Durante a última viagem da presidente Dilma Rousseff à cidade mineira de Varginha, em meados de agosto de 2013, o assunto que mais gerou polêmica na mídia por uma semana inteira não foram seus discursos a respeito do controle da inflação, de investimentos em transportes com verbas do PAC, criação de empregos, formação de médicos através da construção de faculdades de medicina ou incentivos fiscais agrícolas às lavouras de café, abundantes no sul de Minas Gerais. Não. O que deixou jornais, revistas, rádios e emissoras de TV em total alvoroço durante aqueles dias — e continuou por um bom tempo rendendo muitas discussões e conversas reservadas entre os ufólogos —, foram as declarações da presidente ao jornalista Carlos Otávio, daquela cidade mineira.
Toda a polêmica se estabeleceu em torno do seguinte trecho de uma entrevista concedida ao vivo por ela a Otávio, da Rádio Vanguarda, também transmitida pela concorrente Rádio Itatiaia, que começou a ser respondida por Dilma após o jornalista fazer uma menção ligando o nome da cidade ao famoso caso da captura de ETs pelo Exército e Corpo de Bombeiros do município, em 1996: “Eu sei que aqui quem não viu conhece alguém que viu ou tem alguém na família que viu. Mas, de qualquer jeito, eu começo dizendo que esse respeito pelo ET de Varginha está garantido”. Vale a pena ressaltar que o jornalista Carlos Otávio foi um dos profissionais da cidade que acompanhou toda a ocorrência conhecida como Caso Varginha, desde seu início, sendo um dos maiores divulgadores e defensores da veracidade dos fatos ocorridos em 20 de janeiro daquele ano.
A princípio com um alcance estimado em um milhão de ouvintes englobando Varginha e municípios vizinhos, a transmissão das declarações de Dilma Rousseff não deveria ultrapassar os limites mineiros, por se tratar de uma entrevista quase que restrita a assuntos regionais. Entretanto, o detalhe das afirmações sobre o “respeito presidencial ao ET” acabaria indo parar em todos os meios de comunicação do país, e até fora dele, principalmente por conta da internet — o que Dilma falou acabou sendo repetido na capa do jornal londrino The Sun e a íntegra da entrevista foi parar, inclusive, no site do próprio Palácio do Planalto. Até aí nada de mais, pois se tratava da palavra da chefe do Executivo do país e sua divulgação pela Presidência da República. Mas se não fosse interpretação errônea dos ecos dessas palavras, cujas versões foram distorcidas pela mídia e até por ufólogos considerados experientes, talvez os efeitos negativos que elas trouxeram nem seriam notados. Só que, infelizmente, não foi isso que ocorreu.
Respeito ou gozação?
Independentemente do cunho ou do interesse político que as palavras da mandatária da Nação possa ter soado, já que Dilma encontra-se em plena campanha presidencial e a maioria dos varginhenses apoia a veracidade dos fatos, o que mais chamou a atenção dos que não se deixaram enganar pelo canto da mídia foram os tons jocosos que a entrevista surtiu. Ficou claro que houve desvirtuamento do foco central da questão, onde a palavra respeito virou sinônimo de gozação. Passou a ter mais importância um único parágrafo da enorme entrevista do que se configuraria no ponto de apoio a críticas intermináveis às políticas públicas do governo. E as consequências do episódio ocorrido 1996, assim como o imenso trabalho de estudiosos no levantamento de dados sobre o Caso Varginha, foram esquecidas em um piscar de olhos. É como se uma ocorrência grave, como a captura de seres alienígenas, não fosse, até atualmente, a principal razão para o nome da cidade mineira gozar desse respeito, além de estar em evidência mundialmente.
E, como de costume, ninguém da área ufológica foi ouvido sobre o que Dilma disse, para ao menos reacender a memória da sociedade sobre os fatos escondidos até hoje pelo Exército Brasileiro e contextualizá-los ao atual momento de abertura de arquivos ufológicos pelos militares, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) — segredos estes que certamente a presidente, como boa mineira torturada nos porões da Ditadura, no mínimo desconfia. Isso se dos mesmos não tiver total conhecimento. Assim o editor da Revista UFO A. J. Gevaerd se referiu ao incidente: “Sobre o fato de Dilma respeitar o ET de Varginha, ela certamente não deve estar brincando. Como presidente e comandante das Forças Armadas, ela tem acesso a informações sobre casos de extrema gravidade ocorridos no meio militar brasileiro. E o incidente envolvendo a queda de um UFO na cidade mineira e o resgate de pelo menos duas criaturas biológicas humanoides e não terrestres pelo Exército, em 20 de janeiro de 1996, se enquadra na categoria”.
Após o que foi dito pela presidente, jornais de grande tiragem, como a Folha de S. Paulo, por exemplo, passaram a dar mais atenção a gastos com a construção do chamado Museu do ET, obra que foi iniciada pela prefeitura anterior daquela cidade, do PT, e abandonada na gestão atual, do PTB. A Folha e outros veículos só se interessaram em chamar a atenção da sociedade para a suposta inutilidade do investimento cultural da cidade com verbas federais, além do desperdício de dinheiro público. Nesse contexto, trataram-se as declarações da presidente mais como um mero deslize de interesse político, sem que a imprensa tenha tido interesse em procurar em que bases Dilma se apoiou para dizer o que disse. Obviamente, dentro da visão leiga da grande mídia, a desvirtuação do que motivou a construção do museu foi seguida por outros jornais, rádios, revistas e telejornais.
Por que Dilma respeita o ET?
Em consequência, não faltaram charges de todos os tipos envolvendo Dilma e o ET com refrãos pilhéricos no velho tom depreciativo da imprensa à Ufologia, obviamente para transparecer que tudo relativo ao seríssimo Caso Varginha não passou de uma lenda, como relatado no próprio jornal [Saiba tudo sobre o caso nas edições UFO 100, 164 e 170, agora disponíveis na íntegra em ufo.com.br]. Contudo, esses “pequenos detalhes” interpretativos da imprensa em geral não poderiam passar em branco para esta publicação ufológica. E, em cima disso, passemos agora a colocar os pingos nos is.
Como dissemos acima, até especialistas em Ufologia caíram no conto da mídia. Logo surgiram no meio ufológico opiniões pessoais criticando a presidente não por ter tocado em tema tão caro para o nosso estudo, e sim de tê-lo feito de forma pejorativa ou no tom de uma brincadeira com fins políticos. Ainda houve aqueles que levantaram a ideia de que a presidente, na verdade, não teria o menor interesse pelo ET de Varginha ou pela parcela da população que crê em sua captura em Minas, em 1996 — e muito menos por quem estuda o Fenômeno UFO. Já os mais afobados direcionaram as críticas ao Governo Federal como um todo, estigmatizado pelo Partido dos Trabalhadores, de onde partiram as principais autoridades que, segundo essas opiniões, são os culpados por todos os males que grassam na má gestão do país desde 2003, ano da primeira eleição de Luis Inácio Lula da Silva, inclusive o acobertamento ufológico.
Pode até ser que, em alguns pontos, essas vozes tenham sua razão. Mas pelo menos na questão do recado que Dilma Rousseff quis passar, parece definitivamente haver uma enorme lacuna nessas interpretações — a começar pelo fato de ter sido durante a sua gestão que a Ufologia Brasileira obteve seus maiores avanços. Isso é o que se viu, por exemplo, na situação da reunião inédita entre os membros da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) e representantes das Forças Armadas, convocada por autoridades do Ministério da Defesa e ocorrida em Brasília, em 18 de abril deste ano [Veja edição UFO 202, idem]. Mas não é só isso. Retornando um pouco no tempo, indo especificamente ao fim de 2007, quando a atual presidente era ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República, a sua Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ) recebeu o protocolo do Dossiê UFO Brasil e deu atenção a ele.
O começo da abertura
O Dossiê, como muito publicado em UFO, foi o segundo e mais decisivo passado da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, que a CBU deflagrou a partir de 2004 por meio desta publicação — e dentre dezenas de casos da Ufologia Militar do país, estava naquele documento a descrição completa do Caso Varginha. Como também se sabe, os desdobramentos da recepção do Dossiê pela SAJ resultaram na liberação e envio de mais de 3.000 páginas de informações ufológicas militares, até então sigilosas, ao Arquivo Nacional, em Brasília. Embora o documento não conseguisse naqueles momentos iniciais convencer o Exército a desclassificar o Caso Varginha, revelando que seus soldados recuperaram os destroços de um UFO e pelo menos dois de seus tripulantes ainda vivos após a queda nos arredores daquela cidade, ele foi responsável pelo convite a este ufólogo para que visitasse a SAJ para prestar esclarecimentos sobre o que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica ainda escondiam sobre o tema.
Durante a gestão de Dilma Rousseff a Ufologia Brasileira obteve seus maiores avanços. Isso é o que se viu, por exemplo, na situação da reunião inédita entre os membros da CBU e representantes das Forças Armadas no Ministério da Defesa, em 18 de abril
É de se supor que a liberação de assuntos dessa natureza, classificados como ultrassecretos, que é o exemplo do Caso Varginha, certamente não chegaria apenas à imprensa, como chegou, mas também às instâncias superiores da SAJ. Portanto, o conhecimento da então ministra-chefe Dilma Rousseff sobre esse e outros casos ufológicos não vem só do que ela ouvira da mídia — era algo a que ela de fato teve acesso. Mas se isto não é suficiente para que se faça pelo menos um juízo justo da opinião da presidente sobre UFOs e ETs, é razoável lembrar à Comunidade Ufológica Brasileira os resultados da Carta de Foz do Iguaçu, assinada e emitida em dezembro de 2012 durante o IV Fórum Mundial de Ufologia naquela cidade [Veja edições UFO 197 e 202, idem].
O documento foi protocolado no Ministério da Defesa em janeiro de 2013 e responsável direto pelo mencionado e inédito encontro histórico entre ufólogos da CBU e representantes das Forças Armadas no Ministério da Defesa, em abril. Seus desdobramentos, em fase de maturação, preveem “a criação de um Grupo de Trabalho, no âmbito do Ministério da Defesa, para lidar oficialmente com a questão, contando com a participação de nossos militares”, conforme palavras do secretário geral daquele Ministério, doutor Ari Matos Cardoso. “Esperamos com essa iniciativa criar um canal de comunicação regular para debatermos os assuntos relacionados à ufologia”, finalizou o secretário em um de seus últimos e-mails enviados aos membros da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU).
Providências para quebra de sigilo
Embora não na velocidade que desejamos, o Governo Dilma tem se manifestado diante dos apelos da Comunidade Ufológica Brasileira para a abertura de arquivos sigilosos — e os integrantes da CBU têm acompanhado e cobrado as ações. Em uma das mais ativas linhas de frente dessa operação, o foco a ser atacado são justamente as informações ufológicas do Exército, ainda totalmente retidas e distantes dos olhos da sociedade. É ali que o Caso Varginha e seu ET aparecem como prioridade absoluta da CBU junto ao Ministério da Defesa. O governo sabe disso e tem tomado providências.
Durante a referida reunião com militares no Ministério da Defesa, o secretário Cardoso informou ainda que, em relação aos nossos pedidos de acesso a documentos sigilosos restantes, os primeiros resultados advindos da LAI surgiriam em junho de 2013, com a gradual desclassificação de importantes informações para os ufólogos. “A norma é a desclassificação geral e não o sigilo”, que só poderá ser mantido em casos raros, ainda assim com “justificativas plausíveis”, confirmou Cardoso. De fato, já no dia 01 de junho surgiram nos sites das Forças Armadas links com a publicação de listagens codificadas, referentes a quais informações foram desclassificadas e quais continuariam classificadas — e o problema é exatamente este: elas estão em códigos que em nada identificam seus co
nteúdos, tornando quase impraticável sua busca para posterior pedido de acesso.
Fazendo uma tentativa de identificar quais documentos referentes ao Caso Varginha ainda permaneceriam sigilosos, segundo indicado nos links das Forças Armadas, nos deparamos com uma dificuldade burocrática de grandes proporções. Vale ressaltar que informações de qualquer natureza, inclusive ufológicas, geradas à época do caso, em 1996, e classificadas como reservadas, não deveriam estar no rol de classificadas. Segundo a Lei de Acesso a Informações (LAI), elas perderam seu prazo de sigilo cinco anos após sua geração, ou seja, já deveriam estar disponíveis para acesso público em 2001.
Reabrindo o diálogo
Teriam tais informações sido reclassificadas no apagar das luzes, antes da entrada em vigor da LAI, que não permite a reclassificação de documentos reservados? Qual seria a razão para essas informações permanecerem sigilosas até hoje? Diante desse interminável leque de problemas impostos ao cidadão pela burocracia governamental, literalmente impedindo que se aplique na íntegra o Inciso 23º do Artigo 5º da Constituição Federal — que, em termos gerais, diz que “todos têm direito ao acesso à informação gerada pelo Estado” —, resolveu-se novamente apelar para as providências dos assessores civis do ministro Celso Amorim, da Defesa, reabrindo o diálogo iniciado na tal histórica reunião. Neste sentido, alguns e-mails e telefonemas foram trocados entre os integrantes da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) e o secretário Cardoso. Usou-se, inclusive, a argumentação inicial deste presente artigo, recordando o triste episódio envolvendo as palavras de Dilma Rousseff. Como poderia a presidente respeitar quem disse ter visto o ET e o seu Ministério da Defesa, totalmente envolvido com a questão, não correr em sua defesa?
Grupo de Trabalho de Ufologia
O doutor Matos não se furtou aos apelos dirigidos ao seu ministro e chefe. Uma semana e meia após o episódio envolvendo Dilma em Varginha, quando este artigo já estava redigido, este autor recebeu uma ligação do secretário confirmando que o ministro Celso Amorim não só respeita a Ufologia e suas testemunhas — tal qual a presidente dissera —, como também considera o trabalho da CBU coisa séria. E mais: disse que não medirá esforços para que as solicitações dos ufólogos brasileiros sejam atendidas dentro do que prevê a Lei. O ministro ainda autorizou Matos a informar que os termos finais do referido Grupo de Trabalho, anteriormente citado, já foram finalizados e estão apenas aguardando a edição de uma portaria no Diário Oficial da União — é possível que isso já tenha ocorrido quando esta edição for às bancas.
Enfim, ao que tudo indica, doravante as discussões entre a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) e o Ministério da Defesa finalmente sairão do papel para a prática, consolidando-se um antigo sonho da Ufologia Brasileira e, por que não dizer?, também da Mundial. Espera-se que com a oficialização deste Grupo de Trabalho, obviamente contando com a colaboração dos militares, sejam firmadas as pedras fundamentais para a criação de um novo Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani), como havia dentro da Aeronáutica nos anos 60 e 70, ou órgão similar. Sejam quais forem os resultados das atividades dessa futura iniciativa, certamente nem a presidente e nem os ufólogos precisaram voltar a passar por situações vexatórias, causadas por uma mídia leiga que, seja por ignorância ou por interesses escusos e alheios aos dos cidadãos, tanto prejuízo traz à informação do tema à sociedade.