Editor — A Revista UFO presta uma singela homenagem a Budd Hopkins reproduzindo a seguir uma curta entrevista feita com ele pela Equipe UFO, em 2006, traduzida pelo consultor Thiago Luiz Ticchetti e publicada em nossa edição 118. Nela se pode entender um pouco do pensamento que tinha o homem que deu às abduções alienígenas uma dimensão completamente nova, ao investigá-las com obstinação e criatividade, praticamente inventando o método de perscrutar esse fenômeno — que mais tarde seria adotado por outros estudiosos em todo o mundo.
Quando começou a se envolver com esse tema, após a observação pessoal que fez de um disco voador, Budd Hopkins não imaginava o que viria pela frente. Artista plástico consagrado nos Estados Unidos e celebrado em Manhattan, Hopkins era “até então uma pessoa normal”, como ele próprio se definia. Mas depois de seu primeiro contato, sua vida foi gradativamente mudando e ele foi vislumbrando uma realidade imensamente maior do que tudo que imaginara. Iniciou então uma pesquisa séria, madura e coerente das inúmeras ocorrências que lhe chegavam às mãos — um trabalho que se tornou referência mundial no meio ufológico. Pouca gente, em todo o planeta, soube mais sobre abduções do que esse senhor, que acaba de nos deixar.
“Havia casos que me fascinavam. Outros eram simplesmente aterradores”, admitia o veterano ufólogo. Suas atividades nesse setor foram crescendo e Hopkins, ainda um tanto inocente, sabia que havia algo bem mais profundo e derradeiro por trás dos milhões de casos de UFOs que eram noticiados naquela época. Mas o quê? Como descobrir o que significava tanta atividade extraterrestre em nosso planeta? Foi em meio a essas indagações que ele passou a analisar mais a fundo as abduções. Três décadas depois, Hopkins tornou-se um dos autores mais lidos sobre o assunto, com várias obras publicadas. Trabalhou com mais de dois mil abduzidos — um número espantoso —, e foi o pioneiro que praticamente erigiu a estrutura de informações que temos sobre o assunto na atualidade. É literalmente impossível abordar as abduções alienígenas sem citar Budd Hopkins.
Óvulos recolhidos e inseminados
Até seu falecimento, em 21 de agosto de 2011, o ufólogo foi conferencista requisitado mundialmente — só ao Brasil veio cinco vezes. Uma de suas obras, Intrusos [Record, 1991], serviu de base para a criação do filme Intruders, surgido em 1992 e sucesso inquestionável. Na obra, Hopkins mostra como mulheres estavam sendo sequestradas por ETs para terem seus óvulos recolhidos e inseminados, e depois devolvidos aos seus úteros, em um processo de engenharia genética para criação de uma raça híbrida. Há alguns anos, durante o 1º Simpósio Internacional de Exobiologia e Ufologia na Calábria, Itália [Veja UFO 116, agora disponível na íntegra em ufo.com.br], Hopkins foi convidado e aceitou atuar como consultor da Revista UFO, ao lado de sua companheira, a jornalista Leslie Kean [Entrevistada de nossa edição UFO 180]. Isso deu à publicação enorme orgulho.
O autor teve novos momentos de grande destaque na mídia em 2005, quando lançou, junto com sua ex-esposa Carol Rainey, mais uma obra que retrata com detalhes espetaculares diversas experiências de abdução, Sight Unseen [Visão Não Vista, Atria Books, 2005]. No livro são apresentados 16 casos de sequestros que comprovam de maneira convincente que fazemos parte de experiências cósmicas, algo sempre defendido por ele. A obra aborda ainda padrões de abdução recentemente descobertos, como a utilização da invisibilidade para a captura de humanos e a existência de seres geneticamente modificados interagindo conosco. Os casos de invisibilidade são detalhadamente explicados por Hopkins e incluem fatos que ocorreram em áreas urbanas, em plena luz do dia, como o ataque a dois soldados perto de uma base militar e a uma família australiana. Nesse último episódio, as crianças e a mãe foram levadas por um UFO, enquanto o pai ficou paralisado e filmou tudo.
Paranormalidade após contatos
Budd Hopkins também apresentou em Sight Unseen casos de abduzidos que adquiriram poderes paranormais após contatos com ETs. E saindo um pouco do campo das abduções, revelou ainda como o padrão nas ações de nossos visitantes pode ter reflexo nos conceitos empregados pela ciência atual, incluindo mecanismos de novas aeronaves, procedimentos de controle da mente e teletransporte de objetos, já obtidos através de pesquisas realizadas em laboratórios. Como acreditava o autor, o argumento mais firme para apoiar as hipóteses apresentadas em seu último livro está no uso de transgênicos e nos estudos de clonagens, que seriam produzidas com avançadas técnicas de engenharia genética para recriar seres humanos, fato ainda contestado pela ciência. Hopkins defendia que nossos visitantes extraterrestres já estariam fazendo experiências nesse sentido há milênios.
Como foi sua iniciação na pesquisa ufológica e o que faz crer na realidade dos UFOs? Eu avistei um UFO de dia, durante cerca de três minutos. O objeto flutuou no céu e depois disparou em alta velocidade. Pensei que poderia ser algum tipo de balão ou algo assim, mas descobri que isso seria impossível — quando alguém vê algo como aquilo, sabe que não é da Terra. Eu estava com outras pessoas e pulamos para fora do carro para vermos o objeto desaparecer. Foi aí que percebi que existia algo que não conhecíamos, que não imaginava que existia.
Muita gente ainda acha difícil acreditar nas abduções. Como você as descobriu e de que forma as trata em seu trabalho? Enquanto eu pesquisava casos de avistamentos, muitos anos depois de ter tido o meu, comecei a olhar mais para dentro da questão ufológica, suas causas e razões. Estava curioso em saber por que os ETs estavam aqui, e naquela época os casos de abdução eram extremamente raros. A primeira vez que ouvi um relato desses foi em 1966, dois anos após meu primeiro avistamento. No início, não pude aceitar que existiam sequestros por ETs, não conseguia acreditar neles. Ora, tinha que ter uma razão lógica para crer em tais fatos — e saber que havia objetos voando pelo céu não era suficiente para crer que existissem ocupantes dentro deles. Eu sei que hoje é ridículo pensar assim, mas na época era como tratávamos o assunto. David Jacobs [Consultor da Revista UFO e autor de A Vida Secreta, Editora Rosa dos Tempos, 2002] fez um interessante comentário sobre isso. Ele disse que mesmo depois de as inve
stigações ufológicas começarem a ser tratadas com seriedade, ainda demoraria 20 anos para que fosse aceita pelos ufólogos a ideia de que tais veículos pudessem ter tripulantes.
Os primeiros casos de abdução que você conheceu mudaram a forma como você via a Ufologia até então? Sim. Agora que eu conheço o fenômeno, após tê-lo pesquisado por 20 anos, compreendo que em épocas anteriores à aceitação da existência de ocupantes estávamos apenas engatinhando no entendimento da presença alienígena na Terra. Não aceitávamos as abduções e nos contentávamos somente em estudar os aparelhos em si. Era como se estivéssemos tentando ter um carro sem carteira de motorista. E com a análise das abduções pudemos enxergar mais longe. Os casos que caíam em minhas mãos eram de pessoas relatando avistamentos múltiplos, algumas delas com a clássica sensação do lapso de memória ou missing time — horas que “desapareciam” de suas mentes. Depois soubemos que eram períodos de tempo ocorridos durante as experiências, dos quais as pessoas não se lembravam de nada por ação dos abdutores. Os casos eram assombrosos.
Traumas após abduções
Qual você considera o melhor método para se investigar as abduções? Bem, temos que entender que algo traumático aconteceu a muitas das pessoas que foram abduzidas, mas como saber o quê? Como investigar esses fatos? Foi aí que passei a pedir ajuda a amigos meus, psiquiatras, psicólogos e outros profissionais que pudessem me ajudar com regressões hipnóticas e coisas do gênero — a hipnose era fundamental para estudar experiências que as pessoas não podiam se lembrar com detalhes. Alguns acabaram aceitando as evidências, outros ainda não. No entanto, todos os que colaboraram com esse trabalho se transformaram diante das abduções. E na medida em que dados concretos sobre elas se materializavam, caso após caso, sendo tais experiências relatadas por pessoas altamente confiáveis, é preciso encarar os fatos de frente. Foi o que aconteceu comigo.
Qual é, em sua opinião, o real significado das abduções? Eu não tenho dúvida de que as abduções são reais e de que seu significado é imenso. No mínimo, elas indicam que não estamos sós no universo, como muitos pensam. Nós estamos inseridos em um nível mais profundo de existência, cercados de outras formas de vida — muitas delas imensamente mais avançadas do que nós. As inteligências que nos visitam têm algum tipo de controle sobre a gente, podem olhar dentro de nossas mentes, falar conosco telepaticamente e fazer-nos realizar o que desejam. As abduções, portanto, demonstram o fim de nossa privacidade. O significado de tais atos alienígenas é incomensurável. O que eles estão buscando nos seres humanos é algo que lhes interessa muito: material genético e, até certo ponto, material emocional.
Quais você considera as principais evidências das abduções, aquelas que realmente nos mostram sua realidade? Eu acho que o mais dramático nelas são as marcas físicas deixadas nos corpos dos abduzidos depois das experiências, que são de vários tipos, embora a mais comum seja a que chamamos de “marca de concha”, semelhante à causada por uma injeção de vacina. Esse sinal é uma pequena depressão arredondada do tamanho da unha de um polegar ou um pouco menor, causada provavelmente pela retirada de uma quantidade de tecido da vítima por alguma espécie de ferramenta. É comum o abduzido acordar de noite por causa de algum sonho estranho e levantar pela manhã com uma dessas marcas, mesmo sem ter sangrado.
Essas “marcas de concha” são muito comuns nas abduções? Sim, e o interessante é que podem acontecer várias vezes com a mesma pessoa, quando ela é repetidamente abduzida. Outro tipo de marca comum é parecida com um corte cirúrgico feito com bisturi. Ele pode surgir em qualquer lugar do corpo e ter de 2 a 4 cm de comprimento, no máximo — mas é muito raro haver qualquer tipo de sangramento nesses locais. Outros sinais que encontramos podem ser maiores, como ferimentos, principalmente na parte interior das coxas, como se algum tipo de aparelho ginecológico tivesse sido usado. E também nesses casos isso acontece à noite, quando a pessoa vai para a cama em perfeito estado e acorda com cortes ou algo parecido.
Pessoas que passam por uma abdução chegam de fato a se traumatizar? Algumas dessas vítimas acabam realmente traumatizadas. Quando a pessoa acha tais marcas estranhas demais, e ainda sem saber de sua condição de abduzida, vai ao médico e tem um choque. Há o caso de uma mulher que fez uma consulta após ter notado um desses sinais em suas costas, depois de um estranho sonho, e nem o profissional entendeu o que lhe passara. Seu médico insistiu para que fizesse uma cirurgia no local, porque havia pequenos intervalos de distensões pela pele. Mas a mulher discordou e ainda argumentou com ele que aquilo tinha surgido da noite para o dia, e que esperava que desaparecesse da mesma forma. Ela acabou indo a um ufólogo mais tarde e descobriu ter sido abduzida.
Qual você imagina ser o propósito de os extraterrestres nos sequestrarem? Especular sobre isso é inevitável, mas certas coisas parecem bem claras para mim, indicando o que estariam fazendo conosco. Creio que estão realizando algo que serve a interesses exclusivamente deles, e não nossos. Algumas pessoas, de tendências religiosas ou místicas, querem que pensemos que os ETs estão aqui para nos ajudar, para nos salvar. É realmente bom pensar assim, mas não creio que esse seja o caso. Também não acredito que estejam aqui para nos explorar ou nos levar a outros mundos sem retorno, como quer outro grupo de pessoas. Isso é paranoia. O que é certo é que estão aqui desenvolvendo um programa que interessa a eles, exclusivamente. Eles podem entrar em nossas vidas, em nossos corpos e pegar o que precisam. Em especial, parecem se interessar por nosso material genético — com o qual poderiam criar seres híbridos que os ajudariam a resolver algum tipo de problema evolucionário. Creio também que podem simplesmente ir embora e nos deixar em paz quando acabarem de fazer o que desejam. No entanto, confesso não ter informações suficientes para dizer qual é o objetivo de nossos visitantes, mas garanto que não estão aqui para nos ajudar a resolver o problema na camada de ozônio, o superaquecimento da atmosfera, nos salvar de um cataclismo nuclear ou qualquer coisa assim, co
mo muitos creem.
Os céticos dizem que as histórias de abduções são muito parecidas entre si justamente por não serem reais, mas baseadas em imagens culturais que temos dos UFOs e dos alienígenas. Como responde a isso? Eles estão errados. Uma das coisas mais importantes sobre as abduções é que elas acontecem de forma idêntica ao redor do mundo, até entre pessoas mais humildes. Em lugares tão longínquos como o Zimbábue e a Nova Guiné, extremamente pobres, ou a Arábia Saudita e o Nepal, significativamente religiosos, as abduções existem e são relatadas da mesma forma pelas pessoas. Todos os casos são parecidos, sim, mesmo tendo ocorrido em locais diferentes — e é justamente isso que garante sua realidade, ao contrário do que pensam os céticos. Não existe a possibilidade de serem fraudes e podemos fazer um simples teste a respeito: pergunte a uma pessoa na rua o que ela acha sobre os UFOs e peça para explicar o que é uma abdução. O que ela vai descrever muito provavelmente será bem diferente de como tais fenômenos ocorrem.
Universo de pessoas sãs
E o que você diria a quem acha que os abduzidos são loucos? Bem, se os abduzidos são loucos, então há milhões deles em todo o mundo com maluquices exatamente idênticas e igualmente traumatizantes. No entanto, está enganado quem imagina que podemos descartar tal fenômeno tão facilmente. Estamos falando de um universo de pessoas que podem ser psicologicamente testadas — como, aliás, elas têm sido, não se encontrando nada de psicologicamente anormal nelas. Realizei uma série de testes psicológicos com um grupo de abduzidos há muitos anos, sem informar aos psicólogos que nos assessoravam sobre a natureza de nosso exame, e o resultado que obtivemos — e que foi confirmado por eles — comprova que não havia qualquer psicopatologia nos abduzidos. Portanto, loucos é que não são. E se não são loucos, devem estar falando a verdade.
Conhecer as abduções é entender que não apenas não estamos sós no universo, como estamos sendo bem observados
— Budd Hopkins
Seu novo livro Sight Unseen [Avistamento Não Visto, Atria Books, 2005] se tornou um grande sucesso assim que você o lançou. A que atribui isso? Nesse meu último trabalho eu vou além das abduções e faço uma análise mais geral dos fatos relacionados à presença alienígena na Terra. Sem, é claro, me desviar da minha área de especialidade, e no livro eu abordo em detalhes 16 novos casos de sequestros alienígenas que investiguei em várias partes do mundo. Em minhas obras anteriores, já relativamente desatualizadas, eu tratava das abduções alienígenas de maneira diferente, como as conhecíamos na época — elas não continham dados que descobrimos mais recentemente. Intrusos [Record, 1991], por exemplo, já tem duas décadas. Seu conteúdo ainda é válido, claro. Mas nas obras mais recentes temos mostrado muitos fatos novos e, principalmente, novas formas de encará-los. Sight Unseen tem ferramentas muito importantes não somente para a pesquisa das abduções, mas também para a sua interpretação.
Que ferramentas são essas e como aplicá-las nos casos de abdução? Veja, é importante que se saiba que estudar sequestros alienígenas é uma coisa, mas compreendê-los e integrar essa compreensão ao contexto da Ufologia é outra bem diferente. As ferramentas que eu forneço são intuitivas, para que se “sinta” o abduzido durante todo o processo de sua investigação — em especial, para que separemos fatos que ocorreram de verdade de outros que podem ter sido criados por sua mente, o que é normal. Pode-se dizer que tais instrumentos consistem de uma complexa combinação de filtros que, usados sozinhos ou em conjunto, podem nos revelar grandes surpresas sobre nossos abdutores.