Um clarão, explosão, pânico, correria e uma dúvida: teria sido um disco voador? A resposta é afirmativa para moradores de pequenos vilarejos no interior do Piauí, mas não uma unanimidade. Segundo centenas de testemunhas, um objeto voador não identificado explodiu no ar na madrugada de 27 para 28 de julho. Porém, as informações são desencontradas e outras pessoas afirmam que o mesmo ocorreu no dia 29 do referido mês. Segundo fontes de jornais locais, ainda, a explosão teria se dado de 24 para 25 de julho. A razão para informações conflitantes é uma só: vários casos ocorreram naquele período, numa mistura de observações de UFOs – em vôo solitário e em formação – com a queda de pedaços de um foguete norte-americano. De qualquer forma, a população ficou em alerta e autoridades foram mobilizadas.
“Comunicamos a reentrada na atmosfera, ocorrida entre 24 e 25 de julho, nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, de fragmentos do lançador Delta 2, que conduziu um dos robôs que a NASA enviou a Marte”, informou um relatório assinado por N. L. Johnson, coordenador do Orbital Debris Program [Programa de Fragmentos Orbitais], postado no site da Agência Espacial Norte-Americana dias após o fato. Estava, portanto, encerrada a polêmica acerca dos acontecimentos. Restava examinar os demais. Explosões são comuns quando pedaços de foguetes reentram na atmosfera, assim como observações de grandes rastros de luzes no céu, muitas vezes confundidos com UFOs. O som de explosão se dá pelo atrito com o ar, a alta velocidade, e também quando os fragmentos atingem o chão. O engenheiro do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e consultor da Revista Ufo, Ricardo Varela Corrêa, reconheceu nas imagens veiculadas em jornais e sites sobre o assunto um objeto familiar.
Rapazes da localidade de Cabeça de Vaca, à 48 km de Boa Viagem, no sertão do Ceará, encontraram uma bola metálica ligeiramente amassada, com aproximadamente 80 cm de diâmetro. “Trata-se de um tanque de combustível de satélite, onde fica armazenado um líquido em alta pressão, expelido quando o artefato precisa mudar de posição ou para manter uma determinada altitude”, disse Varela. Mas se esse fragmento é apenas um tanque de combustível de satélite, e não os restos do foguete Delta 2, onde foram parar estes últimos? É possível que tenham se desintegrado quase totalmente ao atingirem a atmosfera com forte impacto.
Queda em Ângulo — Nesses casos, os restos do aparelho são peças que variam em tamanho, mas, diferentemente do tanque do satélite – que é esférico e assim resiste mais ao calor da reentrada –, eles são irregulares e sofrem desgaste bem maior durante o processo. Sua queima em contato com o ar é que forma os rastros de luz, muitas vezes múltiplos, visto que os fragmentos se dividem em outros menores e assim se desintegram mais rapidamente. Dependendo da constituição metálica desses objetos, o brilho causado ao reentrarem na atmosfera pode assumir as mais diversas cores – mas a queda é sempre descendente e inclinada.
Tão logo os objetos que se espalharam pela área foram encontrados, autoridades policiais cercaram a região. Havia pedaços de metais por todos os lados, mas bem pequenos. O fenômeno assustou os moradores dos municípios de Barras, Batalha e Piracuruca, na região norte do Piauí, onde se presume que caíram os destroços do Delta 2 – enquanto o tanque do satélite seria encontrado a mais de 500 km de distância, no Ceará. O clarão da queda dos restos do foguete, seguido de um forte estrondo, pôde ser visto até na capital, Teresina. Muita gente se escondeu no meio do mato para se proteger dos destroços. Curiosamente, o local onde caíram os pedaços fica a 500 km da Base de Alcântara (MA). Alguns cacos de ferro derretido, maiores que o habitual, abriram crateras em quintais das casas de moradores.
O Departamento de Polícia Técnico-Científica do Piauí recolheu junto à Delegacia de Batalha, a 154 km ao norte de Teresina, um pedaço de ferro de aproximadamente um metro de comprimento e pesando 4 kg, encaminhando-o para perícia do Instituto de Criminalística (IC) estadual e ao Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE), onde trabalha Varela. Segundo o delegado de Batalha, o sargento da Polícia Militar Raimundo Nonato, “era um pedaço de ferro avermelhado, provavelmente da desintegração quando entrou na atmosfera”. O secretário de Segurança do Estado, Menandro Pedro da Luz, disse que verificou o material recolhido e que se trata apenas de uma chapa de ferro que apresenta sinais de aquecimento, provavelmente pela entrada na atmosfera. Menandro não soube precisar se o objeto apresenta radioatividade, mas informou que no INPE seria feita uma avaliação mais detalhada.
Enquanto a natureza dessa queda e a do tanque do satélite estava determinada e as providências já sendo tomadas, restava acompanhar e identificar os casos envolvendo observações legítimas de UFOs. Aparentemente, no entanto, o interesse maior das autoridades se voltou para os fragmentos recolhidos. O diretor do Departamento de Polícia Científica do Piauí, José Luiz de Sousa Filho, analisou o material usando luvas de látex, que não isola radioatividade. Em Brasília, o secretário nacional de Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional, Jorge Pimentel, pronunciou-se e recomendou aos moradores que não se aproximassem dos detritos e nem os tocassem. “Se forem parte de um satélite, podem conter radioatividade e isso é muito perigoso”.
Trata-se de um tanque de combustível de satélite, onde fica armazenado um líquido em alta pressão, expelido quando o artefato precisa mudar de posição ou para manter uma determinada altitude – Ricardo Varela
Já a Infraero, que administra os aeroportos brasileiros, informou que recebeu os dados da queda por meio da tripulação de um avião que passava pelo céu do Piauí no momento da explosão. O aeroporto de Teresina não soube informar do que se tratava, já que não dispõe de radar. O risco que a tripulação daquela aeronave correu de ser atingida é significativo e não pode ser ignorado. Muita gente no solo também esteve ameaçada de ser esmagada pela queda. Embora estatisticamente mínimas, as chances de danos patrimoniais e pessoais existem. Segundo o advogado Francisco Rego Damasceno, residente em Barras, a 119 km ao norte de Teresina, a população ficou muito amedrontada e grande parte ainda não havia voltado para casa após o susto.
Muitos foram à delegacia local para matar a curiosidade sobre o artefato que explodiu no céu. Moradores das localidades de Puba, Palmeiras e Cortado, entre os municíp
ios de Barras e Batalha, onde caiu maior parte dos fragmentos do UFO, ficaram incomodados com o incidente. “Teve um pedaço de ferro que caiu num quintal e fez uma cratera de mais de três metros”, completou Damasceno.
Várias Localidades Atingidas — Mas se os destroços chamaram a atenção da população, UFOs que estavam na área coincidentemente também. De acordo com Aristides Oliveira Santos Filho, morador de Teresina, o aparecimento de objetos voadores não identificados na cidade, em 24 de julho, foi bastante concorrido. Santos relatou à Revista Ufo que testemunhas da capital e de outras cidades da região norte do Piauí viram os artefatos, entre elas Barras, Pedro II, Luís Correia e José de Freitas. Os avistamentos também foram noticiados pelos jornais locais, que mostram uma abundância considerável de relatos. “O principal evento ocorreu entre 20h00 e 21h00 daquela noite, quando foram vistas de 7 a 10 bolas amareladas, uma seguindo a outra e todas deixando um rastro”. O fato teria durado apenas alguns segundos e as bolas foram gradativamente desaparecendo em vôo horizontal – e não descendente, como no caso de quedas de fragmentos de foguetes.
O jovem Landerson, de 18 anos, estava no Shopping Riverside, em Teresina, e presenciou o fato: “Foi por volta das 20h00 ou 21h00. Eu estava na sacada do shopping quando umas bolas de fogo cruzaram o céu em vôo linear, desaparecendo aos poucos. Foi muito estranho”. O leitor piauiense Francisco Aristides também relatou o ocorrido à Ufo: “O dia 24 de julho foi marcado pelo aparecimento de 7 a 10 UFOs em todo norte do Piauí. A notícia logo se espalhou e foi manchete nos jornais”. Segundo muitas testemunhas, a aparição durou por volta de um minuto, sempre deixando rastros no céu. Mas o mesmo fenômeno passaria da divisa estadual e seria observado também no Ceará.
A imprensa cearense noticiou que, na mesma noite de 24 de julho, o município de Viçosa foi iluminado por objetos que lembravam meteoros. Na mesma data e horário o fenômeno também foi visto nas cidades de Ubajara e Ibiapina. “Estávamos com a cidade lotada de pessoas participando de uma feira promovida pelo SEBRAE. Acontecia a apresentação de uma peça de teatro ao ar livre, quando verifiquei que o sonoplasta do grupo olhava para o céu. Imediatamente todos ficaram a vislumbrar o fato”, conta Jean Roberto Pereira Lima. Segundo ele, o que ocorreu em Viçosa foi diferente de meteoros que rasgam o céu e depois desaparecem: o objeto permaneceu em rápida velocidade no sentido retilíneo, demorando muito mais tempo para desaparecer do que um bólido.
Um colega de Lima que estava no local registrou o acontecimento com uma câmera digital. “Ao chegarmos em casa, vimos a foto, que tinha vários pontos luminosos. Ao avançarmos com o recurso do zoom da câmera, deparamos com uma imagem no mínimo intrigante: os objetos, que tinham formato esférico e eram de cor metálica, estavam circundados por um anel também metálico e multicolorido”. Certamente, com essa descrição, está caracterizada a observação de objetos voadores não identificados, bastante diferentes do que ocorrera quase naquela mesma região, quando da queda de fragmentos do Delta 2.
Em 28 de julho, outra ocorrência semelhante aconteceu, dessa vez no Maranhão. Alcionizio Rubem e sua noiva Karen presenciaram um evento que acreditam ter ligação com os objetos luminosos vistos no sábado, em São Luís. “Eu e minha noiva estávamos na orla marítima e visualizamos a formação de 7 objetos brilhantes que deixavam atrás de si um rastro luminoso, descartando assim a possibilidade de serem foguetes da Base de Alcântara. Rejeitamos ainda a hipótese de serem meteoritos, pois o brilho dos mesmos não se apagava – pelo contrário, alguns aumentavam e diminuíam sua luz”. Ainda de acordo com a testemunha, o movimento dos objetos também não era de queda, e sim de deslocamento horizontal. Após o episódio, Alcionizio ficou sabendo que o fato foi visto em toda a região.
Objeto Cilíndrico — Nosso colaborador Allyson Santos, membro do Instituto de Pesquisas Ufológicas do Rio Grande do Norte (IPURN), também esteve em alerta no fim do mês de julho, acompanhando a intensa movimentação que reunia casos de UFOs com quedas de fragmentos de foguetes e satélites. Santos relatou à Revista Ufo ter recebido informações de que um objeto de formato cilíndrico teria sido avistado por no mínimo 5 pessoas nos arredores do Sítio de Dentro, localidade próxima a Currais Novos (RN). O fato deu-se às 05h30 do dia 28, na mesma região onde, há alguns anos, um UFO destruiu o telhado de uma casa. “O artefato descrito agora pelas testemunhas era muito grande e voava de forma estranha, acelerando e diminuindo a todo o momento”, relatou o ufólogo.
A emissora Verdes Mares, afiliada da Rede Globo no Ceará, foi quem deu o alerta naquele Estado sobre a queda do tanque do satélite. O caso ocorreu na localidade de Cabeça de Vaca, no sertão, e o objeto encontrado era redondo e pesava em torno de 30 kg. A peça foi descoberta por um agricultor quando voltava do trabalho. A divulgação da notícia atraiu moradores até o ponto onde o artefato caiu. De acordo com populares, o barulho da queda foi ouvido em toda a comunidade, atingindo um raio de 15 km. A Polícia Militar do Ceará esteve no local, mas não identificou o objeto. A Prefeitura de Boa Viagem comunicou o fato à Aeronáutica, que mandou uma equipe ao local.
Em depoimento à Rádio Asa Branca, de Boa Viagem, alguns moradores disseram ter visto a queda, que teria acontecido entre 28 e 30 de julho. A primeira pessoa a achar o objeto foi uma criança, no dia 31, mas os pais não teriam dado importância à história. Segundo Antônio Rodrigues, gerente da Asa Branca, que esteve no local, a esfera tem uma espécie de apito e, apesar do impacto da queda, está em perfeito estado. “Tem apenas uma crosta de fuligem porque estava em chamas ao cair”, contou Rodrigues.
Sucata Espacial — Algumas agências de notícias divulgaram a foto de um pedaço do foguete Delta 2, lançado em 08 de julho de 2003 e que levava nada menos que o Mars Exploration Rover para Marte. “É assim que podemos ter aqui a adorável história de que os EUA chegaram a Marte, mas no caminho deixaram cair um tanto de lixo espacial no Nordeste brasileiro”, comentou um jornalista, aproveitando o fato para fazer piadas. “Essa bola bem que poderia ter alguma coisa de valor dentro. Assim, se caísse sobre a cabe&cced
il;a de alguém, ninguém ia ficar muito chateado”, disse outro repórter, referindo-se agora ao tanque do satélite. Brincadeiras à parte, os ufólogos nordestinos foram rápidos e precisos em suas avaliações, desmistificando as quedas identificadas e esclarecendo à população sobre os verdadeiros casos de UFOs. Reginaldo de Athayde, co-editor de Ufo e presidente do Centro de Pesquisas Ufológicas (CPU), de Fortaleza, atribuiu logo aos destroços a natureza de “sucata espacial”. Para ele, “com certeza, o material encontrado em Boa Viagem é terrestre”. Já Roberto Affonso Beck, consultor da publicação e residente em João Pessoa (PB), solicitou também a verificação da informação transmitida pela Infraero, que alega ter recebido detalhes da queda da tripulação de um avião, que teria visto a tal explosão. “Pelo estrago que aquilo fez no chão, poderia ter sobrado para eles”, disse Beck.
Roubo Cósmico — Depois que uma equipe de técnicos do Destacamento de Controle do Espaço Aéreo da Base Aérea de Fortaleza visitou Boa Viagem para verificar o tanque de combustível do satélite, o prefeito Fernando Assef e o tenente da Polícia Militar R. Menezes cercaram o local com arame farpado e proibiram a remoção do objeto. Porém, todos os cuidados foram poucos: a peça foi roubada! Até o momento, não se têm notícias sobre quem seria o responsável pelo crime, que deixou perplexo até o prefeito Assef. Ele tinha interesse em manter o objeto no museu local. As autoridades estão investigando o caso e o destacamento da Polícia Militar do município tem realizado diligências para saber o paradeiro do tanque. O agricultor Raimundo Haroldo conta que estava sozinho no local da queda, dias depois, ao meio-dia, quando um cidadão alto, magro, de cabelos e barba grisalhos, sem dar satisfação, pulou a cerca de arame e roubou a esfera, colocando-a dentro de uma picape D-20 de cor branca.
Haroldo disse que não impediu porque ficou meio atordoado com a ação rápida e inesperada. Já Assef acredita que o ladrão deva ser “algum ufólogo ou colecionador de preciosidades cósmicas”. O soldado Alcântara Lobo de Assis, do Destacamento de Boa Viagem, afirma que sua equipe está empenhada na busca de pistas deixadas pelo ladrão. “Já informamos aos órgãos competentes sobre o roubo e esperamos, dentro dos próximos dias, chegar ao responsável”, disse o soldado.
E assim, entre ocorrências nem tão banais de queda de sucata espacial em Território brasileiro e fatos nem tão corriqueiros de observações múltiplas de objetos voadores não identificados, conclui-se que populares, emprensa e autoridades estão atentos ao que acontece em nossos céus – e, muito mais que eles, os ufólogos estão acompanhando tudo com rigor e exatidão.
Suposto UFO fotografado com celular
O consultor da Revista UFO Cláudio Brasil, de São Paulo, recebeu por e-mail o relato de avistamento de um UFO na Rodovia Anhanguera, naquele Estado, ocorrido em 03 de agosto, por volta de 15h00. Três testemunhas trafegavam pela estrada e pararam o caroo para ver melhor. Duas pularam uma cerca para chegarem mais perto, sendo que uma delas fez uma foto do estranho objeto com seu celular. Esse é um caso raro – talvez inédito – de uma imagem de um suposto UFO obtida com o uso de um celular. Os rapazes informaram que estavam perto de Santa Rita do Passa Quatro(SP), quando viram um objeto em forma de charuto sobre o mato. Estava bastante distante e parecia sair uma poeira no solo abaixo dele. O UFO ficou parado na maior parte do tempo, e ocasionalmente fazia pequenos movimentos para frente e para trás. Emitia barulho como se fosse de “várias máquinas funcionando juntas”, segundo os observadores.
As mesmas testemunhas procuraram, em 04 de agosto, o Jornal da Band, Rede Bandeirantes de Televisão, e deram o mesmo depoimento ao jornalista Roberto Cabrini. A produção do programa ligou e pediu então que o editor da Revista UFO, A. J. Gevaerd, comentasse o caso na edição daquela noite do jornal. Durante o relato da testemunha, que não quis se identificar, ela estimou que o objeto estava a cerva de 10 km de distância – informação que talvez esteja equivocada, como mostra a imagem, onde o objeto aparenta estar bem mais próximo. Os rapazes observaram o suposto UFO por cerca de 30 minutos e depois foram embora. O caso está sob investigação e a imagem será analisada por especialistas do Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores(CBPDV).