair Almeida tiveram êxito ao ver tal registro com entrada no hotel em 10 de março de 1962 e saída no dia 13 seguinte, portanto com três dias de permanência. Melhor ainda, consta do livro o número da carteira de identidade do viajante, tipo M-19 e de número 2.661.305-SP, o que mostra ter sido ele, ou ainda ser (caso esteja vivo), um imigrante japonês devidamente naturalizado ou bem regular no país, já que tal número é de registro de estrangeiros [M-19 significa Modelo 19, certidão para estrangeiros]. T. Fujihara tivera como procedência o Rio de Janeiro e por destino a capital de São Paulo. Além disso, no dicionário há anotações feitas com caneta tinteiro, do tipo muito utiliza
do na época.
Algumas estão ilegíveis, mas outras são traduzíveis. Miko Kavai, um senhor japonês idoso que reside em Itajubá há cerca de 50 anos foi procurado por este autor para tentar traduzir os caracteres que ainda oferecessem condições. Em escrita típica, Kavai encontrou o apontamento de Tahsahico Fujihara, que era o nome completo do viajante, na última página do pequeno livro.
Certas expressões – E o nome traz um asterisco para, logo abaixo, destacar a palavra, em português, “possessão”, indicando assim que o proprietário do dicionário tinha ainda dificuldades na utilização de certas expressões em português e desejou alertar que aquele dicionário era ‘da posse’ dele, ou seja, sua ‘possessão’. Dentro do dicionário encontram-se apontamentos que nos conduzem cada vez mais ao mistério, mormente em se tratando das fotos de um suposto disco voador: pode-se ler, com registro do ano de 1960, a frase “Muito Cuidado. Material Radioativo”.
O tradutor procurado afirma que há outras notas em um dialeto japonês antigo, que ele não domina. Ainda na primeira página do livrinho, há anotações de cunho técnico, que ele não quis arriscar traduzir também. Mas há sempre uma data, 10/60. Portanto, não há negativo à disposição e nem se pode saber se realmente foi o senhor T. Fujihara o autor das fotografias, encontradas em Itajubá e batidas em Poços de Caldas. Nesta última cidade, contatamos pessoas conhecidas publicamente e que participaram, de alguma forma, da vida jornalística da cidade.
Como o senhor Omar Pereira Rocha, que fora editor dos antigos jornais locais Folha de Poços e Gazeta do Sul de Minas, não se recorda de qualquer evento envolvendo um disco voador na cidade, nas décadas de 50 ou 60, tal como um acontecimento que tenha sido presenciado por diversas pessoas ou que tenha gerado algum comentário de destaque. Nem recorda se seus jornais teriam publicado algo assim.
O professor Augustus R. Danzas, que é um astrônomo em Poços e registrou excelentes fotografias de um eclipse do Sol em 1954, também nada se recorda que possa ter envolvido um objeto estranho no céu. Na decana Rádio Difusora de Poços de Caldas, o compadre João é figura já arraigada à cultura e história jornalística da cidade, pois possuía à época um programa de grande audiência e mantinha seu público informado de todos os acontecimentos importantes na região. Nem ele se recorda de qualquer coisa anormal. E ainda procuramos aquele que poderia ser a maior fonte de informação de que poderíamos dispor, o jornalista Décio Morais, com 75 anos de idade e de uma lucidez e saúde invejáveis, que demonstra a conseqüente sabedoria de toda uma vida dedicada à cultura.
Sombra da cúpula – O senhor Décio continuará à procura de todas as informações que puderem ser úteis. Ele mantém um enorme arquivo de jornais antigos, todos encadernados em perfeita ordem cronológica. Os periódicos da época não publicaram as fotos, ou sequer registraram notícias que possam estar relacionadas a elas. Poços de Caldas encontra-se a 1.186 m de altitude e a 570 km de Belo Horizonte. Considere-se, como frisado, que as fotos provavelmente tenham sido batidas após o meio-dia, tudo indicando que por volta das 13:00 h.
O Sol ainda está quase a pino, porém funcionando como fonte de luz que caminha para oeste, evidentemente. As sombras de curta largura, que se projetam dos telhados e das sacadas do Hotel Palace, sobre o qual o UFO se encontra, assim demonstram. Nela, o objeto fotografado também recebe de cima a luz, mais tendente à sua esquerda, com a sombra da cúpula direcionando-se para baixo, com leve extensão para a direita do corpo – o que confere com a posição do Sol. Tal posição, de cima e à esquerda, parece-nos mais uma vez comprovada pela incidência de luz nas roupas das possíveis testemunhas que aparecem apontando o artefato.
A outra foto, tendo o objeto como motivo principal, quando passa o pequeno avião, mostra, para efeito de comparação, duas camadas de nuvens, sendo a de fundo escurecida e a frontal clareada pela incidência da luz solar, também exatamente como se o Sol já tendesse a caminhar para trás do fotógrafo, portanto sempre em direção do poente. O UFO recebe a luz de cima e com projeção de sombras no sentido inverso, o que seria lógico. É bom notar que, se o pequeno avião aparece em preto, contrastando com o fundo claro das nuvens (pois foi fotografado por baixo), o fato de o UFO aparecer claro pode significar que se trate de um objeto à grande altura e, portanto, de notáveis proporções. Ao fazer uma “descaída”, tal como no Caso Barra da Tijuca, foi apanhado pela luz solar e mostrou sua parte superior.
Contraste com o céu – Finalmente, a terceira foto – a mais nítida e impressionante, com uma árvore à esquerda aparecendo também enegrecida devido ao contraste com o céu – registra o UFO quase que de perfil, em que se pode notar com clareza e relevo incomparáveis seu formato e volume. A luz vem de cima e de oeste, indiscutivelmente. Ainda que não se possa afirmar com absoluta certeza, parece que o objeto teria sido fotografado ao surgir sobre o hotel, depois subido mais e obrigado o fotógrafo a direcionar sua câmera mais para cima. Posteriormente teria mudado de posição, descendo e postando-se num trecho aberto do céu, levando o fotógrafo a mudar de posição. Como também na terceira foto o UFO aparece clareado, quase como um corpo que se confunde com as nuvens, mais uma vez se tem a impressão de que seria de grandes proporções e estava mais distante e alto do que se pode supor. Como quer que seja, tais observações carecem de confirmação de cunho mais técnico, ou quem sabe de conclusões adversas.
ara rodrigues
Assim se torna a Ufologia cada vez mais interessante. Fotos não são e jamais serão provas absolutas da existência do Fenômeno UFO. Mas, no mínimo, concitam-nos à análise e à pesquisa, através da interação entre os estudiosos do país e do mundo. E se prestam à comparação. Se por um lado não é a primeira vez que fotografias parecem registrar objetos semelhantes ao da Barra da Tijuca, estas, descobertas por Sabino e noticiadas por Alair Almeida, vão-se constituir num farto material de discussão e estudos, sendo isso o que mais importa – e importa tanto que mais uma vez podemos perceber que a Ufologia no Brasil se faz por uma grande família de apaixonados e desinteressados. Quando o jornal Região Sul publicou as fotos encontradas em Itajubá, um grupo de pesquisas não hesitou em comunicar a descoberta a este autor, para que o levantamento pudesse ser feito e a Revista UFO lançasse para o mundo ufológico esse material tão rico.
Vigília indispensável – Isso é uma clara demonstração de que os grupos de Ufologia que não costumam aparecer nas publicações especializadas ou na mídia não são apenas um importante fator de interação e vigília indispensável ao próprio fenômeno, mas também o grande respaldo de que necessita a Ufologia. Estamos falando do UFO Pesquisa (UFOP), um grupo de seis pesquisadores ativos e disciplinados por método, que trabalham com dedicação e afinco liderados pelo ufólogo César Garcia do Lago. O UFOP é sediado na cidade de Campestre, sul de Minas Gerais, e bem perto de Poços de Caldas. Se as fotos em questão despertarem interesse, estudos, fascínio, decepção, polêmica ou debates, sua descoberta para os meios da Ufologia terá sido mérito exclusivo do UFOP.