O Conselho Europeu para a Pesquisa Nuclear (Cern) conectará cinco mil cientistas através de uma rede de informática para que, conjuntamente, possam estudar os dados que serão oferecidos pelo Grande Colisor de Hádrons (LHC), uma experiência que dará novas pistas sobre a origem do universo. O Cern, que há quatro anos desenvolve a rede LHC Computing Grid (LCG), usa a tecnologia grid, um sistema de computação em massa no qual um grande número de computadores trabalha, simultaneamente, em diferentes partes do problema e enviam os resultados a um sistema central, disseram fontes da organização. A utilização desta tecnologia permitirá que cinco mil cientistas espalhados no mundo todo e 500 universidades e centros de pesquisa, envolvidos nas experiências de colisões de hádrons (partículas subatômicas), possam estudar conjuntamente os resultados que o LHC começará a oferecer no final deste ano. O diretor-geral do Cern, Robert Aymar, disse em Genebra que um dos principais objetivos do centro, localizado no povoado suíço de Meyrin, fronteira com a França, é “unir esforços” na comunidade científica. “Nada do que é pesquisado aqui é secreto, todos os resultados estão ao alcance da comunidade científica”, enfatizou Aymar.
Com esse mesmo propósito, o centro criou, em 1989, a World Wide Web, mais conhecida como Internet, cuja finalidade inicial era justamente colocar em contato a comunidade científica para que os pesquisadores pudessem consultar os últimos artigos sobre os mais diversos experimentos.Segundo o diretor do departamento de Tecnologias da Internet, Wolfang von Rüden, o LCG é “um serviço baseado na internet e muito semelhante à web”, mas que “permite não apenas compartilhar arquivos, mas também sistemas, softwares e recursos informáticos”. Este objetivo será facilitado pela computação e pelo processamento de grandes quantidades de dados. O sistema informático do Cern deverá processar e distribuir os 10 milhões de gigabytes de informação que o LHC gerará a cada ano, um circuito de 27 quilômetros de comprimento situado a mais de 40 metros sob a terra que, através de campos magnéticos, acelera partículas subatômicas. O objetivo do LHC é criar, a cada segundo, cerca de 40 milhões de colisões destas partículas a uma temperatura próxima ao zero absoluto (273,15 graus Celsius negativos), visando imitar, com isso, o momento imediatamente anterior ao Big Bang. Em quatro partes deste acelerador serão construídos quatro detectores, Alice, Atlas, CMS e LHCb, nos quais será possível observar as colisões para “descobrir novas partículas subatômicas, analisar suas propriedades, e avançar no conhecimento das primeiras fases do Big Bang”, afirmou o chefe do projeto LHC, Lyn Evans.
Apenas o detector Atlas – que começou a ser construído em 1998 e de cujo projeto participam 160 universidades de todo o mundo – produzirá 300 mil megabytes de informação por segundo através dos 150 milhões de sensores que possuirá. Estas estruturas captarão a trajetória da partícula, sua carga e a energia que liberam quando ocorrem as colisões a uma velocidade próxima a da luz (300 mil quilômetros por segundo). O sistema informático instalado no Cern pode gravar 30 megabytes por segundo em um sistema de 45 discos paralelos que possui uma capacidade total de 15 pentabytes (mais de 15 milhões de gigabytes). O chefe do projeto LHC, Lyn Evans, afirmou que o centro espera realizar as primeiras colisões no final deste ano, mas acredita que o sistema só será completamente operacional em junho de 2008. “(Aí) encontraremos coisas sobre as quais nem sequer sonhamos”, acrescentou o diretor científico do Cern, Jos Engelen.
Segundo o cientista, os resultados podem oferecer mais informação sobre os buracos negros e a não matéria e, portanto, “podem descobrir uma terceira dimensão do espaço”. Com um orçamento de ? 785 milhões, o Cern, criado em 1957, é integrado por 20 países do continente europeu, entre eles a Espanha e a Suíça, e possui vários países colaboradores, como os Estados Unidos. A instituição possui um quadro de mais de três mil cientistas.