O nome não é tão imponente ou óbvio quanto os que os americanos costumam dar a seus conjuntos de radiotelescópios, mas não se deve subestimar o Projeto Arranjo Decimétrico Brasileiro (BDA, na sigla em inglês). Sua construção será oficialmente iniciada em 27 de setembro, em cerimônia no campus do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em Cachoeira Paulista, interior de SP. O arranjo, que será usado principalmente para o estudo do Sol, do clima espacial e de eventos galácticos e extragalácticos, consiste num conjunto de 38 antenas parabólicas de 4 m a 5 m de diâmetro cada, dispostas em forma de “T”. E que “T”: o traço na direção leste-oeste tem 2,5 quilômetros, e o na direção sul, 1,25. A idéia é que todas as antenas façam observações em freqüências de rádio e que os dados obtidos por cada uma sejam posteriormente somados, como se todas as antenas funcionassem como um telescópio gigante, do tamanho do “T”. Essa tecnologia, chamada de interferometria, é uma das ferramentas mais poderosas usadas hoje em dia para observações radioastronômicas. O mais famoso arranjo de radiotelescópios é o americano Very Large Array (na tradução, Arranjo Muito Grande), no Novo México, com 27 antenas de 25 m de diâmetro cada uma. “Em uma das configurações, teremos uma resolução parecida com a deles, mas vamos trabalhar em outras faixas de freqüência”, diz José Roberto Cecatto, engenheiro do INPE envolvido no projeto. “Uma vez que vamos trabalhar com estudos solares, nosso equipamento também tem uma resolução de tempo muito alta. Podemos obter até dez quadros por segundo”. Não são muitos os países que dominam a técnica. “Quando o BDA estiver pronto, seremos o sétimo país no mundo”, diz Cecatto. Será também o primeiro interferômetro da América Latina. Por ora, o que existe no sítio de construção é um protótipo, composto por cinco antenas, que deve estar concluído até o final do ano. Para a segunda fase, o INPE deve repassar a construção dos elementos para a indústria brasileira. “Já é uma coisa de escala industrial. Precisamos de 38 cópias de cada peça do sistema, para cada antena”, diz Cecatto. Caso não ocorram imprevistos ao longo do caminho, os pesquisadores esperam ter o arranjo operando entre 2007 e 2008. No total, o custo estimado pelo projeto é de cerca de R$ 3 milhões. O financiamento está vindo majoritariamente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), com participações do INPE e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto envolve cooperação com Índia, Japão e EUA e congrega diversas instituições brasileiras, além do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.