No decorrer da década de 60 viu-se o florescer de uma vasta literatura voltada para o desenvolvimento, por parte dos engenheiros do Terceiro Reich nazista, de aeronaves supersecretas de desempenhos supostamente excepcionais produzidas pouco antes do final da Segunda Guerra Mundial. Infelizmente, a qualidade desses trabalhos geralmente é pobre e marcada pelo sensacionalismo, chegando a criar um quadro de teorias muitas vezes delirantes, que incluem excentricidades como imaginários contatos entre os militares de Hitler, e ele próprio, e extraterrestres da estrela Aldebaran, fornecimento de tecnologia alienígena para a construção de discos voadores, criação de bases secretas na Antártida, de onde teriam partido os UFOs avistados em todo o mundo nas décadas seguintes, entre outras histórias mirabolantes.
Com uma análise crítica é necessário procurar compreender o que pode existir de verossímil nessas afirmações e — mais importante — entender qual é o núcleo de fatos reais de onde surgiram tais iniciativas fantasiosas que foram mencionadas. Apesar dos visíveis exageros, a comprovação, ainda que parcial, de que o regime nazista tinha acesso a algum tipo de tecnologia extraterrestre é algo que seria excepcional para a Ufologia Mundial. Aliás, é amplamente sabido que o Fürher tinha obsessão pelo tema e, em certa época junto com o também ditador Benito Mussolini, sonhava em abater um deles para copiar seus avançados meios de navegação. Felizmente, para a humanidade, isso não chegou a acontecer.
Tecnologias avançadas
De todas as aeronaves produzidas na Alemanha durante o regime de Hitler, a primeira a despertar forte interesse pela sua particular manobrabilidade foi certamente a asa voadora Horten HO 229. Projetada em 1933 por dois irmãos, Walter e Reimar Horten — daí o seu nome —, a aeronave em forma de V fez seu primeiro voo oficial em 1944. Ela era capaz de alcançar a velocidade de cerca de 1.000 km/h, o que era excepcional para a época, e de transportar uma tonelada de bombas para lançá-las em um raio de 1.000 km do ponto de decolagem. O veículo foi responsável por grande número de ataques e mortes que se viram durante o sangrento conflito.
Além disso, tanto pela sua forma delgada como pelo uso de uma cobertura à base de resina de carbono, o bombardeiro Horten HO 229, como recentemente demonstrado por uma pesquisa subvencionada pelo History Channel, tinha propriedades stealth que só seriam conhecidas décadas depois. Tal tecnologia, hoje relativamente comum em avançadas aeronaves de guerra, evita que sejam detectadas por radares inimigos, tanto os de terra como os de outros aviões, o que é uma vantagem considerável sobre um eventual inimigo. Sabe-se hoje que, mais de 50 anos depois, os engenheiros norte-americanos da empresa Northrop-Grumman teriam sido fortemente influenciados pelo conceito Horten HO 229 para a fabricação do bombardeiro stealth B-2 Spirit.
Outra aeronave com desempenho extraordinário e que entrou em operação nas fases finais da Segunda Guerra Mundial foi o caça polivalente Messerschmitt ME 262, o primeiro avião a jato da história, com dois turborreatores Junkers Jumo 004 B-1 capazes de levá-lo à surpreendente velocidade de 880 km/h e de permitir-lhe uma velocidade de subida de 20 m/s. Essas características logo lhe deram uma supremacia incontestada por onde operou, mas não foram suficientes para mudar os caminhos do conflito por causa do pouco número de exemplares existentes, cerca de 300, e do seu tardio ingresso em cena. Mas, tivesse Hitler contado com mais unidades do Messerschmitt ME 262, hoje talvez conhecêssemos um mundo bem diferente do que temos.
História alternativa da Ufologia
Ao lado desses aviões, cuja existência é certa para todos os historiadores, há também uma série de aparelhos de formas extremas — inclusive discoides — que teriam realizado o primeiro voo no início de 1945. O mais conhecido é o chamado Haunebu, um verdadeiro disco voador, do qual teriam sido produzidos apenas dois protótipos de 25 m de diâmetro cada. O veículo, certamente inspirado em uma nave alienígena, seria capaz de alcançar a velocidade de Mach 5 graças aos motores antigravitacionais feitos pelo doutor Hermann Schumann, membro da sociedade secreta ocultista Thule Gesellschaft. Há também os V-7, aeronaves que teriam sido testadas em janeiro de 1945, das quais existem imagens cuja veracidade é, no mínimo, controversa. Algumas das excêntricas histórias do final da Segunda Guerra Mundial registram que esses dois tipos de aparelhos teriam sido transferidos para o Polo Sul um pouco antes da queda do regime nazista, para bases alemãs naquele ponto da Terra, lá construídas na expectativa de um resultado negativo nas operações militares.
Embora possa parecer improvável, alguns estudiosos chegaram a sustentar que os frequentes avistamentos de UFOs a partir de 1947 foram devido à presença de frotas de aeronaves nos céus guiadas por desertores nazistas, que teriam desejado mostrar ao mundo a superioridade de sua tecnologia. Parece desnecessário ressaltar a forma como é impossível ligar o Fenômeno UFO ao ato de fugitivos do Polo Sul, que teriam sido motivo de piadas pelas aeronáuticas de todas as outras nações. Em relação à existência dos Haunebu e dos V-7, as provas se baseiam em algumas fotos e em vários ensaios — estruturados, de fato, mas mais como se fossem romances ucrônicos do que textos com pretensões científicas — escritos 20 anos depois e que criaram quase do nada um cenário feito de supostos contatos entre a Alemanha e entidades de outros planetas.
Em um panorama de informações não comprovadas e, talvez, também de desinformações, seria mais fácil ignorar e sentenciar que isso se trata de mais uma mera tolice. Porém, ao fazer isso, assumir-se-ia uma atitude totalmente dogmática e contraproducente — o exame dos fatos é o caminho recomendável. Na verdade, existem pelo menos dois indícios capazes de dar credibilidade à possível existência de protótipos de características técnicas excepcionais. O primeiro é representado pela patente número 2.939.648, registrada nos Estados Unidos em 07 de junho de 1960 pelo inventor Heinrich Flessner. Ela se refere a um avião a jato em forma cônica, com asa discoide e tanques à base de centrifugação, munido de corpo esférico central fixo.
O estranho sino
O segundo indício provém de um documento sigiloso da CIA de 18 de agosto de 1953 contendo as afirmações do engenheiro aeronáutico alemão George Klein, segundo o qual os discos voadores teriam retornado às mesas dos projetistas alemães a par
tir de 1942, para serem depois testados em Praga, então Tchecoslováquia, em 04 de fevereiro de 1945. Tratando-se de aeronaves cheias de segredos, é plausível que tenham sido destruídas para que não caíssem em mãos inimigas, daí a falta de documentos que possam comprovar esses projetos com conhecimento de causa.
Mas, de todos os programas tecnologicamente inovadores levados adiante pelo Terceiro Reich, apenas um foi classificado como kriegsentscheidend, isto é, decisivo para o destino da guerra. Esse projeto, conhecido como Die Glocke, ou O Sino, dizia respeito a um avião em forma de sino com cerca de 6,5 m de diâmetro por 5 m de altura, com revestimento de cerâmica e em cujo interior seriam colocados dois cilindros rotativos que fariam uso de um isótopo radioativo — o Xerum 525 — que criava, no aumento dos giros, um vórtice eletromagnético que deixaria o avião em gravidade zero. Ao contrário do Haunebu e do V-7, sua existência não se tratou de simples dedução, visto que existem
muitas provas cruzadas dela.
Por exemplo, o avião foi mencionado expressamente nas transcrições do processo de Nuremberg em relação às pesquisas realizadas pelo supervisor do projeto, o general Jakob Sporrenberg, assim como nos desenhos do projeto do engenheiro Walter Gerlach. A isso se somam inúmeros testemunhos sobre avistamentos de misteriosos objetos de surpreendentes desempenhos e em forma de sino justamente nos dois últimos anos da Segunda Guerra Mundial. Tudo coincidência? Certamente que não.
Em Kecksburg
Porém, a história desse projeto não termina com o fim da guerra. Existe ainda um possível desdobramento dele do outro lado do Oceano Atlântico, cerca de 20 depois. Em 09 de dezembro de 1965, centenas de testemunhas espalhadas pelos estados norte-americanos de Pensilvânia a Illinois declararam ter visto uma bola de fogo cortar o céu em alta velocidade. No mesmo dia, perto da pequena cidade de Kecksburg, na Pensilvânia, muitos habitantes viram um clarão de luz e um incêndio repentino na floresta próxima. Tratava-se da queda de algum avião ou objeto em chamas.
O projeto, conhecido como ‘Die Glocke’, ou O Sino, era um avião em forma de sino com cerca de 6,5 m de diâmetro por 5 m de altura, com revestimento de cerâmica e em cujo interior seriam colocados dois cilindros para gerar antigravidade
O jornalista Robert Gatty, colunista do diário Tribune Review, chegou à noite à região para examinar a cena e logo ficou impressionado com a maneira como a área havia sido rapidamente delimitada pela polícia, que alegou estar esperando a chegada do exército e de cientistas. Muitas testemunhas presentes no local afirmaram ter visto um objeto não identificado em forma de sino, dando uma descrição que se assemelha muito à forma do protótipo alemão Die Glocke. Posteriormente, os militares recolheram o que seria o aparelho caído e seus fragmentos e colocaram tudo em vários caminhões, levando-os direto para a Base Aérea de Wright-Patterson, no Ohio, um dos locais mais comumente associados a discos voadores dos Estados Unidos — para ali também foi levado parte dos destroços da nave alienígena acidentada em Roswell, em 1947.
Este caso é altamente verossímil pela quantidade e pela qualidade dos depoimentos, e essas informações nos levam a considerar que um protótipo do sino nazista possa ter sido recuperado pelas forças armadas norte-americanas e, posteriormente, sido objeto de estudo de um programa de engenharia reversa para compreender os segredos do seu funcionamento. Há outras fontes que também sustentam isso.
Queda de UFO na Itália
É preciso, porém, que haja o questionamento lógico de onde realmente teria surgido a inspiração para tecnologias tão além da época em que foram produzidas. É possível pensar em uma queda de nave anterior a Roswell, da qual teriam derivado conhecimentos aeronáuticos avançados aos ditadores e militares de então? Sim, por exemplo, há rumores de UFOs caídos nas proximidades de Freiburg, nos anos de 30, assim como de conhecimentos obtidos através de médiuns por meio de canalizações de entidades de outros planetas que, naturalmente, podem ser questionados. Outra suposição muito considerada é a da existência de legítimos pactos entre o regime nazista e seres extraterrestres, mas não há uma só prova que dê um mínimo de credibilidade a essa teoria.
Já as evidências emergentes do cenário que aqui examinaremos brevemente, e que fizeram com que os pesquisadores olhassem com outros olhos a tecnologia secreta alemã, têm uma qualidade totalmente diferente. No final da década de 90 surgiu uma série de documentos datados de 1933 a 1936, escritos em papel timbrado e com o selo da ditadura de Benito Mussolini. Eram cartas endereçadas a Galeazzo Ciano e telegramas urgentes da Agência Stefani, além de memorandos secretos e até um comunicado proveniente do próprio Mussolini. O quadro que surge dos documentos em questão é impressionante: em 13 de junho de 1933, nas proximidades de Magenta, na Itália, teria sido encontrada uma aeronave de origem desconhecida, suspeita de vir do espaço exterior. Logo seria organizada uma operação de recuperação do artefato junto da criação de um órgão encarregado de estudar o aparelho e, ao mesmo tempo, efetuar um acobertamento do caso — tal órgão foi chamado de Gabinete RS/33.
Diante desse cenário, e tratando-se de documentos originais e não de cópias, o material foi analisado por especialistas forenses. O doutor Antonio Garavaglia, consultor técnico do Tribunal de Como, após realizar vários testes, assegurou que o documento era autêntico — a tinta e o papel utilizados, apesar do envelhecimento de ambos, provavam que não eram cópias ou falsificações. Além disso, o estilo e a gramática, como declarado pelo célebre especialista italiano Andrea Bedetti, apresentavam sinais característicos da época. Portanto, todas essas provas eram concordantes em dar validade absoluta aos documentos em questão e em comprovar a queda de uma aeronave não identificada em 1933 na Itália, sobre a qual muito provavelmente foi conduzida uma operação de engenharia reversa do então aliado alemão e cujos resultados só teriam sido visíveis pouco antes do fim da Segunda Guerra.
E atualmente?
Na verdade, enquanto os V-7 e os Haunebu ainda representam uma incógnita, no sentido de que ninguém pode se pronunciar c
om certeza sobre a sua efetiva existência, isso não acontece com o Die Glocke, que teve alguns de seus voos comprovados acima de qualquer dúvida. Que não se pense que o cenário mostrado por Gary McKinnon seja um mero divertimento criado após ele assistir a alguns episódios de Star Trek [1973]. McKinnon é aquele hacker escocês que conseguiu violar sistemas de computador protegidos das forças armadas e da inteligência dos Estados Unidos, nos quais se encontra a localização precisa de motores de dobra de espaço-tempo, teletransporte de objetos, frota espacial norte-americana com tripulação mista e tudo o mais. Se o que ele disse era mera fantasia, certamente McKinnon não teria sido condenado em um tribunal penal, mas levado para o hospital psiquiátrico mais próximo.
O problema, como sempre, é conseguir distinguir a informação fantasiosa daquilo que é real. A primeira muitas vezes é construída deliberadamente para deslegitimar e descredibilizar a pesquisa séria, a qual poderia mostrar ao grande público a importância e a incontestabilidade do corpo de evidências relativas a atividades extraterrestres neste planeta. Já a comprovação de tais fatos como reais, por mais espetaculares que pareçam, pode elevar a Ufologia Mundial a um novo patamar.