Na Biblioteca Nacional de Honduras, em Tegucigalpa, há um raríssimo folhetim que descreve fatos acontecidos em 1603 na Igreja de San Francisco, em Comayagua, antiga capital do país. Um evento extraordinário ocorrido na Cruz da Pracinha de San Francisco aparece relatado na crônica do Santíssimo Nombre de Jesus de Guatemala, da ordem religiosa de San Francisco. Nela se verifica o que seria, talvez, o primeiro caso de contato direto com alienígenas naquela nação — que passou despercebido entre os inúmeros documentos eclesiásticos.
Reproduzido por dom Francisco Cruz de Guatemala, em 1856, o texto começa solene: “Chegado de terras intocadas, jamais pisadas por pés humanos, quase milagrosamente frei Esteban Verdelete voltou à cidade de Comayagua, onde foi recebido com mais desejo do que imaginava e ainda chorando de alegria. E não acreditavam os que lhe viam, porque todos o tinham já como morto”.
O folheto se referia ao regresso do religioso que a população acreditava ter sido assassinado pelos indígenas de Segovia. Mas o texto, mais adiante, trata de um estranho fenômeno que ocorria naqueles tempos, em Comayagua. “Todas as sextas, ao meio-dia em ponto, se via vindo de um rio próximo ao convento de frades de San Francisco, um fantasma, vulto ou sombra formidável, de tamanho maior que o de um corpo humano — era vestido de uma nuvem branquíssima, cujo movimento era diferente, espantoso, e como feito pelo ar. O término de seu movimento era a cruz, que estava no cemitério do dito convento, com a qual se incorporava de modo que envolvia em si”.
Globo de névoa espessa
Frei Esteban, um herói popular, chegou a solicitar permissão ao bispo de Comayagua, Gaspar de Andrade, para rezar uma missa às sextas-feiras, ao meio-dia, para que “pedisse à criatura que naquela nuvem ou espessa névoa se envolvia, que revelasse o que significava, sendo vontade de Deus”. O relato de Esteban a Andrade é muito significativo. “Fez assim o valoroso religioso, e a vista de todo o povo esperou, não sem grande horror dos que o viam, à sombra, na pedra da cruz, a qual chegando a ela, envolveu como em um globo de névoa espessa, que apenas permitia se ver ao religioso, mesmo sendo ao meio-dia”.
Há uma curiosa crença em Honduras de que alguns de seus rios têm propriedades curativas sobre diversas enfermidades
Às vezes, em meio à névoa, se via o religioso e outra figura — como se conversassem envoltos no fenômeno. Noutras horas, se via somente o frei rodeado da mesma névoa, parecendo observar atentamente algo dentro da nuvem. “Durou doze horas contínuas a conversa, desde as doze do dia até às doze da noite. Assistido de onde se conseguia, quanta gente havia na cidade, com tão estranho pavor, que ninguém ousou chegar a ver ou escutar mais perto, o que passava entre os dois”.
Encerrado longo e inusitado encontro, Esteban aplicava alguma espécie de bênção à sombra. “Com a bendição, a sombra em forma de pessoa humana se transformou, e pelo caminho que viera se foi, acompanhando o religioso, que voltou sem falar uma palavra, nem fazer outra coisa senão sentar-se e descansar um pouco, como um homem que vinha muito fatigado, e tomar alguns goles de água. Foi ele imediatamente à casa do senhor bispo, de onde não voltou até o dia seguinte”. E nesse momento, o religioso anunciou publicamente que uma vez mais apareceria o tal fantasma, mas manteve em segredo sua natureza e origem.