Causou grande expectativa, entre o final de novembro e início de dezembro passado, o anúncio de que a NASA iria realizar uma entrevista coletiva de imprensa para divulgar uma nova descoberta capaz de gerar profundo impacto na busca por vida fora da Terra. Milhares de sites e blogs agitaram a internet com suposições do que seria a descoberta, especulando que a Agência Espacial Norte-Americana revelaria ter encontrado, finalmente, vida extraterrestre — e a maioria deles nem sequer se dedica à pesquisa ufológica, é bom destacar. Foi uma decepção, pelo menos para os ufólogos, quando o órgão divulgou ter descoberto uma bactéria especial, e nem foi no espaço, mas na Califórnia. Foi interessante perceber que não apenas na comunidade ufológica internacional, mas também em outros meios interessados nos avanços da astronomia, houve comentários externando desapontamento a respeito do anúncio — mesmo que ele seja, de fato, espetacular.
O que a NASA revelou foi a descoberta da bactéria GFAJ-1, do filo protobactéria e da família Halomonadaceae, que, ao contrário de todas as demais formas de vida do planeta, é capaz de substituir um dos elementos antes considerados absolutamente essenciais à vida, conforme a concebemos. Todos os seres vivos conhecidos têm em sua composição os elementos químicos carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre, pelo menos. Os cientistas sempre os consideraram a “base da vida”, e devido ao fato de todos eles — ou compostos que os contêm — terem sido encontrados em vastas e longínquas regiões do universo, era consenso de que outras formas de vida extraterrestre também poderiam ser constituídas por tais elementos. A descoberta de agora abalou esta certeza. Em Marte, por exemplo, a política da NASA, já bem conhecida, é de procurar água, principalmente. Isso produziu resultados espantosos, especialmente com relação à missão dos robôs Spirit e Opportunity, enviados ao vizinho. Os rovers comprovaram que porções consideráveis da superfície do Planeta Vermelho estiveram debaixo d’água no passado, o que fez um número cada vez maior de cientistas passar a defender a existência de vida no estranho mundo ao lado, pelo menos naquela remota época.
Bactéria “quase alienígena”
A busca por formas de vida baseadas em carbono, hidrocarbonetos e água sem dúvida irá prosseguir, pois tais elementos são abundantes no universo. Mas o que se comprovou com a descoberta da GFAJ-1 foi que a vida pode existir também baseada em outros elementos, dispensando um dos que anteriormente eram considerados essenciais.
Em um estudo da Universidade do Arizona financiado pela NASA, liderado pelos astrobiólogos Ariel Ambar e Paul Davies e recentemente publicado na revista Science, foi divulgado que a GFAJ-1 é capaz não apenas de se alimentar de arsênico, um elemento tóxico para todos os demais seres vivos terrestres, como também substituir o fósforo por ele em largas porções de seu DNA. A bactéria “quase alienígena” foi descoberta no Lago Mono, no norte da Califórnia, e para espanto dos cientistas mostrou que consegue crescer e se multiplicar utilizando tanto fósforo quanto arsênico — eles salientaram que ela cresce com mais vigor com o primeiro, mas pode utilizar o segundo quando aquele não estiver disponível. O Lago Mono, por sua vez, é tão salgado e rico em arsênico que sequer existem peixes vivendo nele.
Especulação sobre vida em Titã
Os cientistas da NASA destacaram que a descoberta comprova que em outros planetas a vida pode se desenvolver com elementos diversos dos encontrados nos seres terrestres, humanos, animais e vegetais. O jornalista de O Estado de São Paulo Carlos Orsi, a respeito do assunto, lembrou em seu blog do fictício Horta, um alienígena apresentado ao público no episódio Demônio da Escuridão, da clássica série Jornada nas Estrelas. Horta era um organismo que, em vez de carbono, tinha silício em sua composição — e de fato, a comunidade científica vem há anos especulando sobre formas de vida baseadas em silício, talvez até mesmo vivendo aqui na Terra.
No caso atual, a bactéria GFAJ-1 não parece ser pura e simplesmente uma forma de vida que usa o arsênico no lugar do fósforo, mas sim que em situações extremas é capaz de substituir um elemento pelo outro. Porém, segundo o pesquisador brasileiro Douglas Galante, coordenador do laboratório de astrobiologia da Universidade de São Paulo (USP), o achado pode ser apenas a ponta do iceberg, representando a primeira de uma série de descobertas de organismos terrestres muito diferentes dos que conhecemos. Galante disse, em entrevista para o programa Bom Dia Brasil, que todos devem manter a mente aberta para aceitar outras possibilidades de vida.
Mas o que mais chamou a atenção da comunidade ufológica com relação a todo este episódio não foram as características inusitadas da bactéria, mas as especulações que se espalharam pela rede mundial até mesmo antes do anúncio propriamente dito. O boato de que a NASA anunciaria vida em Titã — satélite de Saturno e o único corpo no Sistema Solar a possuir uma atmosfera densa — foi discutido em vários blogs e fóruns. O rumor era baseado no fato de um dos cientistas da entrevista coletiva da agência, o biólogo Steven Benner, ser da equipe do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), que realiza estudos sobre Titã dentro da missão da nave Cassini.
O que deve ser explicado aqui é que vários selecionados jornalistas recebem antecipadamente o conteúdo das matérias a serem publicadas na Science, como foi o caso, para que possam redigir seus artigos. Evidentemente, eles precisam se comprometer a não divulgar a notícia antes. Assim, a especulação a respeito da vida em Titã começou quando um conhecido blogueiro dos Estados Unidos, fora da lista que recebeu antecipadamente o artigo da Science, propagou os boatos. Casos semelhantes ocorreram anteriormente, como na descoberta de um buraco negro resultante da supernova SN 1979C, detectada em 1979 na galáxia M100, a 50 milhões de anos-luz da Terra. Ineditamente, o achado permitirá aos cientistas acompanhar a evolução desses ainda misteriosos objetos celestes, pois o buraco negro, do nosso ponto de vista, tem apenas 30 anos de idade.
Igualmente, algo muito
parecido ocorreu quando do anúncio da descoberta de perclorato em Marte, através dos experimentos executados pela sonda Phoenix, em agosto de 2008. A imprensa norte-americana entregou-se a uma série de especulações, com rumores dando conta até de que a própria Casa Branca teria sido informada a respeito de “significativas descobertas em Marte”. A importância da descoberta residia no fato de que o perclorato pode ser metabolizado por microorganismos, produzindo como subproduto o clorometano e o diclorometano — e esses dois compostos orgânicos foram os únicos encontrados pelas sondas Viking que pousaram no Planeta Vermelho, em 1976.
Cortes orçamentários
Como lembra Orsi, a estratégia dos comunicados da NASA é planejada para chamar a atenção para as entrevistas coletivas em que são anunciadas tais descobertas — a tática tem sido empregada rotineiramente pela assessoria de imprensa da agência. Vale lembrar que ela é “vítima” freqüente de cortes orçamentários por parte dos congressistas norte-americanos, coisa que aconteceu, inclusive, na atual legislatura. Como se sabe, programas científicos não têm quase nenhum apoio político, como comprova, por exemplo, o cancelamento, ainda nos anos 80, da sofisticada missão norte-americana ao cometa Halley, a decisão de não trazer o telescópio Hubble de volta para a Terra e de aposentar a frota dos ônibus espaciais.
Não podemos nos esquecer ainda da decisão da administração de Barack Obama de cancelar o programa Constellation, que levaria o homem novamente à Lua, algo muito aguardado por todos e sempre envolto em um cenário obscuro. Podemos também mencionar que, no corte da década de 80, que vitimou a missão Halley e foi duramente criticado pela comunidade científica internacional, por muito pouco se safou a missão da nave Galileo para Júpiter. Felizmente, sua ida ao sistema joviano pôde prosseguir, trazendo espantosos resultados — inclusive a indicação do satélite Europa como candidato a abrigar formas de vida extraterrestre.
Profunda falta de informação
O fato é que a missão primordial da NASA, como sempre foi divulgada, é procurar formas de vida fora da Terra, e não se pode dizer que a agência tenha deixado de realizar seu trabalho. Ainda hoje, por exemplo, se discute o espetacular anúncio de agosto de 1996, quando o meteorito ALH 84001 foi apresentado como a primeira possível prova da existência de vida em Marte. A polêmica se mantém até agora na comunidade científica, mesmo que novas descobertas, utilizando técnicas não disponíveis há 15 anos, pareçam confirmar que os traços encontrados na rocha marciana tenham mesmo origem biológica.
A Agência Espacial Norte-Americana está envolvida em muitas missões científicas lançadas para os planetas vizinhos com o intuito de descobrir vida extraterrestre, e tem realizado um trabalho espantoso com os poucos recursos de que dispõe. Não podemos nos esquecer de que investimento em ciência, em termos mundiais, é uma ínfima parte do que se gasta, por exemplo, na pesquisa de novos armamentos. Daí, reclamar que os resultados produzidos pela Ciência — com C maiúsculo — sejam “escassos” diante de seus “dispendiosos” sistemas, tais como antenas e radiotelescópios, como se tornou comum em certos setores da Comunidade Ufológica Brasileira, só pode ser resultado de falta de informação.
Por exemplo, o que foi comentado no princípio deste artigo, que elementos como hidrocarbonetos e água são abundantes no universo, é o tipo de conhecimento que só se tornou possível devido à detecção feita com os tão injustamente criticados radiotelescópios. Exatamente da mesma forma, hoje, a comunidade científica discute abertamente a vida extraterrestre e espera encontrá-la em mundos próximos, como Marte, Europa, Titã ou Encélado, e até além deles, nos mais de 500 exoplanetas já confirmados, graças a instrumentos como as sondas espaciais ou telescópios como Hubble, Corot, Kepler e outros — tudo produto de investimentos que alguns consideram exagerados. Assim, os dados produzidos pelos mencionados instrumentos são justamente o contrário de “escassos”, como alegam os pessimistas. São abundantes! A astronomia conheceu uma revolução como nenhum outro campo nos últimos 15 anos, graças às quantidades extraordinárias de informações coletadas por dispositivos cuja tecnologia avança sem parar.
O meio ufológico precisa entender que a Ciência necessita de provas, e se dedica com os instrumentos à disposição a buscá-las. O achado da GFAJ-1 é realmente espetacular e evidencia que a vida é muito mais persistente do que imaginado anteriormente, podendo se organizar utilizando compostos diferentes dos que usa ou se baseia em nosso planeta. Nada há de errado em tecer especulações baseadas em fatos — por exemplo, a existência de vida no oceano que se sabe haver abaixo da capa congelada de Europa —, mas para que sejam reconhecidas como fato científico, é necessário que sejam apoiadas por provas, tais como uma análise do material genético, se existir, de supostas criaturas do satélite de Júpiter, em um pouso nas próximas décadas.
Marcianos verdes e projetos secretos
Podemos ainda falar do projeto SETI, o programa de busca por vida extraterrestre inteligente, igual e injustamente criticado. Mesmo na comunidade científica o programa está muito longe de ser uma unanimidade, mas afirmar que recursos exagerados estariam sendo gastos nele é falta de informação. Lembramos que a participação da NASA no programa, em um novo e ambicioso formato iniciado em 1992, foi simplesmente cancelado pelo congresso norte-americano no ano seguinte. O então senador Richard Bryan ridicularizou publicamente o projeto, afirmando que “nenhum homenzinho verde de Marte surgira pedindo que fosse levado ao líder da Terra”. Bryan afirmava estar defendendo o dinheiro dos contribuintes — mas seria interessante saber sua opinião, por exemplo, a respeito de coisas como os black projects, os programas secretos com armamentos [Veja edição UFO 161, agora disp
onível na íntegra em ufo.com.br].
A recente declaração de que existe uma bactéria com base em arsênico revelou muito mais do que uma espantosa descoberta científica — mostrou a capacidade de especulação sem sentido do meio ufológico e o vazio que existe nas críticas aos esforços da agência e do SETI.
Já Seth Shostak, figura principal do SETI, além de nos últimos tempos ter dado declarações antes inimagináveis — como a de que o programa tem em seus registros centenas de sinais suspeitos, mas não confirmados —, também contestou os recentes alertas do astrofísico inglês Stephen Hawking, de que a humanidade deveria evitar o contato com nossos vizinhos cósmicos. Igualmente, Shostak chegou a ironizar os astrobiólogos por serem “muito modestos” em suas metas, dizendo que quer encontrar alienígenas capazes de se comunicar conosco, “estejam eles onde estiverem”.
Evidentemente, abordando a questão de outro ângulo, não podemos deixar de comentar as evidências, disponíveis até mesmo através da internet, de que a NASA oculta muito do que sabe a respeito dos mundos do Sistema Solar. Fotos da superfície marciana, em que se podem observar evidentes estruturas, por exemplo, foram retocadas de maneira até grosseira, fazendo há anos surgirem especulações em meio à comunidade ufológica e até mesmo em alguns fóruns científicos. O principal pesquisador brasileiro do acobertamento destas evidências por parte da agência, Marco Petit, co-editor da Revista UFO, tem incansavelmente procurado — e encontrado! — fotos em que borrões ocupam o lugar das tais estruturas, possivelmente artificiais, não apenas em Marte como também na Lua [Veja anúncio de seus CDs com tais imagens nesta edição].
Fotos comprometedoras e vazamentos
Se fosse o caso de simplesmente acobertar alguma descoberta significativa, o procedimento mais lógico seria simplesmente não publicar as fotos comprometedoras. Por isso, realmente é muito estranho que tais imagens retocadas estejam disponíveis nos sites da agência, com grandes e óbvias áreas borradas. É quase como se alguém quisesse revelar para a sociedade que de fato a NASA está acobertando o que sabe — e que melhor maneira de fazer isso senão sendo óbvio, como os borrões nas fotos? É difícil acreditar que tais imagens encontram-se disponíveis nos sites da agência com o desconhecimento de seu corpo dirigente.
Igualmente, fala-se há décadas sobre avistamentos de objetos não identificados feitos por astronautas no espaço, além das conhecidas filmagens de UFOs luminosos por câmeras a bordo de nossas naves. É claro que existe muito lixo espacial em órbita, que poderia explicar a maior parte destes casos, mas súbitas reversões, acelerações e mudanças de curso dos artefatos estão além do que objetos inertes e abandonados no espaço podem fazer — tal como aparece na famosa filmagem da missão STS-48 do ônibus espacial Discovery, em 1991. O que se pode especular é que a Agência Espacial Norte-Americana percorre um fio de navalha, talvez obrigada a se calar a respeito de descobertas espantosas que já teriam sido feitas, mantidas secretas devido à política de acobertamento global. Sob tal ótica, a NASA não seria agente, mas vítima da situação. Mesmo assim, todas as recentes descobertas da agência parecem formar o pano de fundo de uma preparação que estaria ocorrendo, a fim de que a revelação definitiva da existência de vida extraterrestre inteligente seja feita.
Vacilo dos burocratas da NASA
Devemos lembrar também que foi altamente significativo o fato de outra proeminente figura do SETI, Jill Tarter — que inspirou o saudoso Carl Sagan na criação da personagem Ellie Arroway, em Contato [1977] —, tenha recentemente anunciado uma mudança nos protocolos do programa. Anteriormente, a descoberta de um sinal de rádio de uma civilização extraterrestre seria mantida oculta da população até o momento propício de ser revelada. Agora, se tal descoberta acontecer, seu anúncio para toda a sociedade terrestre será imediato.
O que a onda de boatos que surge a cada anúncio de uma nova entrevista coletiva da NASA parece mostrar é que informações a respeito do acobertamento de espantosas descobertas no Sistema Solar — talvez ao contrário do que a comunidade ufológica acredite — estejam chamando a atenção de pessoas anteriormente sem interesse na questão dos discos voadores. Pode ser que muito mais gente do que estimávamos esteja prestando atenção nos sinais que a agência dá de que está realmente escondendo, ou sendo obrigada a esconder, parte do que sabe a respeito de vida alienígena. Afinal, ela é apenas um organismo dentro do gigantesco aparato estatal norte-americano.
O que aconteceria se os cientistas da agência confirmassem, justamente em uma entrevista coletiva, a descoberta de vida em Titã, como suspeitavam os recentes boatos? E se mais tarde fosse comprovado como um engano? Fatalmente os políticos norte-americanos criticariam pesadamente a NASA e seu orçamento seria reduzido ainda mais. E como órgão do governo dos Estados Unidos, a agência segue fielmente suas orientações no tocante a ocultar provas da existência de vida extraterrestre — o que parece incluir objetos artificiais na superfície da Lua e de Marte. Contudo, por que publicar fotos adulteradas de maneira absolutamente tosca? Seria um vacilo ou uma tentativa de mostrar o que eles de fato sabem e têm sido obrigados a esconder?
Evidentemente, não se pode desculpar que algo tão profundamente significativo, tais como as ansiadas provas da existência de vida fora da Terra, esteja sendo escondido em nome de interesses inconfessáveis. Porém, uma coisa é criticar o acobertamento e outra muito diferente é atacar o investimento em ciência, que, afinal, é insignificante se comparado ao gasto militar dos países desenvolvidos. A Ciência, especialmente a astronomia, tem experimentado um avanço extraordinário nos últimos anos, e tudo indica que é apenas questão de tempo até que seja anunciada, finalmente, a descoberta de outras espécies cósmicas. O que devemos fazer é permanecer vigilantes contra o acobertamento, e depois garantir que esse conhecimento, quando revelado, beneficie a humanidade.