Além de intensa, a casuística ufológica do litoral paulista é pioneira. Vem dessa região, mais precisamente de São Vicente, o registro do primeiro avistamento de um UFO no Brasil, protagonizado por ninguém menos do que o padre jesuíta espanhol José de Anchieta. Em carta datada de 31 de maio de 1560, que hoje faz parte do acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro, o autor da primeira gramática da língua tupi e criador do Teatro Popular Brasileiro relata a observação de um “estranho fenômeno luminoso que atacava e assustava as tribos indígenas”, e que era chamado pelos primeiros habitantes do Brasil de Mbai-tatá ou Boitatá, que significa “Coisa de Fogo” ou “Que é do Fogo”. “Há também outros fantasmas nas praias, que vivem na maior parte do tempo junto ao mar e nos rios, e que são chamados de ‘Que é Todo de Fogo’. Mas não se vê outra coisa senão um facho cintilante correndo por ali, que acomete rapidamente os índios e os mata como Curupiras, o que seja isto não se sabe com certeza”, relata o padre na missiva.
Agressores da natureza — Um anão de cabelos compridos e vermelhos, com dentes verdes e que teria os pés virados para trás –, figura típica do folclore brasileiro, que somente se tornava violenta com os agressores da natureza, conforme as lendas, o facho cintilante descrito por Anchieta dizimava índios sem dó. O padre explica que para tentar acalmar os violentos visitantes os índios passaram a lhes dedicar oferendas, como penas, esteiras e cobertores, que eram deixados nas clareiras. Havia ainda os que carregavam um rolo de fumo quando adentravam à mata, para oferecer à “coisa” na esperança de ser poupado de uma agressão maior. Anchieta também descreve na carta, e em outros textos da época, monstros que viviam nas águas, parecidos com humanos, e que igualmente violentavam os índios.
Eram os chamados Ipupyaras ou Igputiaras. Com base no depoimento do jesuíta Fernão Cardim, o historiador Afonso de Escragnolle Taunay explicou a atuação de tais seres no livro Zoologia Fantástica do Brasil [Editora da Universidade de São Paulo]: “O modo que têm para matar é: abraçam-se com a pessoa tão fortemente, beijando-a e apertando-a consigo, que a deixam feita toda em pedaços, porém inteira. E como a sentem morta, dão alguns gemidos como de sentimento e, largando-a, fogem. E se levam alguns, comem-lhes somente os olhos, narizes e a ponta dos dedos dos pés e das mãos, e as genitálias, e assim os acham de ordinário pelas praias com estas coisas menos”.
Relatos como os descritos foram se sucedendo até a chamada Era Moderna da Ufologia. O primeiro caso que encontramos na região nesse novo período aconteceu em 16 de junho de 1956, quando o advogado e professor da Faculdade Católica de Santos, João de Freitas Guimarães, estava na cidade litorânea de São Sebastião, a trabalho. Após o jantar, por volta das 19h00, ele resolveu caminhar pela praia. Inesperadamente, observou um UFO emergir das águas e se aproximar, até pousar na areia. A porta da nave foi aberta e por ela saíram dois seres de aparência humana. Eram altos, de pele clara e cabelos louros, e estavam vestindo uma espécie de macacão verde, largo no corpo e justo no pescoço, punhos e tornozelos. A princípio, o advogado pensou se tratar de pilotos que estavam testando alguma nova aeronave, por isso perguntou em vários idiomas se estava tudo bem, mas não obteve resposta. Logo em seguida, os seres se comunicaram com o advogado através de telepatia e o convidaram para que entrasse naquele estranho objeto. Guimarães concordou, até mesmo pela curiosidade de saber como seria o interior da aeronave. Até então, o advogado ainda acreditava que estava diante de pilotos norte-americanos ou de algum país europeu.
Ao entrar no artefato, viu mais três tripulantes com o mesmo tipo de traje dos outros dois. O objeto decolou e o advogado acabou realizando uma curta viagem com aqueles seres. Durante o percurso, Guimarães observou que havia respingos de água nas vigias da nave e perguntou aos seres se estava chovendo lá fora. Através da comunicação telepática eles lhe responderam que aquela água era proveniente da “rotação em sentido contrário das peças que compunham a fuselagem da nave”. E ainda explicaram “que ao redor do objeto havia alguns dispositivos para a filtragem de raios, que tinham a função de promover o semivácuo ao redor da nave, o que propiciaria a neutralização da gravidade, fazendo com que o ar que a envolvia fosse mantido junto à nave. Isso a faria decolar e formaria uma proteção contra atritos para não provocar o aquecimento e fazê-la se locomover silenciosamente dentro de seu próprio campo gravitacional, protegendo a tripulação de impulsos violentos e outras manobras realizadas pelo espaço”.
Divulgação da experiência — Guimarães chegou a reparar que a nave havia passado por uma região de cor violeta e sentiu certa trepidação. Mas foi somente em seguida, ao observar muitas estrelas brilhando no céu escuro, que se deu conta de que havia acabado de sair da atmosfera terrestre. Do compartimento em que esteve durante aquele rápido passeio pôde ver uma espécie de painel circular, em que três agulhas oscilavam constantemente. O advogado foi levado de volta à praia cerca de 30 minutos após ter entrado na nave. Ao se despedirem, os seres marcaram um novo encontro para o dia 12 de agosto de 1957, mais de um ano após o primeiro contato, no mesmo horário e local. No entanto, orientado pelo coronel-aviador Coqueiro, Guimarães não compareceu. O militar disse que enviaria dois caças a jato para “receber” o disco voador. E os alienígenas cumpriram o combinado. Na data mencionada, moradores de São Sebastião informaram ter visto um UFO surgir por trás de Ilhabela e sobrevoar a praia, somente se afastando com a chegada dos aviões da Força Aérea Brasileira (FAB). Guimarães foi entrevistado por diversos pesquisadores e até hipnotizado pelo doutor Walter Karl Bühler, então presidente da Sociedade Brasileira de Estudos sobre Discos Voadores (SBEDV), que relatou toda a história em uma matéria publicada naquele ano no boletim da entidade – o jornal A Tribuna, de Santos, também divulgou informações sobre o caso.
A divulgação da experiência rendeu ao advogado e professor severas retaliações dos colegas acadêmicos. O curioso é que o caso se tornou um dos poucos da Ufologia Mundial em que a testemunha foi convidada a entrar na nave
e não abduzida inconsciente ou com o uso de força – são esses os casos mais comuns que conhecemos. Anos depois, o advogado foi visitado por um oficial da Marinha, que lhe revelou que seus esboços sobre os aparelhos vistos dentro da nave eram muito semelhantes a radares altamente sofisticados para a época. Curiosamente, o tal oficial era o comandante do navio-escola Almirante Saldanha, de onde foram testemunhadas, em 1958, as evoluções de um UFO sobrevoando a Ilha de Trindade, no extremo leste do território brasileiro – exatamente a um terço do caminho entre o Brasil e a África [Veja UFO 054 e 082]. Guimarães viveu até os 87 anos, vindo a falecer em 1996.
O final da década de 50, mais precisamente os anos de 1957 e 1958, foi marcado por intensa casuística ufológica em todo o país. Foi quando aconteceram alguns dos principais casos da Ufologia Brasileira, que acabaram também se destacando no cenário internacional. Entre eles estão o disco voador visto na Ilha de Trindade e a abdução do lavrador Antonio Villas-Boas, em Minas Gerais [Veja UFO 003, 006, 097 e UFO Especial 010]. Também foram registrados no período casos clássicos no litoral paulista, como a queda de um UFO em 10 de setembro de 1957 na Praia das Toninhas, em Ubatuba. Pescadores relataram que, naquele dia, observaram um disco voador caindo na direção do mar. Inexplicavelmente, antes de atingir a água, o objeto alterou sua trajetória e simplesmente explodiu, provocando uma chuva de fragmentos incandescentes. Três deles, entre os vários que caíram na areia da praia, foram recolhidos por pescadores e enviados para o repórter fotográfico e colunista social Ibrahim Sued, que os encaminhou ao conceituado médico e também ufólogo Olavo Fontes, o então representante brasileiro da Organização de Pesquisa de Fenômenos Aéreos (APRO) – um dos primeiros grupos ufológicos civis, fundado nos Estados Unidos em 1952.
Um dos fragmentos foi examinado pelo Departamento Nacional de Produção Mineral do Ministério da Agricultura. Após análise espectrográfica do material, o órgão concluiu que o pedaço do UFO era composto de magnésio com altíssimo grau de pureza, algo em torno de 99,9%, índice considerado impossível de ser obtido à época. E as impurezas detectadas no material, correspondentes ao 0,01% restante, eram formadas de zinco, estrôncio e outros metais. O ministério informou ainda que o fragmento era 6,7% mais denso do que o magnésio mais puro que conhecemos e que a concentração de estrôncio verificada era considerada “anormal”. Essas e outras conclusões contribuíram para a hipótese de que não se tratava de um objeto de origem terrestre. Após novas análises, Fontes enviou um dos fragmentos para a sede da APRO nos EUA e entregou as outras duas ao major do Exército Roberto Caminha e ao comandante da Marinha José Geraldo Brandão. A intenção era obter alguma explicação das Forças Armadas sobre o episódio, mas, como já era de se esperar, o resultado dos testes e estudos com os materiais não foi divulgado à Comunidade Ufológica Brasileira nem ao público em geral. Já o físico Peter Sturrock, da Universidade de Stanford, após examinar a amostra do fragmento encaminhada à APRO por Fontes, confirmou que havia grande probabilidade da origem dos fragmentos ser mesmo extraterrestre. Outro importante caso da Ufologia Brasileira, um dos primeiros envolvendo testemunhas militares, também foi registrado em 1957, na cidade de Praia Grande.
Luz sobrevoando o mar — Dois soldados do Exército faziam o patrulhamento no Forte de Itaipu, por volta das 02h00 do dia 04 de novembro, quando um deles avistou uma luz alaranjada sobrevoando o mar. Para surpresa de ambos, a luminosidade aumentou de intensidade e seguiu na direção em que estavam. À medida que se aproximava eles sentiam mais medo, pois notaram que não se tratava de nada conhecido. Instantes depois, o UFO parou exatamente acima dos dois soldados, a uma altura estimada de 100 m, e emitiu um feixe de luz avermelhada que clareou todo o ambiente. Segundo os soldados, o objeto tinha o tamanho de um avião DC-3. De repente, ouviram um estranho zunido e ambos foram envolvidos por uma forte onda de calor. Um deles caiu ao chão, enquanto o outro conseguiu correr e se esconder atrás de um canhão.
Os gritos de pavor dos dois chamaram à atenção de outros soldados que estavam no forte, mas logo em seguida um blecaute deixou todos na absoluta escuridão. O gerador de emergência foi acionado, mas parou de funcionar instantes depois. Os primeiros soldados que correram para prestar socorro às vítimas ainda conseguiram avistar o UFO, que já se distanciava na direção do oceano. O objeto só pôde ser notado porque tinha brilho ainda mais intenso e iluminava o mar. As duas testemunhas sofreram queimaduras de segundo e terceiro graus. O curioso é que as regiões do corpo mais afetadas foram as cobertas pela farda. Era como se o raio emitido pelo objeto tivesse causado efeito semelhante ao microondas. Após os primeiros atendimentos, ainda no forte, os soldados foram levados sob escolta para o Rio de Janeiro, então capital do Brasil, onde ficaram alguns dias hospitalizados.
O caso foi mantido em sigilo durante um bom tempo e até hoje não foram revelados os nomes dos militares. Na época, as autoridades brasileiras chegaram a pedir auxílio à embaixada norte-americana para investigar quais seriam os motivos do repentino ataque ao Forte de Itaipu. Recentemente, foi divulgado um documento, liberado pelos militares mediante amparo na Lei da Liberdade de Informação [Freedom of Information Act, FOIA], que traz a descrição genérica da experiência ufológica, sem detalhar o comportamento dos visitantes alienígenas. As ocorrências ufológicas envolvendo militares podem ser facilmente encontradas no litoral paulista. Uma experiência significativa aconteceu às 00h40 de 01 de janeiro de 1987, quando o militar Anderson estava de guarda próximo ao hangar da Base Aérea de Santos. Em dado momento, quando olhou para cima, viu o que chamou de “a coisa mais fantástica que já vi na vida”. Era um disco voador, que estava a cerca de 30 m acima do Canal de Bertioga e à 100 m do soldado. Ele relata que se sentiu paralisado e, sem saber o porquê, a única reação que teve foi a de começar a contar mentalmente. Quando chegou no número 9, a nave disparou velozmente na direção da serra na estrada Rio-Santos. Em fração de segundos, conforme a testemunha, o objeto parou no céu e começou a descer na vertical, até desaparecer no meio da mata.
OSNIs assustam caiçaras — Em todo o litoral paulista é muito comum o relato de testemunhas, principalmente pescadores e outros caiçaras, sobre o avistamento de UFOs entrando e saindo do mar. Tais ocorrências despertaram o imaginário popular para a hipótese, ainda não comprovada, da existência de uma base alienígena submersa na região. Um dos casos que contribuiu para disseminar essa tese, que envolve diretamente os chamados objetos submarinos não identificados (OSNIs), aconteceu em 10 de janeiro de 1958, quando o capitão Chrysólogo Rocha estava tranqüilamente sentado no alpendre de sua casa na Vila Militar, em frente à praia. Ao observar o horizonte, ele se surpreendeu ao notar uma suposta “ilha” desconhecida. Pegou então o binóculo e percebeu que ela aumentava de tamanho à medida que emergia do mar. Rocha chamou os demais moradores e amigos, num total de 10 testemunhas, e todos ficaram observando o objeto. Com a aproximação do artefato foi possível notar que ele possuía duas partes, como dois pratos sobrepostos, sendo que a de baixo flutuava no mar. De repente, o OSNI submergiu, mas o avistamento ficou comprometido, pois um barco a vapor cruzou o campo de visão das testemunhas, obstruindo a observação por um período de 15 minutos. Após isso, eles notaram que a nave havia sumido.
Mesmo assim, continuaram fitando o horizonte e, instantes depois, viram o objeto reaparecer. Dessa vez foi possível notar hastes brilhantes ligando os dois “pratos”, com pequenos objetos coloridos, semelhantes a contas de um colar, se movendo desordenadamente. Minutos depois, os dois fragmentos da nave se uniram e ela submergiu. Uma das testemunhas, a esposa de um outro oficial do Exército, chegou a telefonar para o Forte dos Andradas, no Guarujá, informando o fato, que alertou a Base Aérea de Santos. As autoridades aeronáuticas, por sua vez, enviaram um avião para sobrevoar o local da ocorrência, mas nada de anormal, segundo eles, foi constatado. Alguns anos depois, em 31 de outubro de 1963, foi registrada a queda de um UFO no rio Peropava, na cidade de Iguape. Um pescador do local lembra que o ruído da queda do objeto foi ensurdecedor. A nave, que era semelhante a uma bacia, chegou a bater no topo de uma palmeira, mas depois caiu no rio e submergiu. Conforme o caiçara, a água ficou “borbulhando” por algum tempo, como se estivesse fervendo.
Logo em seguida, muita lama começou a emergir do Peropava. A testemunha lembra que ficou impressionada com o tamanho do objeto, algo em torno de 7 m de diâmetro, enquanto a profundidade do rio é de 5 m. E para o espanto de todos, horas depois o objeto havia simplesmente desaparecido. Mergulhadores vasculharam o rio, mas nada encontraram, o que também descarta a hipótese, aventada à época, de que se tratava de restos de um satélite. Ao avistamento coletivo em Peropava se sucederam outros, com características mais ou menos semelhantes. Um exemplo foi o evento testemunhado por uma estudante de 14 anos, da Escola Napoleão Laureano, situada no distrito de Vicente de Carvalho. Era uma manhã ensolarada de 1985 quando a adolescente viu o UFO prateado que sobrevoava a escola. Segundo ela, que chamou os colegas imediatamente, a nave era muito brilhante e refletia a luz solar. Instantes depois, desapareceu sem deixar vestígios. Posteriormente, soubemos que outro objeto foi visto, no mesmo horário, em uma escola situada na avenida Conselheiro Nébias, em Santos. Pessoas que ligaram para a Base Aérea de Santos foram informadas de que se tratava apenas de um balão meteorológico. Contudo, descobrimos, através de funcionários da base, que os controladores de vôo detectaram a passagem do objeto e afirmaram que não se tratava de balão, o que também foi confirmado pela tripulação do Professor Besnard, um navio de pesquisas da Universidade de São Paulo (USP) que costuma ficar ancorado no Porto de Santos. Eles também testemunharam a passagem do UFO.
As experiências envolvendo seres alienígenas também fazem parte da casuística ufológica do litoral paulista. Entre os casos pesquisados pelo Grupo de Estudos Ufológicos da Baixada Santista (GEUBS), destaca-se o investigado pelo ufólogo Cláudio Beltrame Monteiro. Na noite chuvosa de 28 de dezembro de 1989, o jovem Sérgio voltava da casa da namorada, em Itariri, quando ouviu um estranho barulho. Quando olhou para trás, sobre os trilhos por onde caminhava, viu uma criatura que emanava luminosidade. Paralisado, só teve a reação de proteger os olhos com suas mãos, pois a luz do ser era muito forte e ofuscava a sua visão. Segundo o rapaz, à medida que tentava observar melhor o ser, recebia mensagens telepáticas. A criatura informou que existia uma base alienígena na Serra da Juréia e fez comentários de cunho filosófico.
Momentos depois, conforme Sérgio, o extraterrestre se transformou em uma bola de luz e desapareceu no céu. Em seguida, ele conseguiu recuperar os movimentos e correr para casa. Ainda assim, não dormiu direito à noite, pois estava muito impressionado. Na manhã seguinte notou que seu rosto estava queimado, como se tivesse adormecido na praia. O ufólogo Cláudio Monteiro disse que esteve com a testemunha no local do avistamento, alguns anos depois, e pôde notar que Sérgio ainda permanecia abalado ao lembrar da experiência.