Hoje, pai de 2 garotas e 2 meninos, Travis Walton vive ainda em Snowflake, levando uma vida normal mas não inteiramente livre da notoriedade que o atingiu. Num desabafo, conta o que sente e o que pretende com sua história
Há quase 20 anos atrás, eu estava saindo da Floresta Nacional do Arizona com meu grupo e vi um flamejante objeto no céu escuro. Quando fiz um gesto de deixar o caminhão — e era algo que respondia ao destino eu não só estava deixando meus colegas mas também uma vida normal, mergulhando de cabeça numa experiência devastadora depois da qual minha vida não poderia ser a mesma novamente. Nada daquela inocência de garoto do interior poderia preparar-me para o que aconteceu.
Quando escrevi The Walton Experience em 1978, livro no qual se baseia o filme, declarei meu desejo de que o leitor sentisse a mesma sensação que eu tive durante o contato. Imperava que as pessoas se colocassem no meu lugar e tivessem uma aproximação mais objetiva do fato, podendo fazer uma avaliação correta do caso. Contudo, o tempo me mostrou que nada atinge mais a subjetividade Travis Walton, hoje humana — quando se quer passar sensações — do que um filme. Penso que Fogo no Céu conseguiu destilar a essência do que foi a minha abdução.
Resolvi rescrever o meu livro The Walton Experience em 1993, que foi relançado com o mesmo titulo do filme (Tire in lhe Sky). Tomei esta decisão para que pudesse retratar melhor tudo o que aconteceu naquela noite de novembro de 1975. A ênfase de meus acréscimos na obra, revisão e atualização, foram necessárias, pois precisava dizer certas verdades que não tive coragem de falar quando publiquei meu livro pela primeira vez.
Hoje, quando olho para trás e revejo todos os ataques feitos a mim pela mídia por toda a sociedade, fico perturbado pelo simples falo de que certas coisas ditas jamais foram impressas. Para ser claro, fui vítima da imprensa. Mas ainda assim, posso dizer que também encontrei excelentes jornalistas, alguns bem cépticos, que tentaram verificar a autenticidade dos fatos, numa visão imparcial. São esses que deixam as conclusões ao leitor sem pretensão de fazê-lo. E este o ideal pelo qual me empenho. Eu costumava me ofender, me sentir ultrajado não só por falsas evidências contra mim, mas também pela simples descrença. Agora entendo que certo grau de incredulidade é perfeitamente compreensível.
UMA IMPRENSA MORDAZ E PRECONCEITUOSA
A mídia costuma ser muito preconceituosa quando emite notícias a respeito de UFOs. O teste mais fundamental de validade é a lei da contradição, que é uma coleção de teorias que se excluem mutuamente. Meus mais ferozes acusadores fazem exatamente isto: uma coletânea de frases e acusações incompatíveis, colocadas ao longo do tempo e que perdem a força acusatória, gesto que os reprova imediatamente no teste. Infelizmente, existe uma mentalidade de Watergate nos Estados Unidos que vê em qualquer negativa pública um sinal de culpabilidade. No meu caso, a verdade era ufológica e ninguém acreditava nisso! Uma regra que aprendi com a imprensa é que a refutação é sempre menos lida que o erro publicado anteriormente.
No livro quis mostrar — pois no filme não houve oportunidade para isso — que se uma fração de ceticismo fosse aplicada tanto a mim como a meus acusadores, minha vida poderia ter sido menos infeliz. Sei que muitas pessoas acreditaram na veracidade de minha história, mas ao mesmo tempo concebiam várias explanações alternativas. A realidade é que ninguém gosta de encarar a verdade de frente: os jornalistas disseram que minha abdução foi um golpe de publicidade, os médicos julgaram ser uma alucinação derivada do uso de drogas, os geólogos classificaram a luz como gazes subterrâneos ou bolas de fogo geradas por placas tectônicas… e assim por diante.
Meus olhos estão bem abertos, prontos a detectar evidências contra meus opositores e suas baboseiras. O jogo está mudando. Perdi minha inocência e agora posso ter meios de me defender. Se algumas pessoas contrárias à Ufologia pensam que podem caluniar os que não concordam com suas idéias, podem ter algumas surpresas. Não me incomodo com os cépticos comuns, acho que eles são necessários à sociedade e procuram ter uma visão mais objetiva do mundo. Reservo minha ira aos falsos pesquisadores e pseudo-doutores que procuram enganar toda a comunidade científica com suas teorias.
O que tenho a dizer é que a humanidade pode ter, através da minha experiência, uma grande revelação. E isso é maior que coisas tão pequenas como as briguinhas entre imprensa, ufólogos e autoridades do governo. E somente através de experiências como a minha que a humanidade poderá conhecer o significado de tudo, não só do Fenômeno UFO, mas das leis que regem o Universo. Quando isso acontecer, creio que finalmente alcançaremos a recompensa: o último ponto de compreensão.