O estranho caso envolvendo a morte de um homem carbonizado, no interior de São Paulo, ocorrido em 22 de fevereiro de 1994, ficaria registrado nos anais da história policial, não fosse o receio dos investigadores de divulgá-lo. Ainda assim, pode ser classificado como insólito e certamente figurará na crônica da Ufologia Brasileira e Mundial, a partir desta publicação. Não se trata de um caso de combustão humana espontânea, como pode ser imaginado a princípio, pois as vítimas nessas situações costumam ser encontradas com os corpos em cinzas, somente com as extremidades inteiras. Nem de acidente com raio, como também se aventou. O episódio que abordaremos neste artigo, de forma inédita, foge totalmente destes cenários. Ele tem como informante o “Senhor X”, um ex-policial que trabalhou no serviço reservado (P2) da Polícia Militar de São Paulo, e que na época dos fatos descritos estava à frente da pesquisa de ocorrências incomuns. Por ainda manter importantes contatos e fontes a serem preservadas, precisa ter sua identidade anônima. Foi o Senhor X, já na Reserva, quem relatou o caso aos autores.
O episódio ocorreu no sítio Vale do Entardecer, situado na cidade paulista de Pedro de Toledo, próxima a Peruíbe, no litoral. A propriedade pertence ao senhor Manuel Vaz [Nome fictício], conhecido na região pela produção artesanal de aguardente. Após um período de intensas chuvas, Vaz retornava de uma de suas viagens a São Paulo, onde costumava comercializar seus produtos, e depois de enorme dificuldade de acesso, por conta de uma barreira provocada pela chuva forte, procurou José Marlone, o caseiro que trabalhava na chácara havia apenas dois meses. Ficou preocupado, pois Marlone ainda se encontrava em período de experiência. Como não o encontrava, e percebendo alguns animais mortos pelo chão, dirigiu-se à habitação do caseiro na propriedade.
Apesar de a porta estar trancada, Vaz observou o interior da casa pela pequena e única janela, e viu que Marlone estava estirado no chão, com sinais de queimaduras. Ele arrombou a porta e confirmou que Marlone havia morrido, seguindo logo depois para a delegacia de Pedro Toledo, onde detalhou o ocorrido. Em seguida, retornou ao sítio, desta vez com o delegado Fernando Biazzus Rodrigues, o perito Dagoberto Barreto Dias — atualmente aposentado por invalidez — e com o fotógrafo Lucimário Alvarez. Chegar ao sítio era tarefa árdua e demorada. Ao final de uma estrada de saibro, foi necessário atravessar um rio usando um equipamento inventado por Vaz. Tratava-se de uma engenhoca feita de madeira, presa a uma armação de ferro atada a duas roldanas que corriam sobre um cabo de aço. Cada pessoa, uma por vez, puxava a corda e concluía o percurso. Uma verdadeira aventura sobre um despenhadeiro.
Quando chegaram ao sítio, passando pelo alambique, já era possível observar uma galinha estendida no chão, próxima à porta de entrada da casa de pau-a-pique. Olharam pela mesma janela e avistaram o corpo do caseiro estendido no solo. Para surpresa de todos, não havia no ambiente nenhum odor característico de decomposição. É possível imaginar que o que tenha provocado a morte do caseiro, que estava totalmente carbonizado, também tivesse eliminado todo tipo de vida microbiana do local — que causaria o mau cheiro —, mas isso só poderia ser confirmado por meio de uma biópsia, que deveria constar no laudo pericial.
No momento da morte, Marlone, que tinha 30 anos, vestia um calção vermelho e uma camiseta branca, que estavam estranhamente intactos. De acordo com o laudo produzido, foi possível, inclusive, descrever detalhes da cueca da vítima, que era branca com listras verticais azuis. Também chamou a atenção dos investigadores o fato de haver uma mancha branca ao redor de seu corpo. Próximo à porta, a mesma mancha estava em volta da galinha morta. Infelizmente, os policiais não estavam preparados para enfrentar tal situação e, dessa forma, inadvertidamente, deixaram de colher amostras da mancha para posterior análise. Entretanto, seja qual for a substância, é claramente perceptível nas fotos feitas no local.
Exame de corpo de delito
A vítima estava com o pé direito quase encostado em um forno à lenha, onde havia uma grande panela com água. Ao lado do corpo os policiais notaram um garrafão, que mais tarde descobriram que estava com água. Apesar disso, seu conteúdo exalava odor fétido — a água havia “apodrecido”. O corpo da vítima estava preto e aparentemente mumificado, desidratado. O perito criminal chegou a bater nele com os dedos, ouvindo um som duro que descreveu como “de couro desidratado”. Os cabelos do caseiro jaziam ao chão como uma coroa, e ao redor deles também existia a tal mancha branca, que envolvia todo o corpo, tornando-se irregular apenas na altura do abdômen. A pele da boca e o nariz haviam desaparecido — murchado, provavelmente por desidratação —, deixando os dentes à mostra. Do lado de fora da casa, para assombro da equipe policial, encontraram mais três bezerros mortos, no curral, que ficava a 55 m de distância da casa do caseiro.
Segundo o perito, um cachorro de Vaz estava com uma das patas dianteiras “derretida”. Diante do susto, os investigadores resolveram apressar-se para encerrar o caso, para deixarem o local o mais rápido possível. Dagoberto Barreto Dias concluiu que a possível mancha branca ao redor dos animais localizados fora da casa — outra galinha e suas três crias — teria sido limpa pelas intensas chuvas daqueles dias. Devido à dificuldade de transitar pela região, os investigadores resolveram levar o corpo do caseiro para o necrotério somente no dia seguinte, o que foi feito. Marlone foi sepultado no Cemitério de Pedro de Toledo, ao lado da delegacia da cidade.
Inicialmente, o perito Dias pensou na hipótese de raio como causa da morte de José Marlone, já que a casa era de madeira e tinha forno a lenha de alvenaria, pintado de branco, e teto de zinco. Entretanto, alguns detalhes do caso o intrigaram, o que dificultou a elaboração de um laudo técnico preciso. Durante uma pesquisa, ele verificou, por exemplo, que as vítimas de raios costumam ter ranhuras na superfície da pele, como teias de aranha. Além disso, no teto de zinco não existia nenhum tipo de buraco provocado por descarga elétrica. A altura da casa era de 2,4 m, enquanto que a vítima media um 1,74 cm. Quando ereto, sua cabeça ficava a considerável distância do teto, que não possuía forro. Havia ainda uma peculiar rasura triangular na blusa da vítima, exatamente no centro do tórax, além de algumas manchas brancas na cintura e nos pés, principalmente no direito. Ainda segundo o perito, e de acordo com o laudo do exame de corpo de delito, foi detectada também a existência de cocaína nas vísceras analisadas, no caso do coração. Pelo que se constatou na documentação obtida, o perito Dias acreditava que os bezerros tinham morrido muito antes do restante das vítimas, o que pode ter acontecido com intervalo de muitas horas ou talvez um dia.
Devido às proporções que o caso alcançava, consideramos prudente convidar o físico e professor Elton Dias, que residia em Curitiba, para analisar as possíveis hipóteses do ocorrido. Igualmente, no dia 10 de janeiro de 2002, fomos à residência do delegado aposentado José Guilherme Raymundo, em Peruíbe [Entrevistado da edição UFO 143]. Ele afirmou conhecer o perito à frente do caso, mas adiantou que, apesar de ter visto as fotografias do referido episódio, inclusive do cadáver, não teve acesso às cópias e que seria muito difícil, para os autores, consegui-las. Apesar disso, levou-nos até o local onde Dias tem um ponto comercial denominado Danúbio Azul, onde sua família trabalha.
O pé da vítima se “desmanchou”
Ao encontrarmos, então, Dagoberto Dias, descrevemos o evento ufológico que havia sido verificado na região e pedimos mais informações. Para nossa grata surpresa, Dias confirmou o caso, prometendo, inclusive, cópias de todo material disponível, pois tinha interesse em reabrir a investigação — mas adiantou que teria que obter autorização de seus superiores. Dessa forma, pediu que retornássemos outro dia, pois conseguiria as fotografias do acontecimento com seu amigo, que ficou conhecido apenas como João, para que pudéssemos analisá-las. Prometeu até cópias das fotografias e dos documentos periciais referentes ao episódio, que passou a se chamar então Caso Pedro de Toledo.
Após dois dias de espera, em 12 de janeiro, Dias nos emprestou três folhas do arquivo policial original, que continham as fotografias referentes ao acontecimento. Em duas delas via-se apenas o cadáver de um homem branco. Na terceira, notava-se que um dos pés da vítima parecia estar se “desmanchando”, por conseqüência de aparentes queimaduras. Indagado sobre outras fotografias dos animais ou da casa, Dias demonstrou certo desgosto com o fotógrafo, que dispunha somente de três fotos — ele havia levado consigo apenas um rolo de filme. Mesmo assim, levamos as referidas fotografias a uma loja especializada na cidade, para copiarmos e ampliarmos o material na esperança de realizarmos posterior análise. Lembramos que não era comum a existência de máquinas digitais no Brasil naquela época.
Dias, que atualmente se encontra em uma cadeira de rodas — caiu de uma laje durante reformas em sua casa, cerca de oito meses antes de nosso encontro —, lamentou não ter elaborado o laudo pericial técnico a contento. Perguntou se poderíamos ir até o cemitério onde estava o corpo de vítima e realizar testes para aferir possíveis sinais de radiação. Explicamos que sim, tão logo conseguíssemos um Contador Geiger. Interessantemente, Dias demonstrou euforia ao nos revelar todos os detalhes do caso, e ficou feliz em saber que muitas pessoas teriam acesso a essas informações, que acredita serem de interesse de toda a humanidade. Viu em nós a chance de divulgar ao mundo um caso realmente estranho e bizarro. Em 05 de fevereiro de 2002, por telefone, ele nos pediu mais alguns dias para consultar seus superiores. Perguntamos se, independentemente da resposta, poderíamos visitar o local da ocorrência, para obtermos algumas fotografias e realizarmos observações e questionamentos in loco. Comentamos com ele sobre a existência de fotografias da necropsia, que, àquela altura, deveriam estar guardadas no fórum da região, o que ele negou veementemente.
As pesquisas do Caso Pedro de Toledo foram reiniciadas em dezembro do mesmo ano. O objetivo inicial dos autores era obter documentos referentes à ocorrência na delegacia e no cemitério da cidade. No dia 18, na delegacia, estava de plantão a escrivã Dinorá Pereira, que, após nos repassar alguns dados sobre o local do fato, perguntou se éramos policiais. Achou estranho nosso comportamento, e quando soube que não éramos da polícia, nos proibiu de ter acesso aos boletins de ocorrência — exceto com autorização do delegado, que estava viajando, ou do chefe da seccional da região. O empecilho momentâneo não prejudicou a pesquisa, já que havíamos memorizado o nome da vítima, os números dos boletins de ocorrência e o endereço do incidente. O falecido José Marlone era, na verdade, José Marlone de Souza, filho de Acelone Pereira de Souza e Antonia Álves de Lima, natural da cidade de Mombaça, no Ceará, e tinha 30 anos.
Retomando a pesquisa do caso
Munidos destas informações, nos dirigimos ao cemitério, localizado ao lado da delegacia, onde constatamos que não existia registro de falecimentos antes de 1997. Não havia certidão de óbito, o que era no mínimo muito estranho. Ao retornarmos à delegacia, para devolver as chaves de uma viatura policial, que havíamos pegado por engano, vimos a escrivã falando sobre nós ao telefone, ligeiramente nervosa e gaguejando, provavelmente com o delegado. Partimos em seguida para o endereço da vítima, onde chegamos uma hora depois. Lá encontramos o tal equipamento inventado por Manuel Vaz, proprietário da chácara. Era a única forma de atravessar o rio sem nos molharmos, embora o risco de queda fosse grande. Neste caso, seriam cerca de 25 m de queda livre. Vaz, que tinha 76 anos na ocasião do incidente, nos recepcionou de forma cordial, juntamente com o atual caseiro. Ele narrou o acontecido e disse que acreditava, como consta no boletim de ocorrência policial, que José Marlone de Souza teria sido fulminado por um raio.
Ao questionarmos o proprietário sobre algum buraco na casa ou no telhado, por onde um raio pudesse ter penetrado, ele relembrou uma versão que havia sido cogitada para o fato na época. Segundo ele, Marlone, que carregava um facão na cintura, teria sido atingido por um raio no curral, onde alguns animais foram encontrados mortos, e caminhara até a pequena casa para desfalecer ao pegar o garrafão com água. Ao retornarmos ao local, realmente vimos vários moradores da região com facões na cintura, que parece ser um hábito na região, e soubemos de um rapaz que andava na rodovia e que havia morrido ao ser atingido por um raio. Para nossa pesquisa, uma vistoria na casa do então caseiro era imprescindível, e quando lá chegamos notamos que era feita de barro batido e que o forno de tijolos estava parcialmente destruído. O teto ainda era o mesmo, de zinco, com um pouco de ferrugem e desgaste no local onde, de acordo com as fotografias obtidas pela polícia, o cadáver foi
encontrado. Observamos também uma cruz preta pintada na porta da casinha. Segundo Vaz, tratava-se de uma crença pessoal do atual caseiro, para que o ocorrido com o anterior não se repetisse. Antes dele, vários trabalhadores contratados, impressionados com a história macabra, haviam permanecido pouco tempo no local.
Fotografamos a casa por vários ângulos e também fizemos uma reconstituição utilizando a foto da época e o testemunho de Vaz. Ele também afirmou que os peritos policiais teriam levado o garrafão para colher amostras para análises da água fétida que continha. Posteriormente, procuramos análises químicas nos laudos sobre o conteúdo do garrafão, mas nada encontramos. Existe apenas um laudo de narcótico acusando a presença de cocaína na vítima, o que demonstra que era usuário da droga. Entrevistamos Vaz do lado de fora da casa e fomos todos em direção ao curral, onde ele perdera três bezerros. Soubemos que teriam morrido ainda duas galinhas e três pintinhos. Uma cadela também teria sido atingida pelo tal raio, mas, apesar de ter sido tratada, sobreviveu apenas alguns dias. Estava com queimaduras de terceiro grau, ou, como disse o proprietário, “em carne viva”. Todos os animais foram enterrados na propriedade, em um buraco cavado por um antigo empregado.
Vítimas de estranhos raios
Os autores cogitaram a possibilidade de pagar o atual caseiro para que desenterrasse as carcaças dos animais, mas Vaz disse que não havia tempo para isso. Também lembrou que, conforme o delegado, o corpo de Marlone teria sido levado para Campinas, possivelmente para a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), para ser analisado — fato este que não consta nos laudos. O delegado também teria dito a Vaz para não “esquentar a cabeça com o falecido”, pois haviam levantado a ficha policial da vítima e descoberto que, na realidade, José Marlone de Souza era foragido no Ceará, pelo homicídio de seu pai.
Descoberto, ele teria sido conduzido a um presídio no interior de São Paulo, mas conseguiu fugir e encontrou a vaga de caseiro naquele lugar, que pensou ser esquecido por Deus, o refúgio ideal para se esconder da polícia, devido à distância e à dificuldade de acesso ao local. Mesmo se fosse descoberto, quando avistasse os policiais, que teriam que atravessar o rio pela tal engenhoca, teria tempo suficiente para fugir pela mata. O que nunca deve ter imaginado é que — como dizem alguns mais religiosos — a providencial justiça divina alcançaria um assassino onde quer que ele estivesse.
Manuel Vaz nos contou ainda que um casal de conhecidos, que morava próximo do sítio, também foi vítima do que imaginava ser um raio, mas que havia sobrevivido. Achamos que seria interessante averiguar o caso, até para comparação entre os incidentes. Como era perto da região onde nos encontrávamos, decidimos ir até lá e fomos gentilmente recepcionados pelo casal, que nos relatou o ocorrido e nos mostrou as seqüelas — as “teias de aranha” —, que, mesmo após 27 anos do fato, ainda estavam em seus corpos. Raimunda da Silva tinha marcas em suas costas e no braço esquerdo, enquanto que Reinaldo da Silva possuía sinais na cabeça e ainda apresentava certo afundamento craniano. Ambos tinham dores de cabeça, que iniciaram após o acidente. O marido ficou internado por 19 dias no Hospital Matarazzo, em São Paulo, mas levou cerca de quatro meses para se recuperar. Raimunda foi atendida em outro hospital, em Pedro de Toledo, onde permaneceu internada por duas semanas.
Ambos contaram que dormiam na mesma cama de casal, com mais duas filhas, quando foram atingidos. Na época, uma tinha três meses de idade e a outra, três anos. Curiosamente, as duas escaparam da descarga elétrica. Outro fato que chamou a atenção foi que, no dia do incidente, não chovia nem sequer relampejava. Apesar disso, a mesa e a parede apresentaram rachaduras e algumas roupas foram queimadas. Também sentiram cheiro de enxofre, ou “de queimado”, como descreveram.
Os autores saíram da propriedade perplexos por constatarem que o casal acreditava realmente na hipótese de raio, mesmo diante de evidências intrigantes em contrário, como ausência de ruído de explosão característico e o fato de suas duas filhas não terem sido atingidas. Questionado sobre ocorrências ufológicas na região, o casal afirmou ter avistado, por diversas vezes, luzes estranhas próximas à residência. Segundo Raimunda, os objetos cruzavam o céu a baixa altura e atravessavam as montanhas próximas, emitindo luzes azuis, vermelhas e verdes. O marido preferiu chamá-los de Mãe do Ouro, nome folclórico usualmente utilizado em certas regiões do Brasil e amplamente descrito na obra do ufólogo mineiro Antonio Faleiro, consultor da Revista UFO [Entre seus livros está UFOs no Brasil: Misteriosos e Milenares, código LIV-010 da coleção Biblioteca UFO. Confira na seção Shopping UFO desta edição e no Portal UFO: ufo.com.br].
Retornando novamente a Pedro de Toledo, nos dirigimos ao cartório do município, onde descobrimos que não existia nenhum atestado de óbito de José Marlone de Souza, falecido em fevereiro de 2002. Pegamos, então, uma certidão negativa e deixamos a cidade, seguindo em direção a Peruíbe, onde nos encontramos com o delegado José Augusto Veloso Sampaio, que narrou um avistamento ufológico e se prontificou a nos ajudar. Recomendou que conversássemos com a delegada Maysa [Sobrenome não identificado], da Corregedoria de Polícia da vizinha cidade litorânea de Mongaguá. Ela prontamente nos atendeu, afirmando também já ter visto UFOs no passado. A delegada finalmente conseguiu, no dia seguinte, a liberação dos boletins de ocorrência que buscávamos.
Causa da morte indeterminada
No dia 20 de dezembro, retornamos à delegacia de Pedro de Toledo, onde fomos atendidos novamente pela escrivã Dinorá Pereira, que nos entregou as cópias dos materiais solicitados e nos informou sobre o inquérito, que já estaria no fórum de Itariri, outra cidade vizinha. Após três horas de espera, conseguimos uma petição, elaborada por um advogado do próprio estabelecimento, solicitando cópias dos documentos do inquérito. Tivemos sorte, pois, além de termos obtido a autorização, soubemos que o dia 20 seria o último dia útil do ano para trabalhos do Judiciário naquela região. Com as cópias dos laudos em mãos, descobrimos que a polícia não trabalhava com a hipótese de raio como causa da morte de José Marlone de Souza. Nos documentos, assinados pelos médicos legistas Rafael Cássio D’Ambrósio e João Carlos de A. Augusto, constava que a causa mortis era indeterminada.
No dia 22, retornamos ao local do incidente para analisarmos metodologicamente a região, munidos de um contador Geiger e uma máquina fotográfica profissional gentilmente emprestados pelo pesquisador Jamil Vila Nova, consultor da Revista UFO, além de bússolas, trena e de um magnetômetro [Instrumento usado para medir intensidade, direção e sentido de campos magnéticos], na intenção de levantarmos mais evidências sobre o caso. Coincidentemente, encontramos Reinaldo da Silva em um posto de combustíveis e pedimos para fotografar novamente sua cabeça, o que ele aceitou prontamente. Agradecemos a cooperação e solicitamos autorização para fazer o mesmo com as seqüelas de sua esposa. Saímos do posto e retomamos o caminho na direção do sítio Vale do Entardecer. Fomos recepcionados por Manoel Vaz, que nos autorizou a analisar suas terras.
Os testes que fizemos com o contador Geiger resultaram negativos, assim como não foram encontradas interferências magnéticas no local. Finalmente, fizemos testes de pH para constatarmos a eventual alcalinidade e acidez de amostras recolhidas do solo e do telhado de zinco, e medimos a região da ocorrência, bem como a distância entre o curral e a cozinha, o que nos possibilitou fazer alguns croquis. Comentamos nossas descobertas com Vaz e informamos o resultado pericial da polícia local. Ele insistiu em afirmar que aquela conclusão não era a mesma verificada em Campinas, nas investigações conduzidas pelo delegado Fernando Biazzus Rodrigues. Insistia na hipótese de raio, que já vinha defendendo havia pelo menos seis anos.
Perigos encontrados na pesquisa
Com mais uma etapa do trabalho investigativo cumprida, nos dirigimos ao caminho de saída da propriedade quando chegamos ao rio e Vaz constatou que a corda do lado extremo de sua engenhoca havia sido solta. Vimos que não se tratava um acidente e Vaz apressou-se em nos informar que tinha problemas com seu vizinho, adicionando que um processo contra ele já vinha correndo na Justiça, no fórum de Itariri, há pelo menos quatro meses. Vaz desceu no rio e pediu que jogássemos a corda. Atravessou-o e a amarrou novamente, confessando que ficara intrigado com o ocorrido, mas preferia acreditar que tudo não passara de um acidente corriqueiro.
Já na outra margem, nos despedimos e seguimos viagem. Apenas ao chegarmos, no dia seguinte, dia 23, verificamos que havia grande quantidade de barro inserido no escapamento do carro que utilizamos na viagem. Seja quem for que o tenha colocado, tinha a intenção deliberada de danificar o motor do automóvel. Sorte que o cano de escape já se encontrava danificado, aumentando a perfuração existente na viagem de ida, na estrada se saibro, o que salvou o carro da destruição total. Isso demonstra que o “acidente” com a corda foi possivelmente provocado pelo vizinho de Vaz, que não aprovou nossa presença no local. Como costuma afirmar o dito popular, são ossos do ofício.
Hipótese de feixe de microondas
O físico Elton Dias, que acompanhou parcialmente nossa pesquisa, ficou bastante intrigado com os fatos e relatos encontrados. Para ele, a hipótese de feixe de microondas vindo de cima, também sugerida para explicar a morte, é pouco provável. “Mesmo com a atenuação da propagação nas telhas de zinco do telhado do barracão, não creio que microondas, como as dos fornos, possam causar queimaduras como as que foram verificadas, que criaram uma espécie de casca torrada na pele do indivíduo”, disse. Dias também descarta a possibilidade de raio, justamente pela ausência de evidências, como telhas quebradas ou estilhaços. “Além do mais, para que um relâmpago possa queimar a pele da forma encontrada naquela pessoa, precisaria ter atuado durante um tempo maior do que o característico da queda de um relâmpago”, analisou.
Ainda segundo o físico, as pessoas que sobrevivem após terem sido atingidas por raios apresentam cicatrizes muito diferentes das notadas no Caso Pedro de Toledo. Para Dias, mesmo que a descarga elétrica tenha atingido outro ponto do terreno, criando o que se chama de tensão de passo — que poderia ter causado a morte dos animais e até mesmo do caseiro —, ainda assim as queimaduras não se apresentariam daquela forma. A tensão de passo se dá entre os pés de um ser vivo, o que, nos bípedes, raramente provoca a morte — mas nos quadrúpedes geralmente é fatal, pois há maior corrente passando pelo tronco. O físico lamentou ainda que a substância branca que envolvia a vítima não tivesse sido analisada. “É mais um mistério. O pó é resultado da queima do que se encontrava em solo ou resultante do processo de degradação do tecido da vítima? Outra observação é em relação ao braço direito, que não está tão carbonizado, mas que também apresenta o pó branco”, enfatizou.
Nenhum dos documentos que fazem parte do inquérito, que foi arquivado, confirmam que o corpo de José Marlone de Souza foi levado para ser analisado em Campinas — esta é uma suspeita de Vaz. Igualmente, também consta do inquérito um recibo, com data de 28 de fevereiro de 1994, de sepultamento da vítima no único cemitério de Pedro de Toledo, que teria sido realizado por policiais militares daquela cidade. Mas os autores não conseguiram encontrar atestado de óbito no registro civil das pessoas naturais daquele município. Se ele tivesse sido sepultado no único cemitério possível, oficialmente teria que existir um atestado de óbito no único tabelionato da cidade. Portanto, é bem possível que o corpo de José Marlone de Souza tenha realmente sido levado para Campinas e esteja agora sepultado em algum cemitério daquela cidade, ou mantido em alguma gaveta do Hospital das Clínicas da Unicamp, para estudos, já que a família não reclamou o corpo. Também deve existir um segundo laudo pericial realizado em algum lugar daquela cidade, que não está arquivado nos fóruns policiais do estado de São Paulo, pelo menos não no da região de Pedro de Toledo.
O que encontramos foi um documento que podemos denominar de atestado de óbito, feito pelo Instituto Médico Legal (IML) do município paulista de Praia Grande, datado de 23 de fevereiro de 1994, mas preenchido de forma inadequada. O sexo de Marlone foi trocado e o nome do médico, bem como seu telefone, aparecem ilegíveis. É importante salientar que verificamos pessoalmente e não existe nenhuma lápide ou túmulo registrado com o nome da vítima no cemitério local. Foram ignoradas, no laudo, análises da água contida no garrafão encontrado ao lado do cadáver, assim como foram ignorados os animais achados mortos ao lado do cad&aacu
te;ver, aparentemente pelo mesmo motivo, conforme confirmado pelo perito policial responsável pelo caso na época. Também não foi coletada, para posterior análise, amostra do material branco que estava ao redor do corpo da vítima. Simplesmente, a conclusão dos laudos foi de que a morte teve causa indeterminada ou desconhecida.
Hipóteses para o Caso Pedro de Toledo
Tentando reconstituir os fatos e analisando detidamente as fotografias obtidas pela polícia e disponibilizadas aos autores, podemos imaginar que Marlone acordara cedo, pensando no almoço. Teria pego uma galinha do terreiro e trazido para dentro da casa, onde seria mais fácil o trabalho de limpeza do animal. Como não tinha água corrente dentro da habitação, trouxe diretamente da fonte, em um dos garrafões que costumava usar no alambique. Dentro de casa, com a galinha, trancou a porta e, quando se dirigia para o fogão, avistou um forte clarão e caiu ao chão desfalecido.
Seja o que for que tenha lhe atingido, continuou agindo sobre seu corpo inerte, pois chegou a produzir a tal mancha ao redor dele, ligeiramente semelhante a um desenho de giz. Vale refletir sobre esta espantosa energia. O que poderia ter carbonizado o corpo do caseiro a ponto de ter produzido a tal mancha branca? Um raio de microondas talvez pudesse produzir tal efeito — do corpo torrado e seco —, mas ainda assim seria possível identificar suas roupas e, principalmente, a cor delas? A energia que atingiu Marlone parecia ter percorrido determinado caminho, da estrebaria à casa, ou o contrário.
Também é possível imaginar que ela fora irradiada por uma fonte desconhecida, vinda do alto. Mas se fosse o caso, a telha de zinco não poderia tê-lo protegido? Assim sendo, teríamos que supor que a energia poderia ter incidido na horizontal, como o disparo de uma arma, por exemplo. Essa tese pode ser corroborada pelo triângulo avistado no peito da vítima, que, a princípio, não teria uma explicação. Isso nos permitiria levantar outra hipótese, a da utilização de armamento militar secreto sendo testado em região inóspita, o que justificaria o desaparecimento do corpo da vítima — para análise dos resultados da experiência.
Vale lembrar ainda que UFOs foram avistados na região no mesmo período do Caso Pedro de Toledo, inclusive sobre o litoral sul paulista, conforme documentado em matérias jornalísticas. No primeiro semestre de 1994, aquela área foi palco de muitos avistamentos de UFOs, principalmente nas cidades de Guarujá, Santos, Bertioga, Praia Grande e Mongaguá [Veja edições UFO 147 e 164]. Algumas ocorrências chamam a atenção e possivelmente tenham alguma ligação com o misterioso episódio. Tratam-se de fatos ufológicos registrados oficialmente, inclusive pela Polícia Militar local, que aconteceram na cidade de Mongaguá, no mês de fevereiro e, inclusive, nos dias em que possivelmente ocorreu a trágica e misteriosa morte de José Marlone de Souza.
Por exemplo, em 14 de maio de 1994, uma equipe do Grupo Ufológico de Guarujá (GUG) entrevistou diversas testemunhas dos bairros Itaguaí e Agenor de Campos, em Mongaguá. Os moradores, testemunhas oculares, afirmaram ter sido visitados por um UFO de formato circular, com luzes verdes, azuis e alaranjadas, que piscavam na parte inferior do objeto. A primeira pessoa a avistar o UFO foi José Antônio de Menezes, que viu uma luz forte voar em direção à serra, retornando momentos depois. Ambos chamaram a atenção de outros moradores para também verem o estranho fenômeno. Entre eles, estava Ruth de Oliveira. “Assim que vi o objeto, por um binóculo, logo percebi que não se tratava de avião. Então chamei a polícia”, contou ela. Regina Isaura Monte Stracieri explicou que esse caso, acontecido em 17 de fevereiro, não foi o único, pois nos dias que se seguiram também ocorreram mais aparições. “Em 04 de maio de 1994, observamos uma luz laranja que acendia e apagava”, relembrou.
Segundo depoimento do capitão Alaor José Gasparotto, da 3ª Companhia da Polícia Militar de Mongaguá, publicado no jornal A Tribuna de 20 de março de 1994, corroborado aos pesquisadores do GUG, os fatos se desenrolaram da seguinte forma: “Às 03h08, recebi um chamado via rádio comunicando o aparecimento de uma estranha luz no bairro Itaguaí. Chegando ao local, encontrei quatro policiais, que me relataram ter visto um objeto com luzes coloridas, que se deslocava pelo céu, sem ruído, em velocidade variável”. No telex nº 121 da polícia, datado de 17 de fevereiro de 1994, gentilmente doado ao GUG, constava que a equipe da viatura 303 foi averiguar e se deparou com o artefato que voava em direção à Itanhaém, que posteriormente foi avistado pela equipe de outra viatura. Foram acionados a Base Aérea de Santos e o 4º Comando Aéreo Regional (COMAR 4). O tenente Gordini [Nome não identificado] contou que não foi identificado qualquer objeto estranho no radar, no perímetro entre Brasília e São Paulo. Ainda assim, disse que informaria seu comandante sobre o caso.
Vigílias noturnas no litoral
De acordo com o mesmo jornal, um pescador teria largado sua bicicleta, tamanha a apreensão que sentiu ao avistar um desses objetos. Como o fenômeno prosseguiu nos dias seguintes, segundo relato de moradores, o capitão Gasparotto tomou a iniciativa de realizar três vigílias noturnas. Durante uma delas, por volta das 04h00, ele e outros policiais conseguiram avistar aproximadamente 10 objetos, como se fossem estrelas, seguindo do continente para o mar. Foram vistos, ora em pares, ora isolados, com intervalos de cinco a 10 minutos entre uma aparição e outra. Na segunda quinzena do mês de fevereiro também ocorreu outro caso interessante de avistamento em Mongaguá. José Arlindo Costa afirmou que viu um “disco voador de luzes multicoloridas e que projetava, de vez em quando, um foco para baixo de cor amarela, passou baixo e seguiu para os lados de Peruíbe e Pedro de Toledo, desaparecendo nas serras”.
Foram diversos os casos relatados na região entre os meses de fevereiro, março e abril de 1994. Um, de grande repercussão entre a população caiçara, foi registrado em 14 de abril do mesmo ano, às 22h30. O operador de vídeo Jeferson Rocha de Carvalho, de 31 anos, que trabalhava para o apresentador de TV Ataíde Patreze, estava pescando, acompanhado de um garoto de 14 anos, a bordo de um barco, no canal de Bertioga, quando observou um imenso objeto luminoso flutuando sobre as águas, a poucos metros da embarcação. O UFO não fazia barulho e emitia luzes multicoloridas. Em pouco tempo, as testemunhas viram o artefato apagar-se e rumar para a S
erra do Guarujá, onde acabou desaparecendo.
A hipótese de que um UFO tenha provocado a morte do caseiro José Marlone de Souza em Pedro de Toledo ganha força quando associada aos demais avistamentos registrados na região, principalmente em Mongaguá, pois há evidências expressivas, nos depoimentos das testemunhas, que confirmam o avistamento de um aparelho não identificado que teria seguido àquela localidade nos dias que Marlone foi vitimado e faleceu. A hipótese, por mais fantástica que pareça, também é reforçada quando outras possibilidades consideradas mais aceitáveis são descartadas. Quando escassearem as alternativas para o caso entre as explicações convencionais — como a do raio, por exemplo —, passamos a buscar resposta naquilo que hoje conhecemos bem, a casuística ufológica da região.
Revide de algum tipo de espécie alienígena?
A possibilidade de que um UFO tenha sido o causador da morte do caseiro ganha força quando associada aos avistamentos registrados na região. Para mim, um desses objetos estaria passando pelo local, ou mesmo aterrissando, quando se deparou com vários animais que pastavam na área e com o caseiro, que, ao perceber sua presença, ficou assustado e tentou acertá-lo com sua espingarda. Este fato não aparece no boletim de ocorrência nem nos laudos periciais. Entendo que houve uma reação por parte dos tripulantes da nave, com um ataque fulminante ou simplesmente com uma subida instantânea. A vítima, assustada, teria saído correndo para sua casa e os animais, igualmente assustados, sofreram queimaduras durante a passagem do artefato. O caso ainda não está encerrado.
— Suséliton Saga
Teoria conspiracionista e experimentos secretos
Por que um UFO cometeria tal atrocidade? É bem verdade que, em 35 anos de pesquisa ufológica, pude constatar que a lógica alienígena não corresponde à nossa. Mas também penso, arriscando ser conspiratório, que não podemos descartar a probabilidade de um experimento secreto realizado pelo governo, nacional ou estrangeiro, com algum tipo de armamento desconhecido. Um tipo de protótipo com raio de microondas, por exemplo, que costuma cozinhar orgânicos que contenham líquidos, o que explicaria a roupa quase intacta da vítima, apesar do corpo carbonizado, ou, como consta no laudo, sua ‘mumificação’, o que também justificaria o branco ao redor do corpo. Esta marca seria a própria gordura da vítima, após o cozimento. O fato de o caseiro estar foragido da polícia talvez não fosse totalmente desconhecido de algum órgão oficial. Seria o ‘voluntário’ perfeito para o teste.
— Carlos Alberto Machado
Caso real de Arquivo X ocorrido no Brasil
Estou convencido de que o Caso Pedro de Toledo é um verdadeiro Arquivo X nacional, pois contempla vários detalhes insólitos, como mortes misteriosas de animais e ser humano, avistamentos de UFOs, desaparecimento de pistas importantes para esclarecimento do caso, adulteração de documentos oficiais, além do acobertamento do corpo da vítima e de dados e informações fundamentais, principalmente na época do episódio. A problemática ufológica não deve ser descartada neste caso, pois os documentos oficiais apontam para causas desconhecidas. Portanto, se não se tratou de raio, de combustão humana espontânea ou qualquer causa natural ou conhecida, o que ocasionou o trágico desfecho desta história? Pesquiso UFOs há quase 30 anos e existem outros acontecimentos similares de efeitos causados por UFOs no Brasil e no exterior.
— Edison Boaventura Jr.