Se 19 de maio de 1986 tivemos uma data histórica para a Ufologia Brasileira e Mundial, o mesmo aconteceu com 20 de maio passado, quando, pela primeira vez em nosso País, um grupo de ufólogos foi recebido pela Aeronáutica Brasileira para visitar suas instalações e alguns arquivos. A visita que durou quatro horas, envolveu na etapa inicial o I Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta I), sua sala de troféus e auditório, seu setor de meteorologia e um pequeno museu com os radares antigos, e demais instalações ligadas ao controle do tráfego aéreo no País. Na segunda etapa, os ufólogos estiveram, numa atitude igualmente inédita, na sede do poderoso Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra), órgão de segurança nacional onde está localizado o Centro de Operações de Defesa Aérea (CODA) e onde são guardados documentos sigilosos e confidenciais sobre observação de UFOs em Território Nacional.
O primeiro aspecto a ser notado nas visitas é que todos os militares que receberam os ufólogos – integrantes da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) – foram extremamente educados, prestativos, atenciosos e gentis. Efetivamente, buscaram – e conseguiram – proporcionar um encontro agradável e produtivo para ambos os lados. Os militares deram aos ufólogos uma aula completa sobre as mais diversas atividades exercidas pelo Cindacta I e Comdabra, respondendo a todas as suas perguntas e deixando bem claro que nossa Aeronáutica se preocupa – como sempre se preocupou – com a detecção e controle de todos os tipos de tráfegos aéreos sobre o País, identificados ou não. Esclareceram que existem muitos “alvos radares” – como são chamados os pontos ou plots detectados em seus monitores – não identificados. E que, quando necessário, caças a jato são acionados e levantam vôo para sua identificação. Esses alvos radares podem ser balões de estudos meteorológicos, balões juninos, aviões de contrabandistas, traficantes sem plano de vôo, simples fazendeiros em viagens curtas etc.
Às vezes, os pilotos se vêem frente a frente com algo totalmente desconhecido, com movimentos inteligentes e sem uma origem clara – UFOs. No entanto, a Aeronáutica alega não ter capacidade técnica e científica para explicar sua natureza, conforme esclareceram os militares. “Uma imagem no radar que não esteja seguindo um plano de vôo, que não adote os procedimentos previstos, passa a ser monitorada pela Defesa Área”, explicou aos ufólogos o major-brigadeiro Atheneu Azambuja, comandante do Comdabra. O oficial ainda esclareceu que, em determinado momento, em função de comportamento daquela imagem no radar, os jatos de caça podem vir a ser acionados.
Sem entender os UFOs — “Se, por ventura, seus pilotos apenas visualizam uma luz não identificada, precisam identificá-la. Sua missão é defender o espaço aéreo. Mas se aquela luz desaparece de uma hora para outra, deixa de ser um tráfego desconhecido e passa a não existir mais. O piloto então retorna para sua base e a partir daí o papel da Força Aérea Brasileira (FAB) se encerra”, explicou Azambuja. Segundo esclareceu, a Aeronáutica verifica o acontecido através dos relatos e das coisas que os radares registram, e junta todas as informações numa pasta específica. “Muitas vezes se faz uma leitura dos fatos e não se chega a qualquer conclusão. Noutras, não se chega sequer a realizar uma investigação completa, porque nós não temos capacidade técnica e científica para isso”, completou o comandante do Comdabra, enfatizando que é difícil, para a FAB, compreender o que se passa em casos assim, pois não conhece o Fenômeno UFO profundamente.
Durante a visita dos ufólogos às instalações da Aeronáutica, ficou patente que as missões militares para identificação de imagens desconhecidas no radar, bem como as conversas entre os pilotos de caças eventualmente enviados ao seu encalço e o Cindacta I, são gravadas e posteriormente transcritas. Tais mensagens são arquivadas em pastas datadas de ano a ano, desde 1954. Esses documentos são rotulados como “confidenciais” e a CBU apenas teve acesso a três casos específicos. O repórter Luis Petry, do Fantástico da Rede Globo, enquanto entrevistava separadamente o major-brigadeiro Azambuja, teve acesso a vários outros, mas não recebeu autorização para filmá-los.
Enquanto que no Cindacta I os ufólogos puderam registrar todos os seus passos, na sede do Comdabra absolutamente nada pôde ser filmado, gravado, fotografado e sequer transcrito. Todos os equipamentos para tais fins – inclusive canetas e papéis – tiveram que ser deixados numa sala de conferências na entrada do órgão. Quanto aos documentos mostrados, à exceção de um caso ocorrido em 1954, que os militares apresentaram aos pesquisadores como marco do início de sua atividade de registro, todos foram os requisitados oficialmente através da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, que são os dados sobre a Noite Oficial dos UFOs no Brasil e a Operação Prato. O Caso Varginha, outra reivindicação do movimento, segundo o Manifesto da Ufologia Brasileira [Veja reprodução nesta edição], não foi apresentado por ser pertinente ao Exército Brasileiro e não à Aeronáutica.
A confirmação dos ufólogos civis, de que os registros militares contêm dados quase idênticos sobre a onda de maio de 1986, indica claramente que os pesquisadores, ainda que sem recursos e limitados estão no caminho certo
Tráfego hotel — Como mostrado no programa Fantástico, de 22 de maio, que fez cobertura do encontro histórico entre ufólogos e militares, para cada avistamento de uma imagem radar não identificada é preenchido um formulário específico. Isso não acontece apenas em termos recentes – antigamente, tal questionário era feito de próprio punho. Em 1989, a Aeronáutica, através de sua Diretoria de Eletrônica e Proteção ao Vôo, emitiu a chamada Diretriz Específica 04/89 e, em 1990, o documento Norma de Procedimentos Aeronáuticos, o famoso NPA-09-C, que tinha a descrição oficial de Procedimentos a Serem Adotados Pelos Órgãos ATS/ATC em Caso de Avistamento de Objeto Voador Não Identificado. As siglas significam, respectivamente, air traffic system e air traffic control, ou sistema de tráfego aéreo e controle de tráfego aéreo. Atualmente, os militares estão utilizando um novo formulário, denominado Ocorrência de Tráfego Hotel, com duas folhas.
Mas por que “tráfego hotel”? Nossos anfitriões na Aeronáutica nos explicaram que, dentro das siglas do alfabeto utilizado no procedimento de vôo, esse tipo de tráfego não identificado r
ecebeu a letra H, que é transcrita como “hotel” no jargão dos pilotos civis e militares. Particularmente, acredito que a explicação é outra e que a FAB teria adotado tal denominação para evitar o uso das siglas UFO, OVNI, OANI etc, todas que designam com bastante clareza discos voadores, por serem muito conhecidas do público e quase sempre entendidas como sendo de origem extraterrestre. Se a própria Aeronáutica não tem explicações para esses alvos radares não identificados, não era de se esperar que iriam afirmar serem de origem alienígena. Por isso usam a sigla H ou hotel.
Uma informação obtida em 2002 coincide com os fatos descritos e as explicações dadas pelos militares que receberam os ufólogos em Brasília. Naquele ano, ficou bem documentado – e agora foi reafirmado – que a interceptação por caças a jato de alvos radares é coisa comum para nossas autoridades militares. Em 19 de janeiro daquele ano, o deputado e jornalista Celso Russomanno, em seu programa Night and Day, na Rede TV, apresentou uma entrevista com o major-brigadeiro José Carlos Pereira, então comandante do Comdabra. Pereira afirmou que “é rotineiro os caças levantarem vôo para identificar alvos radares não captados pelos radares”. Ele apresentou a Russomanno uma encadernação de mais de 90 registros de ocorrências de UFOs apenas em 2001. Tal material não compunha o acervo disponibilizado aos ufólogos, em 20 de maio.
Russomanno não teve permissão para mostrar o conteúdo da pasta, pois em sua capa estava escrito “secreto”, seguido de “Comando da Aeronáutica” e do brasão daquela Arma. O termo “Defesa Aeroespacial” também se destacava na capa e, dentro de um retângulo, havia a expressão “Ocorrências de objetos não identificados”. Questionados sobre a ausência dessa pasta no acervo que foi mostrado à Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), os integrantes do Comdabra alegaram que ela ainda é confidencial e não poderia ser exposta naquele instante. Foi afirmado também que a maioria dos casos de detecção de alvos radares tem explicação, ou seja, os pilotos conseguem identificar sua natureza como ordinária. “Mas uma pequena parcela não tem explicação”, admitiu um porta-voz do órgão.
Ainda na entrevista de Russomanno, em 2002, ele recebeu de dois outros militares do Comdabra – coronel Almeida e capitão Arnaldo – a informação de que existem num local específico da entidade registros de UFOs que foram feitos pelos radares e os caças que levantaram vôo para identificar também os documentaram com seus instrumentos.
Momentos finais — Ao longo de toda a trajetória que os ufólogos fizeram dentro dos organismos da Aeronáutica, em Brasília, o momento mais aguardado era a visita ao verdadeiro centro nevrálgico da defesa aérea em nosso País, a sala do Comando de Operações de Defesa Aérea (CODA). Foi lá que recebemos autorização para examinarmos as três pastas de documentos secretos de UFOs – em especial uma contendo os relatórios e registros da chamada Noite Oficial dos UFOs no Brasil, de maio de 1986. Concentrei-me nesta documentação por ter acompanhado todos os incidentes daquela época e por estar prestes a lançar, pela Coleção Biblioteca UFO, um livro sobre aquela movimentada noite.
Apenas para lembrar o que aconteceu em 19 de maio de 1986, tivemos um verdadeiro show de discos voadores no céu brasileiro, a ponto de as autoridades da Aeronáutica virem a público afirmar que nosso espaço aéreo fora invadido por 21 objetos de origem desconhecida, detectados pelos radares, seguidos por aviões a jato e que se movimentavam em altas velocidades, passando de 250 a 1.500 km/h em frações de segundo, sem causar o ruído característico. Os UFOs mudavam de cor e de trajetória repentinamente. Subiam, desciam e sumiam instantaneamente do radar, para reaparecerem, aos olhos dos observadores militares e civis, noutros lugares. Eles acompanhavam os aviões, paravam e voltavam a acelerar, muitas vezes fazendo movimentos em ziguezague. Faziam curvas em ângulos retos em altíssimas velocidades, sem deixar rastros como as aeronaves convencionais. Com tantas manobras, causaram a interrupção do tráfego aéreo em várias áreas, saturaram os radares e provocaram interferência nos equipamentos dos aviões a jato. Isso tudo foi informado oficialmente, e deve ser menos de 20% do que realmente aconteceu.
Infelizmente, o tempo que nos foi dado para examinar o material foi pouco, mas pude ler vários documentos, alguns manuscritos e outros datilografados, feitos pelos pilotos tenente-aviador Kleber Caldas Marinho, capitães Márcio Brisola Jordão, Armindo Souza Viriato de Freitas e Rodolfo, e diversos operadores de radares. Os documentos a que tivemos acesso relatam exatamente aquilo que foi divulgado pela imprensa, em 1986. O que era mais esperado encontrarmos infelizmente não estava lá – as transcrições das conversas entre pilotos, controladores de vôo e operadores de radar. Esses são realmente os arquivos mais importantes da Noite Oficial dos UFOs no Brasil, pois registram todos os detalhes do que estava acontecendo naquele momento. Também não nos foram mostradas as filmagens realizadas na data, confirmadas até mesmo pelo então ministro da Aeronáutica brigadeiro Octávio Moreira Lima.
Como se vê, a Aeronáutica nos mostrou apenas uma pequena parcela dos milhares de documentos arquivados pelo Comdabra. Ora, se somente em 2001 o órgão registrou mais de 90 casos de UFOs, e tais registros vêm sendo feitos desde 1954, é de se presumir, conseqüentemente, que a instituição tenha pelo menos 4.600 documentos registrando a passagem e operação de objetos voadores não identificados nesses 51 anos. De qualquer forma, por ser a primeira abertura de documentos confidenciais envolvendo UFOs em nosso País, o que pudemos ver e examinar foi muito significativo. No começo de nossa reunião, o brigadeiro-do-ar Telles Ribeiro, chefe do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (Cecomsaer), nos afirmou que recebeu determinação de seus superiores para “que todas as portas fossem abertas aos ufólogos”. No fim de nossa visita, o major-brigadeiro Azambuja, chefe de operações do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra), nos garantiu que “a Aeronáutica também se preocupa com a presença de UFOs nos nossos céus”.
Provavelmente, numa segunda visita a abertura iniciada se expandirá e iremos ter acesso a muito mais documentos. Parafraseando o astronauta Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua, o dia 20 de maio de 2005 foi um pequeno passo para a Aeronáutica e um grande passo para a Ufologia Brasileira.
A Noite Oficial dos UFOs no Brasil
Um dos maiores momentos da Ufologia Brasileira, reconhecido até mesmo por nossas autoridades aeronáuticas. Envolveu a invasão de nosso espaço aéreo por 21 objetos de origem desconhecida, detectados pelos
radares e seguidos por aviões a jato, movimentando-se em altas velocidades.
Veja os números:
Data — 19 de maio de 1986. O caso durou cerca de três horas
UFOs — 21 objetos voadores não identificados detectados por radar em terra e a bordo das aeronaves enviadas
Aeroportos envolvidos — Sete: São José dos Campos, Guarulhos e Cumbica, em São Paulo, Santos Dumont e Galeão, no Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte
Bases aéreas envolvidas — Duas: Santa Cruz (RJ) e Anápolis (GO)
Aeronaves envolvidas — Cinco: um civil – o Xingu da Embraer – dois jatos F-5E e dois Mirage
A seqüência dos acontecimentos durante a Noite Oficial dos UFOs no Brasil
Na noite de 19 de maio de 1986, tivemos um dos maiores momentos da Ufologia Brasileira, reconhecido até mesmo por nossas autoridades aeronáuticas, que, através do então ministro brigadeiro Octávio Moreira Lima, admitiram que nosso espaço aéreo fora invadido por 21 objetos de origem desconhecida, detectados pelos radares, seguidos por aviões a jato e que se movimentavam em altas velocidades. Os artefatos mudavam de cor e de trajetória repentinamente e acompanhavam os aviões em manobras arriscadas. Veja a seguir a seqüência dos acontecimentos, conforme investigação realizada pela equipe do Instituto Nacional de Investigação de Fenômenos Aeroespaciais (INFA) [www.infa.com.br]:
20h50 — O operador da torre de controle do aeroporto de São José dos Campos (SP) observa, por binóculo, dois pontos luminosos. A torre pede ao comandante Alcir Pereira da Silva, que viajava com o coronel Ozires Silva, que fizesse uma busca visual do UFO.
21h10 — Sinais luminosos são vistos pelo comandante Alcir e pelo coronel Ozires Silva, num avião civil Xingu em rota entre Brasília (DF) e São José dos Campos (SP), pilotado por um civil, o comandante Alcir.
21h14 — O controle de radar de São Paulo recebe sinais sem identificação em seus monitores.
21h15 — O controle de radar de São Paulo informa ao I Centro Integrado de
Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta I) o que estava detectando. O Cindacta I confirma a presença de sinais no radar de São Paulo.
21h23 — O primeiro jato F-5E é despachado da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, rumo a São José dos Campos (SP), para interceptar os intrusos. O piloto era o tenente-aviador Kleber Caldas Marinho.
22h45 — O controle de radar da Base Aérea de Anápolis (GO), a 50 km de Goiânia, também detecta os sinais e o primeiro avião Mirage levanta vôo em busca dos UFOs. A bordo estava o capitão Armindo Souza Viriato de Freitas.
22h50 — O segundo jato F-5E levanta vôo da Base Aérea de Santa Cruz, tendo como piloto o capitão Márcio Brisola Jordão.
23h15 — O tenente Kleber, piloto do primeiro F-5E, vê várias esferas de luz pela primeira vez e começa a persegui-las.
23h17 — Um segundo Mirage levanta vôo da Base Aérea de Anápolis (GO) e também passa a perseguir os intrusos.
23h20 — O primeiro F-5E, do tenente-aviador Kleber, detecta pela primeira vez os sinais emitidos pelos UFOs em seu radar de bordo.
23h36 — Um terceiro Mirage levanta vôo da Base Aérea de Anápolis e começa seu trabalho de aproximação dos alvos radar. Este também acaba voltando para a base posteriormente, sem resultados conhecidos.