O Brasil vivia um momento especial na década de 50, marcado por intensa atividade ufológica e por um crescente interesse da população sobre o assunto — como em todo o planeta. Particularmente, três fatos ajudaram a colocar a Ufologia em evidência naqueles anos, pouco depois que foi inaugurada a chamada Era Moderna dos Discos Voadores, em 1947. E eles foram a declaração bombástica favorável ao Fenômeno UFO que deu o então coronel-aviador João Adil de Oliveira, na Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG), em 1954, e dois espetaculares conjuntos de fotos de supostos discos voadores — cinco delas feitas na Barra da Tijuca, em 1952, e quatro na Ilha de Trindade, em 1958.
No entanto, apenas em um desses rumorosos casos as imagens resultaram ser verdadeiras depois de devidamente analisadas, as de Trindade, obtidas pelo fotógrafo profissional Almiro Baraúna a bordo do navio-escola Almirante Saldanha, da então Marinha de Guerra Brasileira. Era o Ano Geofísico Internacional e a embarcação estava em uma missão oficial e científica no arquipélago, quando quase toda sua tripulação e passageiros — a maioria militares — foram surpreendidos pelo surgimento de um artefato em formato de disco nos céus. Baraúna, que estava a bordo como convidado, por ter elevadas credenciais técnicas, realizou a seqüência de quatro fotos.
Desde 1966, quando iniciei meus estudos sobre a problemática dos objetos voadores não identificados, sempre considerei o Caso Ilha de Trindade como um de nossos mais importantes episódios ufológicos, e minhas pesquisas sobre as fotos que dele resultaram me convenceram de que são autênticas. A história completa, que se verá mais adiante, é ponto de referência na Ufologia Brasileira e Mundial. Infelizmente, no entanto, as outras fotos dos anos 50, as da Barra da Tijuca — que também durante muito tempo foram celebradas como legítimas —, não passam de um truque grosseiro de dupla exposição fotográfica. Até mesmo Baraúna, que fez as suas fotos seis anos depois, comprovou a fraude em 1954.
Documentação sensacional?
As imagens têm uma história interessante. Em 17 de maio de 1952, a extinta revista O Cruzeiro trazia um encarte extra com o título Disco Voador na Barra da Tijuca. O texto informava em letras garrafais um fato impressionante: “A revista apresenta, em furo jornalístico espetacular, a mais sensacional documentação jamais conseguida sobre o mistério dos discos voadores”. A publicação deixava claro que se tratava de uma nave alienígena quando completava a descrição sumária do fato: “O estranho objeto veio do mar com enorme velocidade e foi visto durante um minuto. Tinha cor cinza-azulada, era absolutamente silencioso, sem deixar rastros de fumaça ou de chamas. Leia o relato completo da fascinante aparição na Barra da Tijuca”.
Logo no começo da agitação global em torno dos UFOs, o Brasil protagonizou episódios que transformaram nossa casuística em referência permanente da Ufologia Mundial, como as fotos da Ilha de Trindade — que, apesar de atacadas há anos por céticos, resistem a qualquer análise.
A matéria foi assinada por dois grandes nomes do jornalismo da época, o repórter fotográfico Ed Keffel e o jornalista João Martins — que estavam à frente de dezenas de artigos sobre UFOs publicados pelo O Cruzeiro. Estaria assim, oficialmente falando, aberta de forma definitiva a polêmica sobre discos voadores e extraterrestres em nosso país, quase 60 anos atrás. Embora a Ufologia já viesse sendo praticada antes disso, inclusive com extraordinários acontecimentos, foi a partir da reportagem sensacionalista de O Cruzeiro que a população passou a dar mais atenção ao tema. A revista tinha enorme circulação para os padrões da época e era lida pela elite brasileira. O Caso Barra da Tijuca correu o planeta, sendo publicado e republicado mundialmente, tanto em periódicos especializados como de generalidades — e as fotos enganaram muita gente.
Mas o que aconteceu de fato na Barra da Tijuca? A história oficial dá conta que, na tarde de 07 de maio 1952, os repórteres Keffel e Martins estavam na localidade fotografando casais apaixonados quando foram surpreendidos por um UFO discóide. Eles alegaram que, por volta das 16h00, o disco apareceu vindo do mar e Martins pediu para Keffel, que era fotógrafo, fazer fotos do objeto. A primeira imagem teria sido obtida contra o Sol e a segunda com o objeto acima do Morro Dois Irmãos, que fica nas imediações. Já a terceira teria sido feita com o suposto disco voador sobre a Pedra da Gávea e, a quarta, sobre o morro que desce para o mar, onde havia uma palmeira. Por fim, a quinta e última foto mostrava o objeto retornando para o mar, tendo ao fundo as ilhas Alfavaca e Pontuda.
Foi uma bela acrobacia a realizada pelo disco voador de Keffel e Martins. “Era totalmente silencioso e tudo durou aproximadamente um minuto”, disseram os repórteres em sua matéria. Mas tudo não passou de uma fraude — denunciada, inclusive, por testemunhas que declararam o que sabiam à revista Ciência Popular, em um dos mais duros golpes que Keffel e Martins teriam em sua reputação. Tratou-se de uma montagem com um modelo, uma ação que mancharia a história da Ufologia Brasileira [Veja edição UFO 082, agora disponível na íntegra em ufo.com.br].
Disco voador de verdade
O mesmo, felizmente, não se pode dizer do outro conjunto de imagens de um suposto disco voador apresentadas à nação e ao mundo na década de 50, obtido na Ilha de Trindade pelo fotógrafo Almiro Baraúna — ele que analisou as fotos da Barra da Tijuca e concluiu que eram dupla exposição. Os resultados de seus testes foram publicados junto com um texto de Vinícius Lima na revista Mundo Ilustrado, em 1954, com o título Um Disco Voador Esteve na Minha Casa. Na época, isso foi muito comentado pela imprensa carioca. Baraúna mal sabia que, quatro anos depois, iria se envolver pessoalmente em uma oportunidade única de fotografar um disco voador de verdade. A história está muito bem documentada, mas vamos tratar de alguns detalhes.
Logo no começo do Ano Geofísico Internacional de 1958, em 16 de janeiro, a convite da Marinha Brasileira, Baraúna juntou-se à tripulação do Almirante Saldanha para pesquisar a fauna e flora do arquipélago de Trindade. O navio-escola estava atracado e preparando-se para retornar ao continente quando algo inusitado aconteceu. Baraúna, então com 43 anos, tinha feito algumas fotos do cenário pouco antes e estava deitado no convés, enjoado com os movimentos da embarcação e com forte dor de cabeça. De repente, por volta das 12h15, percebeu uma grande movimentação na embarcação e os militares chamaram sua atenção para algo luminoso no céu. O capitão José Viegas, da Aeronáutica, abordou Baraúna e pediu para que fotografasse aquele misterioso objeto.
Ra
pidamente, ele pegou a sua máquina Rolleiflex e conseguiu fazer seis fotografias — mas perdeu duas, a quarta e a quinta da seqüência, devido à velocidade do objeto e a agitação no convés. O artefato registrado, em forma do planeta Saturno, veio do mar, sobrevoou a ilha, passou sobre a Crista do Galo e depois sobre o Monte Desejo, e então se escondeu atrás de um morro. Mas reapareceu novamente do outro lado, retornou para o oceano, parou e em seguida disparou em altíssima velocidade, como um foguete. Era completamente silencioso e o fato não durou mais do que 14 segundos.
Coração disparado, tremedeira e vazio
Todas as 48 testemunhas que estavam a bordo observaram, perplexas, tudo o que aconteceu — entre elas marinheiros, sargentos e oficiais. Como civis, estavam no navio o advogado e funcionário do Banco do Brasil Amilar Vieira Filho, o funcionário do Banco de Londres Mauro Andrade, José Teobaldo Viegas, então capitão da Reserva da FAB, industrial e diretor de um aeroclube carioca, um cidadão conhecido apenas como Aloísio e o professor de geologia Fernando. Todos eram da equipe do Clube de Caça Submarina de Niterói.
Após o objeto desaparecer, outras pessoas também começaram a passar mal, como já vinha acontecendo com Baraúna. Ele sentia o coração disparado, tremedeira e sensação de vazio acompanhada de suor frio. Depois de uma hora, já recuperado do susto, foi perguntado pelo comandante do navio se tinha conseguido fotografar o UFO. Baraúna disse que sim. Resolveram então preparar um revelador no pequeno laboratório improvisado a bordo, e assim o filme foi revelado na hora. As testemunhas confirmaram que as imagens que surgiram nas quatro poses dos negativos originais eram exatamente iguais ao artefato que viram sobrevoando a ilha.
Quando o UFO passou sobre o Almirante Saldanha, toda a parte elétrica da embarcação pifou, as lâmpadas ficaram fracas e o rádio, sem sinal. Após a embarcação partir, o comandante chamou Baraúna para uma conversa particular e disse que as fotos e negativos seriam dele, do fotógrafo. Mas pediu que, antes de divulgá-las, ele fosse à Marinha prestar depoimento, o que Baraúna fez. Quando o navio-escola chegou a Vitória, tendo que permanecer atracado no porto por dois dias, ele, que não podia esperar, acabou retornando a Niterói de ônibus. Lá chegando, foi direto a um laboratório e ampliou as fotos a partir dos negativos originais já revelados. Quatro dias depois, um comandante da Marinha o procurou para que comparecesse à sede do então Serviço Secreto da Armada, no Rio de Janeiro.
O militar levou Baraúna até lá, onde foi sabatinado por um grupo de oficiais a respeito de truques fotográficos, fotografias aéreas e muitas outras coisas. Ficou lá das 08h00 às 16h00, pois todos queriam ter certeza da autenticidade das fotos. Pediram então os negativos emprestados a Baraúna, que os cedeu, e os levaram até o laboratório aerofotográfico da empresa Cruzeiro do Sul. Depois, os enviaram a companhia Kodak, em Rochester, nos Estados Unidos, para mais análises. Os negativos originais foram testados por equipamentos eletrônicos e processos químicos, não se encontrando neles qualquer tipo de fraude.
Autenticidade das fotos
Em seguida, as fotos de Almiro Baraúna foram liberadas para divulgação, mas não sem antes o jornal Correio da Manhã ter publicado as imagens sem seu consentimento [Veja artigo de Marco Antonio Petit nesta edição]. Baraúna então entrou em contato com João Martins, que o convenceu a levar a matéria para a redação de O Cruzeiro, para que a notícia das fotografias fosse publicada, o que ocorreu dias depois. Em seguida, foram feitas cerca de 40 cópias das imagens e distribuídas para todos os jornais do Rio de Janeiro, para publicação — muitos deles estamparam as fotos, os depoimentos das testemunhas, as análises dos dados etc. Em uma versão que circula sobre o caso, dias depois Baraúna teria descoberto que o Correio da Manhã conseguira as fotos diretamente da Marinha — as cópias que ele mesmo tinha cedido, carimbadas com “reservado”. Noutra versão, elas acabaram vazando do gabinete do então presidente da República Juscelino Kubistchek, que era amigo dos proprietários do Correio.
O relatório oficial sobre o Caso Ilha de Trindade, conhecido como Documento Confidencial no 0098/M-20 e assinado pelo almirante-de-esquadra Antônio Maria de Carvalho, chefe do então Alto Comando Naval, descreve detalhes acerca das fotos obtidas por Almiro Baraúna. “Enfim, foi registrado mais outro alarme de OVNIs, às 12h15 do dia 16 de janeiro de 1958. Dessa vez, aconteceu a bordo do Almirante Saldanha, ancorado ao largo da Ilha de Trindade. O navio estava prestes a zarpar e a pinaça [Pequeno barco aberto] usada para a travessia até a terra estava sendo recolhida por membros da tripulação, quando, de popa a proa, soou o alarme”.
Negativos ainda molhados
O documento continua dizendo que um fotógrafo profissional civil, que se encontrava a bordo registrando o recolhimento da pinaça, teve sua atenção chamada para o disco voador, do qual obteve as quatro fotos. “Após o aparecimento, Almiro Baraúna retirou o filme da câmera na presença do capitão-de-corveta Carlos Alberto Bacellar e de outros oficiais (…) O mesmo foi revelado dentro de dez minutos”. Carvalho também informa em seu relatório que em seguida os negativos originais foram examinados pelo próprio Bacellar, que confirmou que ainda estavam molhados da revelação ao pegá-los. “Neles reconheceu o OVNI em apreço (…) Em seguida, os negativos foram mostrados a membros da tripulação, testemunhas oculares do aparecimento. Eles confirmaram que as imagens nos negativos eram idênticas ao que avistaram no ar”.
Como se vê, estava chancelada oficialmente a legitimidade das fotos de Baraúna. Assim, com autorização do Ministério da Marinha, o depoimento prestado pelo capitão Bacellar foi liberado para publicação pela imprensa. Ele conta que de fato um UFO foi avistado do convés do Almirante Saldanha: “Pessoalmente, não tes
temunhei aquele aparecimento porque, no preciso instante, encontrava-me no interior de minha cabine. Porém, imediatamente fui chamado para a ponte”. Mesmo assim, Bacellar confirmou que Baraúna estava no convés com a sua câmera e que, após a ocorrência, ficou em estado de exaustão nervosa. “Permaneci ao seu lado o tempo todo, porque queria presenciar a revelação do filme”.
Com um farolete a pilha, o capitão Viegas acompanhou atentamente a revelação do filme no pequeno laboratório improvisado, enquanto Bacellar, do lado de fora, esperou que terminasse. Ambos concluíram que o negativo mostrava com precisão a seqüência de vôo do artefato não identificado sobre a ilha. Como foi previamente combinado, Bacellar procurou Baraúna no Rio de Janeiro, por duas vezes, e o acompanhou até o Ministério da Marinha. “Chamei à atenção do fotógrafo para o fato de ser estritamente proibida a publicação das fotos sem autorização oficial, e informei que ele seria avisado tão logo as autoridades competentes resolvessem liberá-las para divulgação”.
“Garanto que as fotos são autênticas”
No calor dos acontecimentos, em 24 de fevereiro de 1958, o então ministro Alves Câmara comentou em entrevista à agência United Press que a Marinha estava envolvida em um importante segredo, mas que não poderia ser discutido em público, visto que, para tanto, não havia ainda explicação sobre os discos voadores. “Mas a prova fotográfica apresentada por Almiro Baraúna convenceu-me da sua existência”, garantiu Câmara. Naquele mesmo dia, o capitão-de-fragata Moreira da Silva declarou que não queria ver qualquer discussão a respeito da idoneidade do fotógrafo que havia feito as fotos do disco voador, pois ele também havia sido observado por personagens conhecidos e respeitáveis. “Posso garantir que as fotos são autênticas e o filme foi revelado imediatamente, a bordo do Almirante Saldanha”.
Moreira da Silva foi ainda mais longe: “Confirmo ainda que os negativos foram examinados por diversos oficiais, logo após a revelação. Assim, fica excluída qualquer eventualidade de truque fotográfico”. Com base na análise dos negativos originais e dos detalhes relatados pelas testemunhas, peritos conseguiram calcular a velocidade mínima do UFO como sendo de 1.200 km/h — mas ela aumentou consideravelmente quando o objeto acelerou. Seu tamanho foi estimado entre 20 e 40 m de diâmetro e 7 m de altura, segundo análises das imagens através da técnica de distorção de bordas, realizadas pela instituição Ground Saucer Watch (GSW), dos Estados Unidos.
Isso foi motivo de preocupação na Comunidade Ufológica Brasileira, pois entre milhares de fotos analisadas pela GSW, inclusive as do Caso Barra da Tijuca, poucas foram autenticadas e dadas como sendo de objetos de grandes dimensões e bem distantes — e não se conhece nenhum outro caso em que a GSW tenha errado em suas avaliações. A instituição norte-americana, hoje extinta, foi referência mundial na análise de imagens de discos voadores nos anos 80 e 90, sendo consultada até por governos.
Extinguir qualquer chance de dúvida
Enfim, como se vê, estamos diante de um acontecimento absolutamente genuíno, bem diferente do Caso Barra da Tijuca, discutido no início deste artigo. A própria posição das autoridades brasileiras é um assombro. “Pouco importa qual seja a nossa atitude diante dos UFOs, pois persiste o fato de ter ocorrido um fenômeno que, além de documentado por fotos, foi confirmado pelo depoimento escrito de 48 testemunhas”, declarou oficialmente o capitão Moreira da Silva, para extinguir definitivamente qualquer chance de dúvida. O Ministério da Marinha, através do Comando de Operações Navais, fez um relatório secreto detalhado sobre o Caso Ilha de Trindade — na época, o deputado federal Sérgio Magalhães queria ter informações sobre o documento, mas ele não foi liberado.
O curioso é que tal relatório só veio a público em outubro de 1971, em um artigo de Jorge C. Pineda publicado em uma revista argentina. Nele aparecem correspondências trocadas entre os oficiais Luiz Felipe da Luz e Antônio Maria de Carvalho, que novamente endossam o evento. Há no artigo também um pedido de informações sobre o assunto, assinado por M. Sunderland, então agregado naval dos Estados Unidos no Brasil. Estranhamente, após tudo o que as autoridades brasileiras garantiram sobre o fato, o relatório secreto inexplicavelmente diminui sua importância. Suas conclusões, endossadas pelo capitão-de-corveta José Geraldo Brandão, do Serviço de Inteligência da Marinha, são de que as diversas testemunhas confirmam a mesma coisa, mas não vai muito além disso.
“Nenhuma conclusão pode se obter”
Estranhamente, o documento diz que “a maioria dos informes apresentados é insuficiente, sobretudo a falta de idoneidade técnica de muitos dos observadores e a breve duração do fenômeno observado, de modo que nenhuma conclusão pode se obter sobre terem avistado objetos voadores não identificados”. O relatório afirma ainda que a mais importante e valiosa das provas apresentadas, as fotografias de Almiro Baraúna, de alguma maneira perde sua qualidade convincente, devido à impossibilidade de se afastar totalmente uma montagem prévia…
Os ufólogos até hoje se perguntam o que fez os militares brasileiros esvaziarem a questão tão abruptamente. A adoção de uma posição dúbia é realmente contraditória. Embora afirme a importância do fato, o relatório desqualifica alguns de seus detalhes. E deixa transparecer uma cuidadosa tendência à aceitação do incidente quando afirma que “finalmente, a existência de informes pessoais e de evidências fotográficas de certo valor, considerando as circunstâncias envolvidas, permite a admissão de que há indicações da existência de objetos voadores não identificados”. Sua última conclusão é, na verdade, uma sugestão que faz o relator para que as autoridades do Alto Comando da Marinha passem a levar em consideração todas as informações que sejam obtidas sobre o Fenômeno UFO, “com vistas a se alcançar
conclusões acima de toda dúvida”.
Em função de recentes declarações céticas sobre o Caso Ilha de Trindade, veiculadas pela imprensa, estive revendo tod
os os conceitos e detalhes das fotos de Almiro Baraúna, além de seus depoimentos e publicações. Uma dessas manifestações foi a da senhora Emília Bittencourt, que se diz amiga da família do fotógrafo e que, em uma edição de agosto passado do programa Fantástico, da Rede Globo, disse ter ouvido do próprio Baraúna que ele teria fraudado as fotos com duas colheres [Veja artigo de Marco Antonio Petit nesta edição]. A tese não se sustenta minimamente.
A hipótese de duas colheres sem cabo e sobrepostas na frente de uma geladeira terem sido usadas em uma fotomontagem pode ser descartada completamente, por razões óbvias. Mas outra alegação cética, agora manifestada pelo sobrinho em segundo grau de Baraúna, Marcelo Ribeiro, em entrevista concedida ao ufólogo e consultor da Revista UFO Alexandre de Carvalho Borges, publicada no site da Revista UFO [ufo.com.br], apesar de causar estranheza, ainda assim é verossímil. Ribeiro afirmou que seu tio usou, para realizar a fotomontagem, duas fichas da chamada Frota Carioca suspensas por um fino fio preto e fotografadas contra um céu completamente. Tecnicamente, a manobra é viável.
Brincadeira levada para o túmulo
Nas duas décadas em que trabalhei em laboratórios fotométricos, nos quais todas as paredes eram enormes e pretas, realizei algumas brincadeiras com objetos suspensos por finos fios também pretos. Da forma como foram realizados esses truques, a análise de granulação dos negativos não permite detectar indícios de fraude. Assim, a se julgar como procedente a tese de Ribeiro, de que Baraúna usou a técnica, ela com certeza teria que ter sido preparada antes — o fotógrafo teria que memorizar muito bem a posição em que o modelo entraria nas fotos, ainda na Ilha de Trindade, para colocá-lo por dupla exposição no ponto preciso em que entram nas quatro imagens.
Outro ponto que suscita discussão é o fato de o objeto fotografado estar descentralizado em todas as quatro fotos obtidas, coisa que não é típica de um profissional. Esses poderiam ser indícios de fraude, perpetrada por Almiro Baraúna como uma brincadeira que levou para o túmulo. Eles me fizeram rever meus conceitos sobre o evento, até que apareçam novas informações a respeito.