As primeiras mensagens de Ashtar Sheran de que o Centro de Estudos Exobiológicos Ashtar Sheran (CEEAS) teve notícias remontam aos anos 50 e foram escritas em alemão. A divulgação foi creditada a Herbert Victor Speer, médium do Círculo da Paz de Berlim, uma sociedade de pesquisas psicocientíficas. Quando chegaram ao Brasil, quase duas décadas depois, as mensagens atribuídas a Ashtar já haviam sido traduzidas para o italiano pela Sociedade Cooperativa Alaya de Pesquisas e Realizações Espirituais. Foram então reunidas no livro A Voz dos Extraplanetários, que teve como subtítulo O Comandante-Em-Chefe da Frota Extraplanetária Comunica aos Homens da Terra os Objetivos de Sua Missão Terrestre [Editora Pongetti, 1972].
A publicação em português reúne três livros com mensagens de Ashtar Sheran captadas por Speer: Der Menschheit Grosse Stunde [A Grande Hora X da Humanidade, 1956], Nicht von Dieser Erde [Não é Desta Terra, 1957] e Keine Utopie [Não é Utopia, 1959]. Ao editar as primeiras falas de Ashtar Sheran, o médium alemão procurou esclarecer questões que, segundo ele, “referiam-se ao sentido espiritual, aos quais não se quer dar fé”. Interessante é que já naquela época tais questionamentos eram recorrentes em torno do mais polêmico personagem da Ufologia Mundial. Mas por que as mensagens eram canalizadas? Seria Ashtar um espírito? Por que havia escolhido essa modalidade de comunicação?
Casuística ufológica
Simplesmente porque “esta maneira de entendimento vigora em todo o universo”, respondia Speer, há meio século. Contextualizando a pergunta, será que isso mudou? Será que, na história da Ufologia, se tem notícia de um diálogo entre um homem da Terra e um homem do espaço da maneira como nos comunicamos em nosso planeta, ou seja, verbalizando o pensamento? Speer ilustrava seu esclarecimento sobre o assunto com a retórica de uma casuística de que tinha informação. Tratava-se do suposto encontro entre um venusiano e um terrestre. “Ambos ficaram mudos um em frente ao outro. Tentaram entender-se com sinais e terminaram compreendendo-se por meio da transmissão de pensamento. O venusiano transmitiu suas ideias em seu próprio idioma, enquanto o terrestre as recebia telepaticamente, reproduzindo-as, por sua vez, na sua própria língua. Desse modo ele se tornou intérprete de si mesmo”. Foi esta a forma escolhida por Ashtar Sheran para comunicar-se com o jovem baiano Paulo Antonio L. Fernandes. Em 02 de julho de 1969, Fernandes e Ashtar estiveram pela primeira vez frente a frente.
Fernandes detalha em seu livro O Jovem que se Encontrava com Extraterrestres [Editora Ashtar Sheran, 1992], esse e outros encontros que manteve, entre eles o que o motivou, por orientação do próprio comandante espacial, a fundar o CEEAS, em 1973. A experiência de Fernandes foi real e testemunhada por um grupo de cerca de 25 pessoas, que estavam em sua companhia quando manteve contato físico com Ashtar pela segunda vez, bem como quando foram feitos contatos com Aurickx e Adhanara, seres que trabalham com o comandante.
Os relatos das pessoas que assistiram às experiências de Fernandes são concordes porque de fato vivenciaram aquilo, ou seja, viram a nave aterrissar, viram os seres que dela saíram usando um macacão prateado e se comunicaram sem usar a fala. Muitas não fazem mais parte do grupo, mas continuam sustentando que presenciaram conjuntamente os mesmos fatos. O ato ou efeito de crer, descrito no dicionário, se refere à “atitude de quem se persuadiu de algo pelos caracteres de verdade que ali encontrou”. Contudo, quanto a Fernandes e todas aquelas pessoas, não se trata de crer ou não, porque estavam diante dos fatos. Em minha adolescência, em Feira de Santana, ouvi algumas comentando sobre os seres, as naves e os locais da aterrissagem dos discos. Duas pessoas que faziam parte do grupo eram minhas vizinhas. Não acreditava nem deixava de acreditar nelas, apenas ouvia o que falavam e mal podia imaginar que 13 anos depois eu atuaria no CEEAS.
A existência dos UFOs
Ao longo desses anos participando do grupo, tive a oportunidade de ouvir relatos de pessoas que nunca fizeram parte dele, mas que apenas estavam presentes, por acaso ou não, em algumas das ocasiões em que Fernandes fazia contatos físicos. Certa vez, uma senhora, que não o conhecia, relatou ter visto “um disco voador fazer um voo rasante incrível” na BR-116, estrada que liga os municípios de Feira de Santana e Serrinha, no interior da Bahia. “Foi após um rapaz ter advertido a todas as pessoas que estavam naquele local, que aquilo ocorreria”, disse. Mas Fernandes nunca teve como registrar seus contatos, daí a necessidade da crença entre aqueles que apenas ouviram os relatos. O respeitado ufólogo e general Alfredo Moacir de Mendonça Uchôa [Falecido em 1996] foi um dos que declararam sua crença em seus encontros com Ashtar. Para ele, o fundador do CEEAS “chegou a realizar contatos em condições seguras de comprovada autenticidade, devido às faculdades de seu psiquismo, que o fizeram sensível e operante na área ufológica”.
Não bastam os testemunhos de uma experiência com Ashtar, assim como os milhares de relatos, fotografias e imagens que enriquecem a casuística ufológica mundial não conseguem validar a existência dos UFOs e seus tripulantes
A pioneira da Ufologia Brasileira Irene Granchi, presidente de honra do Conselho Editorial da Revista UFO, admite que antes não aceitava os relatos de Fernandes totalmente, atribuindo suas mensagens “ao psiquismo do médium escritor alemão que as tinha psicografado”. Comentando seu livro, o qual prefaciou, ela destaca um trecho que considero interessante: “Há um ponto, quando o jovem Paulo está sozinho e perdido no mato, e apela para Deus ajudá-lo, quando ele ouve uma voz na cabeça, dizendo: ‘Pax’. Ele responde: ‘Paz’. A voz, então, corrige-se, dizendo: ‘Ah, paz’. É como se alguém de língua estrangeira quisesse endireitar seu erro”. Esse detalhe, na opinião da ufóloga, “dá verossimilhança ao relato, torna-o um fato real, e sentimos que isso aconteceu mesmo”.
A crença em Ashtar Sheran talvez não seja a única questão que inquieta a Comunidade Ufológica Brasileira, mas também o fato de o CEEAS ser integrado por profissionais de formações diversas — medicina, publicidade, direito, psicologia etc — e manter-se unido mesmo depois da morte de seu fundador, que,
afinal, era o principal catalisador dos contatos com os discos voadores. Se a crença nasce da ignorância, como dizem os céticos, sempre vão existir os que acreditam e os que não acreditam em Ashtar Sheran. Os que têm certeza sobre os contatos realizados por Fernandes e os que duvidam de sua idoneidade. Não bastam os testemunhos de sua experiência, assim como os milhares de relatos, fotografias e imagens que enriquecem a casuística da Ufologia Mundial não conseguem validar a existência dos UFOs e seus tripulantes.
Você existe, Ashtar Sheran?
Com esta pergunta em mente, anos atrás iniciei uma pesquisa difícil sobre o tema, porque confrontar possíveis canais deste ser é mexer em casa de marimbondo. Tem muito ego envolvido. Cheguei a uma conclusão: o que existe é o Comando Ashtar, formado por seres extraterrestres de diversos planetas, alguns com aparência humana como nós, outros não. Sheran é um destes seres. Se é loiro e lindo, como dizem, não sei. Também não percebo nessa informação qualquer relevância porque o padrão de beleza depende do referencial adotado. Nós, da atual humanidade terrestre, idolatramos os loiros altos de olhos claros. Mas aonde a consciência e a atitude ética são mais honradas, a aparência é o que menos importa.
Ouvi uma fita cassete que, em tese, seria uma mensagem canalizada por Ashtar Sheran, feita décadas atrás. A mensagem é correta do ponto de vista consciencial, que é extremamente importante para os extraterrestres moralmente evoluídos. Ele fala sobre a necessidade de os homens da Terra atentarem para o seu planeta, a Terra, que agoniza por nossas ações egoísticas e imediatistas. Fala sobre a necessidade dos terrestres perceberem que o direito à vida que temos se estende a todos os seres vivos deste planeta. Fala sobre o que temos que crescer, como raça, para que seja possível um contato em massa por parte “deles”, nossos visitantes.
Ora, a mensagem é absolutamente condizente com o que a humanidade precisa ouvir. E o que é interessante nela, e que me fez prestar atenção em sua autenticidade, são alguns pontos comuns com outras mensagens gravadas de extraterrestres verdadeiros: voz metálica, ausência de sentimentalismo, objetividade extrema. Isso é bem compatível com o modo de expressão deles. Agora, o volume de mensagens canalizadas no mundo inteiro e atribuídas a Ashtar Sheran é enorme e, no meu entender, a maioria não é dele. Extraterrestres não usam termos como “irmãozinhos”, “filhinhos”, “bem-amados”. Nós é que usamos. Eles não nos veem ou tratam como criancinhas — deixam claro que nos analisam como seres imaturos, mas de imenso potencial para os quais o paternalismo é pejorativo.
Pode-se criticar o tema, dizendo que o despertar da consciência é repetitivo, mas, convenhamos, é o que precisamos fazer. Francamente, quem espera informações sobre tecnologia apenas é tão reducionista quanto os que desenvolvem a péssima ufolatria. Ashtar Sheran existe, sim. Mas não como um ser e sim como uma consciência superior que nos quer ver amadurecer, em nosso próprio ritmo e tempo. Uma consciência extraplanetária que quer o contato.
— Mônica de Medeiros