Na tarde de 28 de janeiro de 2007, encontramos João Franco em sua residência na cidade de Guaxupé, sul de Minas Gerais. Soubemos que ele tinha passado por uma experiência insólita envolvendo um objeto luminoso desconhecido. Nosso primeiro contato com a história de Franco deu-se através do ufólogo mineiro Ênio Junior e, diante das características estranhas de seu caso, resolvemos iniciar uma apuração mais detalhada dos fatos, localizando testemunhas que se envolveram direta e indiretamente com ele. Nossa equipe foi composta por este autor e por Eduardo Pereira, do Centro Brasileiro de Pesquisas Ufológicas (CBPU), por Milton Frank, consultor da Revista UFO e presidente do Centro de Ufologia Brasileiro (CUB), e por Ênio Junior e Pedro Ramos, da Associação Sul Mineira de Estudos Ufológicos (ASMEU).
Ao chegarmos à casa de João Franco, nos deparamos com um homem simples, melancólico e bastante triste, mas disposto a nos relatar detalhadamente o que havia acontecido, permitindo, inclusive, que o filmássemos. Apesar do tom de voz baixo e até um pouco depressivo, ele tinha boa articulação em sua oratória e respondia a todas as nossas perguntas sem hesitação. Franco não soube precisar corretamente o dia em que sua experiência ocorreu, mas garantiu que foi no mês de outubro de 1985. Na ocasião, ele, seu irmão Galvão Franco, um amigo chamado Ozório Rosa de Carvalho e outro colega foram pescar no Açude da Barra, na região de Barra Velha, zona rural de Guaxupé. O local está dentro de uma fazenda e eles não tinham autorização para pescar no açude, o que configurou uma atividade ilegal e invasão de propriedade.
Apesar dos irmãos serem policiais militares na época, eles tinham o costume de fazer a pescaria há mais de três anos, e por motivos óbvios, entre 20h00 e 22h30, tendo na escuridão da noite um modo de se ocultarem. Sempre deixavam o carro – um Opala que pertencia a Galvão – na estrada e invadiam a propriedade a pé, pescando com um barco inflável. O processo era rápido: numa noite eles iam ao local e instalavam as redes, e na seguinte retornavam para recolhê-las com os peixes. Já o barco era mantido no açude, escondido embaixo das taboas [Plantas aquáticas típica de brejos, manguezais, açudes e outros espelhos d’água, que podem atingir até dois metros de altura]. A noite do evento ufológico foi justamente aquela em que eles foram retirar as redes, o que não levava mais do que 30 minutos.
Segundo se recorda João Franco, quando o grupo estava recolhendo a última rede, ele avistou uma esfera luminosa de cor azul, do tamanho da Lua cheia, sobre a copa das árvores que cercam o açude. A partir daquele momento, todos ficaram em pânico, pois acharam que poderia ser o holofote ou lanterna de algum guarda-florestal, acionado pelo proprietário da fazenda. Trataram de sair dali o mais rápido possível. Logo em seguida, Franco viu sair quatro esferas menores debaixo da primeira. Elas eram bem pequenas, brilhantes e faziam um movimento vertical muito rápido, subindo e descendo sem parar. Enquanto remavam rapidamente, as esferas menores pareciam acompanhar o barco à distância. Quando o grupo chegou às taboas, tentou se esconder nelas, já que a vegetação é alta e fechada. Mas uma luz pequena e azulada veio flutuando, com movimentos ondulatórios, e acabou entrando no meio das plantas. Quando chegou bem perto do barco, lançou um flash extremamente forte e azulado e em seguida desapareceu, sem deixar qualquer vestígio.
Luzes que subiam e desciam — Os pescadores ficaram ali parados por cerca de 10 minutos. Como as luzes não voltaram a aparecer, concluíram que não havia mais perigo e decidiram remar em direção à margem do açude. Quando lá chegaram, saíram do barco, pegaram os peixes e foram para o carro. Apesar da estranheza daquelas luzes, eles ainda achavam que talvez tivessem sido flagrados por algum guarda ao invadirem a fazenda para fazerem a pesca ilegal. Chegando ao Opala, Galvão Franco tentou dar a partida, mas o carro não funcionava. Foi aí que descobriram que não havia uma única gota de gasolina no tanque, o que os deixou ainda mais apreensivos. A falta de combustível era inexplicada, pois eles jamais saíam para pescar sem conferir o nível da gasolina. Chegaram a pensar que alguém tinha roubado o combustível, mas a tampa do tanque estava fechada e não existia o menor sinal de que alguém o tivesse aberto à força.
Não restou alternativa para o grupo a não ser procurar alguém que pudesse fornecer algum combustível para o carro, e os quatro começaram a andar pela estrada de terra, chegando à casa do administrador da Fazenda Barra. Por sorte, na época, o funcionário era Ulisses Gonçalves da Silva, conhecido dos rapazes e “irmão de igreja” de Galvão Franco. Ao descreverem a inusitada experiência, Silva comentou que, certa vez, um tratorista da fazenda também passou por momentos terríveis por causa de uma luz azul, no meio da madrugada, quando estava arando um terreno para plantar milho. Antes de irem embora com a gasolina, foram informados pelo administrador que já eram 04h30. Esta foi uma grande surpresa. Até então, o grupo estava com a impressão de que Silva tinha chegado há pouco da igreja e estaria se preparando para dormir, quando na verdade ele já tinha dormido a noite toda e estava se levantando para começar suas obrigações de administrador da fazenda!
Os quatro retornaram rapidamente para o carro, abasteceram o tanque e partiram. No caminho de volta, comentaram assustados como poderia ter se passado tanto tempo assim. Na pior das hipóteses, eles gastariam um pouco mais do que meia hora para recolher as redes, sendo que eram mais ou menos 22h30 quando iniciaram a tarefa. Resolveram fazer as contas. Quando as luzes apareceram, eles ficaram escondidos nas taboas por uns 10 minutos. A caminhada na estrada até a casa do administrador levaria outros 40 minutos, no máximo. No entanto, quando foram recebidos por Silva, já eram 04h30! Qualquer que fosse o cálculo, por mais que se atrasassem aqui e ali, tudo deveria estar encerrado até as 24h00. O que teria ocorrido nas mais de quatro horas seguintes?
Esse fato perturbador marcou profundamente todos eles, e até hoje João Franco não tem a menor idéia do que ocorreu. Os quatro homens nunca souberam o que lhes aconteceu nesse período de “tempo perdido” em suas vidas. João Franco foi o mais afetado pela inquietante dúvida, que carrega até hoje. Ele afirmou várias vezes à equipe de pesquisador
es que, antes, tinha uma vida normal e controlada, mas que, depois daquela noite, o mundo pareceu ter desabado em cima de sua cabeça. Sua saúde nunca mais foi a mesma.
Alguns dias depois da experiência, João Franco conversou com o dono de um posto de gasolina no centro de Guaxupé, a quem relatou os estranhos fatos daquela noite. “O dono do posto comentou comigo que, certa vez, quando ele foi com a namorada num morro que existe no mesmo local, acabou passando por dificuldades devido à presença de uma misteriosa luz azul. A ponto de ter que voltar à cidade”. Ainda atormentado, Franco, que nada sabia sobre Ufologia na época, começou a ler sobre o tema anos depois, em busca de respostas que pudessem explicar o acontecido.
Ele chegou a viajar a São Paulo para fazer uma sessão de regressão hipnótica, num consultório situado na Avenida Angélica. Mas quando lá chegou, havia muita gente agendada para fazer o mesmo e ele decidiu voltar para casa, não realizando o procedimento. Cerca de duas a três semanas depois da experiência, os pêlos de seu peito, do lado esquerdo e um pouco acima do mamilo, caíram e formaram um círculo ovalado grande e liso, de 6 a 8 cm de diâmetro. Um pouco acima dele apareceu outro menor, com cerca de 3 a 4 cm de diâmetro. A pele dentro desses círculos tinha cor rosada, um pouco arroxeada, e por serem muito visíveis, ele passou a usar a camisa fechada. O mesmo aconteceu com sua bochecha esquerda, onde apareceu outro círculo ovalado e completamente liso, onde a barba não cresce. João Franco achou que tinha contraído alguma doença na pele, que estaria causando a perda dos pêlos, mas depois de algumas semanas eles voltaram a crescer.
Fenômeno que absorve o vigor físico — A testemunha relata que, desde aquela experiência, tornou-se uma pessoa abatida e depressiva, preferindo se isolar das pessoas. Conta que, antes, quando era militar, era bastante ativo e chegava a fazer “bicos” de pedreiro. Mas, depois do episódio, sua saúde nunca mais foi a mesma e ele teve vários problemas – que enfatiza acreditar terem sido causados por aquelas misteriosas luzes durante a pescaria. Mesmo assim, após alguns anos, comprou um pedaço de terra na região, onde há um morro conhecido como Seabra separando sua propriedade do açude. Apesar de carregar o trauma da experiência, João Franco tinha o objetivo de montar um pesqueiro no local, e acabou voltando a ter contato com luzes desconhecidas. “Numa noite, eu vi uma bola de luz azul sair voando. Ela veio do lado da minha terra, passou por cima do morro e foi justamente para o local onde nós passamos por aquela experiência”, declarou. Ele conta que os moradores do local chamam aquilo de Mãe d’Ouro. “É comum observá-la voando sobre o morro”.
João Franco também garante que outra luz estranha o importunava à noite, principalmente entre 04h30 e 05h00. Tinha cor azul, uns 10 cm de diâmetro e aparecia parada na porta de seu quarto. “Ela vinha para cima de mim na cama e quase me tocava. Era um tormento. Eu tentava me afastar e ela se aproximava. Isso aconteceu várias vezes. Tenho certeza absoluta que não era um sonho ou um pesadelo. E quando eu me virava bruscamente ou levantava, ela sumia”. Franco diz que aquela luz foi um dos motivos que o levou a vender sua propriedade e abandonar a idéia de ser dono de um pesqueiro.
A estranheza das situações que João Franco viveu foi acompanhada por um histórico médico complicado, forçando-o a se submeter a exames que, estranhamente, nada detectavam de anormal. Franco passou a sofrer falta de ar e febres fortes constantemente. Uma possível infecção urinária chegou a ser aludida, mas foi descartada por um especialista após vários exames. Nem mesmo um cardiologista consultado encontrou qualquer anomalia visível. Por fim, com a possibilidade de que os sintomas pudessem ser motivados pelo estado emocional abalado, o rapaz foi encaminhado a um psiquiatra. “Mas ele apenas percebeu que eu era uma pessoa um pouco triste, com depressão e ansiedade. Eu fiquei assim depois daquela noite de pescaria”, repetiu a testemunha. O psiquiatra receitou o tranqüilizante Psicosedin.
Expelindo um objeto desconhecido — Para agravar ainda mais a situação, durante os 12 anos seguintes João Franco passou a fazer uso abusivo de álcool, tornando-se alcoólatra: “Quando eu comecei a me tratar, as pessoas diziam que o vício é hereditário e uma predisposição. Eu vivi todas as fases do alcoolismo e cheguei ao fundo do poço”. Franco chegou a ser internado em um sanatório, no meio de todos os tipos de doentes mentais. Conta que está há cinco anos em total abstinência e se livrou do vício. Ele faz parte dos Alcoólicos Anônimos e diz se sentir muito bem no grupo que o acolheu.
Aparentemente, poderíamos dizer que este é um caso ufológico em que o fenômeno produziu um grave trauma na testemunha, causando sua desestabilização. Mas a experiência de João Franco não é tão simples assim. Uma análise da sucessão dos fatos vividos por ele impede que tenhamos respostas satisfatórias para justificar todos os aspectos do episódio. Se, por um lado, não há como negar que o comprometimento do fator emocional poderia ser responsável por vários dos sintomas apresentados por ele, por outro nos deparamos com fatos estranhos à realidade objetiva. Um deles se deu quando, ao cuspir um pouco de catarro, expeliu um objeto esférico de uns três centímetros de diâmetro. “Meu problema de falta de ar e febre acabou naquele dia. Eu embrulhei a bolinha num jornal e levei para meu pneumologista, que ficou bastante surpreso. Mas ele não soube responder como aquilo tinha ido parar no meu pulmão, e menos ainda como burlou toda a bateria de exames que eu fiz”.
Como exemplo de algo altamente inusitado, em menos de quatro horas após ter expelido o artefato, João Franco ficou completamente curado e sem febre. “Eu lamento muito não ter guardado aquilo direito, pois acho que merecia ser analisado. Mas meu médico pode testemunhar e confirmar”, disse à equipe de pesquisadores. O pneumologista em questão é o doutor Edson José Dias Leite Filho, que receitou Fluimucil (600 mg) e Levaquin (500 mg) a Franco depois de ver aquele pequeno objeto ser expelido. A finalidade dos remédios era combater uma possível infecção que a testemunha apresentava, que não foi detectada nos exames.
Sem ter o artefato expelido para examinar – por não ter sido guardado por João Franco –, não é possível afirmar que tenha qualquer ligação com os fatos ocorridos na pescaria de outubro de 1985. Esta seria apenas uma supo
sição. Franco também sofreu alguns desmaios após sua experiência, que foram diagnosticados como epilepsia. Embora um exame de tomografia computadorizada não tenha detectado qualquer problema visível, até hoje a testemunha é obrigada a fazer uso do medicamento Tegretol para controlar os sintomas de perda de consciência.
Em busca de confirmação — Muitas dúvidas pairam sobre a história de João Franco – assim como sobre ele próprio. A primeira impressão que tive ao conhecê-lo é de que se tratava de um homem íntegro, embora um pouco confuso quanto às suas lembranças e perturbado com o que aconteceu naquela pescaria. Assim, para confirmar ou rejeitar o caso como uma legítima experiência ufológica, o próximo passo era localizar outras testemunhas diretas e indiretas que confirmassem suas afirmações, além de possíveis registros do caso na imprensa. No Jornal da Região, daquela cidade, há referências à história de João Franco em duas edições. A primeira, de 22 de março de 1997, contém o artigo Fenômenos Incomodam Moradores de Guaxupé, que descreve estranhos fenômenos no sítio Bom Jardim dos Machados e proximidades, numa área de 8 km que beira o aeroporto municipal.
Segundo a publicação, é comum observar fortes luzes na região, chamadas de Mãe d’Ouro pelos antigos moradores. No centro dessa área está o pesqueiro que João Franco tinha montado e acabou vendendo. O jornal ainda descreve bem resumidamente a experiência da pescaria, mas afirma que eram apenas três as pessoas envolvidas: João Franco, Galvão Franco e um companheiro não identificado. No artigo fica patente que João deu seu depoimento tranqüilamente, enquanto o irmão Galvão mostrou-se mais reservado. “Embora o segundo [Galvão] evite falar do assunto, acabou admitindo que passou por uma experiência diferente na beira de um lago”, registra o diário.
Séculos de misteriosas luzes — No artigo há ainda referência sobre a falta de combustível no tanque do Opala: “Galvão admite que o combustível do carro em que estavam chegou a desaparecer misteriosamente”. Também descreve o possível lapso de tempo vivido pelo grupo: “Na época, chegaram a ficar adormecidos por longo tempo, mas não conseguem explicar”. Outro dado interessante é que o artigo registra que os fenômenos luminosos ocorrem há muito tempo naquela área, inclusive que o antigo morador do sítio Bom Jardim dos Machados é justamente um tio de João e Galvão Franco, chamado Messias de Souza Resende, testemunha dos mesmos fenômenos.
A segunda publicação citando o caso na imprensa de Guaxupé é datada em 25 de janeiro de 2003, no mesmo Jornal da Região. O artigo começa contando que João Franco se sentia perseguido por luzes misteriosas em sua propriedade, onde montou um pesqueiro. E contém um depoimento da testemunha sobre a pescaria, em que afirma ter ocorrido na noite de 31 de outubro de 1985. Mas no depoimento dado por Franco à equipe de pesquisadores, ele afirmou não ter certeza da data correta. De qualquer forma, o artigo mostra como fenômenos luminosos incomodam os moradores da região e que os relatos não se limitam aos irmãos. “Vizinhos de João Franco confirmam os fatos relativos à questão do aparecimento de luzes, muitas delas com histórias seculares. Há poucos anos, um morador de nome Albertino viu luzes em cima de uma jabuticabeira, mesmo durante o dia”.
De fato, em nossas visitas a Guaxupé, gravamos depoimentos de várias testemunhas, entre elas o comerciante aposentado e piloto de avião Renato Euzébio da Silva, que alega ter visto várias vezes uma esquisita bola de luz naquela região, próxima da cabeceira da pista do aeroporto local. Inclusive, Silva comentou que é comum acontecerem falhas nos instrumentos das aeronaves quando sobrevoam aquela área. Funcionários do aeródromo também relataram diversos avistamentos e confirmaram as reclamações dos pilotos sobre falhas nos equipamentos.
Com os acontecimentos ufológicos daquela cidade mineira se avolumando, intensificamos nossas investigações sobre o Caso João Franco e fomos procurar sua ex-esposa, Carmem Lúcia de Moraes, para colher seu depoimento. Carmem se lembrou daquela manhã em que o ex-marido voltou para casa com uma estranha história. “Eu vi quando ele chegou de manhã assustado. Contou que estava pescando e pareceu meio perdido, falando que o carro não tinha mais gasolina. O João me contou daquela luz forte”, relatou a senhora. Ela também se recordou quando começou a cair os pêlos de uma parte do peito dele, como descrito. “Na barba do João também apareceram vários pontos redondos onde faltavam pêlos”.
Transtorno para toda a família — Carmem também confirmou que o alcoolismo tomou conta de João Franco depois daquela pescaria e que ele parou de sentir falta de ar e febre depois que expeliu algo pequeno pela boca. “Antes daquela noite, ele bebia pouco. Mas depois, ele caiu no alcoolismo. O João ficou transtornado e meus filhos até me diziam que eu tinha que dar um jeito, porque não tinha mais condições”. Ela relata que a situação de Franco transformou-se num enorme transtorno para toda a família, embora não se possa afirmar que todos os seus problemas estejam ligados àquela noite da pescaria e aos fenômenos luminosos observados. “Foi tudo muito difícil, mas já faz cinco anos que ele parou de beber. E depois que saiu aquele negócio do pulmão dele, as coisas se normalizaram”.
Nossa equipe também entrevistou o segundo participante direto da pescaria, Galvão Franco, irmão de João, que logo demonstrou ter uma personalidade mais difícil e não aceitou dar seu testemunho imediatamente. Foi preciso insistir, mas mesmo com ar desconfiado, Galvão acabou permitindo que gravássemos seu depoimento em vídeo. Suas lembranças confirmam vários detalhes da história de João, mas também divergem em outros. Logo de início, percebemos uma diferença óbvia entre as histórias contadas pelos irmãos. Galvão, tal como registra o Jornal da Região, em nenhum momento cita uma quarta
pessoa na pescaria. Ele confirma que tinham aquela atividade noturna há alguns anos, sem autorização do proprietário do açude, e recorda que seu grupo teve uma experiência muito estranha em outubro de 1985.
O relato de Galvão Franco registra a observação inicial de uma luz sobre as copas das árvores naquela noite, quando seu irmão estava vestindo a “roupa de pescaria” – uma roupa velha, própria para entrar no local. Quando Galvão tirou o barco debaixo das taboas, a luz sobre as árvores piscou repetidas vezes. Aquilo o fez pensar que o guarda florestal Leonardo, seu amigo, tinha pego o grupo em flagrante e estaria piscando uma lanterna para avisar que estava ali dando cobertura, ou pedindo que fossem embora. Mas confessou ter ficado surpreso com a luz sobre as árvores, que não poderia ter sido produzida pela lanterna do guarda. Ela focou várias vezes o barco dos rapazes com uma luminosidade bastante intensa.
Ozório Rosa de Carvalho, que já estava sentado no barco, ficou totalmente exposto à luminosidade, enquanto João ficou apenas parcialmente, enquanto segurava as redes de pesca no alto. Já Galvão, que estava deitado, ficou com metade de seu corpo fora do barco e com os braços dentro da água, puxando as redes, apenas com as costas expostas aos feixes de luz. Quando a luz os atingia, Galvão mergulhava a cabeça na água, tentando evitar que fosse reconhecido. É importante ressaltar que a luz ficava piscando ininterruptamente sobre as árvores, mas quando acertava o barco com um intenso feixe, ela parava de piscar e se mantinha constante por vários segundos.
“Ficamos ‘fora do ar’ no barco” — Logo Galvão Franco desconfiou que a situação não parecia uma operação policial padrão para flagrar invasores. Como militar, ele teve essa certeza nos dias seguinte, pois nenhum oficial o procurou para interpelá-lo quanto ao ato ilegal, nem mesmo a Sindicância de Belo Horizonte – o que seria hoje uma espécie de Corregedoria da Polícia Militar. Também não era comum policiais usarem holofotes ou lanternas nesse tipo de operação. Quando há queixa de invasão, a polícia realiza uma abordagem direta nos suspeitos e não fica à distância, usando luzes para tentar identificar os suspeitos.
“O que me fez ficar calado quanto aquilo foi o fato de precisar daquele tipo de lazer, que fazia bem para minha cabeça. E nunca passou de 20 minutos”, declarou o militar. Mas confessou ter ficado assustado ao chegar no veículo e constatar que estava sem gasolina. “Eu fiquei atônico diante daquela situação. Procurei olhar debaixo do carro para ver se tinha alguém ou algum vestígio, mas nada. Numa pescaria dessas, a gente jamais ia se arriscar ficar sem gasolina”. Ele também confirmou o espanto do administrador da fazenda ao vê-los, conforme relatou seu irmão. A falta de lembrança sobre cerca de quatro horas daquela noite era um elemento perturbador. “No máximo terminaríamos nossa pescaria umas 22h30. Nunca passou disso. No entanto, quando fomos ver que horas eram, já estava amanhecendo o dia e não percebemos nada”. A única coisa que diz se lembrar de diferente foi a presença daquela luz. “Acho que ficamos ‘fora do ar’ nos momentos em que o barco era atingido pelo feixe de luz”.
Galvão também comentou que tinha uma vida tranqüila e controlada antes do evento, mesmo sendo policial militar. Mas que, depois daquela noite, sua vida parecia ter ficado do avesso, principalmente no aspecto profissional. Ele não forneceu mais detalhes a respeito, mas ficou patente que, tal com o irmão, ficou profundamente perturbado com aquele episódio. Seu depoimento foi uma peça importante no levantamento da ocorrência. O que teria acontecido com aqueles homens? Que explicação razoável poderia existir para o lapso de tempo? Para buscar mais detalhes, também fomos ao local exato da pescaria, onde constatamos, para nossa triste surpresa, que hoje o local está totalmente descaracterizado. O açude está aterrado e sobre ele há uma plantação de cana-de-açúcar. Mesmo assim, com a ajuda de João Franco foi possível determinar os pontos exatos onde aconteceram os fatos, pois as árvores que margeavam a água ainda estavam lá.
Aquelas terras têm grande quantidade de minério de ferro em sua composição, pois havia por toda parte manchas negras no chão. E como o ferro é um material altamente condutor de eletricidade, atrai raios de tempestades elétricas, o que poderia explicar a grande incidência deles na área. Mas, seriam as tempestades elétricas responsáveis pelos fenômenos luminosos que assustam os moradores do local há tanto tempo? Existem inúmeros fenômenos associados a estas condições climáticas, como os chamados “raio bola”, que ainda não foram totalmente compreendidos pela ciência e poderiam explicar alguns fatos. Esta é uma possibilidade que não pode ser ignorada, embora, no caso específico de João Franco, não pareça lógico conceber esta como uma explicação razoável.
Assombrações e coisas do demônio — De volta à estrada de terra, fomos ao ponto exato onde João Franco e seus companheiros de pescaria haviam deixado o Opala naquela noite. E, de carro, seguimos o caminho que o grupo fez a pé até chegar à antiga residência do senhor Ulisses Gonçalves da Silva, onde teriam conseguido gasolina e sido informados de que já eram 04h30. A distância exata é de 1.100 m, que seria facilmente vencida em uns 20 minutos de caminhada, ainda que na escuridão da noite. Ou seja, não é concebível que os pescadores tenham levado mais de quatro horas para percorrer o trajeto. Além do que, tanto João Franco quanto seu irmão asseguram que a caminhada levou, no máximo, uns 40 minutos.
Outra peça importante deste quebra-cabeças consistia, agora, em tentar localizar o antigo administrador, que já não morava mais naquela propriedade. Isso foi feito, mas o homem, extremamente religioso e desconfiado, recusou-se a falar com nossa equipe. Para ele, os mistérios que ocorriam na região eram devidos a “assombrações” e “coisas do demônio”. Mesmo assim, um integrante da equipe – Pedro Ramos, da Associação Sul Mineira de Estudos Ufológicos (ASMEU) – conseguiu arrancar um depoimento daquele senhor. Ulisses Gonçalves da Silva tem hoje 82 anos de idade e mora na zona
urbana de Guaxupé. Ele recebeu Ramos, que foi procurá-lo sozinho e sem equipamento de gravação. E o homem confirmou a história. “João Franco e seus amigos chegaram apavorados em minha casa. Eram 04h30 de uma madrugada do ano de 1985 e eu já tinha levantado para tocar o sino para chamar os lavradores para a lida. João pensou que fosse 22h30 e me pediu desculpas achando que estavam me acordando àquela hora da noite”, declarou.
Sessão de hipnose regressiva — O antigo administrador lembra que João lhe disse ter visto luzes muito fortes sobre o açude e que elas tinham partido para cima dele e de seus amigos. “Quando as luzes sumiram, eles foram até o carro e tentaram ligá-lo, mas o tanque estava simplesmente seco. Daí saíram correndo e vieram até a minha casa pedir ajuda, e eu os atendi fornecendo alguma gasolina. Foi isso que aconteceu”, detalhou o homem, mas arrematando a conversa à sua maneira: “Para mim aquilo era obra do diabo e o mundo está no fim”. Ele também confirmou a alta incidência de bolas de fogo no local, chamadas de Mãe d’Ouro.
Durante nossas investigações do caso, João Franco queria a oportunidade de fazer uma sessão de hipnose regressiva para tentar desvendar o que realmente aconteceu naquela fatídica noite. Sua insistência nos levou a marcar uma entrevista com o hipnólogo Mário Rangel, experiente investigador de abduções e autor do livro Seqüestros Alienígenas [Código LIV-007 da coleção Biblioteca UFO. Veja Shopping UFO desta edição]. Em 26 de maio de 2007, nossa equipe trouxe Franco para uma sessão de hipnose em São Paulo. Mas, infelizmente, em transe hipnótico, ele descreveu apenas os fatos lembrados conscientemente, sendo incapaz de recordar coisas novas – ele citou alguns detalhes diferentes, mas sem qualquer lógica aparente. Apesar de frustrante, a sessão não deixa de ter relevância, pois a testemunha recontou a mesma história sob transe, o que é um elemento reforçador de que ele descreve algo que está em sua memória, independente de se basear na realidade objetiva ou ser apenas um produto da imaginação.
Em julho de 2007, encontramos o vereador e radialista Luiz Donizetti Ribeiro, de Guaxupé, que nos concedeu um depoimento muito importante por ter trabalhado como policial militar muitos anos com os irmãos Franco. Ribeiro assegurou que João era cumpridor de seus deveres e não tinha qualquer tipo de vício, nem mesmo com a bebida. “Ele era um militar exemplar e um bom pai de família”, garantiu. O vereador explicou que João era seu parceiro e exercia a função de motorista da viatura. “Ele chegava na hora certa e cuidava da viatura. Era responsável e andava muito bem fardado. Eu trabalhei com João por muitos anos e posso dizer que hoje ele é outra pessoa. Mudou radicalmente”, disse Ribeiro, referindo-se ao episódio da pescaria. Vale lembrar que, para entrar na corporação militar, os candidatos são submetidos a vários exames físicos e psicológicos, e os irmãos Franco tiveram resultados positivos em todos os exames classificatórios.
Galvão Franco também foi lembrado de maneira positiva pelo depoente. Ele exercia a função de carcereiro na Polícia Militar e era quem cuidava dos presos em Guaxupé. “Era um serviço perigoso e de muita responsabilidade. E eu notei que hoje o Galvão parece um caramujo, uma pessoa que se fechou dentro de uma concha. Ele está com uma personalidade totalmente diferente”, relatou Ribeiro. Para ele, é evidente que o ex-militar tem medo e não gosta de comentar sobre aquela noite, como se estivesse traumatizado. Enfim, tudo indica que algo realmente estranho deve ter acontecido com aqueles homens durante aquela pescaria, para que mudassem de comportamento e de personalidade de forma tão radical. E completou Ribeiro: “Eu só concordei em dar essa entrevista para vocês porque estou falando de um fato real. Sou um radialista conceituado na cidade e vereador. Se eu estiver brincando com uma coisa desse tipo, perderia meu nome e minha credibilidade”.
A terceira testemunha está morta — Neste ponto das investigações, tínhamos acumulado uma quantidade expressiva de evidências e depoimentos, além de imagens dos locais envolvidos e até a reconstituição de todos os fatos. A última peça que faltava para compor o quebra-cabeças era o testemunho de Ozório Rosa de Carvalho, o terceiro homem da pescaria, que tinha a função de remar e que foi o que mais ficou exposto aos feixes de luz lançados sobre o barco. Mas ele faleceu há pouco tempo, com pouco mais de 40 anos. “Não bebia e nem fumava, e depois daquela noite sua vida também descambou de uma forma estranha”, declarou Galvão Franco aos investigadores, confirmando que os sintomas eram os mesmos para todas as testemunhas daquela noite. O irmão do falecido, Antônio Rosa de Carvalho, morador do Bairro Novo Horizonte, em Guaxupé, confirmou que ele comentava o estranho fato que ocorreu numa pescaria, mas não se lembra de muitos detalhes.
Curiosamente, segundo Carvalho, aquela pescaria não foi a única vez que seu irmão teria se deparado com uma luz estranha. Na estrada que liga Guaranésia a Guaxupé, ele enfrentou um fenômeno insólito que teria causado mais de 20 acidentes automobilísticos na região, inclusive alguns fatais. O fenômeno a que se refere Carvalho é uma inusitada luz que parece estar vindo em direção contrária a dos motoristas que lá trafegam. “Parece o farol de alguma moto ou de algum carro com uma luz apagada. Aquilo vem na contramão e parece que vai haver uma colisão”, descreveu. Diante da situação, os motoristas começam a jogar o carro para a direita, tentando evitar a batida, e acabam saindo da pista e sofrendo acidentes.
O homem ainda relatou a experiência que seu irmão, agora falecido, teria tido com a tal luz. Disse que o rapaz certo dia observou aquilo vindo em sua direção na estrada, mas
que decidiu não tentar jogar o carro para a direita e simplesmente parou o veículo para ver quem era o responsável pelo farol na contramão. Inusitadamente, quando a luz chegou bem próximo, subiu e saiu da estrada por cima da plantação de cana-de-açúcar que margeia a pista. “Muita gente já viu aquele fenômeno. O local é uma pista reta e não uma curva fechada, mas os acidentes acontecem”, disse Carvalho. Sobre a morte do irmão, afirmou que teria ocorrido em 2000, pois tinha algum problema de coração e seu médico avisou que ele teria de passar por uma cirurgia, caso contrário não sobreviveria mais que 15 dias. Apesar da gravidade da situação, ele achou que ia acabar morrendo na operação e decidiu não se submeter a ela na época. Apenas anos mais tarde acabou sendo operado, mas faleceu pouco mais que três meses depois. Sua morte, aparentemente, nada teve a ver com o fenômeno observado no açude.
Conclusão — Com todos os dados levantados nos depoimentos, a reconstituição no local, a localização dos registros de imprensa e até mesmo com a hipnose regressiva realizada em João Franco, concluímos que algo incomum ocorreu àqueles homens durante a pescaria naquela noite de outubro de 1985. Os poucos detalhes conflitantes nos depoimentos podem ser resultado de pequenas falhas na memória dos envolvidos, além das características individuais de cada um ao observar, interpretar e descrever os acontecimentos. Analisando o quadro como um todo, há um cenário único e claro, apesar de divergências isoladas. Nossa equipe também apurou uma série de relatos de estranhos fenômenos naquela região, que demonstram que o Jornal da Região não errou em relacionar a existência de fatos inusitados na área de 8 km nos limites do Aeroporto Municipal de Guaxupé.
Infelizmente, em muitas ocasiões, a atividade de investigação do Fenômeno UFO acaba sendo um tanto frustrante, pois dificilmente o pesquisador terá certeza absoluta do que aconteceu às testemunhas. Na maioria das vezes, restam apenas seus depoimentos, que são baseados na recordação dos fatos, evidentemente vulnerável a todo tipo de distorção. De qualquer forma, é importante que investigadores independentes e grupos ufológicos busquem registrar os casos da forma mais completa possível, sempre com alto senso crítico e com a checagem rigorosa dos fatos, mesmo que seja impossível se chegar a uma conclusão definitiva sobre eles. Afinal, no mínimo, estamos gerando um banco de dados casuísticos extremamente relevantes, que será de grande importância para qualquer análise sobre a problemática dos objetos voadores não identificados. E assim, a pesquisa sobre este fascinante caso continua.