Estamos em épocas de mudanças e de novidades no que se refere a manifestações anômalas em nosso planeta, especialmente quando envolvem a presença alienígena na Terra. E se os estranhos sinais em plantações de grãos em todo o mundo, chamados de agroglifos, não são novidade em vários países, seu surgimento na América do Sul, a partir de 2008, constitui o que se acredita ser uma nova etapa na investigação desse impressionante e desafiador fenômeno.
Tendo começado na Inglaterra e logo se espalhado principalmente por países do hemisfério norte, os agroglifos — antes chamados de círculos ingleses — são um fenômeno ao qual principalmente a Europa está acostumada, uma vez que lá foram registradas mais de 70% das figuras já encontradas em todo o planeta. A Comunidade Ufológica dos Estados Unidos também parece habituada a tais formações, pois igualmente lá o fenômeno abunda. Mas para os pesquisadores sul-americanos, o fato é novidade e já surpreende a cada ano, com novas safras de exuberantes formações, especialmente em plantações de trigo.
Agroglifos em Chicoana
Desde 2008, estudiosos tanto do Brasil como da Argentina vêm descobrindo esses misteriosos sinais em colheitas de grãos, permitindo compará-los com os que já se manifestam há mais de três décadas na Europa e em outras nações — especialmente para aprender suas características com os investigadores europeus desse fenômeno, que têm grande experiência na área.
Enquanto no Brasil o estado atingido pelo fenômeno é Santa Catarina — com esparsos e ainda não confirmados casos no Rio Grande do Sul —, na Argentina o agroglifos vêm se manifestando em Chicoana, um povoado do Vale de Lerma situado entre os paralelos 23 e 24, no noroeste do país. Chicoana tem clima subtropical amenizado pela altitude, estando a 900 m do nível do mar. O município mais próximo é Salta, a 42 km, que tem como base de sua economia o cultivo de tabaco, feijão, milho, soja e trigo. Com chuvas que se concentram entre os meses de novembro e abril, toda a região reúne excelentes condições para a intensa atividade agrícola que lá se desenvolve.
No final de outubro de 2008, já com o trigo maduro nas plantações que abundam em Chicoana, surgiram os primeiros desenhos misteriosos, que ocasionaram grande curiosidade na imprensa e na população saltenha e geraram imenso frenesi entre os investigadores da forte casuística ufológica que se manifesta em toda aquela área. Nesse primeiro acontecimento foram três os campos afetados, um localizado ao lado da estrada de acesso à Chicoana, em uma área chamada de Las Mesitas, outro no interior do povoado, em um local denominado Tilián, e o último em uma estrada que liga o povoado à vizinha Cachi, na região conhecida como Pulares.
Na ocasião, os desenhos formaram retângulos conectados por corredores e figuras geométricas diversas, além de alguns círculos perfeitos de diâmetro entre 4 e 6 m. As bordas dos sinais eram bem definidas, neles percebendo-se perfeitamente a diferença entre as regiões afetadas e as que não haviam sido amassadas — uma das principais características do fenômeno [Veja artigo nesta edição]. Infelizmente, no entanto, não pode ser feita uma pesquisa a fundo daqueles primeiros agroglifos, pois com a divulgação de seu surgimento pela imprensa, houve grande movimentação de pessoas para vê-los, e os desenhos foram se deteriorando em muito pouco tempo. A imagem mais clara que se obteve daquelas formações foi uma fotografia tomada com uma escada de bombeiros no campo de Tilián, onde menos maltrato as marcas sofreram.
Pane em telefones celulares
Como fenômeno associado aos primeiros agroglifos argentinos também tivemos no país um padrão que caracteriza sua manifestação, que é a grande quantidade de avistamentos de luzes sobre os campos nas noites anteriores à descoberta das figuras — o fato foi igualmente observado quando do surgimento de formações no Brasil. Em Chicoana, foram tantos os testemunhos de observação de esferas luminosas que parte da população ficou alarmada — houve até mesmo pane nos telefones celulares durante alguns minutos.
Conhecidas como sondas ufológicas, as luzes surpreendiam por seus movimentos. Em entrevista que essa autora realizou com trabalhadores de uma plantação de tabaco foi possível recolher a informação de que esferas luminosas voavam a baixíssima altitude e iluminavam o campo como se fossem lanternas, surgindo principalmente entre 02h00 e 04h00 daquela madrugada, justamente poucos momentos antes de serem descobertas as marcas. Essa característica é a mais significativa ligação que temos dos agroglifos com manifestações ufológicas.
Em 2009, por alguma razão, não foram registrados ou não se soube de qualquer nova formação nas plantações daquela ou de outras regiões, mas em 2010, quando já havia passado quase totalmente o assombro dos moradores com as figuras de Chicoana, tendo a vida do povoado voltado à normalidade, novamente surgem agroglifos na região — e já quase na época da colheita, nos primeiros dias de novembro, período semelhante a quando ocorreram em 2008. Dessa vez não houve manifestações anteriores de esferas luminosas sobrevoando a região onde as formações foram encontradas, mas a quantidade de campos afetados pelas figuras foi muito grande e sua extensão, em cada plantação onde foram registradas, bem maior do que ocorreu dois anos antes.
Os novos desenhos seguiam padrões parecidos com os de 2008, com figuras geométricas conectadas entre si por corredores e alguns círculos. E tal como no caso anterior, os pés de trigo estavam dobrados sobre o solo, em formato espiralado e com os caules dispostos em sentido horário. Também nas ocorrências de 2010 uma análise mais completa dos agroglifos foi difícil, pois já se aproximava a data da colheita dos grãos e as máquinas colheitadeiras estavam preparadas para fazer seu trabalho. Assim, muitas marcas desapareceram e nunca soubemos delas.
Pesquisa mais detalhada
Mais um ano se passou e eis que, em 2011, igualmente na mesma época dos anos anteriores, os agroglifos voltaram a aparecer nos campos de trigo de Chicoana — mas, dessa vez, um pouco mais cedo do que em 2008 e 2010, em 16 de outubro. Nessa ocasião, muitas espigas de trigo ainda estavam verdes e as plantações onde se manifestaram as formações estavam salvas da colheita por mais algumas semanas. Por isso, agora, tinha que ser feita uma pesquisa mais detalhada do fenômeno — especialmente devido à repetição de suas
características.
A primeira descrição recebida dos novos agroglifos levou a uma análise básica das formações, feita com a visita aos campos atingidos. E ela mostrava uma diferença em relação às figuras dos anos anteriores: agora os círculos tinham as espigas dispostas no sentido anti-horário, tal como nos campos de Bom Jesus e Ouro Verde, em Santa Catarina, nesse mesmo ano [Veja artigo nesta edição]. Já nos desenhos geométricos, não circulares, a disposição dos caules dobrados apontava para o sul.
Devo reconhecer que, a princípio, não acreditei totalmente na autenticidade das marcas, pensando que talvez fosse o resultado da ação de pessoas que, a exemplo dos famosos circlemakers que se declararam autores de agroglifos na Inglaterra, também estariam atuando na Argentina e transformando-nos em vítimas de uma enganação. Mas a análise de alguns aspectos dos novos agroglifos logo desfez essa impressão, pois foi possível perceber que algumas figuras tinham aparência similar àquelas pesquisadas por especialistas na Europa. Assim, foi possível estabelecer paralelos entre as ocorrências de ambos os continentes.
Alguns dos pontos coincidentes entre os agroglifos argentinos e os europeus surgiram a partir da análise das espigas atingidas nos campos onde surgiram figuras investigadas pela pesquisadora holandesa Janet Ossebaard, que estuda o fenômeno desde 1994. Entre os fatos semelhantes estava a forma como os nódulos das plantas afetadas foram expandidos e explodidos de dentro para fora — outra característica comum dos agroglifos. Acredita-se que isso se deva a uma fonte de intenso calor ou a algum tipo de energia que atinge as plantas — que alguns estudiosos chamam de “efeito micro-ondas”.
O mecanismo que se acredita ocorrer ainda está em estudo, mas supõe-se que, como consequência da ação do calor ou da tal energia, a umidade da planta é levada ao seu talo e lá é absorvida pelos nódulos, causando seu inchaço e explosão de dentro para fora. Lembremo-nos que as plantas de trigo são uma espécie de cana que têm aproximadamente seis nódulos, a partir dos quais crescem longitudinalmente. Quando a planta ainda não está totalmente madura, a umidade é absorvida pelos nódulos, que incham e se deformam, podendo proporcionar uma mudança na direção de crescimento das mesmas — que, ao invés de crescerem erguidas, o fazem inclinadas.
Já quando as plantas de trigo estão maduras, e assim secas e quebradiças, os nódulos, ao absorverem a umidade que sobe pela ação do calor ou da tal energia, não têm elasticidade para inchar e explodem de dentro para fora, como um ovo colocado no micro-ondas. No caso dos agroglifos observados em Chicoana, não vimos nódulos explodidos dessa forma porque os talos de trigo ainda estavam maduros e flexíveis.
Mudança de direção da planta
Justamente devido ao mesmo fenômeno, os talos das plantas ainda não totalmente maduras não crescem seguindo o padrão de direção habitual, ou seja, erguidos perpendicularmente ao chão — fato que se deve ao que a biologia chama de fototropismo. Ao contrário, eles se inclinam cada vez mais, chegando a ficar paralelos ao solo e formando um aspecto circular — sem as plantas estarem quebradas e ainda perfeitamente vivas. Esse fenômeno se verifica em abundância nas manifestações europeias e se repete nos casos argentinos e brasileiros.
Mas há ainda outra particularidade ligada aos agroglifos, o chamado “efeito fantasma”, um fenômeno muito particular que ocorre nas plantações onde aparecem as formações. Ele consiste na repetição do desenho que apareceu em uma dada plantação, mas depois que o campo foi arado e semeado novamente, com outro tipo de grão. Como exemplo desse fenômeno temos casos em plantações de trigo de Barbury Castle, na Inglaterra. Em uma delas, em 1999, surgiram desenhos de dois círculos concêntricos em cujo interior havia uma figura de três golfinhos. Depois da colheita, um dos campos foi arado e a terra preparada e semeada com cevada. Quando o cultivo do novo grão já estava maduro, no verão de 2000, apareceu o mesmo desenho que estava visível na plantação do ano anterior — e no mesmo local.
O efeito fantasma também foi registrado na Argentina, em um dos casos de 2008 em Chicoana, precisamente o da localidade de Tilián. O campo onde foi observado o agroglifo era de trigo, que foi posteriormente colhido e nenhum sinal da formação sobrou. Aquele mesmo terreno, no ano seguinte, foi preparado para receber uma plantação de feijão, e nela surgiu, surpreendentemente, a repetição dos desenhos do ano anterior. Mas mais estranho ainda foi que, no lugar preciso onde no ano anterior estava a marca, na plantação de feijão de 2009 cresceram pés de trigo, não do que havia sido semeado.
Ainda as esferas luminosas
Como se trata de uma constante em ocorrências de agroglifos, a observação de sondas ufológicas é um dos alvos dos investigadores, mas não mais importante do que outra constatação que fez Janet Ossebaard sobre os campos onde surgem as figuras. Segundo apurou, no solo abaixo de muitos círculos formados em trigo foram encontradas grandes quantidades de magnetita. “Isso é ocasionado por um forte campo magnético na alta atmosfera (ionosfera) que atrai o pó de meteoritos e o direciona para a Terra, onde bate em terrenos onde haja agroglifo recém-formados”, teoriza a estudiosa.
A magnetita é um mineral magnético formado por duas variedades de óxidos de ferro, apresentando naturalmente em sua composição cerca de 75% de ferro e 25% de oxigênio. O mineral tem forma cristalina isométrica, geralmente na forma octaédrica e é a pedra-ímã mais magnética de todos os minerais da natureza — tanto que é usada na fabricação de bússolas. Nos solos do Vale de Lerma, onde está Chicoana, encontra-se boa quantidade de ferro, que pode se apresentar na forma de magnetita, como foi explicado pelo agrônomo saltenho Roberto Neumann.
Apesar de todas essas espantosas e inexplicáveis características, sempre haverá dúvidas sobre a verdadeira origem dos agroglifos — que na Argentina também recebem o nome de agrogramas —, e os de Chicoana não são exceção. No entanto, os casos lá verificados estão sendo in
tensamente investigados e há situações interessantes e conclusões já obtidas que devem ser levadas em conta. Entre as situações podemos destacar a idiossincrasia das pessoas que habitam o lugar. Chicoana é uma região de gente trabalhadora, de produtores rurais, pessoas humildes, recatadas e não muito interessadas em afluência de curiosos.
Os trabalhadores rurais de toda aquela vasta região não ficam muito à vontade com esses novos acontecimentos, porque representam prejuízo para eles, tanto pelo fato de as espigas amassadas não poderem ser colhidas, como devido às incessantes visitas de curiosos aos locais atingidos, que apenas aumentam o dano aos campos. Por outro lado, por sua simplicidade e pureza, os moradores do local são boas testemunhas dos fatos, sem tendências a exageros ou outras.
Exército de forjadores
Há quem alegue que a origem dos desenhos nas plantações é extraterrestre, como há quem garanta que são fraudes perpetradas por pessoas com propósitos desconhecidos. Se esse é o caso, deve-se então levar em consideração que a grande extensão de alguns dos desenhos em certos campos exigiria a ação de um verdadeiro exército de pessoas realizando os sinais — e esse certamente não é o caso, pois nenhuma multidão assim e nem mesmo forasteiros foram vistos nos campos na época ou antes de os agroglifos serem encontrados.
Por outro lado, temos testemunhas entre os habitantes do local que declaram ter estado nas proximidades dos campos afetados nos dias e noites anteriores à descoberta das figuras, e nada notaram de estranho. Some-se a isso a semelhança dos agroglifos argentinos com alguns casos pesquisados na Europa, o que necessita explicação. Para os defensores de uma possível origem terrestre para o fenômeno, cabe aos estudiosos admitir que não se deve descartar nada, nenhuma hipótese — e todas devem ser igualmente estudadas.
A pesquisa dos agroglifos argentinos continua firme e ainda há muito pela frente. E acredito que para seu sucesso seria muito positiva uma comparação dos casos de Chicoana com os registrados no Brasil, para podermos compreender melhor esse fenômeno ainda tão novo em nossas terras.