Editor – Ufóloga séria e respeitável Encarnación Garcia foi uma das peças fundamentais para a descoberta do Caso Guarapiranga, ocorrido em 1988. Todos os que se interessam por Ufologia já conhecem essa polêmica ocorrência, marcada por detalhes violentos e brutais, que envolve a mutilação de um ser humano encontrado na Represa Guarapiranga, em São Paulo. Após exaustivas pesquisas, Encarnación passou a defender a tese de que o homem da represa foi mutilado por ETs, num macabro exercício cujos objetivos jamais poderiam beneficiar a raça humana [Editor: o Caso Guarapiranga está detalhadamente apresentado em UFO 25].
Encarnación chegou a essa conclusão comparando os ferimentos verificados em animais mutilados – como cortes e extração de órgãos – com os ferimentos observados no cadáver autopsiado. Os alienígenas já vinham atacando animais dessa forma há muitas décadas, mas até então ainda não tínhamos notícias de humanos vítimas de ETs. Porém, a ufóloga entrevistou dezenas de médicos legistas e policiais experientes, envolvidos no Caso Guarapiranga, e convenceu-se de que o que acontecera naquela represa não era coisa deste mundo. Médicos legistas com mais de mil autópsias em seus currículos declararam nunca terem visto marcas de cortes como as que o cadáver apresentava, que não poderiam ser furos de bala, facas ou quaisquer outros objetos. Nem mesmo ação de predadores, como alegado. Mas quando a ufóloga resolveu expor suas conclusões ao público, através da Revista UFO, no cumprimento de seu dever, passou a enfrentar uma série de dificuldades e preconceitos por parte de setores da Comunidade Ufológica Brasileira.
Mesmo assim, não desistiu e continuou tentando esclarecer o caso, primeiramente na expectativa de encontrar um explicação para o caso, que não a ação de ETs. Se não a encontrasse, manteria sua posição e continuaria sua pesquisa. Pois, de fato, não encontrou e mantém-se, agora, firme no propósito de desvendar de uma vez o mistério. Dentro dessa opção, remeteu à Revista UFO 2 artigos nos últimos meses, com desabafos e novas revelações sobre o caso. Esses artigos, condensados num só, estão agora sendo publicados para que UFO também cumpra seu papel de veículo imparcial. Embora o caso seja amplamente criticado e desacreditado, ninguém ainda teve coragem de vir a público, através de UFO, expor diferentes pontos de vista – coragem essa que Encarnación tem ao manter sua posição. É necessário lembrar que o caso, infelizmente, significa um marco para a Ufologia e por isso, não pode ser omitido em nenhum aspecto.
Na edição n° 43 da revista norte-americana UFO Universe há um artigo do ufólogo chileno radicado nos Estados Unidos Antonio Hunneus, em que comenta vários casos brasileiros de agressão de humanos por extraterrestres. O articulista cita o trabalho de pesquisa desse tema por vários ufólogos brasileiros, tais como Irene Granchi, Daniel Rebisso Giese, Reginaldo de Athayde e essa autora. Sempre fui da opinião que a crítica enriquece o nosso conhecimento, desde que construtiva. No entanto, em seu artigo, Hunneus comete alguns erros graves, não só no que diz respeito à minha matéria publicada na UFO 25 mas também quanto ao histórico do Caso Guarapiranga, questionando o valor da pesquisa e o caráter de quem a realizou.
Como investigadora de campo, dediquei alguns anos de minha vida na pesquisa desse caso em particular, por julgá-lo peculiaríssimo. No entanto, jamais expressei alguma conclusão definitiva sobre o Caso Guarapiranga. Apenas apresentei as condições do cadáver encontrado, comparando-as com as de animais mutilados em todo o planeta Terra, há décadas. Nesse intuito, mostrei a grande semelhança entre o modo de trabalho empregado na mutilação do homem de Guarapiranga com o modus operandi empregado na vitimação dos animais. O ufólogo Antonio Hunneus quis pôr abaixo todo esse exaustivo trabalho, desacreditando minha pesquisa junto à Comunidade Ufológica Internacional. Assim, sinto-me na obrigação de fazer alguns esclarecimentos, principalmente porque é lamentável ver um pesquisador renomado ser tão precipitado em seus julgamentos.
Nesse artigo, cito alguns trechos do artigo de Hunneus, nos quais o leitor poderá ter uma idéia da forma como ele demonstra suas idéias ao considerar o Caso Guarapiranga, dizendo que essa autora manipulou toda a matéria para criar um caso de mutilação por extraterrestre. Num trecho de seu artigo, o chileno diz que “…a mais recente e horrível alegação de abordagem alienígena é o caso de um corpo mutilado encontrado no fundo da Represa Guarapiranga, próximo a São Paulo, em 29 de setembro de 1988. O caso foi publicado na Revista UFO, num longo artigo de Encarnación Z Garcia. Seu relatório inclui fotos horríveis de um corpo masculino mutilado, bem como amostras e trechos de relatórios policiais”. Aqui está o primeiro erro de Hunneus, quando se refere ao local onde o cadáver foi encontrado. Jamais a matéria afirmou que o corpo foi encontrado no fundo da represa, mas sim nas proximidades, nas margens.
Investigação Criminal – Após essa explicação inicial, Hunneus parte para o ataque: “Zapata explica que, através de conhecimentos pessoais, foi capaz de obter as fotos do cadáver e saber mais sobre o caso com a ajuda do Dr. José Roberto Cuenca, promotor do Departamento de Justiça que estava a cargo da investigação criminal, aparentemente se interessando por sua linha de pesquisa voltada para a mutilação de gado. O primeiro relatório policial dá a data na qual o corpo foi encontrado e uma curta descrição de sua condição, adicionando que havia deformações por todo o corpo e rosto devido à ação de predadores. Zapata cita que o relato da polícia omite qualquer menção a predadores naturais”. Hunneus é exageradamente sucinto em sua explicação, talvez pretendendo mostrar aos seus leitores que o caso não contém bases suficientes de pesquisa.
Mas o autor continua suas simplificações: “O documento apresentado por Zapata meramente atesta que o corpo de um homem branco, com cerca de 40 anos de idade e usando apenas um calção, foi encontrado com deformações pelo corpo, embora não mostrasse sinais de violência. A autora cita extensivamente partes de relatórios forenses e legais, tentando fazer com que o caso do infeliz encontrado na represa tenha as mesmas características dos casos de animais mutilados. As fotos publicadas também são horríveis demais para serem publicadas numa revista como a UFO e o texto está cheio de obscuros termos médicos e legais em português”. Nesse trecho de seu artigo, Hunneus se equivoca quando supõe que forcei a aceitação da caso ao público brasileiro. Quando publiquei o caso, julguei estar prestando um serviço á Ufologia, e não um desserviço.
“Além do
estado do cadáver, o artigo não reproduz nenhum outro dado que o faça ter qualquer ligação com UFOs. Não há testemunhas nem tampouco o caso se parece com o incidente do Morro do Vintém. E as evidências não se igualam a outras experiências da casuística ufológica. Infelizmente, podemos pensar em outros desagradáveis cenários que poderiam ter resultado tal horrível morte. Por exemplo, as favelas das grandes cidades do Brasil são excessivas em seus índices de violência, incluindo gangues de drogados, esquadrões da morte e similares”. Certamente, neste trecho de seu infeliz artigo, Hunneus pareceu desconhecer a história dos casos ufológicos do Brasil, pois a Represa Guarapiranga é rica em avistamentos. Por outro lado, jamais saberemos se o homem lá encontrado não teve naquele dia o seu primeiro e último contato com extraterrestres, uma vez que não houve realmente testemunhas do que aconteceu.
Desde o princípio das discussões em torno do Caso Guarapiranga, vparios ufólogos ficaram contra a hipótese de que o cadáver encontrado na represa tivesse algo a ver com a intervenção de ETs. Também houve quem aceitasse tal teoria, a princípio, mudando de idéias depois. Enfim, essa é uma questão de livre arbítrio. Cada um crê no que melhor lhe convier, também no caso desta pesquisa, que já dura 3 anos
Mas Hunneus finaliza ainda mais equivocado: “As fotos e citações do relatório de necropsia e outros documentos não me convenceram de que temos aqui um verdadeiro caso de mutilação humana realizada por alienígenas. Os documentos e fotos teriam que ser revisados em sua totalidade por profissionais competentes”. Devo esclarecer alguns pontos importantes desse trecho. Primeiramente, esse pesquisador se serviu publicamente de meu artigo sem a devida autorização ou da diretoria da Revista UFO. Segundo, ele realmente não compreendeu o conteúdo da matéria pois, além de distorcer os fatos, faz com que seus leitores creiam que estão lidando com uma oportunista que manipulou a documentação cedida pela promotoria de São Paulo com o objetivo de criar uma história fantasiosa. Se quisesse fazer isso, oras, teria sido melhor omitir o nome de pessoas sérias que tanto contribuíram com minhas pesquisas, tal como o Dr. José Roberto Cuenca. Não passei o primeiro ano de minhas investigações em vão. Passei procurando exaustivamente todos os detalhes que poderiam esclarecer o caso. É evidente também que Hunneus despreza a competência de nossos peritos, delegados, médicos e promotores, além dos demais envolvidos no caso, quando insinua que os documentos e fotos publicados são coisa de um país do Terceiro Mundo…
Mas o maior engano do articulista chileno foi sua total desinformação e sua atitude extremamente precipitada. Ele deveria ter tido o trabalho de conhecer os pormenores do Caso Guarapiranga, antes de sair em seu combate. Apesar de tudo, continuo trabalhando para desvendar o caso e insisto em dizer que todas as críticas são bem vindas, quando construtivas. De qualquer forma, decidi encerrar a pendenga antiprodutiva com Hunneus e partir para apresentar ao leitor um novo fato sobre o Caso Guarapiranga, que não chega a surpreender mas merece ser citado.
Antes de fazê-lo, devo confessar que tomei o cuidado de não ferir egos contrariados de membros jurássicos de certos setores da Ufologia Brasileira – mesmo assim, acho que irei ferir um ou outro, pois o que está em jogo é minha capacidade como pesquisadora e investigadora do Fenômeno UFO. Desde o princípio das discussões em torno do Caso Guarapiranga, vários ufólogos ficaram contra a hipótese de que o cadáver encontrado na represa tivesse algo a ver com a intervenção dc ETs. Também houve quem ficasse ao meu lado, a princípio, mudando de idéia depois. Enfim, essa é uma questão de livre arbítrio e este artigo tem por finalidade expor certos novos fatos nesta pesquisa, que já dura 3 anos.
No dia 14 de abril de 1994, entrevistei novamente o Dr. Marco Antônio Desgualdo, delegado de polícia da equipe especializada de homicídios da Polícia Civil de São Paulo e um dos policiais que esteve envolvido no Caso Guarapiranga. O Dr. Desgualdo era o antigo delegado da Equipe F e a decisão de entrevistá-lo nasceu de uma das reuniões mensais presididas pelo ufólogo Claudeir Covo, que tinha por finalidade a reestruturação da Associação Nacional dos Ufólogos do Brasil (ANUB) [Editor: hoje presidida por Rafael Cury, do Núcleo de Pesquisa Ufológica (NPUJ]. Claudeir trouxe à nossa presença um convidado seu e também delegado de polícia, que pretendeu esclarecer o Caso Guarapiranga explicando as diligências paralelas efetuadas pelo Dr. Desgualdo, um ano após o encontro do cadáver.
Sensacionalismo – o delegado começou sua narrativa dizendo que o que havia sido publicado sobre o caso na UFO 25 não passava de puro sensacionalismo, uma vez que o Dr. Desgualdo havia procedido à exumação do cadáver um ano após ter sido encontrado, sendo levado novamente às margens da represa para uma experiência na qual o cadáver teria ficado de 3 a 4 dias exposto à ação de animais predadores. Esse delegado pretendeu dizer que o Dr. Desgualdo submeteu o cadáver, bastante tempo depois de sua exumação, à ação de minúsculos ratinhos, urubus e outros animais carnívoros que teriam devorado as entranhas do sujeito. Disse ele também que tudo isto teria sido fotografado mas que, no entanto, não possuía tal documentação já que se tratava de algo sigiloso.
Com todo o respeito que merece o delegado, é evidente que aquilo não poderia ter acontecido, já que o Dr. Desgualdo só tivera contato com o caso 3 anos depois dele ser descoberto. Mesmo assim, abstendo-me de maiores comentários, tentei esclarecer ao policial que não existia nada de sensacionalista na matéria publicada em UFO 25, uma vez que era baseada em fatos e fotos constantes do processo. Assim, ao ir entrevistar o Dr. Desgualdo, expus-lhe o que soubera por seu colega na reunião na residência de Claudeir Covo. Quando descrevi as tais revelações de seu colega, o Dr. Desgualdo imediatamente discordou delas. Disse-me que realmente houvera uma experiência daquele tipo, mas não com aquele cadáver, pois quando ele recebeu o caso 3 anos depois já não havia muita coisa a ser feita, exceto dar continuidade à investigação.
Mesmo assim, o próprio Dr. Desgualdo explicou como se deu a experiência. Segundo ele, um veterinário, que depois veio a ser delegado de polícia e hoje é promotor de justiça, providenciou o cadáver de um cachorro para a experiência. No corpo desse animal foram feitas réplicas dos ferimentos encontrados no cadáver de Guarapiranga e o mesmo foi transportado até a represa e colocado à sua margem, para que se procedesse a observação do que aconteceria. Com razão, roedores e rapineiros foram se aproximando do animal morto e devorando-o aos poucos. Pedi ao Dr. D
esgualdo que me colocasse em contato com o hoje promotor para saber dele próprio maiores detalhes.
Entrevista – Ao entrevistá-lo, ele repetiu tudo o que o Dr. Desgualdo havia dito antes. Mais: que achava que teria acontecido ao cadáver humano o mesmo que aconteceu ao do cachorro. E ainda acrescentou que o corpo do homem de Guarapiranga poderia ter sido atingido por um raio, devido à evidente queimadura no que restava do rosto. Disse-me também que os predadores teriam sido atraídos pelos gases emanados do corpo. No entanto, consta dos autos que as testemunhas não acusaram a existência de tempestades, relâmpagos, raios ou mesmo chuvas pesadas naquela ocasião. Mesmo assim, o promotor disse que nada era conclusivo e que poderia conseguir uma cópia do relatório da sua experiência. De conclusivo, pelo menos até agora, só temos o fato de que os setores arcaicos da Ufologia Brasileira, anteriormente citados, fazem o possível para desacreditar o Caso Guarapiranga. No entanto, se agissem de forma construtiva, já teríamos chegado a um ponto final há muito mais tempo.