Uyrangê Bolivar Soares Nogueira de Hollanda Lima. Este é o nome do primeiro oficial de nossas forças armadas a vir a público falar sobre as atividades de pesquisas ufológicas desenvolvidas secretamente no Brasil. Com nome de guerra Hollanda, hoje coronel reformado da Força Aérea Brasileira (FAB), 57 anos, foi ele quem comandou a famosa e polêmica Operação Prato, realizada na Amazônia entre setembro e dezembro de 1977. Foi ele quem estruturou, organizou e colheu os espantosos resultados desse que foi o único projeto do gênero de que se têm notícias em nosso país.
Homem extremamente objetivo, impressionantemente culto e com vívida memória de inúmeros episódios de sua carreira militar-especialmente em relação à Ufologia -, Hollanda recebeu a Revista UFO em seu apartamento à beira-mar, em Cabo Frio, litoral do Rio de Janeiro, para uma longa e proveitosa entrevista. Das 48 horas em que o editor A. J. Gevaerd e o co-editor Marco Antonio Petit passaram em sua residência, ambos colheram uma valiosíssima quantidade de informações ufológicas inéditas e espetaculares.
Sua atitude de quebrar um silêncio de 20 anos sobre o assunto não é por acaso. Hollanda tem acompanhado a trajetória da Ufologia Brasileira desde o surgimento da Revista UFO, há 12 anos. Em 1985, oito anos após a realização da Operação Prato, e ainda com a memória fresca sobre os inúmeros casos ufológicos que viveu, a revista Ufologia Nacional & Internacional (antecessora de UFO), recebeu de uma fonte confidencial ligada à Aeronáutica uma série de fotos de UFOs que teriam sido tiradas pela FAB na Amazônia.
Eram fotografias secretas, obtidas oficialmente pelos militares que compunham a operação. Esse material tinha que ser publicado para que todos soubessem a seu respeito, mesmo que pudesse trazer problemas legais para a revista. E assim foi feito: as fotos e um texto sobre o assunto – sobre o pouco que sabíamos na época a respeito da Operação Prato – foram publicados. Evidentemente, os oficiais que integraram a operação não gostaram de nossa atitude, em especial o comandante do Primeiro Comando Aéreo Regional (Comar), de Belém (PA), que determinou a criação de tal projeto e que o mesmo fosse mantido em segredo, também por instruções superiores vindas de Brasília. Ninguém foi punido, até porque nunca se soube quem era nossa fonte de informação, e a revista não sofreu qualquer penalidade legal além de algumas ameaças pouco explícitas…
Recepção formal – Mas o recado foi dado: nossos leitores passaram a saber que uma missão de investigação oficial de UFOs, conduzida pela FAB, foi realizada na Amazônia em sigilo, resultando em experiências diversas vividas pelos militares envolvidos e na confirmação não só da realidade do Fenômeno UFO como também de sua origem extraterrestre. Nem o próprio Hollanda, que não conhecíamos ainda, chegou a se aborrecer com o que fizemos, pois julgou importante que todos soubessem dos fatos.
Depois disso, já baixada a poeira, Hollanda, ainda com patente de capitão, passou a acompanhar os passos de nossa revista, constatando de longe a seriedade do trabalho desenvolvido pela Equipe UFO. Nosso interesse por maiores informações sobre a Operação Prato nos levou a contatá-lo em Belém, em 1988, em seu posto no Primeiro Comar. Hollanda nos recebeu com formalidade, mas bastante receptivo. Evidentemente, não pôde oferecer-nos as informações que buscávamos, mas notou nossa insistência em ter o assunto disseminado publicamente. Por isso, tentamos ainda um novo contato no início dos anos 90, quando o oficial já estava prestes a se aposentar. Nessa ocasião, num encontro casual, trocamos algumas idéias, mas nada além disso. Ainda não seria dessa vez que teríamos conhecimento dos detalhes das descobertas da FAB na Amazônia.
Hora certa – No entanto, há cerca de três meses, quando alguns membros da Equipe UFO estiveram no programa Fantástico, numa matéria específica sobre o sigilo imposto aos discos voadores pelos governos – especialmente do Brasil -, Hollanda, já na reserva, viu que era hora de quebrar o silêncio. Aposentado desde 1992, logo na segunda-feira seguinte ao programa ele nos telefonou para retomar o contato e colocar-se à nossa disposição. Disse que já havia passado bastante tempo desde a Operação Prato e que julgava já ser hora de se falar a respeito. Quando questionamos sobre a possibilidade de punições de seus superiores, disse que não se preocupava com isso. \”Estou na reserva, cumpri minha missão para com a Aeronáutica. O que eles podem me fazer? Prender? Duvido!\”, exclamou.
Ao recebermos tamanho sinal verde, não tivemos dúvida e, com seu consentimento, colocamos o repórter Luiz Petry, produtor do Fantástico, e Bia Cardoso, da Manchete, a par da situação. Eles foram os primeiros a chegar a Cabo Frio e entrevistar Hollanda. Com isso, cumpríamos com nossa obrigação de informar a Imprensa sobre fatos dentro da esfera ufológica. Por mais que pudéssemos (e fôssemos tentados a) guardar para a Revista UFO o \”furo\” de reportagem, não tínhamos esse direito. Uma quantidade imensamente maior de pessoas teria acesso às informações que Hollanda divulgaria através desses programas de televisão, contra um número restrito a pouco mais de 20 mil leitores cativos da UFO.
Mesmo assim, evidentemente, cabe à nossa revista levar a seus leitores informações completas, aprofundadas e surpreendentes, que o agora coronel nos revelou nesta reportagem exclusiva. Mais do que entrevistado, Hollanda transformou-se num querido amigo e aceitou, sem titubear, o convite que formulamos para vir a ser um consultor de UFO. Experiência não lhe falta! Em seus quatro meses de Operação Prato, além de muitos outros passados na selva em missões onde o Fenômeno UFO estava presente, teve a oportunidade não apenas de conhecer detalhes sobre o assunto, mas de viver ele próprio dezenas de espetaculares experiências com objetos enormes e à curta distância. Hollanda se recorda dos detalhes de ocorrências assustadoras passadas na selva em que UFOs do tamanho de prédios de 30 andares aproximaram-se a não mais do que 100 m de onde estava.
Na época da Operação Prato, em 1977, eu não podia falar a respeito, porque tinha minha obrigação militar. O que eu falasse seria interpretado como sendo a palavra oficial da FAB. Por isso, não tinha autorização nenhuma
Hoje, casado pela segunda vez e vivendo uma vida pacata em Cabo Frio, após 36 anos de atividade militar – nos quais desenvolveu funções que vão desde chefe do Serviço de Intendência do Primeiro Comar a chefe do Serviço de Operações de Informação (A2) e coordenador de Operações Especiais de Selva, Hollanda é um homem realizado. E franco.\”Gevaerd, a Operação Prato tinha o objetivo de desmistificar aqueles fenômenos na Amazônia. Eu mesmo era cético a respeito disso\”, disse ao editor de UFO. \”Mas depois de algumas semanas, quando os UFOs começaram a aparecer de todos os lados, enormes ou pequenos, perto ou longe, não tive mais dúvida\”, desabafa. É esse fantástico depoimento que se inicia a seguir e que terá continuidade em nossa próxima edição, dado seu extenso volume.
Coronel, o senhor é o primeiro militar a vir a público e admitir tudo o que pretende nesta entrevista. Quais são as razões para isso? Em 1977, quando ocorreram as coisas que vou descrever, fui muito procurado por ufólogos e pela Imprensa para fazer alguma declaração a respeito. Mas não podia falar na época, porque tinha uma obrigação militar. Eu havia cumprido uma missão e não podia revelar qual era. Minha fidelidade era apenas para com meu comandante. Mas depois de quatro meses de estudos e pesquisas, a Aeronáutica interrompeu a Operação Prato. O comandante tinha ficado satisfeito com os resultados e não me competia julgar, na época, se isso era certo ou errado.
Então o senhor evitou falar sobre a Operação Prato esse tempo todo? Eu não podia falar. E também não tinha vontade. Conversei com vários ufólogos, entre eles o general Uchôa, e fui procurado até por pessoas dos EUA, inclusive Bob Pratt [Editor: autor do livro UFO Danger Zone, ver seção Livros de UFO 51]. Conversamos muito em off. Minha posição como militar colocaria o Ministério da Aeronáutica numa situação difícil de se explicar, e além disso havia punições para quem tratasse desse assunto sem autorização. Eu não tinha permissão nem do meu comandante, quanto menos do ministro. E o que eu falasse seria interpretado como sendo a palavra oficial da Força Aérea Brasileira (FAB). Mesmo assim, após o encerramento da Operação Prato, pesquisei e mantive contato com ufólogos de vários países e nunca falei nada a respeito.
O senhor se reformou da FAB em 1992. Não passou pela sua cabeça conversar com ufólogos antes e relatar tais fatos? Eu apenas conversava com eles, sem entrar em detalhes. Conversei muito com Bob Pratt quando ele veio ao Brasil, com dona Irene Granchi, com Rafael Sempere Durá, e outros. Mas nunca disse que queria falar à televisão ou coisa assim. Pediram-me que escrevesse um livro, mas nunca me interessei. Hoje penso diferente: acho que já deve ser dita alguma coisa sobre a Operação Prato. Esse assunto deve ser propalado e explicado, pois vou fazer 60 anos daqui a pouco. De repente posso morrer, e aí a história se acaba…
Por ter procurado a Revista UFO para dar estas declarações, quer dizer que confia que ela vá fazer um trabalho sério de divulgação sobre o que o senhor está falando? Há muitos anos, em 1987 ou 1988, estive conversando com você [dirigindo-se a Gevaerd] e não pude autorizar a publicação de nada sobre o que falamos em sua revista. Mesmo assim você o fez, por achar que o assunto não poderia ficar escondido… Eu estava na ativa e não podia dar nenhuma declaração formal. O que saiu publicado foi sem permissão, o que nos causou um pouco de complicação à época. Mas precisava ser dito. Alguns anos depois, eu já estava na reserva e a coisa tinha mudado. Já podia fazer declarações sem problemas. E por saber de sua seriedade, da Revista UFO e de seus demais membros, hoje sinto mais tranqüilidade para falar sem correr o risco disso virar sensacionalismo. Não creio que esta revista vá dar tal conotação a essa matéria apenas para aumentar suas vendas…
Obrigado pela confiança, coronel. Mas como é que tudo começou? Qual foi o estopim inicial de seu interesse por Ufologia? Foi anterior à Operação Prato? Em 1952 eu tinha 12 anos e estava na janela de minha casa, em Belém, quando apareceram uns objetos muito grandes que me chamaram a atenção. Havia uma luz imensa sobre a cidade. No dia seguinte a história estava publicada no jornal. A matéria dizia que aquilo tinha parado sobre uma federação de escoteiros, durante um campeonato de natação, e todo mundo viu. Foi aí que surgiu meu interesse por essas coisas, bem antes de ser militar e muito antes da Operação Prato. Sempre acreditei em vida extraterrena e na possibilidade de \”eles\” terem a curiosidade de nos observar. Somos um planeta com vida inteligente que deve suscitar o interesse de extraterrenos.
O senhor chegou a engajar na Aeronáutica por causa de seu interesse pela vida fora da Terra? Não. Sempre tive uma paixão muito grande pela aviação e pela vida militar. Como aviador da FAB, cheguei a ser chefe do Serviço de Intendência, no qual tinha muitas atribuições. Minha função era dar suporte administrativo e financeiro para ações do comando ao qual servia. Também fui chefe de operações do Serviço de Informações do meu comando. Era uma tarefa ligada à segurança do Estado, combate aos movimentos subversivos durante a efervescência após a Revolução de 64. Combatíamos as ações de terroristas e de partidos comunistas que tentavam se infiltrar no país.
Consta em seu currículo também uma função bastante interessante, como chefe do Serviço de Operações Especiais de Selva. O senhor deve ter um monte de experiências para contar… Sim. A FAB tinha um projeto de fazer um \”colar de fronteiras\”. Era idéia de um brigadeiro inteligentíssimo chamado Camarão [Editor: João Camarão Teles Ribeiro], que tinha muito conhecimento da Amazônia. Ele queria formar pontos-chave por todas as fronteiras, construir campos de pouso de 200 em 200 km ao lado de missões religiosas protestantes ou católicas, e assentar lá agrupamentos que dessem assistência aos índios. A FAB daria suporte a tudo isso. Eu trabalhei nessa operação como pára-quedista, pois tinha bastante adaptabilidade a esse tipo de atividade.
O senhor efetuou então muitas missões na selva. E apareciam muitos índios? Eram muitas tribos indígenas, com muitos de seus componentes abrindo áreas na mata para construção de campos. Alguns eram aculturados, outros não. Mas, a gente sempre trabalhava em algumas missões em contato com eles. Nessa época, as ações do Parasar sempre estavam coadjuvando [Editor: Pára-quedismo e Salvamento, do termo em inglês Parachute Search and Rescue]. Eu era um pára-quedista responsável por ações de busca e salvamento na selva.
Durante essa época, o senhor tomou conhecimento de algum tipo de descoberta relacionada à Arqueologia ou alguma observação, feita por militares na Amazônia, ligada a esse tipo de programa? Sim, alguns colegas tiveram experiências do gênero, principalmente um amigo meu, que relatou que estava sobrevoando a selva e ficou surpreso ao ver uma formação piramidal coberta pela vegetação, no meio do nada. Parece que ali tinha existido algum núcleo de uma civilização muito antiga e que fora abandonada, tendo a selva tomado conta de tudo. Mas havia uma formação piramidal nítida, com ângulos perfeitos no Amazonas. Só não posso precisar exatamente onde. Mas, se não me engano, foi na região do Rio Jaguari. Isso me foi relatado pelo coronel Valério.
Coronel, agora que sabemos bastante sobre sua atividade na FAB, vamos falar de Ufologia. Qual foi sua primeira participação na pesquisa ufológica oficial dentro da Aeronáutica? Foi a Operação Prato ou já havia alguma coisa antes disso? Não, de minha parte não. Minha atividade era somente a segurança do Estado e as coisas que envolviam o comprometimento da segurança nacional. Não tinha nada a ver com UFOs ou ETs… Mas eu já tinha conhecimento de alguns casos acontecendo na Amazônia.
Esses casos atraíam, de alguma maneira, interesse ou preocupação por parte das Forças Armadas, no sentido de que fossem uma ameaça externa à soberania nacional? Não eram vistos como ameaça externa. Os UFOs eram encarados mais como um fenômeno duvidoso. Alguns oficiais – talvez até a maioria deles – viam os UFOs como uma coisa improvável e faziam muita gozação a respeito. Faziam tanta brincadeira que acho que foi sorte essa Operação Prato sair. Acho que só aconteceu mesmo porque o comandante do Primeiro Comar [Editor: brigadeiro Protásio Lopes de Oliveira], na época, tinha muito interesse nisso e acreditava em UFOs. Se não…
Como surgiu a idéia da Operação Prato? Foi um projeto seu, do comandante do Primeiro Comar ou uma coisa do Governo? Eu não estava em Belém nessa época. Embora estivesse servindo na cidade, fazia um curso em Brasília. Mas quando retomei, apresentei-me ao chefe da Segunda Seção do Comar [Editor: coronel Camilo Ferraz de Barros] e ele me perguntou se eu acreditava em discos voadores. Foi meio de surpresa. Eu nem sabia que estava ocorrendo uma pesquisa sobre o assunto. Quando respondi que sim, ele falou \”…então você está encarregado deste caso\”, e me deu uma pasta com o material. Era o início da operação, da qual eu ficaria encarregado, embora nem nome ainda tivesse.
Os UFOs eram encarados como um fenômeno duvidoso. Alguns oficiais (talvez a maioria deles) os viam como algo improvável, fazendo gozações sobre eles
De onde veio a idéia de a operação se chamar Prato? Essa idéia foi minha. Dei esse nome porque o Brasil é o único país no mundo que chama UFO de disco voador. Em francês é soucoupe volante, que significa pires. Os portugueses o chamam de prato voador. Na Espanha é platillo volador, e platillo é prato também. Enfim, até em russo se fala prato, nunca disco, como se faz no Brasil! E como nas Forças Armadas a gente nomeia algumas operações com uma espécie de código, esse caso não podia ser exceção, ainda que não pudesse ser identificado o objetivo da operação. Por exemplo, não poderíamos chamá-la de Operação Disco Voador. Por isso, ficou Operação Prato.
Se o senhor recebeu uma pasta de seu chefe, então quer dizer que já havia em andamento alguma investigação a respeito? Sim, quando eu cheguei de Brasília já havia agentes sendo enviados para investigar as ocorrências de UFOs, porque essa coisa já estava acontecendo há muito tempo na região de Colares, que é uma ilha pertencente ao município de Vigia, no litoral do Pará. O prefeito da cidade mandou um ofício para o comandante do Comar avisando que os UFOs estavam incomodando muito os pescadores. Alguns deles não conseguiam mais exercer sua atividade, pois os objetos sobrevoavam suas embarcações. Às vezes, alguns até mergulhavam ao lado delas, nos rios e mares. E a população local passava a noite em claro. As pessoas acendiam fogueiras e soltavam fogos para tentar afugentar os invasores. Foi o pavor que fez com que o prefeito se dirigisse ao comando do Comar pedindo providências e o brigadeiro mandou que eu fosse investigar as ocorrências.
Em algum momento houve a participação ou instrução de Brasília para que a situação fosse averiguada? Na época, não participava das discussões. Era apenas um capitão e recebia ordens, somente. Eu não fiz parte desse trâmite e não sei como as decisões foram tomadas ao certo. Mas, pelo pouco que sei, a decisão foi do comando do Comar. Se houve envolvimento de Brasília, eu não tomei conhecimento…
Como é que o senhor estruturou a Operação Prato: quantas divisões, quantas pessoas, quantas missões etc? Enfim, como o senhor organizou todas as tarefas? Bem, nós éramos uma equipe. Eu era o chefe dela. E tínhamos cinco agentes, todos sargentos, que trabalhavam na segunda seção do Comar. Além disso, tínhamos informantes aos montes, gente nos locais de aparição das luzes, em campo, que nos ajudava. Às vezes eu dividia a equipe em duas ou três posições de observação diferentes na mata. Claro que ficávamos constantemente em contato uns com os outros, através de rádio.
Qual era o objetivo imediato da Operação Prato? Observar discos voadores, fotografá-los e contatá-los? Olha, eu queria mesmo é tirar à prova essa coisa toda. Queria botar isso às claras. Porque todo mundo falava nas luzes e objetos e até os apelidaram com nomes populares, tais como Chupa-chupa. E a FAB precisava saber o que estava realmente acontecendo, já que isso se dava no espaço aéreo brasileiro. Era nossa a responsabilidade de averiguar. Mas no início da Operação Prato, eu queria mesmo era uma confirmação do que estava acontecendo.
O que motivou a população local a chamar as luzes de Chupa-chupa? Havia uma série de relatos de pessoas que tinham sido atingidas por um raio de luz. Todas julgavam que o efeito sugava-lhes o sangue. E realmente! Verificamos alguns casos e descobrimos que várias delas, principalmente mulheres, tinham estranhas marcas em seus seios esquerdos, como se fossem dois furos de agulha em torno de uma mancha marrom. Parecia queimadura de iodo. Então as pessoas tinham o sangue sugado, em pequena quantidade, por aquelas luzes. Por isso passaram a apelidá-los de Chupa-chupa. Era sempre a mesma coisa: uma luz vinha do nada e seguia alguém, geralmente uma mulher, que era atingida no seio esquerdo. Às vezes eram homens que ficavam com marcas nos braços e nas pernas. Na verdade, a cada dez casos, eram mais ou menos oito mulheres e dois homens.
E vocês documentaram as marcas verificadas nas pessoas? Sim, foi tudo visto e analisado por médicos, que às vezes iam conosco aos locais. Sinceramente, eu entrei nessa como advogado do diabo. Queria mesmo era desmistificar essa estória e dizer ao meu comandante que essa coisa não existia, que era alucinação coletiva, sei lá. Achava que alguma coisa estava sendo vista, mas que não era extraterrestre…
O senhor imaginava que fosse o que, então, que estava sendo visto e até atacando as pessoas? Não sei bem. Talvez a plumagem de uma coruja refletindo a luz da lua ou alguma outra coisa dessa natureza. Até acreditava em extraterrestres, mas não que as pessoas os estivessem vendo. E eu fui para lá verificar se era realmente isso. Passei pelo menos dois meses respondendo ao meu comandante, quando voltava das missões, que nada havíamos descoberto. Eram os primeiros dois meses da Operação Prato, nos quais nada vi que pudesse mudar minha opinião. Às vezes passava uma semana no mato e voltava apenas no domingo, para conviver um pouquinho com a família. A cada retorno, meu comandante perguntava: \”Viu alguma coisa?\”. E eu sempre respondia: \”Vi luzes estranhas, ao longe, mas nada extraterrestre\”. De fato, víamos luzes que piscavam, que passavam à baixa altitude, mas nunca nada de muito estranho…
Isso era durante a noite. E o que acontecia durante o dia? Vocês tinham alguma outra atividade incorporada à Operação Prato? Sim, tínhamos outras coisas a fazer, que eram parte dos objetivos da operação. Fazíamos entrevistas com pessoas que tiveram experiências, preparávamos os locais para passar a noite e buscávamos lugares \”quentes\” para fazer vigílias. Quando descobríamos que algo aparecera em tal lugar, para lá nos deslocávamos. Fazíamos um levantamento da situação e sempre cadastrávamos os nomes dos envolvidos em um formulário próprio.
Que procedimento ou metodologia era utilizado na coleta de informações ? Sempre colocávamos o nome da pessoa que teve a experiência, o local onde ocorreu, horário etc. Fazíamos uma descrição de cada fato ocorrido na mesma localidade. Assim, se acontecessem três casos numa noite, a gente ouvia três testemunhas. Algumas das descrições eram comuns, outras mais estranhas. Às vezes recebíamos relatos de coisas que não podíamos comprovar a autenticidade, como desmaterialização de paredes inteiras ou de telhados, por exemplo.
Como assim? O senhor tem algum caso para ilustrar esse tipo de ocorrência? Sim. A primeira senhora que entrevistei em Colares, por exemplo, disse-me coisas absurdas. Tínhamos saído de helicóptero de Belém só para ouvirmos uma mulher que tinha sido atacada pelo Chupa-chupa. Vi que ela tinha realmente uma marca no seio esquerdo. Era marrom, como se fosse uma queimadura, e tinha dois pontos de perfuração. Quando conversamos, relatou-me que estava sentada numa rede fazendo uma criança dormir quando, de repente, o ambiente começou a mudar de temperatura. A senhora achou aquilo esquisito, mas nem imaginava o que iria ocorrer a seguir. Então, deitada na rede, viu que as telhas começaram a ficar avermelhadas, em cor de brasa. Em seguida, ficaram transparentes e ela pôde ver o céu através do telhado. Era como se as telhas tivessem se transformado em vidro. Ela via o céu e até as estrelas…
Histórias bizarras como essa eram muito comuns durante a execução da Operação Prato? Muito, e me assustavam bastante, porque nunca tinha ouvido falar nessas coisas. Quando ouvia casos assim, ficava cada vez mais preocupado e curioso. Essa gente parecia ser sincera. Por exemplo, através do buraco que a mulher descreveu ela viu uma luz verde brilhando no céu. A senhora então ficou meio dormente, até que, em seguida, um raio vermelho que saiu do UFO atingiu seu seio esquerdo. Era curioso que na maioria das vezes as pessoas eram atingidas do lado esquerdo. E tem mais: exatamente na hora em que estávamos falando disso, uma menina chegou perto e disse: \”Olha, aquilo está passando aqui em cima\”. Quando saí da casa, vi cruzar a luz que a moça estava apontando, numa velocidade razoável, ainda que o céu estivesse bastante encoberto. Não era muito veloz e piscava a cada segundo, dirigindo-se ao norte. Parecia até um satélite, só que essa luz voltou em nossa direção – e satélites não fazem isso! Logo em seguida, aquilo ficou mais estranho ainda. Mesmo assim, não poderia dizer se era uma nave extraterrestre. Aliás, eu não estava lá para classificar qualquer coisa que surgisse como sendo disco voador…
A Operação se chamou Prato em alusão à forma como são denominados os discos voadores no mundo e seguindo o código das Forças Armadas, que determina a não identificação do propósito da missão
Vocês utilizavam algum tipo de equipamento de radar que pudesse confirmar ou fazer acompanhamento desses fenômenos? Não. Todos os aeroportos têm radares fixos. Nós não portávamos nada desse tipo.
Os ataques que estavam acontecendo com certa freqüência eram comunicados ao Governo, às autoridades estaduais ou municipais? Sim, claro. Vários médicos da Secretaria de Saúde do Pará foram enviados pelo governo para examinar as pessoas. Eles analisavam o lugar queimado e tomavam depoimentos dos pacientes, mas não faziam mais nada – nem tinham como. Algumas vítimas se recuperavam facilmente. Outras ficavam muito apavoradas. Havia umas que diziam ficar enjoadas, com o corpo dormente por vários dias. Um cidadão uma vez veio me procurar para dizer que próximo à sua casa tinha surgido uma luz, que focou um raio brilhante em sua direção. Ele me relatou ter ficado tão apavorado que correu para dentro da casa, pegou uma arma e apontou para a luz. Aí veio outra ainda mais forte que fez com que ele caísse. O pobre coitado passou uns quinze dias com problemas de locomoção, mas não houve nada mais sério. Ele não foi atingido por nada sólido, como um tiro, por exemplo. Parece que a natureza dessa luz é uma energia muito forte que deixa as pessoas sem movimento. Acredito que as autoridades federais estavam informadas de que esse tipo de ataque a humanos estava acontecendo na região, mas desconheço provas. Eu apenas recebia ordens de meu comandante, mais nada.
Se esses depoimentos foram coletados desde o início da Operação Prato, quando foi que o senhor teve seu primeiro contato frente a frente com UFOs naquela região? Foi bastante significativo. Certa noite, nossa equipe estava pesquisando na Ilha do Mosqueiro, num lugar chamado Baía de Sol [Editor: um balneário conhecido de Belém, bem próximo a Colares], pois havia informações de que lá estavam acontecendo coisas. E como estávamos investigando todo e qualquer indício de ocorrências ufológicas, fixamo-nos no local. Nesse período, os agentes que tinham mais tempo do que eu nessa operação – já que \”peguei o bonde andando\” -, questionavam-me o tempo todo, após vermos algumas luzinhas, se eu já estava convencido da existência do fenômeno. Como eu ainda estava indeciso, diziam-me: \”Mas capitão, o senhor ainda não acredita?\” Eu respondia que não, que precisava de mais provas para crer que aquelas coisas eram discos voadores. Eu não tinha visto, até então, nave alguma. Somente luzes, muitas e variadas. E não estava satisfeito ainda.
Eles deram início à operação antes e tinham visto mais coisas? Mas e aí, o que aconteceu? Eles avistaram mais coisas e acreditavam mais do que eu. E me pressionavam: \”Como pode você não acreditar!\” Um desses agentes era o suboficial Flávio [João Flávio de Freitas Costa, já falecido], que até brincava comigo dizendo que eu era cético enquanto uma dessas coisas não viesse parar em cima de minha cabeça. \”Quando isso acontecer e uma nave acender sua luz sobre o senhor, aí eu quero ver\”, dizia ele, sempre gozando de meu descrédito. E eu retrucava que era isso mesmo: tinha que ser uma nave grande, bem visível, se não, não levaria em conta. E para que fui dizer isso naquela noite? Acabávamos de fazer essas brincadeiras quando, de repente, algo inesperado aconteceu. Apareceu uma luz, vinda do norte, em nossa direção, e se aproximou. Aí ela se deteve por uns instantes, fez um círculo em torno de onde estávamos e depois foi embora. Era impressionante: a prova cabal que eu não podia mais contestar. Eu pedi e ali estava ela! Foi então que levei uma gozada da turma. \”E agora?\”, os soldados me diziam…
Quando foi isso? Em novembro de 1977, logo no início da operação. O objeto tinha uma luz que se parecia com solda de metal, como solda elétrica. Foi curioso, pois quando era menino ouvia muitas histórias de coisas que a gente não conseguia enxergar por possuírem luminosidade muito forte. E foi o que eu vi, junto à minha equipe: uma luz azul, forte, de brilho intenso. Mas não vi a forma do UFO, só a luz que emanava.
Vocês fotografaram esse objeto brilhante? Fotografávamos tudo o que aparecia, mas levamos um \”baile\” durante uns dois meses com as fotos, pois nelas não saía nada. Sempre tínhamos os objetos bem focalizados, preenchendo todo o quadro da máquina, mas quando revelávamos os negativos, nada aparecia. Pensávamos, às vezes: \”Ah, agora vai sair\”, mas nada… Isso acontecia com freqüência, até que ocorreu um fato inusitado. Eu estava analisando os positivos, muito chateado por não conseguir imprimir as imagens que víamos em nossas missões, quando peguei uma lanterna que usava em operações de selva, e fiz uma experiência. Foi a sorte…
E o que aconteceu? A lanterna tinha uma luz normal e forte numa extremidade e uma capa vermelha na outra, que servia para sinalização de selva. Era de um material semitransparente de plástico, tipo luz traseira de carro. Tirando-se a tal capa vermelha havia um vidro fosco. Eu olhei para aquilo e me lembrei que os médicos examinam as radiografias num aparelho que tem um quadro opaco com luz por trás [Editor: radioscópio]. Este equipamento ajuda a fazer contraste de luz e sombra numa chapa de raio X. Assim, tive a idéia de pegar um filme já revelado e contrapô-lo ao vidro fosco da minha lanterna de selva. Foi então que pude ver um ponto que não conseguia enxergar antes! Eu não estava procurando marca ou objeto algum. Procurava uma luz, pois foi isso o que vimos na selva ao batermos as fotos. Só que a tal luz não aparecia, e sim o objeto por trás dela. No caso do rolo que estava analisando, vi um cilindro, que aparecia em todos os demais fotogramas. Ficou claro, então, que não conseguia imprimir a luz do objeto na foto, mas sim a parte sólida dele, talvez por uma questão de comprimento de onda, não sei. Não entendi por que a luz do UFO não impressionava aquele filme, somente a parte sólida. Depois, concluímos que aquele objeto seria uma sonda em forma de cilindro.
Vocês fizeram muitas fotografias de UFOs como essas? E como! Fizemos mais de 500. Eram dezenas de rolos de filmes, uma caixa de papelão cheia deles. Em quase todos os fotogramas havia UFOs ou sondas. E veja você: todos aqueles negativos ficaram na minha frente, por quase dois meses de trabalho, e não conseguíamos nada. Não saía luz alguma nas fotos… Aí, depois do que descobri, fomos olhá-los novamente, e havia imagens fantásticas. Depois foi só mandar ao laboratório do Comar para ampliar e ver lindas sondas e UFOs nas fotografias. Dezenas deles!
Depois de sua descoberta vocês fizeram novas fotos? Sim, com a ajuda de um amigo chamado Milton Mendonça, que já faleceu. Ele era cinegrafista da TV Liberal, de Belém, e conhecia muito sobre fotografia. Pedi sua ajuda porque confiava bastante nele e sabia que, participando da operação conosco, não ia comentar nada com ninguém. Assim, informei o fato ao meu comandante, dizendo-lhe que estava com dificuldades no processo técnico fotográfico, e ele autorizou Milton a entrar no esquema. Ele foi conosco em algumas vigílias e sempre nos auxiliava. Até instruiu-nos a usar filmes especiais, com recursos de infravermelho, ultravioleta etc. Pedimos, pois, o material para nossos superiores, em Brasília, e eles mandaram filmes ótimos. Com isso, passamos a ter melhores resultados. Conseguimos fotografar, então, objetos grandes e formatos que a gente nem imaginava…
Quanto à forma, qual era o padrão mais comum que esses objetos apresentavam? No início da Operação Prato vimos o que todo mundo falava: sondas e luzes piscando. Inclusive, tinha um padre americano, chamado Alfredo de La Ó, falecido, que nos dava descrições de sondas e objetos nesse formato. Ele era pároco em Colares e falava de uma sonda que tinha visto várias vezes. Segundo Alfredo, ela era mais ou menos do tamanho de um tambor de óleo de 200 litros. Essa sonda apresentava um vôo irregular, não era uma trajetória segura. Voava como se tivesse balançando e emitia uma luz. Às vezes andava junto a outras, que vinham e iam de um ponto a outro… Um dia ela aproximou por cima de nós.
Vocês chegaram a perceber algum tipo de interação entre o que faziam e o comportamento do fenômeno? Essa pergunta é bastante interessante, pois aquilo era uma coisa muito estranha. Eles, seja lá quem fossem, mostravam ter absoluta certeza de onde nós estávamos e o que fazíamos. Parecia que nos procuravam, pois quando menos esperávamos lá estavam, bem em cima da gente… Não mais do que um mês depois de passarmos a conviver nos locais de aparições, essas sondas começaram a vir sempre até nós. Às vezes, a gente se deslocava de um lugar para outro e lá iam elas, acompanhado-nos quase o tempo inteiro, como se tivessem conhecimento da nossa movimentação.
Antes da Operação Prato já havia uma investigação preliminar sobre casos de UFOs no Pará. O prefeito da cidade de Colares comunicou ao Comar que UFOs sobrevoavam a região
Quer dizer então que os UFOs de alguma forma pareciam se \”interessar\” pelas atividades da Operação Prato? Bem, pelo menos sabiam o que estávamos fazendo. Por exemplo, no caso da Baía do Sol, aconteceu algo peculiar. Naquela época já estava terminando o ano letivo e muita gente ficava na praia à noite. Tinha pelo menos umas 100 mil pessoas na orla, naquele fim de semana. No entanto, uma sonda veio para cima de nós, num lugar todo escuro onde não havia mais ninguém. Oras, por que veio ao nosso encontro, na escuridão, se tanta gente estava ali perto, na praia?
Esse foi o primeiro grande acontecimento ufológico envolvendo o senhor? Não digo que tenha sido grande, mas foi bastante significativo. Naquela ocasião voltamos para a base do Comar pela manhã. Foi quando conversei com meu comandante e disse que, pela primeira vez, algo estranho tinha acontecido.
O senhor teve alguma reação física deste acontecimento em seu organismo, algum problema resultante dessa observação? Naquele exato momento não, mas depois notei que todos perdemos um pouco da acuidade visual. Com o tempo, a visão enfraqueceu ainda mais, tanto que passamos a usar óculos. Mas isso ocorreu em razão de outras exposições que também tivemos mais para frente, noutros inúmeros contatos.
Coronel, após um caso como esse, pelo que sabemos, vocês faziam um relatório completo, que era integrado à Operação Prato. Mas vocês também se submetiam a algum tipo de exame médico? Era feito um relatório do acontecimento, com hora, local, coordenadas geográficas, mapeamento da região etc. Tudo bem descritivo. Mas nunca tivemos que fazer exame médico, mesmo porque nunca tivemos qualquer problema.
Quando seu comandante recebeu a notícia sobre o que aconteceu, como ele reagiu? Ficou mais satisfeito, bastante alegre. Pareceu que sua reação foi de muito agrado.
Esses casos ufológicos foram se repelindo? Do que mais o senhor se lembra para nos contar? Bom, como a Baía do Sol era um local muito favorável para observações de UFOs, passamos a freqüentar a região com bastante regularidade, tínhamos amigos no Serviço Nacional de Informações (SNI) – que não tem nada a ver com isso – os quais acompanhavam algumas de nossas missões. Os agentes eram nossos conhecidos, tinham curiosidade, por isso iam conosco. Às vezes, saíam notícias a respeito num ou noutro jornal local, fazendo com que muita gente em Belém comentasse sobre esses avistamentos. Minha mulher [Editor: de seu primeiro casamento, já falecida] e meu irmão sabiam das coisas que eu estava fazendo. Mas além desse círculo, ninguém de fora da base do Comar tinha ciência desses pormenores. Mesmo assim, pedia sempre muita reserva à minha esposa e irmão. Tanto que eles nem perguntavam detalhes.
A população de Belém sabia que havia uma operação da FAB na região? Não. Mas sabia que nós, da Aeronáutica, estávamos por lá, atentos a tudo. Algumas pessoas sabiam que existia uma operação, só não sabiam do nome nem dos resultados. Outras sabiam de pequenos detalhes, como o fato de eu ser capitão, ou de fulano ou sicrano ser sargento, mas ninguém sabia dos resultados da missão. Nem bem o que exatamente fazíamos. O que se desconfiava era que a gente estava examinando. Só! No caso dos oficiais do SNI, quando me pediram para ir, eu disse que não tinha problema, mas, que deveriam pedir autorização ao seu chefe [Editor: na época, o chefe do SNI em Belém era o coronel Filemon]. E o chefe deles autorizou, porém não como uma missão do serviço de informação. Apenas para sanarem suas curiosidades.
O Serviço Nacional de Informações chegou a desenvolver algum trabalho ufológico depois disso? Não. Os agentes só queriam ver aquelas coisas voando, junto de nossa equipe. Eles sabiam que estávamos fazendo um trabalho sério em certos locais de vigília. E como confiavam em nossa experiência, seguiam-nos aos pontos mais prováveis de avistamentos de UFOs. Um dia, junto ao Milton Mendonça, chegamos à Baía do Sol, lá pelas 18h00, e montamos nosso equipamento fotográfico. Ficamos então num lugar escuro, reservado, observando o que viria a acontecer. No entanto, por razões pessoais, tive que voltar mais cedo naquela noite, para estar em Belém às 20h00, pois tinha um compromisso. Por volta das 18h30, surgiram três pontos luminosos alinhados muito alto no céu, em grande velocidade. E olha que eu conheço avião para dizer que a velocidade daquilo era bem acima da média. Os pontos estavam voando no sentido oeste-leste. Quando deram 19h00, apareceram mais dois estranhos objetos piscando alinhados, um atrás do outro, no sentido norte-suI.
Qual foi a seqüência com que os fatos se apresentaram? Bem, o pessoal do SNI não chegava. Tínhamos combinado às 18h00. Ficamos aguardando-os para que acompanhassem nossa vigília… Assim, esperei apenas mais um pouco e, quando começamos a desmontar o material, pois não podia mais aguardar. Finalmente chegaram e perguntaram se tinha havido algo. Eu brinquei, dizendo ter marcado às 18h00 e eles só apareceram às 19h00, numa referência ao fato de que ali passa UFO quase que de hora em hora… E um deles fez então uma pergunta idiota: \”A que horas passa outro?\”. Respondi que não sabia e que aquilo não era bonde para ter horário. Falei ainda que eles deviam ficar ali a noite inteira, esperando para ver UFOs. Nesse momento, enquanto conversávamos, um deles disse: \”Olha aqui em cima, agora. Olha para o alto\”. Foi aí que o herói brasileiro tremeu nas bases, porque tinha um negócio enorme bem em cima da gente. Era um disco preto, escuro, parado a não mais que 150 m de altura, exatamente onde estávamos.
Deve ter sido uma experiência fantástica e aterrorizante. O objeto linha luzes, emitia algum ruído, fez algum movimento? Ficou parado, mas tinha uma luz no meio, indo de amarela para âmbar. E fazia um barulho como o de ar condicionado. Parecia com um ruído de catraca de bicicleta quando se pedala ao contrário. Aquele negócio era grande, com talvez uns 30 m de diâmetro. Olhamos para aquilo por um bom tempo, até que começou a emitir uma luz amarela muito forte, que clareava o chão, repetindo isso em intervalos curtos mais umas cinco vezes.
Qual foi a reação dos membros do SNI? Não foi só o pessoal do SNI, não. Todo mundo ficou espantado! Eu mesmo nunca tinha visto algo assim, e olha que já estava quase há dois meses nessa operação… Nunca aparecera uma nave desta forma para a gente. Foi tão inusitado que nem lembramos de montar novamente a máquina fotográfica, que já estava guardada, pois já íamos embora. Também não dava tempo, pois estava guardada em caixas próprias e demoraria para que fosse retirada, montada e armada. Só nos restava ficar olhando, assustados, para aquela coisa que iluminava tudo com uma luz amarela forte que ora apagava, ora acendia…
Parece que estavam dando uma demonstração a vocês, latejando dessa maneira estranha… É. O UFO fazia isso em intervalos de dois segundos. Apagava, acendia, apagava. Era uma luz progressiva, que não clareava como um flash, mas que crescia e voltava à mesma intensidade. Estávamos até sentindo que alguma coisa podia acontecer, pois estava escuro, era um local bastante isolado e ninguém sabia que a gente estava lá – só nós e \”eles\” [risos].
Houve alguma ocasião em que outras equipes de diferentes órgãos do Governo participaram junto a vocês? Não. O que eu sei é que houve um vazamento de informações sobre a Operação Prato. Algumas pessoas comentavam sobre a incidência de avistamentos. Creio que o vazamento se deu no Aeroclube de Belém. Teve uma vez em que uma equipe do jornal O Estado do Pará foi para o lugar onde a gente estava acampado e, como sabia que estávamos na área, ficou na espreita. Noutra vez eles se enganaram: foram a um ponto onde acharam que estaríamos, mas se deram mal, pois estávamos em outro… Numa dessas aventuras, eles chegaram a ver alguma coisa, porém foi algo tão esquisito que jamais voltaram. Alguns repórteres juraram que nunca mais fariam uma missão dessas… Eles viram uma luz se aproximando à baixa altitude e pegaram o carro para chegar mais perto. A luz se dirigiu até onde estavam e focou um raio em cima deles. Pelo que soube, o teto do carro ficou translúcido, como se fosse de vidro. Aí o objeto fez umas evoluções em cima do automóvel, permitindo até que fotografassem aquilo. As fotos foram publicadas em página inteira. Tinham uma nitidez incrível. Mas depois do susto que tomaram, as testemunhas sumiram de carro – parece que alguns tiveram acesso de vômito e se descontrolaram emocionalmente. Quem pode dar informação sobre este fato é o Pinon [Editor: Ubiratan Pinon Frias], que era o piloto do Aeroclube de Belém.
Histórias bizarras, como ataques de UFOs a humanos, eram muito comuns durante a execução do trabalho. Isso nos assustava bastante, deixando-nos preocupados e curiosos ao mesmo tempo
Com todos esses fatos acontecendo e vocês mandando toda hora relatórios para sua chefia, em algum momento perguntou a ela se haveria possibilidade de informar à população sobre as ocorrências e a Operação Prato? Não, não foi feita essa pergunta porque a gente já sabia que não era possível que a população viesse a saber dos acontecimentos. Não seria cabível essa dúvida ao meu comando, porque isso era assunto reservado. Minha missão era coletar dados e entregar ao comandante, e isso era tratado com confidencialidade. Tínhamos que documentar, fotografar e filmar os UFOs, se possível, e entregar tudo ao Comar. Daí para frente, o destino que seria dado ao material era responsabilidade dele.
O senhor tem idéia do que era feito desse material? Os relatórios com desenhos, fotos etc eram preparados, classificados, passados ao comandante e arquivados no próprio Comar, numa sala reservada. Depois disso, alguns iam para Brasília, segundo fui informado na época. No entanto, pelo que sei, a reação dos altos escalões era de ceticismo – alguns colegas até brincavam com os fatos.
O senhor teve conhecimento de que a FAB já teria instituído um sistema de pesquisa oficial quase 10 anos antes, em 1969, chamado Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (SIOANI)? Nessa época, em 1969, eu era tenente na Base Aérea de Belém e foram distribuídos entre nós vários livretos informativos sobre o assunto, pedindo para que os oficiais que se interessassem pelo tema fossem voluntários para preparar relatórios com depoimentos. Foi só. Depois as discussões morreram…
Em algum momento houve participação de militares americanos pedindo informações ou detalhes sobre o trabalho de vocês na operação? Que eu saiba, não. Se isso ocorreu foi em altas esferas e, como já disse, eu era apenas capitão. Não me metia nessas coisas e nem podia saber nada a respeito.
A incidência desse fenômeno na Amazônia, durante a Operação Prato, chegou a ser diária? Sim, era diária e muito ativa. Chegamos a verificar pelo menos nove formas de UFOs. Conseguimos determiná-las e classificá-las. Algumas eram sondas, outras naves grandes das quais saiam objetos menores. Filmamos tudo isso, inclusive as naves pequenas voltando ao interior de suas naves-mãe, as maiores. Tudo foi muito bem documentado!
Quais eram os equipamentos que vocês utilizavam para registrar todo esse movimento? Tínhamos máquinas fotográficas Nikon profissionais, com teleobjetivas de 300 a 1000 mm, dessas grandes. Era um terror trabalhar com elas, porque tinham um foco rapidíssimo. Qualquer \”bobeada\”, qualquer movimento em falso, e perdíamos os UFOs. Mas eram equipamentos de primeira. Também tínhamos filmadoras e gravadores, na possibilidade de um ruído ser ouvido ou de alguma coisa que pudesse ser registrada.
Vocês tinham expectativa dessas naves entrarem em contato com vocês, se é que esse não era um dos objetivos da Operação Prato? Estávamos expostos a tudo. Para falar a verdade – e não estou fazendo mistério -, podia acontecer qualquer coisa, no mato, na selva, nas praias, em qualquer lugar. Estávamos em operação militar e, por obrigação, tínhamos que agüentar tudo. O quer que ocorresse teria sido no cumprimento do dever.
Vocês portavam armas nas missões? Não, em nenhum momento. Nunca pensei em levar arma, nem mesmo por via das dúvidas. Não esperávamos que houvesse necessidade. Por isso, nem pensamos nessa hipótese, mesmo quando estruturávamos a montagem da operação, sua parte logística, de alimentação, transporte, comunicação etc.
Mas houve algum momento dentro da operação em que o senhor teria percebido que esse fenômeno pudesse ser perigoso? Uma vez sim. Foi o aparecimento de algo muito forte, tanto que quando essa coisa aconteceu eu tive medo de que pudesse se dar uma abdução. Só comentei com algumas pessoas, e uma delas, meu amigo Rafael Sempere Durá [novo consultor de UFO], chegou a me repreender gravemente por ter me exposto a algo perigoso. \”Seu maluco irresponsável. Você tem comandante. Mas sou seu amigo e estou te proibindo de fazer uma coisa dessas\”, disse, zangadíssimo, quando soube o que aconteceu. O fato foi realmente grave. Durante a Operação Prato, estávamos numa embarcação ancorada à margem do Rio Jari quando uma coisa enorme parou a não mais que 70 metros do barco.
Quais as características dessa \”coisa\”? Para responder, tenho que dizer por que nós estávamos lá. Bem, fomos ao local porque tenho um amigo, oficial da FAB na época, o capitão Victor Polonês [Editor: Victor Jamianiaski, descendente de poloneses radicado em Belém], que gostava muito de pescar e freqüentava o local. Um dia, sabendo que a gente estava nessa investigação, contou-me o caso de um rapaz que trabalhava apanhando barro para uma olaria próxima dali. Essa olaria era de Paulo Keuffer, de Belém. O rapaz se chamava Luís e me contou um fato incrível. Disse que certo dia, enquanto colhia barro, viu vestígios de uma paca comendo restos de flores de uma árvore à beira do rio e a acompanhou para caçá-la. Ele voltou à olaria, esvaziou o batelão [Editor: embarcação de 7 a 9 m com motor de centro], aprontou uma espingarda, voltou ao local, onde armou um acampamento em cima de uma árvore. Pendurou sua rede e ficou com lanterna e espingarda preparadas para a chegada do animal.
E aí, o que aconteceu depois disso? Bom, quando ouviu um barulho, e pensou que era a dita cuja, passou por ele uma luz muito forte que logo depois voltou e parou sobre onde estava. Do centro dessa nave, descrita como sendo similar à cabine de um Boeing 737, abriu-se uma porta ou algo assim e desceu um ser com forma humana. Luís disse-me que não teria visto escada de corda, nem de metal, mas que a entidade tinha descido através de um foco de luz, com os braços abertos. Quando ele se aproximou, e Luís viu que estava correndo perigo, pulou fora e se escondeu numa árvore próxima, mas ficou observando o que se passava. Então o ser chegou com uma luz vermelha na mão – que não era lanterna, mas estava na palma de sua mão -, e examinou a rede deixada na árvore. Como também o lugar onde estava e tudo o mais, mas não procurou Luís nem ficou vasculhando o local. O ser foi direto ao local onde o rapaz tinha se escondido, morrendo de medo. Rapidamente, focou um raio de luz vermelha em sua direção, fazendo-o correr para dentro da vegetação.
O estranho ser percebeu de alguma forma automática onde estava Luís e foi em sua direção. Não parece boa coisa… Pois é. Mas Luís saiu por uma margem do rio, tropeçando em troncos e raízes, com dificuldade de caminhar e tudo mais. Aí o ser voltou para a nave e a mesma passou a segui-lo dentro do curso do rio, à baixa velocidade e pouca altitude, talvez à altura da copa das árvores. Luís ia devagar e nem conseguiu pegar o barco que estava mais à frente, como pretendia. Não teve jeito: gritou e atraiu a atenção de algumas pessoas, que vieram a seu encontro. Ao verem aquilo, pularam dentro d\’água e ficaram observando a distância, só com os olhos de fora. O que viram foi incrível: a nave parou em cima do batelão, o mesmo ser desceu e examinou todo o barco, exatamente como fez com a rede. Aí ele foi até a nave, a porta se fechou e o UFO disparou para longe. Conversei com Luís no Comar e decidi ir ao local ver a situação. Ao chegarmos lá, eram mais ou menos 19h00 e estava chovendo razoavelmente. Os agentes foram para dentro da casa do zelador da olaria. Como chefe da equipe, não entrei: permaneci alerta, esperando para ver se alguma coisa acontecia…